Informações interessantes sobre a guerra na Ucrânia

(Major-General Raúl Cunha, in Facebook, 25/01/2024)

Curiosamente, à medida que a guerra na Ucrânia avança numa direção caracterizada por “alta tecnologia”, contraditoriamente está a retroceder noutras como resposta a isso mesmo. Veja-se que, porque o actual campo de batalha pós-moderno está tão preenchido com emissões de comunicações e se tornou num campo de batalha electromagneticamente saturado, as forças russas estão a ter de procurar alguns recursos em tecnologias mais antigas.

Já foi constatado que estão a coletar linhas telefónicas e de comunicações da Segunda Guerra Mundial, já fora de uso, porque provaram ser mais confiáveis e resistentes ao moderno ambiente de guerra eletrónica.

Além disso, essas linhas físicas terrestres de comunicação são especialmente adequadas para o atual tipo de guerra de posição, em que não não são feitos muitos avanços num curto período de tempo, permitindo assim estabelecer linhas directas entre vários quartéis-generais e unidades sem terem que se preocupar com o facto de tudo isso ter de ser repetido se e quando os comandos das unidades se deslocarem vários quilómetros durante o avanço.

Porém, lembremo-nos de que a comunicação por via física é o padrão normal, pois não há nada que supere a sua fiabilidade e a segurança, mas parece que agora está a ser usada ainda mais do que nunca. Isto deve-se particularmente ao facto de uma das maiores limitações do exército russo, que a guerra ajudou a revelar, serem os seus sistemas de comunicações.

Existem alguns bons sistemas e as suas comunicações são normalmente boas quando se trata dos escalões mais elevados, ou seja, as brigadas a comunicarem com os corpos de exército e superiores, mas quando se trata de formações e escalões menores comunicando entre si, muitas vezes é uma completa confusão. Os rádios padrão do exército russo – o equivalente aos sistemas Harris americanos – foram sendo abandonados desde o início por deficiente funcionamento, forçando muitas unidades russas a confiar em Baofengs chineses baratos de consumo, que são extremamente frágeis e interceptáveis.

Como regra, geralmente os Baofengs mais baratos e similares são usados apenas a curtas distâncias, como, por exemplo, um comandante de bateria de artilharia comunicando instruções de tiro às suas tropas a vários metros de distância. Isso é considerado relativamente seguro porque os rádios não têm um alcance muito grande e então seu sinal não pode ser interceptado de forma confiável. As comunicações com unidades distantes são normalmente feitas com sistemas encriptados e mais padronizados como o Azart – mas ainda há muitas questões que precisam de ser resolvidas e as tropas russas queixam-se frequentemente de problemas de comunicação entre unidades a distâncias médias de 5-15 km. Esta é uma área onde os EUA e a OTAN têm uma distinta vantagem. No entanto, deve dizer-se que esta vantagem é principalmente teórica e não foi comprovada num ambiente infestado de guerra eletrónica. Digo isto, porque há muitos relatórios que sugerem problemas importantes neste domínio, também da OTAN; por exemplo, problemas relatados em Marders/Leopards alemães nos campos de treino, citando especificamente que os seus sistemas de comunicação não funcionavam e que os comandantes eram forçados a abrir as escotilhas para “gritar” instruções para as unidades próximas.

Outras informações interessantes sobre a guerra na Ucrânia, no momento:

O “suposto” Instituto para os Estudos da Guerra “conseguiu” admitir não só que a Rússia tem toda a iniciativa, mas que tem as suas unidades com os efectivos a 95%, o que permite uma rotação e geração de forças atempada e profissional:

Dizem no seu relato o seguinte:

– A capacidade da Rússia de realizar rotações a nível operacional provavelmente permitirá que, no curto prazo, as forças russas mantenham o ritmo geral das suas operações ofensivas localizadas no leste da Ucrânia.

Resumindo: as unidades russas estão bem equipadas, compensam facilmente quaisquer perdas e têm todo o ritmo e iniciativa operacional. A Ucrânia, por outro lado, percebemos isso nas últimas actualizações, está a sofrer 30.000 baixas por mês e pela primeira vez – de acordo com alguns relatórios – não foi capaz de, recentemente, repor essas baixas mensais através da mobilização.

Na frente tática, a Ucrânia está-se a desempenhar extremamente bem. Em muitos casos, têm sido mesmo superiores às forças russas numa determinada frente, devido a ocuparem posições defensivas e à vantagem que estas conferem, bem como a uma utilização mais astuta da tecnologia UAV e das capacidades ISR da OTAN.

No entanto, onde muitos dos danos desproporcionais estão a ser causados é no campo dos totalmente imparáveis ataques russos na profundidade operacional. As defesas aéreas da Ucrânia estão agora mais diminuídas do que nunca e, inversamente, o arsenal aéreo da Rússia está mais forte porque todas as suas capacidades produtivas de MGP (munições guiadas de precisão) continuaram a aumentar exponencialmente. Estão a lançar mais mísseis e outros tipos de armas do que nunca, particularmente a crescente panóplia de bombas UMPK.

Verificámos a adaptação das munições RBK-500 pela Rússia, e agora tivemos a confirmação completa de que também estão a usar FABs de 1.500 kg, bem como até mesmo termobáricas ODAB-1500.

Tendo em conta estes factos, as posições da Ucrânia na retaguarda estão a ser atingidas sempre com grandes baixas. Por exemplo, houve um novo ataque a um hotel de mercenários em Kharkov que levou à eliminação de cerca de 60 franceses.

A guerra dos drones também continua a aquecer, com um artigo recente a admitir que os soldados ucranianos são forçados a abandonar completamente os seus veículos porque os drones russos os destroem a todos, impiedosamente:

– Os homens da 117ª Brigada, na região de Zaporizhzhia, enfrentaram uma desagradável caminhada de seis quilómetros na chuva e na lama, disse um comandante ucraniano ao Times. Se utilizassem os seus veículos para levar munições ou alimentos para a linha da frente, os drones russos poderiam atacar de cima.

Na verdade, há a confirmação real da integração de IA nos FPVs russos, mas, apesar destes avanços, as tropas russas não estão numa posição muito melhor. O domínio dos drones pela Ucrânia está a atingir novos patamares e as viaturas russas estão a ser visadas por eles em quase todas as frentes quando tentam atacar. As áreas de retaguarda da Rússia parecem bem protegidas, mas ninguém ainda consegue repelir por completo os ataques de drones, quando se afasta demais da proteção de GE.

LISTA DE ABREVIATURAS

UAV – Unmanned Aerial Vehicle

ISR – Intelligence, Surveillance, Reconnaissance

UMPK – Universal Planning and Correction Modules

RBK-500 – Multi purpose cluster bomb

FABs – Bombas Aéreas explosivas

ODAB – Air-Fuel explosive bomb

IA – Inteligência Artificial

FPVs – First Person View drones

GE – Guerra Electrónica


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2 pensamentos sobre “Informações interessantes sobre a guerra na Ucrânia

  1. Actualmente vivemos numa plutocracia que impõe os seus delírios ao povo, através de todo o tipo de tribunais de justiça, tribunais europeus e outros tribunais constitucionais, a mando da oligarquia.

    A deterioração acelerada da sociedade americana, não augura nada de bom para o futuro do mundo ocidental, que deve refletir seriamente sobre o assunto, tendo o cuidado de não repetir os mesmos erros que os Estados Unidos cometeram vezes sem conta.

    O Ocidente não quer admitir o seu declínio
    Acabou, agora é a vez do mundo multipolar!

    Em geral, a descrição da situação da crise do Ocidente, está na definição das suas causas.
    A realidade é absolutamente oposta: são as “democracias liberais” que são agressivas na sua ideia fixa de se expandirem por todo o mundo, destruindo tudo no seu caminho. Os que chamam de “autoritários” estão apenas a defender-se dessa onda destrutiva.

    Estas guerras dos EUA são guerras iniciadas para desestabilizar,vejam o exemplo dos Estados do Médio Oriente em oposição à Rússia. O aliado dos EUA, Israel, foi o caso das guerras directas no Iraque, a guerra direta essencialmente por procuração, Estados Islâmicos, daesh, isis etc…. Na Síria, a tentativa de apropriação das riquezas mineiras do Afeganistão, para preservar a supremacia dos dólares, patrocinando o assassinato de Khadafi pela França, tendo esta última tido a ousadia de querer criar o dinar de ouro com baixo teor de ouro e que seria a moeda de África.
    Quanto à Sérvia, o objetivo era quebrar a influência russa sobre os seus irmãos eslavos, os sérvios.
    Por isso, é desonesto pôr em confronto os Estados Unidos e a Rússia.

    A América com colapso da cultura protestante, geradora do desenvolvimento moderno, está a desaparecer e a ser gradualmente substituída por lobbies poderosos e restritos que se baseiam essencialmente no poder e no dinheiro e que nada têm a ver com o cristianismo, mas que utilizam os EUA como um representante dos seus objectivos. Estes fenómenos desenvolveram-se ao longo dos últimos sessenta anos e são facilmente verificáveis.

    Quando se trata dos Estados Unidos, há que recorrer sempre aos agregados económicos!
    Além disso, a maior economia do mundo, os EUA, alberga 50 milhões de pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza!
    A classe média, que é a variável de ajustamento nos países ditos industrializados, está a sobreviver mais do que a viver!

    E não são apenas os intelectuais que o “prevêem”: as sanções europeias estão a empurrar os russos para os braços da China. Cabe-lhes a eles ver quanto tempo demoram a opor uma resistência armada e determinada. O FSB só tem de agradecer a Putin e optar por uma “melhor defesa nacional”. Porque, a este ritmo, é apenas uma questão de tempo até a Rússia se tornar um “Estado-tampão” entre a China, a Coreia do Norte, o Irão e o resto do mundo.

    Quando falam de poder em termos de invasão de outros… tem uma visão continental das coisas, que é um pouco arcaica.
    O poder é, acima de tudo, o controlo do comércio e dos mares.
    Os Estados Unidos não são poderosos porque controlam o território, mas porque a marinha americana controla os oceanos.

    O que se está a passar e vai continuar com a guerra na Ucrânia?

    (A guerra na Ucrânia teve um grande impacto , com surpresas estratégicas e uma resiliência inesperada da economia russa.
    A guerra na Ucrânia é decisiva para o futuro da Europa e das democracias ocidentais.
    A prioridade da estratégia dos EUA é a China, não a Ucrânia. A dissuasão contra a Rússia falhou.

    A crise das democracias é sem precedentes, mas evitável com os recursos actuais.
    O aumento da desigualdade económica e o colapso do comportamento democrático estão ligados ao choque entre elitismo e populismo.
    A ascensão dos países não ocidentais e o impacto da guerra na Ucrânia na violência e nas regras internacionais.
    A sociedade está a regredir, com o declínio dos níveis educacionais, o aumento da desigualdade e uma cultura comum em declínio.
    Os Estados Unidos procuram manter a estabilidade no Médio Oriente usando a força para evitar a escalada da violência.)

    Os chineses não esqueceram a guerra do ópio, os indianos não esqueceram a colonização inglesa, o Médio Oriente conhece bem a estratégia americana para vender as suas armas, os povos africanos querem investimentos chineses que não interfiram nos seus assuntos internos. A Europa tem de rever a sua cópia, porque o pólo anglo-americano procura apenas a sua hegemonia sobre o mundo inteiro.

  2. Interessante.
    Pede embora os interesses Ocidentais assentarem numa progressiva dissolução da Federação Russa e transforma-la numa miríade de pequenos países da dos de poder explorar permitindo aí Ocidente control-los e explora-los.
    Aliás não estou a dizer nada de novo, isso mesmo ficou expresso em acta, após o conclave que teve lugar numa pequena cidade Suíça, em meados de Janeiro de 2022..
    Sabemos porque um site Austríaco o divulgou. O Conclave foi rico em presenças, estiveram presentes a alta finança mundial, os principais responsaveis pelo complexo Industrial/militar mundial, altas figuras políticas e foi presidido pela dignitaria americana Nancy Pellozy, ao tempo, “democrata” e presidente da Câmara de Representantes Norte Americana, entre outras coisasdemrnor importância descritas na acta avulta, em primeiro lugar a descolonização da Federação Russa e em segundo lugar adua divisão em mais 15 países.
    Uma questão muito interessante dado que seria muito importante saber o que representa a referência ao apóstolo “DESCOLONIZAÇÃO” e segundo como é que o ocidente vai conseguir dividir a Federação Russa em mais 15 países independentes?
    O artigo anterior é muito interessante, é concludente e vale a pena lê-lo e refleti-lo, mas partindo, não de pressupostos mas de realidades verificaveis, analisar, estudar e refletir sobre esta realidade política mensurável.

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