Versão portuguesa de A Nova Arte da Guerra — tocar corneta e não desafinar

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 17/10/2023)

Tenho ouvido com surpresa alguns militares de altas patentes comentarem os atuais conflitos, o da Ucrânia e agora o de Israel. Os tudólogos e as tudólogas apresentam horóscopos. São artistas convidados por razões conhecidas das direções editorais dos meios de comunicação para convencer os clientes mais vulneráveis intelectualmente e não merecem um olhar. Pelo seu lado, os militares são (eram?) tomados como analistas racionais e metódicos. É nesta perceção que assenta a sua credibilidade e que me custa vê-los desbaratar.

A maioria dos militares convidados pronunciam-se sobre a manobra das forças, os armamentos e tomam notória posição a favor dos regimes da Ucrânia e de Israel, replicando as posições da NATO e dos Estados Unidos. O chocante dessas apresentações não é a tomada de partido, é ela não ser assumida e comunicada, como FB faz, indicando que a mensagem tem origem num meio sob controlo da Rússia. Mas, mais surpreendente, são os maus tratos que eles dão aos princípios da guerra, à relação entre a manobra tática e a organização das forças que as realizam e ainda da história das batalhas.

A opção de um analista pode ser muito parcial em termos ideológicos, mas a vontade de transmitir uma mensagem de bons de um lado e maus do outro não pode anular princípios básicos da arte da guerra, como acontece. Vi e ouvi esses militares considerarem um ato ilícito que uma população cercada num castelo (os palestinianos em Gaza) organize uma força que sai da fortaleza a coberto da noite e ataque as sentinelas do inimigo. É uma manobra comum ao longo da história. Estas operações estão tipificadas em todos os manuais de tática e organização militar como operações especiais, ou operações irregulares.

É estranho a ignorância do que é uma sortida. As fortalezas dispunham quase sempre de uma saída secreta, de um túnel ou de uma vala disfarçada para estas ações. Considerar uma ação tão antiga como esta como um ato bárbaro e fora das leis da guerra é, ou uma grosseira manobra de manipulação para enganar o público em geral, ou uma prova de ignorância de história tanto da antiga como da recente. As forças portuguesas realizaram ações deste tipo, de grande violência, contra forças que as cercavam ou atacavam, ou mantinham reféns portugueses. Fizeram-no em várias ocasiões, as operações Mar Verde, de ataque às prisões do PAIGC em Conacri é uma delas e não foi sem sangue e com bons modos. A operação Ametista Real, de ataque a uma base do PAIGC no Casamance, no Senegal, e que cercava a guarnição de Guidaje, foi outro exemplo, violento e sangrento. O assalto à aldeia de Wiriamu, em Moçambique, é ainda outro. Seria de boa norma que os oficiais comentadores conhecessem estes exemplos de operações irregulares levadas a cabo pelos militares portugueses, antes de seguirem a narrativa americana e israelita, o que evitaria apresentarem uma sortida de um grupo de guerreiros de uma população encerrada no último baluarte, que mata sentinelas inimiga, como um ato de terrorismo e não como uma ação militar legítima, e, mais, que as ações de bombardeamento com catapultas de bolas incandescentes, ou de animais infetados com vírus, como o faz a artilharia, a aviação e a marinha israelita, são atos legítimos de defesa dos atacantes!

Regressando às análises de especialistas militares que têm surgido nos grandes meios de comunicação, eles trazem a público uma nova teoria militar que substitui A Arte da Guerra, de Sun Tzu , e Da Guerra, de Clausewitz, mas também o desenvolvimento de uma nova da Lógica, que substitui o uso do raciocínio, da proporcionalidade entre argumentos, da correta e equilibrada relação entre todos os termos de uma situação.

Há, na argumentação dos profetas do novo Ocidente alargado para justificar a defesa dos regimes de Zelenski e de Netanyahu, da Ucrânia e de Israel, defensores da superioridade étnica e religiosa, uma nova Lógica que substitui a que foi estudada em várias civilizações da Antiguidade, desde a Índia, onde a recursão silogística, Nyaya remonta há 1900 anos, à China, com o Moísmo e, por fim e mais próximo de nós, na Grécia Antiga em que a lógica foi estabelecida como disciplina por Aristóteles. Não é coisa pouca a obra destes comentadores sem obra, mas com currículo e carreira!

A invocação do direito de defesa quer na Ucrânia, quer em Israel escapa à Lógica como ela tem sido entendida, não porque não tenham esse direito, mas porque o tomaram como um direito de que se apropriaram, negando o direito de defesa dos outros. É uma corrupção do conceito vulgar entre “porta vozes” contratados à peça, como meio de manipular a realidade para a dobrar aos interesses dos manipuladores.

Quanto aos militares, há (havia?) um capital de respeito por eles que está a ser desbaratado ao vê-los integrar o coro que alguns fazem na orquestra que tenta ensurdecer as opiniões públicas ocidentais. Que se salvasse, ao menos, a teoria, o conhecimento da arte da guerra, a honra! Mas não, temos músicos de orquestra, ou cornetas que tocam afinadas e à ordem.


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17 pensamentos sobre “Versão portuguesa de A Nova Arte da Guerra — tocar corneta e não desafinar

  1. 1 – A Ucrânia tem fronteiras definidas desde 1991; do acordo de então são garantes a Rússia os EUA e a Grã-Bretanha.
    Que a invasão da Ucrânia seja direito de quem não foi agredido, é questão primeira.
    2 – Gaza tem fronteiras definidas desde 24 de Fevereiro de 1949; havendo inúmeras questões pendentes de guerras posteriores; pelas eleições de 2006 o poder em Gaza foi tomado por grupo que visa destruir Israel e rejeita a Autoridade Palestiniana. O cerco actual releva essas situações e um permanente estado de agressão recíproca.
    Que o ‘castelo’ de Gaza, cujo cerco incluía licenças de trabalho em casa do inimigo, sofra as conseqüências das suas sortidas em que visa sobretudo civis e não ‘sentinelas’, é o que está em causa no momento.
    3 – A questão palestiniana é toda uma outra questão comportando um peso histórico que, a ser projectado oportunisticamente pelas partes, sempre ficará por resolver; como por resolver estão os campos de refugiados no Líbano e na Jordânia e alhures, que não se distinguem de tudo mais, em que palestinianos sempre parecem quererem definir-se como ‘sem rumo nem destino’ pelo facto de existir o Estado de Israel, enquanto este se afirma como potência tecnológica e militar.
    E o irritante é que sempre culpam quem mais lhes dá sustento, com o aplauso da cambada de ‘ocidentais’ que só encontram conforto para a sua indigência mental no desmerecer do Ocidente!

  2. A deterioração da situação está a permitir que a colonização encoberta prossiga.
    Podemos também interrogar-nos se a “guerra” atualmente em curso em Gaza não conduzirá à anexação: que outra escolha teria Israel, uma vez que o Hamas não pode obviamente ser destruído: é sobretudo uma ideologia, fruto do ódio (os habitantes de Gaza esquecerão estas mortes daqui a vários séculos, não antes).
    Sobre este último ponto, a falta de lucidez do orador deixa-me estupefacto. Sim, o Hamas causa sofrimento ao povo palestiniano, mas Israel é a fonte de igual mal (se não muito mais).

    Qualquer homem que trabalhe numa mina sabe que não se pode acender um rastilho de dinamite sem que ela expluda.

    Da mesma forma, quem age como um louco para obter algo colhe os frutos da loucura. É por isso que a guerra nunca é a arma preferida de um homem sensato.

    Em breve saberemos que tipo de homem governa este mundo.

    Não nos iludamos.
    Depois de ter deslocado os habitantes de Gaza, o Estado hebreu vai querer deslocar os habitantes da Cisjordânia, para estar mais seguro, dirá.
    Mas, com as armas actuais, nunca estará seguro dentro destas novas fronteiras.
    E precisará de cada vez mais zonas-tampão, sem população autóctone, e, mais uma vez, haverá exigências sem fim…

    O facto de o homem encarregado de fazer a guerra ou a paz (o Primeiro-Ministro israelita), ladeado por 2 ministros de extrema-direita que falam de animais humanos e por um Presidente que declara que todos os habitantes de Gaza são responsáveis (incluindo as muitas crianças menores!), não está muito inclinado a escolher o caminho da paz, uma vez que há muito tempo que vem pacientemente abrindo este caminho que conduz à guerra.

    O pior é que todas as opiniões (mesmo as dos nossos meios de comunicação social e dos zexperts) são unânimes em dizer que Netanyahu está “acabado”, ou seja, que depois da guerra terá de prestar contas e demitir-se, quanto mais não seja por esta história da incursão surpresa do Hamas (e podemos acrescentar que deixou o Qatar financiar o Hamas há pouco tempo com a sua bênção).

    O Egipto e a Jordânia não podem aceitar 2 milhões de refugiados.
    Estes países já são instáveis. Iriam explodir.

    Parece que a população israelita (com exceção dos odiadores) se está a manifestar e compreendeu claramente que ele lhes pregou uma partida suja e que a culpa não é 100% do Hamas.

    Permitam-me que vos recorde que o Hamas tem na sua carta fundadora a destruição total do Estado de Israel e dos judeus.
    O Irão, que treinou cuidadosamente os combatentes do Hamas nos últimos anos, tem os mesmos dois objectivos.

    Na segunda-feira à noite, o Conselho de Segurança da ONU rejeitou um projeto de resolução proposto pela Rússia que apelava a um cessar-fogo humanitário na Faixa de Gaza, devastada por quase dez dias de combates entre Israel e os militantes palestinianos do Hamas.
    + A UE está a dar 75 milhões ao Hamas para ajudar os palestinianos…???
    O grande silêncio dos oximenos perante esta catástrofe e esta loucura a céu aberto é um mau presságio para o futuro.
    Estamos realmente à beira de um cataclismo global número 3? outubro negro….

    Os interesses em jogo são diferentes: uns reduzem a população mundial para o advento da NOM, outros afirmam a sua hegemonia, e outros ainda obtêm super-lucros com a guerra, uma guerra muito grande.
    A licitação está a decorrer, com toda a miséria associada.
    Ainda há uma solução?

    O nosso mundo está cada vez mais marcado pela intolerância e pelo ódio contra aqueles que não pensam, agem ou vivem como nós. Este ódio exprime-se na selvajaria e no massacre.
    Como é que podemos lutar com os nossos recursos limitados?

    O rei Abdullah II da Jordânia estabeleceu as suas linhas vermelhas: “nenhum refugiado palestiniano” na Jordânia, “nem no Egipto”. Nem a Jordânia nem o Egipto querem servir de recetáculo para os palestinianos.

    Há ainda lugar para eles na Arábia Saudita, no Qatar (irmão mais velho e fornecedor de fundos), nos Emirados Árabes Unidos (não tão unidos), em Omã e no vasto espaço muçulmano.
    Assim, seria possível evitar a exploração dos infelizes nepaleses, filipinos, etc.

    Ainda me espanta que a ONU peça contenção ao malvado exército israelita, mas não exija a libertação imediata dos reféns!
    A ONU em ….
    e o Papa tão silencioso.

    A Alemanha negoceia com o Qatar a libertação dos reféns , e todos os outros países fazem o mesmo… e a União Europeia, filial da ONU, não serve para nada, excepto para pagar os salários chorudos e as “instituições pseudo-estatais” de Gaza.

    Desde a criação de Israel (atacado no dia da sua criação, em 1948, pelos seus vizinhos amigos), nenhuma negociação conduziu a um resultado satisfatório e duradouro.

    Uma boa guerra…. poderia ser a solução para um pouco de paz no futuro.

    E enquanto o Médio Oriente está no centro das atenções…

    O que está a acontecer aos nossos amigos arménios ????
    nada.
    para recordar:
    De 13 a 19 de janeiro de 1990, centenas de milhares de arménios que viviam em Baku, na República Socialista Soviética do Azerbaijão, foram sujeitos a uma série de pogroms em grande escala, uma manifestação da política do Azerbaijão de agressão sistemática contra a população de etnia arménia.

    São demasiado simpáticos, não compreenderam que a violência é a única forma de alcançar o progresso político, económico e social.

    Só o “nosso bravo” Zelensky está preocupado com o facto de já não ser uma prioridade.

    É também muito importante ter em conta que ao largo (30 km) de Gaza, no fundo do mar, há gás, e bastante: 30 000 mil milhões de m3, o suficiente para gerar 700 a 800 milhões de dólares por ano para a Palestina. O campo chama-se GazaMarine.

    Na primavera deste ano, houve negociações “secretas” entre Israel e a Autoridade Palestiniana para partilhar o bolo. A priori, chegou-se a um acordo, mas não é certo que esteja completamente validado e que a situação atual sirva mais os interesses de Israel do que os de Gaza…

    Ainda não compreendi as manobras dos globalistas franquistas, kazares us, cujo emblema é um lobo em pele de cordeiro e que apenas manipulam o mundo para fins específicos, incluindo “ordos ab chaos”. Com Nuland e Blinken e alguns outros, falharam o seu último golpe na Ucrânia e lançaram o Hamas para criar um novo golpe. Entretanto, roubam as jazidas de petróleo e de gás offshore do Líbano, da Síria, dos palestinianos e de Chipre, que são consideráveis se conseguirem expulsar os palestinianos de Gaza (o que está em curso). Tal como no 11 de setembro, que eles organizaram, o número de mortos não tem qualquer importância, a não ser provocar uma emoção que, pelas suas consequências, só pode aumentar a confusão reinante. Estes criminosos não têm mais nada a perder e devem ser neutralizados no local.

    A resposta à pergunta “O que fazer?” fingem ignorar que o objetivo declarado é a expansão territorial do Estado de Israel.
    Depois de os habitantes de Gaza terem sido varridos do mapa no sul, com Hamas ou sem Hamas, o mesmo processo continuará no leste…
    Não tomem as pessoas por parvas.

    • André Campos, às vezes não dá para te entender, dizes uma coisa e o seu contrário, pareces o Dr. Jekyll and Mr. Hyde. O que queres dizer com isto?
      ________________________

      “O rei Abdullah II da Jordânia estabeleceu as suas linhas vermelhas: “nenhum refugiado palestiniano” na Jordânia, “nem no Egipto”. Nem a Jordânia nem o Egipto querem servir de recetáculo para os palestinianos.
      Há ainda lugar para eles na Arábia Saudita, no Qatar (irmão mais velho e fornecedor de fundos), nos Emirados Árabes Unidos (não tão unidos), em Omã e no vasto espaço muçulmano.
      Assim, seria possível evitar a exploração dos infelizes nepaleses, filipinos, etc.
      Ainda me espanta que a ONU peça contenção ao malvado exército israelita, mas não exija a libertação imediata dos reféns!
      A ONU em ….
      e o Papa tão silencioso.
      A Alemanha negoceia com o Qatar a libertação dos reféns , e todos os outros países fazem o mesmo… e a União Europeia, filial da ONU, não serve para nada, excepto para pagar os salários chorudos e as “instituições pseudo-estatais” de Gaza.
      Desde a criação de Israel (atacado no dia da sua criação, em 1948, pelos seus vizinhos amigos), nenhuma negociação conduziu a um resultado satisfatório e duradouro.
      Uma boa guerra…. poderia ser a solução para um pouco de paz no futuro.”
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      Achas mesmo que a Jordânia e o Egipto devem receber os palestinianos de que o apartheid sionista se quer livrar de uma vez por todas, numa gigantesca operação de limpeza étnica há muito sonhada e que procurava apenas um pretexto? Achas mesmo que, quando o criminoso é a ladroagem sionista, devemos inverter o dito popular e decidir que o crime compensa? Quando escreves que “há ainda lugar para eles na Arábia Saudita, no Qatar (irmão mais velho e fornecedor de fundos), nos Emirados Árabes Unidos (não tão unidos), em Omã e no vasto espaço muçulmano”, estás mesmo a dizer que os países árabes devem ajudar o nazionismo a libertar-se dos impuros, recebendo os palestinianos expulsos das suas terras e do que resta das suas casas, assim concretizando finalmente o Estado “etnicamente” puro que há muito almejam para o povo eleito? Quando ironizas com o “malvado exército israelita”, acaso queres convencer-nos de que a benemérita instituição é, afinal, um poço de virtudes onde impera a bondade?

      É verdade que Israel é atacado desde o dia da sua criação, em 1948, mas será porque os atacantes eram e são, desde sempre, uns mauzões antissemitas ou porque achavam e acham errado e injusto que Israel tenha sido criado em grande parte em terras roubadas aos seus habitantes, impiedosamente expulsos ou assassinados para arranjar “espaço vital” para os novos donos, avessos a misturas com impuros e infiéis, ou gentios, como eles lhes chamam?

      E acreditas mesmo que “Uma boa guerra…. poderia ser a solução para um pouco de paz no futuro”? O que é isso de “uma boa guerra”? Uma guerra entre quem? Uma guerra terá forçosamente vencedores e vencidos. Quem achas que devem ser os vencedores? Quem achas que devem ser os vencidos?

      O que significa isto: “a União Europeia, filial da ONU, não serve para nada, excepto para pagar os salários chorudos e as “instituições pseudo-estatais” de Gaza”. Salários chorudos? “Instituições pseudo-estatais” de Gaza? E o que é isso de que a ONU não exige a libertação imediata dos reféns? Andas distraído? Achas mal “que a ONU peça contenção ao malvado exército israelita”? Será melhor deixá-los de rédea solta até não sobrar um palestiniano inteiro?

      André Campos, dizes coisas acertadas muitas vezes, mas há muitas outras em que parece que entregas a redacção de parte dos teus comentários ao ChatGPT e outra a um ChatGPT a chutar para a veia. Desculpa-me a franqueza, mas não dá para apostar em dois carrinhos ao mesmo tempo.

      • Joaquim Camacho,eu não acho nada!
        Não conheço o CHATGPT,e penso com a minha cabeça,embora saiba que cometo erros.Cometo erros no meu emprego e até na minha vida,como toda a gente.

        Já referi aqui que não tenho ideologia política,sou neutro,apenas conheo bem a história e gosto de Geopolítica desde os meus 20 anos…Estudei a história de Israel desde a sua fundação,em 1500 ADC.

        Não vou explicar o que escrevi,mas as minha fontes são fidedignas,embora parece mais teorias da conspiração.

        Porque é que o Egipto se recusa a receber os palestinianos?

        Um ponto muito importante sobre a recusa do Egito é que mata de uma vez por todas a recuperação dos territórios palestinos ocupados e não é o primeiro deslocamento já dois terços dos palestinos em Gaza foram deslocados pelo menos uma vez. Sabe muito bem que não se trata de uma solução temporária, mas sim de uma ocupação do resto do território palestiniano.

        Israel decretou a passagem à economia de guerra.

        Com as notícias mais envolventes do momento, várias coisas estão sob o meu radar, incluindo o atentado na Turquia e os eventos na Sérvia… Aquece um pouco, aquece um pouco.
        Para os Estados Unidos, admiro sempre a sua capacidade de aceitar que centenas de milhares de pessoas estejam desempregadas e que muitas outras estejam em dificuldades devido a divergências políticas.

        Esta guerra provocou, no mínimo, cerca de 10.000 mortos.

        Entre soldados palestinianos e civis mortos.

        Soldados e civis israelitas mortos.

        Os mortos civis estrangeiros, para não falar da execução dos reféns.

        Palestinos mortos por ferimentos de bombardeios, ou pessoas de saúde frágil.

        Com o corte da água potável e da electricidade, penso nomeadamente nas crianças ou nas pessoas idosas, é obrigatório que haja quem morra em consequência disso.

        Mas isso não é tudo!
        O Líbano e a Síria também atacaram Israel!
        Então também há pessoas mortas por aqui!

        Estimo entre 10.000 e 15.000 mortes no mínimo até ao fim-de-semana.
        (Quase 2 semanas desde que o conflito começou no momento em que escrevo estas linhas).

        Veja mais! Se até lá Israel enviar suas tropas para tomar o norte de Gaza.
        Lá, pode facilmente aumentar a estimativa para 20.000 ou 30.000 mortes.

        Espero sinceramente que este início de conflitos não provoque uma nova guerra mundial…
        Já que tivemos sorte (enfim, por assim dizer) que o conflito Russo/Ucraniano não a desencadeou.

        • André Campos, lamento informar-te, mas essa coisa de “não tenho ideologia política” não existe. Tal afirmação é habitualmente feita por quem tem uma ideologia bem marcada e não a quer assumir. Serve para melhor contrabandear por debaixo da mesa, à pala de uma falsa neutralidade conferida pela igualmente falsa ausência de ideologia, posições que às claras dificilmente passariam. Em 99,9999% dos casos, os que afirmam não ter “uma ideologia política” professam uma ideologia objectiva e subjectivamente reaccionária e as posições políticas que implicitamente defendem estão em conformidade, mesmo que no pacote, para baralhar, misturem posições aparentemente progressistas.

          Volto a ficar perplexo com afirmações tuas como “Estudei a história de Israel desde a sua fundação, em 1500 ADC”. Israel foi fundado em 1948, a história dos “1500 ADC” serve apenas para contrabandear e justificar o mito do direito exclusivo do “povo” judeu àquela terra, que lhe teria sido dada por Deus, de onde há milénios teria sido expulso e aonde agora estará a “regressar”. Não há “regresso” nenhum, pá, isso é treta! Trata-se de uma invasão e de uma colonização. Que culpa têm os palestinianos de hoje das maldades que há milénios foram feitas aos judeus? Que culpa têm os palestinianos de hoje do crime de genocídio de que foram vítimas os judeus de ontem às mãos do nazismo alemão, protagonizado pelos avozinhos, tiozinhos e porventura até paizinhos de Frau Ursula von der Lies e quejandos? A história dos “1500 ADC” é o álibi xenófobo e racista que pretende justificar a expulsão da Palestina de todos os que não fazem parte do “povo eleito”, decretando a Bíblia como registo notarial que lhes confere o direito de queimar ou deitar para o lixo os direitos de propriedade reais e actuais dos que há séculos lá vivem. E até ao advento do sionismo também viviam naquela região, há milénios, alguns milhares de judeus, em paz com os seus vizinhos árabes, numa terra que era tanto de uns como dos outros. As centenas de milhares de judeus que, principalmente depois da II Guerra Mundial, para lá emigraram, começando a matar e expulsar árabes para lhes ficar com as terras, são uma história completamente diferente, simples e clara como água, e só não a compreende, ou finge não compreender, quem de água prefere chapinhar no líquido opaco e fedorento de uma ETAR.

          Existe tanto um “povo” judeu como um “povo” cristão ou um “povo” muçulmano e há até vários historiadores israelitas contemporâneos que desmascaram esse mito, como Shlomo Sand e Ilan Pappé, entre outros. A enorme maioria dos judeus de hoje, espalhados pelo mundo, principalmente os askenazes, são, tal como os cristãos e muçulmanos pelo mesmo mundo espalhados, descendentes de convertidos, e a essa “regra” também não foge a maior parte dos sefarditas. Os judeus, cristãos e muçulmanos do presente são descendentes de convertidos, comungam na religião, mas povo não são. Existe hoje, sem dúvida, um povo israelita, composto por judeus na sua maioria, tal como existe um povo português, cristãos na sua maioria mas também muçulmanos, hindus, ateus como eu, etc. Mas pretender, como defende o nazionismo, declarar Israel como “Estado judeu” não difere em nada da classificação do Irão como “República Islâmica”. Espanta-me que à assanhada bem-pensância “ocidental” tal comunhão de estilos não choque.

          “Porque é que o Egipto se recusa a receber os palestinianos?”, perguntas. Que não compreendas que o Egipto receber os palestinianos significa, objectivamente, expulsá-los da pouca terra palestina que ainda lhes resta, significa uma limpeza étnica de proporções monstruosas, objectivo há muito perseguido pelo sionismo, significa a concretização do obsceno e criminoso sonho molhado do nazionismo de se livrar de uma vez por todas dos infiéis e abarbatar toda aquela terra para os “puros”, deixa-me de boca aberta. Mas se calhar é melhor fechá-la, pois tal falta de compreensão, da tua parte, é improvável e o que camufladamente defendes é precisamente a limpeza étnica.

          E continuas:

          “Mas isso não é tudo!
          O Líbano e a Síria também atacaram Israel!
          Então também há pessoas mortas por aqui!”

          Porra, pá, há décadas que Israel bombardeia quase diariamente o Líbano e a Síria, matando e destruindo impunemente, e tu só vês os “ataques” de resposta dos bombardeados e assassinados?!

          E o que é isto?

          “Todas estas mortes na última década sem quaisquer discursos de paz vindos de qualquer lado. Nem da ONU, nem de intelectuais, nem de pessoas que deveriam querer o bem entre os homens.”

          Acaso serás tu cego, surdo e mudo? Até o António Guterres está farto de apelar à libertação dos reféns e ao fim de todas as acções bélicas, de um lado e do outro. Será que ele já não representa a ONU? Onde o Guterres peca é apenas na pusilanimidade da condenação do Estado ladrão sionista, há décadas violando mais de 50 resoluções da ONU, tanto da Assembleia Geral como do Conselho de Segurança, sem que isso tire o sono ao Guterres e aos outros criados sem libré que o precederam no cargo. E não tem havido inúmeros intelectuais e outras “pessoas que deveriam querer o bem entre os homens” a apelar desesperadamente à paz, não na última década mas há várias décadas? Andas a dormir? Até parece que a mosca tsé-tsé já chegou à Europa, se acaso é na Europa que vives.

  3. Israel foi quem começou o terrorismo na Palestina. A ideia de regressarem terra de onde tinham sido corridos há mais de um milénio e meio foi desenhada no final do Século XIX por Theodore Herzl. O fundador do sionismo foi logo dizendo ao que ia. Reconquistar o territorio do antigo Israel expulsando ou matando quem fosse preciso.
    Uma emigração incipiente começou logo a ter lugar. Após a Segunda Guerra Mundial foi a emigração em massa e as autoridades britânicas viram se a bracos com o terrorismo do Irgum e outros. O atentado ao Hotel Rei David foi a gota de água que fez os ingleses deixar de vez os árabes entregues à sua sorte. Depois de terem proposto uma divisão de território que não lembrava ao diabo. Os árabes, 70% da população, ficariam com 42,5% do território, a maior parte das terras desérticas e semi desérticas. Era como agora regressarem aqui os marroquinos e baterem connosco no Alentejo tendo a malta do Norte de ir para lá. Claro que os recém chegados nem isso aceitaram e trataram de começar os massacres. A maior parte dos países árabes, saídos de processos de descolonizacao com uma mão na frente e outra atrás não tinham como resistir a uma gente fanática, que acreditava que a sua raça é a escolhida por Deus e que estava disposta a todos os crimes. Como se coubesse as populações árabes pagar os crimes de Hitler, da Inquisição e de alguns czares russos. E que continuava com uma diaspora rica, em especial nos Estados Unidos, disposta a comprar o silêncio do Ocidente.O nosso racismo fez o resto. E assim conseguiram tornar nos a todos cúmplices de um crime. Ate porque souberam aproveitar com mestria as perseguições sofridas. Quem condenasse os seus crimes era um reles antissemita que queria voltar a mete Los no crematório.
    Continua a ser assim ate hoje, político ocidental que critica o mais sórdido crime de Israel leva com o carimbo de antissemita na testa, e apedrejado por 500 comentadores e não consegue ser eleito nem para presidente do clube de setas de Pai do Vento.
    Segundo o Talmude só o filho de uma mãe judia é considerado judeu. É não é por darem mais importância às mulheres. É porque ninguém quer validar a probidade moral de uma mulher não judia. Partem sempre do princípio que a desgraçada arriscou o racismo que também existe no seu grupo só pelo prazer de fazer um judeu corno. Faz sentido. É esse bico de obra que os palestinianos teem a aviar.
    E assim se fez a história. Falando em Diáspora, muita gente tem ido de muitos países ocidentais juntar se ao exército Israelita. É esperar que quando voltem sejam perseguidos com o mesmo vigor com que foram quem daqui saiu para se juntar ao Estado Islâmico. Porque também eles vão para lá fazer crimes.E podem voltar com vontade de continuar a comete Los por cá.
    E não pensemos que judeus não podem ser terroristas aqui. No final dos anos 80 um judeu entrou num autocarro na Alemanha disposto a matar quantos pudesse. Matou pelo menos um cidadão alemão e um jovem de 19 anos, italiano, voltou para a sua terra num fato de madeira. Vindos da matança, alguns podem ser perigosos e tentar continuar aqui a matanca do que definem como antissemitas.
    Quanto aos comentadores, estão ali para cantar a música de quem lhes paga e não são os militares mais honestos que economistas, sociólogos e outros.

  4. André Campos, ou é um louco perigoso, ou é um agitador, (que dá uma no cravo e outra na ferradura), só para destabilizar e confundir as pessoas que o leem o que escreve. Eu desisti poque este sujeito escreve muito, mas mistura alhos com cagalhões na maior das vezes. Eu até acho que ele vai copiar textos aqui e ali e mistura tudo fazendo uma caldeirada daquelas…

    • Loucura é sempre fazer a mesma coisa e esperar um resultado diferente”, os beligerantes não são loucos, os resultados são realmente os esperados. Os nativos americanos foram metodicamente exterminados, e outros. Todas as pessoas com um pouco de humanidade, na pior das hipóteses, ficarão caladas, na melhor das hipóteses condenarão as atrocidades perpetradas. As belas frases para nos pôr a dormir são apenas um aval aos crimes.
      Quer conhecer os culpados, procurar quem não reconhece o Tribunal Penal Internacional ….

      Sim, pergunto-me para onde foi a sabedoria, longe de toda a humanidade e do bom senso. Todas estas mortes na última década sem quaisquer discursos de paz vindos de qualquer lado. Nem da ONU, nem de intelectuais, nem de pessoas que deveriam querer o bem entre os homens. 54 anos e nunca vi um período tão sombrio, tão triste e horrível. Tudo vai cada vez mais rápido, e cada vez pior…
      Não serei tão optimista como o senhor , ainda querendo encontrar soluções para o grande drama que se está a preparar e que alguns podem até desejar. A humanidade está correndo para o seu destino (.)

  5. Excelente texto que de forma exemplar denuncia o “corrupto” ou desmonta o mau profissional que, à luz dos conhecimentos que deveria ter pela sua passagem pelas academias, vende “gato por lebre”.

  6. Este André Campos ou é um louco perigoso, ou um demagogo a soldo de interesses inconfessáveis. Ele vem fazer comentários em que no mesmo comentário diz e contradiz-se a cada passo. Eu cá para mim ele copia texto aqui e ali e depois mistura tudo e faz a sua caldeirada. Ele tão depressa parece condenar Israel e os EUA, como depois diz coisas que a mim me põe os cabelos em pé. Eu desisti de o ler. Quando vejo o nome dele e os textos que são um arrazoado interminável, uma mistura de alhos com bugalhos eu passo logo a diante.

  7. o ninismo político

    O termo ni-ni (ou nini sem hífen) referia-se sobretudo a um sector social maioritariamente composto por jovens, que não estudavam nem trabalhavam, imersos numa espiral maldita em que o abandono escolar precoce e a falta de preparação se juntavam a um mercado de trabalho desfavorável, já marcado por uma elevada taxa de desemprego.

    Nos últimos tempos, a esquerda está a popularizar uma adaptação do termo, dando-lhe um novo significado – de natureza pejorativa – para se referir a um fenómeno que não é de todo novo: não ser nem de direita nem de esquerda. São o nem-nem político.

    O acriticismo que domina uma grande parte da massa social indignada favorece a propagação de mensagens que claramente actuam ou podem atuar como um terreno fértil para o neofascismo e o populismo. A deriva ideológica sistémica de uma parte da indignação colectiva toma frequentemente a forma de posições marcadamente reaccionárias, ao mesmo tempo que reforça vigorosamente o status quo.

    Um bom exemplo deste último caso é o slogan político do nem-nem: nem de direita nem de esquerda. Trata-se de uma mensagem muito eficaz, muito simples e que se liga à mais profunda tradição da antipolítica. Ninguém se deixe enganar: se há um slogan profundamente sistémico, um slogan nascido das profundezas da ideologia dominante, é o de não ser nem de direita nem de esquerda, um mantra que actua como uma penicilina política para neutralizar as forças que se posicionam contra o sistema capitalista.

    Não ser nem de direita nem de esquerda é a erótica das massas com que o establishment narcotiza a consciência colectiva.

  8. Sim, o homem as vezes parece dizer uma coisa e o seu contrário, pelo menos o menos vai dizendo realmente ao que vem. Este é conforme lhe da o vento e as vezes no mesmo comentário o vento muda. Já lhe elogiei a lucidez num comentário mas este realmente não tem muita ponta por onde se lhe pegue. Mas enfim, também isso é liberdade de expressão que está, a ser outra vítima desta guerra um pouco por toda a Europa. Leva se com o antissemirismo, há coisas que nunca mudam e por essa Europa fora os manifestantes vão se vendo a contas com a policia.

  9. Bem verdade.Ouvir um general é sempre ouvir o mesmo.Tirando o general Carlos Branco que pensa pela sua própria cabeça.Aliás,nºao percebo porque vão comentar a situação na Palestina.Estão a fazer um favor aos EUA e NATO

  10. Mas o que é isto?!

    https://youtu.be/zQGKzOHD_Ns?si=HBb3ZxIOcJTgYfc_

    Qual “home of the brave, land of the free” qual quê? Aquilo é mesmo é terra de doidos, chalados dos cornos, avariados dos pirolitos, pardon my French! Banana republic on steroids, atafulhada de mísseis, bombas e porta-aviões, e não falta muito para que nos arrastem a todos para o aniquilamento total.

  11. O regime sionista continua a provocar o Hezbollah, sabendo perfeitamente que em capacidade militar, meios à disposição, poder de fogo, pontaria, imaginação e sofisticação o Hezbollah libanês é incomensuravelmente superior ao Hamas. Se o Hezbollah quiser, satura os céus de Israel com uma nuvem de mísseis de tal modo densa que nem uma dúzia de Iron Dome conseguirão travar a décima parte deles. E de nada servirá a destruição que o bombismo nazionista, em retaliação, levará a cabo por todo o Líbano. E se Israel continuar na senda da escalada, bombardeando o Irão com a intenção o arrastar para o conflito, será o descalabro total, pois o Irão tem mísseis e drones muitíssimo mais potentes e sofisticados, ainda que unicamente convencionais, em quantidades suficientes para fazer a Israel o mesmo que Israel está a fazer a Gaza. Ora se tudo indica que é precisamente essa a estratégia sionista, ou seja, provocar uma escalada que arrisque a destruição do país, a pergunta a fazer é que porra de sentido poderá haver numa estratégia assim, porque, aparentemente, não faz sentido nenhum.

    Ora se uma coisa não faz sentido, e sentido não faz que sentido não faça, a coisa a fazer é tentar perceber que coisa fará com que o que sentido não faz sentido faça. E que coisa é essa? Colocado por vontade própria (estrategicamente desenhada e tacticamente executada) à beira do aniquilamento, da destruição total, é claro que Israel usará sem hesitação o armamento nuclear de que consabidamente dispõe, para isso precisando apenas de um pretexto. Entra pelos olhos dentro que melhor pretexto não há do que a ameaça de aniquilamento às mãos dos mauzões dos ayatollahs, com o mundo inteiro a ver e a recitar acefalamente o infalível mantra de que a única maneira de concretizar o direito à “autodefesa” e evitar a repetição do holocausto é a utilização de armamento nuclear. Que os ditos ayatollahs para isso tenham sido implacavelmente empurrados é pormenor que não interessa a ninguém, e se algum excêntrico, cá para estes lados, tiver o atrevimento de tão extravagante teoria sugerir, pois lá teremos o belo mainstream merdia a apontá-lo imediatamente como teórico da constipação e traidor ao abençoado bombismo democrático, humanitário e civilizacional do farol ocidental, apelando à sua imediata defenestração, crucificação ou ambas as três.

    Dispondo de um arsenal nuclear nunca assumido, mas que as estimativas calculam entre 100 e 200 ameixas, o nazionismo precisará apenas de uma dúzia, ou talvez apenas meia dúzia, para remeter o Irão para a Idade da Pedra, destruindo-lhe, em minutos, as principais cidades, portos e infra-estruturas e assassinando na passada, sem hesitar, dezenas de milhões de pessoas, dos perto de 90 milhões que hoje habitam o país.

    Et voilá! Problema resolvido, ameaça eliminada, novas terras, férteis e ricas em recursos, para repovoar, leite e mel até enjoar. É só esperar que a radioactividade regresse a níveis aceitáveis.

    Rezaria para estar enganado, se rezar soubesse, mas não é o caso e, além disso, acho que não serviria de nada. Suspeito que a coisa esteja há muito escrita nas estrelas pelas esferográficas “eleitas” do nazionismo.

  12. Errata: “bombardeando o Irão com a intenção DE o arrastar para o conflito” e não “bombardeando o Irão com a intenção o arrastar para o conflito”.

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