Os ataques “kalibrados” contra o neocolonialismo

(Hugo Dionísio in Strategic Culture Foundation, 17/04/2024)

Se há coisa que o ocidente monopolista não entende é como unir coisas que são diferentes, como aceitar as diferenças alheias, como criar uma força comum entre diferentes, unidos apenas por um sentimento, a liberdade.


Pouco tempo depois da resposta Iraniana ao ataque sionista, que destruiu o seu consulado na Síria, vitimando mortalmente o Comandante sénior Mohammad Reza Zahedi, eis que é a própria Casa Branca, e Biden, a puxar as rédeas de Netanyahu e transmitir ao mundo que a acção foi devidamente “calibrada”. Isto, depois das autoridades sionistas cuspirem fogo, ameaçando com apocalípticas consequências, contra o renascido potentado persa.

Esta “calibragem” no discurso de Washington é a consequência óbvia do que se havia passado antes da retaliação Iraniana; nas 48 horas que a antecederam foram vários os estafetas europeus a pedirem “contenção” ao Irão, alertando para as consequências gravosas que essa falta de “contenção” poderia despoletar. Os sinais de preocupação eram tão evidentes quanto o tinham sido, até aí, o branqueamento e legitimação, da acção provocadora de Israel, face aos seus vizinhos da região.

Quem não esteve, contudo, com meias medidas foi Ursula von der Leyen. Em mais um show de hipocrisia de proporções bíblicas, esta senhora veio ameaçar com a única resposta que conhece: pacotes de sanções contra o Irão, por ter desenvolvido um “ataque não provocado”. Também Macron não poderia ficar para trás e veio dizer que é preciso continuar a “isolar o Irão” com as sanções do costume.

Se algo há a retirar deste comportamento é mesmo este facto: Úrsula Von Der Leyen e os Macrons deste mundo vivem numa realidade que já não existe, na qual o ocidente “racial, moral e intelectualmente superior” tinha a legitimidade para punir, perseguir, invadir, ameaçar e destruir todos os que se lhe opunham. Mas se, na sua odiosa cegueira, ainda não o constataram, não se pode dizer o mesmo de quem neles manda. O mundo mudou e está em processo de acelerada transformação.

A impunidade acabou quando a Federação Russa disse não aceitar a ultrapassagem da linha vermelha que havia imposto e que determinava a neutralidade da Ucrânia; o mundo mudou quando Irão, Hezbollah, Huthis e Hamas declararam não aceitar mais os abusos sionistas, contra as suas populações e seus aliados; o mundo mudou quando a China não desistiu da Rússia e Irão, demonstrando que o mundo multipolar estava para ficar. Para destruir um, terão de os destruir aos três. Todos interligados por alargadas parcerias estratégicas.

Consequentemente, a resposta do Irão tratou de sinalizar que o país está preparado para dar uma resposta decisiva, no que considera constituir uma escalada de abusos crescentes, por parte do sionismo e seus apoiantes, e que não continuará a tolerar o desrespeito genocida, por parte da entidade sionista que controla e se confunde com Israel.

Este comportamento por parte do Irão, antes impensável e intolerável pela “comunidade internacional”, encontra agora um espaço de legitimidade absolutamente revelador de como mudou o mundo, nestes anos de crescimento da multipolaridade. Nem as sanções têm já o mesmo peso, tendo o Irão – tal como a Rússia, Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, Nicarágua – aprendido a ser auto-suficiente, transformando a agressão em força de oposição; nem o ocidente domina já o sul global com a força que estava acostumado a fazê-lo; nem os EUA, e o seu espaço vital, constituem ainda aquela potência militar de que todos tinham medo.

Hoje, potências como o Irão podem dar-se ao luxo de aumentar a parada e encurralar o arrogante ocidente. O mais interessante é que, do ponto de vista estratégico, os EUA haviam apostado numa profusão de provocações múltiplas, cada vez mais alargadas e que visavam escaladas militares localizadas, as quais tinham como função conter a expansão dos países que constituem os pilares centrais desta libertação do sul global: Rússia, China e Irão.

Resultando na expansão continuada do mundo multipolar, do desenvolvimento do “sul global”, que mais não é do que a “maioria global”; acompanhada da perda, pelo ocidente, de posições estratégicas que ditam o acesso às reservas estratégicas de mão de obra da Ásia e África; às reservas de commodities na Rússia, Médio Oriente, América Latina e África; ou, à capacidade industrial instalada da Ásia; a tríplice entente multipolar que dirige o processo anti-imperialista, através dos seus ataques “calibrados”, está provocar uma corrosão progressiva da entidade imperialista, anunciando-se, algures no tempo, o seu colapso.

E este constitui o grande mérito destes três países e dos seus aliados, a Africa do Sul, mais convicta, a India e o Brasil, mais periclitantes, a que se juntaram agora outros cinco países, e que, em breve, se juntarão muitos outros, entre os quais o próprio Vietname, o qual já oficializou a sua intenção de aderir aos BRICS. Estes países têm tido a paciência, a sabedoria e a competência para agir de forma tão concertada quanto possível, mas também de forma tão desconcentrada quanto necessário, sem se deixarem enredar em insanáveis contradições internas que os exponham à máquina de destruir nações que são os EUA. Deste modo, a expansão desconcentrada coloca problemas extremamente difíceis de ultrapassar, a quem pretende destruir este processo de expansão, que é também um processo de libertação do neocolonialismo.

Não se pode dizer, contudo, que estamos num momento histórico totalmente original. Com efeito, é bom recordarmos as palavras de Zbigniew Brzezinsky, ao Nouvelle Observateur, em 1998, aquando, numa entrevista, este reconheceu que, não só os EUA, conscientemente, haviam contribuído para a invasão do Afeganistão, pela URSS, como se regozijou – como gostam de fazer os arrogantes supremacistas -, pelo facto de, mesmo com um milhão de mortos, ter valido a pena o apoio aos Mujahidine (Talibãs), o qual sabiam, antecipadamente, ser visto por Moscovo, como algo de intolerável nas suas fronteiras e que não deixaria de provocar uma guerra.

Num processo com semelhanças ao que se passou na Ucrânia – formação de uma elite dirigente profundamente anti-Russa (ou anti-URSS) praticante de uma ideologia odiosa e extremista -, o mais importante que Brzezinsky disse, contudo, foi que os EUA, estando ideologicamente na defensiva, com a agenda dos direitos humanos foi possível virar a maré e colocar a URSS na defensiva. Hoje, a ideia de um mundo multipolar recolocou o Sul Global, como um todo, numa posição ideológica ofensiva e, ao mesmo tempo, os EUA voltaram a encontrar-se na defensiva. E desta feita, bem que podem vir com a agenda dos direitos humanos outra vez, que já ninguém acredita neles.

Deste posicionamento podemos retirar um ensinamento valioso para os nossos dias: por muito agressivos, arrogantes e beligerantes que pareçam, os EUA – incluindo Israel – foram novamente colocados numa posição defensiva. Tudo o que fazem, acontece como resposta a uma realidade em que o mundo multipolar se continua a expandir e o ocidente “alargado” a contrair. Por muitos “alargamentos” que a OTAN possa propagandear, o espaço vital dos monopólios ocidentais, que constituem as raízes do imperialismo, tem vindo progressivamente a diminuir. Este é um facto indesmentível e só um endividamento brutal da Casa Branca faz como que a economia dos EUA continue, artificialmente, a crescer e com ela, a alimentar o processo de “contenção” do crescimento do mundo multipolar.

O que é impossível de esconder é que o problema dos EUA, desta feita, é mais complicado. Não será tão fácil passar “à ofensiva” como o foi com a URSS. Embora a URSS constituísse um desafio formidável e que a elite dirigente, em Washington, logo identificou como sendo algo de vida ou de morte, o facto de a potência soviética ser, à data, o único pilar em que assentava o desafio, facilitava as coisas. Era muito fácil partir o mundo em dois e diabolizar a outra parte. Ao contrário de hoje, a URSS não se podia suportar na China.

Já o desafio que é imposto através da China, Rússia e Irão, secundados pela India, África do Sul, Brasil e muito outros, é muito mais complexo e deslocalizado. Em primeiro lugar, não se trata de um bloco monolítico com uma mesma ideologia. Tratam-se de países com sistemas de governação muito diferentes, desde os mais liberais, como Brasil e África do Sul, aos socialistas como a China ou os nacionais desenvolvimentistas como a Rússia, ou mesmo o Irão, associando-lhe ainda a sua dimensão teocrática e democrática. Do ponto de vista da propaganda, isto coloca muitas dificuldades, daí que, nos últimos meses tenhamos assistido a um crescente desenvolver de uma linha de propaganda, segundo a qual a China tem interesse na vitória de Trump – ele que a quer destruir – e que é a extrema direita europeia quem apoia a China e é por esta apoiada. É uma espécie de “Rússiagate”, desta feita em versão chinesa. Enfiar uma mesma carapuça a todos e diaboliza-los, não tem sido nada fácil.

Acresce que, estes países, cada um da sua forma – o Irão menos – estão conectados com as cadeias de valor ocidentais, o que impede uma acção decisiva e brutal, independente de consequências. Veja-se o que aconteceu com as sanções à Rússia, agora pense-se no que aconteceria se essa agressão se desse contra a economia chinesa.

É esta a essência da “multipolaridade”, a que outros chamam “multiplexidade”, que consiste na sua enorme capilaridade, como cogumelos que se multiplicam por todo o mundo, cada um com a sua morfologia, mas todos com a mesma natureza, tornando-se virtualmente impossível de conter o seu crescimento. Como os EUA aprenderam com a Rússia, não basta atacar um, é preciso fazê-lo a todos, mas, a todos, é impossível, como estarão, agora, a perceber. Esta diversidade é absolutamente desafiadora para a lógica totalitária e unicista estado-unidense, que se via a dominar um mundo uniforme.

Se há coisa que o ocidente monopolista não entende é como unir coisas que são diferentes, como aceitar as diferenças alheias, como criar uma força comum entre diferentes, unidos apenas por um sentimento, a liberdade. Para unir, o imperialismo estado-unidense sente uma necessidade imperiosa de uniformizar, desrespeitando e destruindo culturas, tradições, crenças e ideologias, com o sentido de impor a sua.

Estes países multipolares, alicerçados num estado interventivo (algo de comum a todos e que rejeita a proposta ocidental do estado mínimo neoliberal, substituído pelos monopólios), que controla os sectores estratégicos da economia e apostados na soberania económica, tornam o controlo das suas economias muito complicado. Não admira que uma das linhas de ataque dos EUA à China seja a necessidade de abolição dos “controlos de capital”. É que a história da “liberalização” é vantajosa para quem tem mais poder de aquisição. Nós sabemos quem tem mais dinheiro acumulado, fruto de 500 anos de pilhagem e escravatura.

A verdade é que os EUA, olhando para esta realidade, perceberam que a estratégia de Brezinsky teria de ser adaptada à realidade actual, nomeadamente, deveria ser desconcentrada ou capilar, devendo optar-se por provocações deslocalizadas, aproveitando a dispersão de bases militares por todo o mundo. À Rússia, seria a Ucrânia, Geórgia, Moldávia, Arménia, secundados de perto pela OTAN; à China seria Taiwan, Coreia do Sul, Tailândia, Filipinas, Japão e a escorregadia India; ao Irão, Israel.

As provocações deslocalizadas, através de proxys muito bem armados, colocam um problema, problema esse agora demonstrado pela retaliação Iraniana. A manta é curta, para um ocidente que não tem a capacidade industrial de outrora, deslocalizada por culpa exclusiva sua, através de uma impopular política de destruição de postos de trabalho, ao serviço dos monopólios.  E isto acontece num quadro de contracção financeira, económica e social. Até do ponto de vista do financiamento destas operações, o ocidente acaba preso às suas contradições: ao contrário dos estados, os monopólios não investem no bem comum, apenas na concentração da riqueza. Tirar do estado para dar aos monopólios acabou no que estamos a ver.

Alicerçados em complexos militares industriais em que as principais empresas são públicas e, mesmo quando privadas, obrigadas a concorrer com as públicas, o Irão, China e Rússia, produzem muito barato o que ao ocidente sai caríssimo (a defesa aérea do Iron Dome, na noite da retaliação Iraniana, gastou à volta de mil milhões de dólares). Esta realidade possibilita uma resposta “calibrada” de valor relativamente baixo. Em comparação, quem mais gasta com estas operações, é quem tem as economias a cair; quem menos gasta, é quem tem as economias a crescer. Uma vez mais, uma consequência do estado mínimo neoliberal, saído do consenso de Washington.

Daí que o grande desafio que se coloca ao mundo multipolar será o de continuar a apostar em respostas suficientemente “calibradas”, para coloquem em sentido o agressor, sem entrar numa escalada de vida ou de morte, mas mantendo o agressor ocupado, corroendo-se cada vez mais, e cuja actividade o leva a acreditar que está a avançar, quando, na verdade, se está a retrair. A Rússia fê-lo magistralmente com a Operação Militar Especial e a China também o está a fazer do ponto de vista não militar.

Daí que, ouvir Ursula von der Leyen com a sua proverbial arrogância, ameaçar o Irão com ineficazes sanções, ouvir Trump e o seu MAGA, Sunak a querer falar grosso e Macron armado em Napoleão, ao mesmo tempo que dizem “o mundo está com a Ucrânia”, “a Rússia está isolada”, “vamos conter a China” ou “o Irão atacou Israel”, demonstre isso mesmo: os servidores de monopólios andam entretidos a jogar aos soldadinhos de chumbo sem constatarem que o fazem num tabuleiro cada vez mais pequeno.

Consiga o mundo multipolar continuar a proferir os seus ataques “calibrados”, seja sob que forma forem tais ataques (uns mais militarizados, outros mais comerciais e tecnológicos) e teremos por garantido que serão capazes de completar a tarefa, antes iniciada por outros: acabar com o neocolonialismo que amordaça, ainda, o sul global.

Vamos lá Kalibr!

Fonte aqui.


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4 pensamentos sobre “Os ataques “kalibrados” contra o neocolonialismo

  1. Penso que isto é como se estivéssemos a assistir a uma comédia global cujo único objetivo é manter-nos num estado constante de medo e stress.

    Utilizando os “bons velhos” métodos das sociedades autoritárias.
    O campo dos bons é lindo.

    No fim de contas, são os governos que são o problema, e as pessoas que estão a morrer no grande massacre. Talvez um dia possamos esperar que as pessoas assumam finalmente o controlo do seu próprio destino. Estou convencido de que não haverá mais guerras.

    Vivemos num mundo louco que em breve conhecerá o seu fim, basta um pouco mais de paciência e tudo acabará muito, muito mal. Noto que para além dos líderes religiosos fanáticos, dificilmente ouvimos outros religiosos a pronunciarem-se a favor da Paz, porque juntar a loucura bélica ao apocalipse climático já presente é um péssimo presságio para um potencial futuro desta dita humanidade. …o seu destino está ameaçado a curto prazo…se tivesse de escolher, preferia uma colisão com um asteroide, pelo menos a honra do auto-proclamado “homo sapiens sapiens” estaria a salvo…mas ei…os comerciantes de armas vão ganhar muito dinheiro depois dos laboratórios…pergunto-me o que farão com todo esse dinheiro quando tudo ruir e tivermos transformado o “belo azul” no “grande vermelho”…????

    Nunca compreenderei a atração que a violência exerce sobre os nossos dirigentes, o apetite voraz pelo dinheiro, depois dos horrores que a humanidade viveu em 39/45 e muito depois com tudo o que se seguiu (Guerra do Vietname, Guerra Fria, etc…), ainda não se acalmaram. Na minha opinião, a guerra regional está quase no fim e só falta um pequeno passo para se tornar global e explodir de vez entre os diferentes líderes que apoiam o governo israelita ou os pobres habitantes de Gaza que estão a ser massacrados como os judeus em 39/45… E mesmo que fosse apenas a população de Gaza a ser massacrada, até os trabalhadores da ajuda humanitária, os jornalistas, os médicos, etc., seriam mortos.

    São apenas os líderes que se divertem com a morte de centenas de milhares de pessoas, salivando e esfregando as mãos sobre os lucros gigantescos obtidos à custa dos mortos, é assustador ver como estamos a ser liderados. E precisamos urgentemente de nos levantar antes que isto se transforme numa carnificina.

    Penso que objetivo iraniano era bastante claro. O custo da defesa israelita era particularmente elevado e estava saturado de drones que custavam alguns milhares de dólares. Se olharmos para os vídeos datados da resposta iraniana, podemos ver que muitos mísseis atingiram o alvo. Se fosse apenas 1%, teríamos visto apenas 3, mas não é esse o caso.

    Objetivo(s) do Irão: O primeiro objetivo é mostrar à população que, se o seu território for atacado, as autoridades iranianas não ficarão de braços cruzados. Para quem não sabe, os consulados em países estrangeiros fazem parte do território ao abrigo do direito internacional. Isto significa que Israel atacou o Irão no seu território, o que constitui uma declaração de guerra.

    Nos últimos 10 anos, Israel sempre atacou o Irão – as suas bases no Iraque, postos no Líbano e na Síria – mas nunca diretamente o território iraniano. Esta é a primeira grande mudança. Quanto ao Irão, as suas respostas foram sempre muito comedidas. Quando Soleimani foi assassinado pela administração Trump, limitaram-se a bombardear as bases americanas no Iraque. Quando Israel matou o cientista responsável pelo projeto nuclear iraniano, deu uma resposta simbólica.

    Aqui, como espectadores, poderíamos pensar que o Irão está a dar tudo por tudo. Mas não o fez. Em primeiro lugar, o Irão poderia ter atacado com 10 vezes mais drones e mísseis. Não o fez, porque o seu único objetivo era mostrar que tem os meios – sem forçar, sem utilizar alta tecnologia – para saturar a Cúpula de Ferro e atingir os seus alvos. Sim, foram atingidos, mesmo que não tenham sido destruídos – de qualquer modo, não era esse o objetivo. Em segundo lugar, o Irão tem os seus próprios mísseis hipersónicos, não os utilizou, mas tê-los-ia utilizado se quisesse destruir um determinado edifício.

    O que o Irão fez NÃO é propaganda, é uma resposta LÓGICA que o direito internacional permite. A maioria dos países teria reagido de forma muito mais enérgica. Neste caso, optaram por ser vistosos, mostrando que têm a capacidade de ameaçar utilizando meios de baixo custo. Por seu lado, Netanyahu, que sabia muito bem que haveria uma reação, conseguiu recuperar algum apoio popular em Israel. É uma situação em que todos ganham. No que diz respeito à comunicação, e não à propaganda, este ataque iraniano tem um impacto definitivo no mundo xiita. Os rivais do Irão, como a Turquia, vêem o seu povo apreciar a ação do Irão, o que não agradará necessariamente a Erdogan, que poderá sentir-se tentado a mostrar que também ele está a lutar contra Israel à sua maneira.

    Por último, a chamada revolta iraniana. Aconselho todos a olharem bem para a história recente do Irão. É um país que tem sido vítima de muitas revoluções feitas nos EUA e no Reino Unido. Convido toda a gente a ler sobre a Operação Ajax e o que se seguiu. Sejamos claros: NÃO, o povo iraniano, as mulheres iranianas, não estão a arriscar as suas vidas se não usarem véu, não estão a ser espancadas pela polícia, etc… Mais uma vez, convido TODOS a irem ver o vídeo de vigilância que inflamou a população iraniana, quando a mulher iraniana cai no chão e morre. Ela está numa espécie de sala de espera, há lá pessoas para outra coisa qualquer, ela está a falar com uma mulher, não há contacto físico, NADA. Depois desmaia. São os nossos meios de comunicação social que dizem disparates sem indicar a fonte, e os meios alternativos que os transmitem sem qualquer verificação.

    Dito isto, há uma polícia de código de vestuário no Irão, há uma sociedade diferente da nossa, e daí? Temos de deixar de acreditar que somos o centro do mundo. Se olharmos para as últimas eleições presidenciais no Irão, havia mulheres candidatas. As mulheres no Irão têm o seu lugar e não são infelizes. Temos de acabar com a loucura do cavaleiro branco ao estilo americano, que faz com que Mohamed seja insultado e espancado porque estão convencidos de que Latifa precisa de ajuda. Não é verdade, é um disparate. Em Portugal temos os nossos LGBT, os nossos ecologistas radicais, os nossos vegans, etc. Temos de os aceitar, não podemos pôr em causa as suas ideologias (mesmo que os aceitemos humanamente como são e como querem ser). Mas será que podemos aceitar e compreender que outros países do mundo, cuja evolução civilizacional é diferente da nossa há milhares de anos, possam ter uma visão diferente? O que nos faz felizes pode torná-los infelizes e vice-versa.

    Os “líderes” dos movimentos no Irão tinham o cabelo pintado, piercings por todo o lado… individualmente, fazem o que querem. Mas deixem de nos tomar por parvos, elas não representam as mulheres iranianas. Representam os interesses culturais dos EUA. Quanto às “manifestações”, resultaram na morte de dezenas de polícias. Não se trata de habitantes locais zangados, não. Há uma suspeita extrema de interferência estrangeira (até haver provas, não vou dizer que é certo, embora…).

    Sei que para mim, como conhecedor da história, é impossível dizer que não concordo com a ideologia extremista woke e lgbt. Sei que não tenho o direito de dizer que não tenho nada contra a China, o Irão ou a Rússia. E acho que isso é uma pena. Porque se eu não gosto de certas ideologias, não estou necessariamente contra as pessoas que pertencem a elas, é a ideologia que me incomoda. Por outro lado, o racismo contra os povos do mundo vai muito longe…

    As mulheres iranianas que usam véu são objectos, submissas aos homens (imagine o insulto à extrema maioria das mulheres iranianas que o fazem por ESCOLHA)

    Os chineses são todos lobotomizados (sim, são demasiado estúpidos para saberem o que é bom ou mau para eles, claro! é por isso que se estão a desenvolver tão depressa)

    Os russos batem nas mulheres, são alcoólicos e homofóbicos (mais um disparate espalhado por pessoas que não se interessam pelas sociedades do mundo
    – etc. etc.

    A extrema-direita conseguiu tornar o racismo credível e aceitável em Portugal e na europa. Além disso, o homem não vacinado era um idiota sem educação e um assassino. É tempo de reflectirmos sobre a nossa sociedade em vez de inventarmos problemas para os outros.

    Seja como for na minha opinião, o facto de a Rússia e o Irão se atreverem a opor-se ao Ocidente (NATO) é novo e é apenas o começo. O Ocidente está em declínio, económica, demográfico, geopolítica e militarmente…. E a reação de uma fera em fuga é imprevisível! É assim que a situação é perigosa. O risco de uma guerra mundial: o Ocidente contra o resto do mundo. Estou preocupado connosco e com os nossos filhos, que não pediram nada. As elites ocidentais são loucas e degeneradas. E estão a conduzir-nos à loucura.

  2. Do lado Ocidental não há bêbados, homofóbicos e gente que bate nas mulheres. Somos todos muito bonzinhos, muito santos, respeitamos os direitos humanos. Que por todo o Ocidente sejam assassinadas milhares de mulheres todos os anos e só um detalhe.
    Isso de nos Estados Unidos haver pena de morte, prisão perpétua e penas de duração indeterminada e só um detalhe.
    O facto de num pais como a Alemanha a esta hora já podermos estar todos presos por críticar o estádo genocida de Israel também não interessa nada. Sim, por esta altura há por lá gente presa por antissemitismo por dizer muito menos do que por aqui temos escrito nos últimos meses. Mas continuamos a dizer que defendemos a liberdade de expressão.
    O Diário de Notícias deu hoje destaque ao bandido Netanyahu que teve a pouca vergonha de gozar com a cara de todos nós ao dizer que não ha fome em Gaza. Quando há anos que se gaba de a provocar pois que ainda me lembro quando por volta de 2010 o traste disse que estava a pôr Gaza “a dieta”.
    Quem da voz a semelhante celerado mostra bem a sua condição de presstituto.
    Num texto da passada terça feira o autor russo, Dmiti Orlov dizia que Netanyahu e um criminoso de guerra que merece passar o resto dos seus dias na prisão. Concordo com a primeira parte mas não concordo com a segunda. Netanyahu merece a pena de morte. Porque é um criminoso do calibre de Eichmann.
    E se Eichmann foi enforcado também ele devia se lo. Porque tal como Eichmann o que o move é o racismo e uma ânsia de genocídio.
    Não me parece é que tivesse a mesma coragem ao subir ao patitubulo. Tem uma cara de cobardao que não engana.
    E é atrás de um traste destes que andamos todos como andamos atrás de Zelensky. Que a pretexto da guerra se recusa a convocar eleições mas continuamos a dizer que o alarve defende a democracia. Tudo porque não aceitamos partilhar o mundo com outras formas de ver o mundo. Porque não aceitamos comprar lhes os recursos por um preço justo. Porque queremos continuar a viver as custas dos outros.
    O problema é que os outros já não querem continuar a sustentar nos.
    Por isso países como o Irão trataram de se armar até aos dentes. Isto tem tudo para correr mal porque os dirigentes ocidentais não aceitam perder. E estão dispostos a sacrificar nos a todos.
    Sanções, o Irão e outro país que tal como a Rússia não precisa de nós para nada pois que se precisar de alimentos pode contar com a Rússia. Se pode sobreviver quando tanto a Rússia como os Estados Unidos queriam fritar o Khomeini quanto mais poderá agora tendo acesso aos recursos da Rússia. Por isso estes trastes falam para não estar calados e mais uma vez mostram indecência. Porque quando Israel mata dezenas de milhares de Palestinianos em Gaza ninguém fala em sanções, quando Israel atacou um consulado iraniano matando gente aí de quem falasse em tal. Se o Irão atacasse uma embaixada de França, Inglaterra ou Estados Unidos e esses países atacassem o Irão tambem lhe chamariam ataque não provocado? Bateram com os cornos onde?
    E ainda teem a pouca vergonha de chamar antissemita a quem critica aquela nação homicida. Vão chamar antissemita ao diabo que os carregue.

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