(Hugo Dionísio, in Facebook, 25/01/2023)

Hoje em dia, quem se libertar para fora da esfera “liderada” pelos EUA e acantonada no G7, EU e NATO, e assim romper com o circuito comunicacional, político-ideológico e também cultural, constituído pelo identitarismo individualista anglo-saxónico e judaico-cristão, identificativo do que se designa como “o bilião de ouro”, não pode senão chegar à conclusão de que a elite privilegiada que exerce, de facto, o poder, está cristalizada numa espécie de seita ou sociedade secreta, tão mais hermética quanto maiores são as ameaças externas ao seu domínio. O clube de Nações “livres” a que aludiu Biden na reunião do G7, é um clube seleto, mas fechado e, como em qualquer seita, para entrar é preciso prescindir de algo importante: da liberdade!
Como todas as seitas, a sua existência parte de uma noção de “exclusividade”, associada a uma certa “excecionalidade”, que justifica diferentes tratamentos e entendimentos. Acho que todos podemos concordar, que aquilo que identificamos como ideologia neoliberal se funda, pelo menos primariamente, numa ideia de excecionalismo civilizacional, fundador de uma cultura única, “eleita” para liderar o Mundo e a Humanidade. Nem os mais empedernidos fanboys da NATO podem negar o ideal, herdado das luzes europeias e do supremacismo britânico e hiperbóreo, que posiciona os EUA como líderes “eleitos” da Humanidade. Sem falar de Hollywood, no canal História (que disso tem muito pouco), sucedem-se os programas, documentários e peças sobre a origem divina, excecional, até “extraterrestre” da nação norte americana e da sua vocação civilizadora.
Aliás, é neste excecionalismo racial que radica a origem do individualismo neoliberal por oposição a uma visão mais coletiva e cooperante da Humanidade. É neste excecionalismo que se funda a lógica da competição – diz a teoria que é o melhor quem ganha (meritocracia) – por oposição à lógica que fundou as sociedades humanas e, em última análise, a própria existência do animal que somos – a cooperação, a capacidade de trabalhar coletivamente, o animal social e político.
Como em todas as seitas, existe um jargão próprio e uma tendência para o ensimesmamento, provocado pelo fechamento do circuito em que opera. Quanto maior a incapacidade para estabelecer pontes e linhas de contacto com outras existências, maior o radicalismo e sectarismo das suas posições, que se corporiza, precisamente, numa contradição a que não conseguem fugir: quanto mais querem arrastar, mais os outros lhes fogem. Se a reação da maioria dos países ao conflito no leste europeu demonstra a desconexão entre a narrativa oficial propalada no Ocidente coletivo e o entendimento que a maioria das nações e da população mundial têm do mesmo, a identificação de nações como a China, a Rússia ou o Irão como entidades agressoras e opressoras é algo que só cabe mesmo nas mentes mais sectárias da seita, ou dos seus seguidores.
Atentemos, por exemplo, ao encontro promovido pela Casa Branca para África (US-Africa Leaders Summit). À partida poderíamos vê-lo como um sucesso; afinal, mais de 40 nações africanas compareceram. Os fundos também não faltavam: à cabeça, prometiam-se 55 biliões de dólares para “ajudar” a África a desenvolver-se, combater as alterações climáticas e o terrorismo. Contudo, foi apresentado um senão: para receber o “investimento” há que “desacoplar” da China e da Rússia. O habitual jargão da “democracia” e dos “direitos humanos” estava bem identificado, principalmente como forma de garantir a manutenção da dolarização através da adesão às instituições que o impõem (FMI e Banco Mundial). Toda a Casa Branca estava otimista. Contudo, uma vez mais, o grosso dos enviados africanos não pode ter deixado de pensar: “mas quem é que esta seita de brancos anglo-saxónicos pensa que somos? Parvos?” Choveram artigos internacionais dizendo o que soubemos logo: “para convencer África não basta conversa”!
Se nas ideologias com conexão à realidade, é a própria realidade que valida os respetivos pressupostos teóricos (mais fácil dizer do que fazer), as seitas tendem a funcionar ao contrário, optando por uma abordagem mais idealista, no sentido em que é a própria realidade que tem de se moldar às suas ideias. Os EUA não ouviram África, como não ouviram outros. Os EUA tentaram arrastar África para as suas ideias.
Quando a realidade – essa teimosa inexorável – insiste em não validar os pressupostos teóricos que justificam a existência da seita, ela opta por mover uma guerra contra a realidade, identificando os principais agentes da sua transformação e elegendo-os seus inimigos. No fundo, toda a estratégia de “contenção da China” é uma luta contra a própria realidade, consubstanciada em 5000 anos de história. Daí que, como seita que são, o resultado é também ele previsível; ou estás comigo, ou estás contra mim! O sectarismo da seita não deixa espaço para meios-termos, soluções de conjunto ou compromisso.
Analisar, hoje, a privilegiada elite ocidental, aquela que compõe a superestrutura do sistema, as suas características sociais de origem, os percursos académicos e sociais e a postura ideológica profundamente idealista, é constatar, não apenas a existência, mas o reforço e aprofundamento da lógica de seita. Neste caso, uma seita em divórcio acelerado com o mundo real e numa luta desenfreada contra a mudança das condições materiais que, numa primeira fase, não apenas originaram, como sustentaram, alimentaram e fizeram desenvolver a sua própria existência. Dos cursos Ivy League, aos postos CEO, passando por glamorosos e exclusivos cargos institucionais nas instâncias internacionais, fechados ao comum dos mortais, por “incumprimento” originário dos “requisitos” de mérito, a constituição da elite económica e política numa seita, representa também a sua aristocratização e a consequente drástica redução da mobilidade social a que tanto alude o “sonho americano”. É uma espécie de volta ao tempo dos “senhores feudais”, num claro recuo civilizacional em matéria de divisão social de classes.
Outro exemplo concreto deste funcionamento em circuito fechado é o que se passa no conflito no leste europeu. Basta ouvir as notícias no território NATO/EU/G7 para apreciarmos algumas das variáveis em que assenta a narrativa oficial. Como em todas as seitas, são os dogmas que produzem a força agregadora e centrífuga que mantém a periferia fiel ao centro. A repetição destes dogmas até à exaustão tem uma função ritualística que visa manter os fiéis mais periféricos o mais centrados possível, quase como uma reza ou ladainha. São muitas as ladainhas que, neste caso, visam manter a coesão do conjunto:
- “Tratou-se de um conflito não provocado”, omitindo a sua origem num golpe de estado perpetrado por forças de extrema-direita e neonazis, profundamente racistas contra a população russófona, obrigando esta a acantonar-se no leste.
- “A guerra começou em 24 de Fevereiro de 2021, com a invasão”, omitindo o real início da guerra em 2014, momento a partir do qual as regiões em secessão foram bombardeadas diariamente.
- “O povo está todo contra o invasor”, omitindo a profunda divisão étnica da população daquele país, que levava a uma rotação constante do poder entre fações, originando 3 “revoluções coloridas” organizadas pela CIA, como forma de afastar os governos eleitos pela população russófona.
- “As democracias contra as autocracias”, omitindo o facto de o país que designam como “democrático” ter elegido o seu governo após impedir milhões de cidadãos russófonos de exercerem o seu direito ao voto, de ter ilegalizando cerca de 13 partidos, fazendo apenas restar os que são pró Nato, que por acaso também são os de extrema-direita, sendo que, o país que a narrativa aponta como “autocrático”, assenta num sistema pluripartidário, não se lhe conhecendo casos de ilegalização de partidos.
- “Foi invadido um país pacífico”, omitindo que este país “pacífico” tinha um exército de 600.000 homens e uma capacidade bélica composta por centenas de aviões, milhares de tanques, centenas de sistemas de defesa aérea, centenas de lançadores de misseis e milhares e canhões, tudo de fazer inveja, em qualidade e quantidade, a qualquer país da NATO, com exceção do pai da aliança, os EUA.
A este propósito, o New York Times ou a CNN surgem como os teólogos de serviço, definindo à partida as linhas dogmáticas a seguir. O editorial do New York Times de dia 21 de Janeiro (órgão que é o verdadeiro farol ideológico da imprensa do Atlântico Norte) demonstra toda a incapacidade que a seita composta pela elite privilegiada que exerce o poder de facto tem, em lidar com uma realidade que, cada vez mais, lhe foge. Como em qualquer seita, para a qual – e também face à cristalização – a realidade não se molda às suas pretensões, a opção pelo histerismo, pela demagogia, hipocrisia e cinismo, constitui um recurso necessário. No fundo, passam a mover uma guerra contra a própria realidade. Vejamos a que ponto o círculo se fecha em si mesmo:
- A “invasão” é resultado da “loucura de um homem” solitário. Ora, acho que esta apresentação do presidente do país “invasor” como sendo um homem “louco”, é daquelas que não joga, nem na aparência, nem tão pouco na substância. Se há característica que sempre foi apontada ao presidente daquela nação foi a sua “ponderação”, “frieza” e “calculismo”. Nenhuma das características físicas ou psicológicas denuncia qualquer espécie de “loucura”, ainda para mais “descontrolada”. Por outro lado, custa a crer que um homem que colidera organizações regionais importantes – algumas das que reúnem a maioria da população mundial, como a Organização de Cooperação de Xangai, para não falar dos acordos bilaterais que vai fazendo, e das parcerias estratégicas com India, Irão, China, Turquia e muitos outros, sendo sempre visto como um parceiro confiável m-, seja efetivamente um “louco incontrolável”. Acreditar que países como a Argentina, Arábia Saudita, Indonésia, Argélia, Turquia, Emirados, Paquistão e outros – que querem entrar para os BRICS+, o fariam caso o NYT tivesse razão -, vale tanto como a “revelação” do comediante sem graça sobre o facto de tal presidente estar morto. Lá está, uma luta contra a realidade.
- O “louco” é “cruel” e vai distribuindo um “horror regular” contra “alvos civis”. Ora, quando no mesmo artigo em que se acusa o “invasor” de provocar tais coisas (e se a guerra provoca tais coisas!), o próprio editor chefe, que o redige, vem defender uma escalada da guerra através da entrega pelos EUA de armas ainda mais letais… Afinal, o que é que faz impressão ao NYT? É a morte de civis inocentes por uma guerra que apoia claramente, ou é o facto de o objeto do seu apoio estar a perder, também claramente, essa guerra? E porque não refere, o mesmo editor, os custos que advieram para a Humanidade das outras guerras provocadas pelos EUA nos pós 11 de Setembro, que custaram ao povo americano mais de 8 triliões de dólares e milhões de sem abrigo, cerca de 1 milhão de mortos diretos e mais de 30 milhões de refugiados, cálculos feitos por organizações ocidentais (como o Brown University Watson Institute)?
O artigo continua com um sem fim de acusações deste tipo, apontando para uma narrativa heroica de um lado e uma ilusão, de outro. Esta visão é ela própria resultante de uma incapacidade, também própria da lógica de seita, de se colocar acima dos fenómenos e de os analisar numa perspetiva objetiva. O mesmo NYT que tanta tinta perde neste conflito, é o mesmo NYT que nenhuma tinta gasta relativamente aos 85 países intervencionados, atualmente, do ponto de vista militar, pelos EUA (79 operações de treino contraterrorista; 41 exercícios militares conjuntos; 12 participações em combate; 7 bombardeamentos).
Típico do funcionamento numa lógica de seita é também a pretensão de que as ações dos seus membros são todas justificadas, aceitáveis e benignas; ao passo que as ações dos inimigos são sempre malévolas. Aliás, basta olhar para o que diz a documentação oficial americana (como a 2022 National Defense Strategy, entre muita outra), referindo-se à intervenção da Rússia como “influência maligna”, e recorrendo a uma verborreia de cariz quase-religioso.
E, tal como as seitas, incapazes de fazer uma análise objetiva dos movimentos do real, basta ver como se relaciona o bloco ocidental, formado pelo G7/EU/NATO, com o resto do mundo, para se perceber o estado de negação e fechamento em que operam: “o mundo condena a “invasão””, sendo que, este “mundo” se resume a cerca de 50 países, que votam sempre isolados ou em contradição com os restantes 140, o que é bem patente no caso das sanções, cuja aplicação apenas é assumida por este “mundo” cada vez mais fechado atrás de uma barricada que diz ser “democrática”.
Vejamos o caso do artigo que desmonta totalmente a ideia de que o ocidente formado pelo bloco imperialista lidera uma qualquer pretensão democrática, emancipatória ou de libertação dos países do Sul Global ver aqui. A análise que faz das votações na AG da ONU, permite-nos retirar a conclusão de que este “mundo” unipolar, supremacista, fechado e acantonado atrás da sua própria esquizofrenia – identificando ataques em todos os que não o seguem acriticamente -, está em perfeita contradição com o mundo real, cada vez mais multipolar. Todas as votações da AG da ONU sobre a criação de um sistema económico mais justo, igualdade ou desenvolvimento sustentável, colocam o bloco “ocidental” em oposição à esmagadora maioria da Humanidade. Vejamos:
- Em 12 de dezembro de 2022, 123 países votaram a favor da criação de uma “nova ordem económica internacional” baseada nos princípios da “igualdade, soberania, interdependência, interesse comum, cooperação e solidariedade entre Nações”. Quem votou contra? Pois… A seita. 50 Nações do Ocidente coletivo.
- Numa votação sobre “comercio internacional e desenvolvimento”, 122 votaram a favor, 48 contra. A proposta visava regular o abuso de posições dominantes e o uso de sanções unilaterais que não sejam autorizadas pelos órgãos da ONU. Os sancionadores-mor votaram contra os sancionados ou sancionáveis.
- Na convenção sobre diversidade biológica e o seu papel no desenvolvimento sustentável, 166 votaram a favor e só três nações se opuseram: EUA, Israel e Japão. Todos os 193 países da ONU ratificaram esta convenção, com uma exceção, os EUA.
- Numa votação sobre a “soberania do povo Palestiniano” (aqui o NYT não consegue ver atrocidades!), 159 países aprovaram, e apenas 8 votaram contra. EUA, Canadá, Israel, Chade, Ilhas Marshall e outros que tais.
Aliás, esta votação é exemplificativa do que sucede de cada vez que se vota a condenação do bloqueio a Cuba, em que EUA e Israel, repetidamente surgem isolados contra o mundo. Este padrão repete-se constantemente quando se tratam de resoluções sobre controlo das armas nucleares de Israel. Recentemente, até em matéria de resoluções que visam condenar a ideologia Nazi e a propagação do fascismo, o mundo todo votou a favor (7 biliões de seres humanos) contra o Ocidente coletivo (1 bilião). Quando a seita bilionária ou capataz de bilionários acusa o presidente da Rússia de ser um Hitler, parece que o resto do mundo continua, muito bem, a saber quem foi Hitler e a não embarcar em hediondas transmutações históricas.
Imaginem o que pensarão os líderes das 140 nações que governam 7 biliões de seres humanos, quando lhes entra um grupo de engravatados de fato azul pela frente, a prometer “democracia” e “direitos humanos”, a troco de guerra, armas e quezílias com os países vizinhos…: “- Mas que seita esta…” – não deixarão de pensar, através dos seus diversos mas ameaçados idiomas e por entre as suas exóticas mas acossadas vestimentas tradicionais!
Como alguém disse: “só a verdade liberta”. E, ao contrário do que se diz, mesmo em guerra a verdade continua a existir, assim a saibamos identificar!
A ideia de que “na guerra a verdade é a primeira baixa” é apenas mais um dogma inventado pela seita aristocrática para poder mentir sem ser, por isso, responsabilizada.
Não espere é encontrar a verdade por entre a informação de quem usa a guerra para mentir.
No modelo «democrático» em que temos vindo a viver, em particular, nos últimos tempos, não se trata já desta ou daquela medida ditada por quem o poder exerce, de se ser confrontado com a expressão deste ou daquele ponto de vista político ideológico, mas de o cidadão comum ver-se tratado como se um mentecapto fosse, receptivo a todas as patranhas que lhe queiram impingir como justificativas de tais medidas ou pontos de vista! Um exemplo paradigmático disso, independentemente dos juízos de valor que cada possa fazer no respeitante ao conflito militar que se tem vindo a viver na Ucrânia, é a narrativa, quer oficial, quer de muitos comentadores «avençados», em particular televisivos, respeitante a ele, traduzida na propaganda mais reles! Ao menos, podia-se ser mais criativo!
Decididamente, já não há pachorra para aturar tal! Depois ainda dizem, duma forma cínica, como o Sr. Silva, presidente da AR, que são as redes sociais que estão a pôr em causa a democracia e haver necessidade, por isso, de as regulamentar. Como se já não bastasse a censura de órgãos de comunicação social, como uma RT, a pretexto de ser veículo de mera propaganda de Putin e o cidadão comum, mentecapto, não ter capacidade, por si só, para a descodificar! Já Salazar justificava a censura com o «analfabetismo» do povo, precisando de ser tutelado por ele! O cidadão comum, pelos vistos, só revelará inteligência quando em Silvas vota. A partir daí…
Muito bom comentário, subscrevo tudo. Isto não é uma “democracia liberal”, é um regime oligárquico autoritário com muitas violações de Direitos Humanos no cadastro.
O texto do Hugo Dionísio também é quase perfeito, tem só um lapso:
“guerra começou em 24 de Fevereiro de 2021” – não é 2021, é 2022 obviamente que os propagandistas do regime genocida USAtlantista repetem ad nauseam.
Há dias falou-se do hino de Portugal. Há um músico qualquer que o acha demasiado belicista.
“Às armas, às armas, contra os canhões marchar”
Esqueceram-se os superficiais que isto não é um apelo à guerra, mas sim à coragem patriótica (dos Republicanos perante os covardes Monárquicos, ie a oligarquia de outrora) para nos defendemos da agressão e diktat do regime imperialista e genocida anglo-saxónico.
Esqueceram-se também que o mais importante neste momento seria mudar a orientação geopolítica de Portugal. Sair da NATO (tal como Irlanda, Áustria, e Suíça) e deixar de pertencer à tal seita cujo hino mais parece:
“mais armas, mais armas, aos Nazis canhões enviar”.
Mas isto já não incomoda esses superficiais… E o problema da seita de Davos é mesmo esse: o número de seguidores no tal “golden billion”. Parece a Alemanha no tempo em que a maioria também acreditava no máquina de propaganda do Goebbels original. Que loucura!
Excelente apresentação!
Ao notar a extrema dureza e horror deste conflito ucraniano, faço observação implacável de que nós, Portugueses, não seríamos capazes de suportar um quarto do sofrimento suportado pelos ucranianos e russos. A verdade é que, para além do campo do blá blá blá blá onde somos muito fortes, o nosso ultra-confortável estilo de vida ocidental tornou-nos meigos, não resistentes à dor e à privação, cobardes e fracos.
Em caso de guerra, duvido que muitos Portugueses estariam dispostos a dar as suas vidas por esta guerra em nome da “democarcia”. Ficaria surpreendido se os fala-barato os belicistas nos fóruns da Internet tivessem que lutar pela chamada “democracia”. Seria salve-se quem puder.
Cada país vive de acordo com as suas convicções, escolhemos viver à maneira americana, a Rússia escolheu viver à maneira russa.
Ninguém quer guerra, excepto as organizações e elites que têm os benefícios financeiros directos…
Os nossos políticos não sabem qual é a verdadeira guerra com as suas atrocidades, eles não abrem os livros de história!
Este conflito na Ucrânia vai durar muito tempo, por isso seria urgente abrir verdadeiras negociações entre as duas partes, mesmo que isso signifique recorrer a outros mediadores que não os líderes..
EUA-Europa, mas preferimos falar do envio ou não de tanques para os ucranianos.
Infelizmente, o silêncio ensurdecedor dos nossos deputados não ajuda em nada. Acordarão quando for demasiado tarde?
A paz construída desde 1945, apesar das tempestades aqui e ali em todo o mundo, tem permitido a todos apreciar a emulação humana em todos os campos. Porque é que os EUA, vassalagem da bela Europa de todos os sonhos, preferem curto-circuitar o processo em vez de continuar a puxar o mundo para um maior desenvolvimento? O que é que os EUA perdem com a ascensão da China e da Rússia? Será agora a selva no universo humano? É o reinado da lei do mais forte ou do mais apto? Será este o fim de uma era? É necessário preservar a energia a todo o custo, ignorando a arma fatal da energia nuclear? Podem dobrar a Rússia e a China ao mesmo tempo?
A mentalidade russa recusa-se a viver à maneira americana, à maneira europeia. Sim, mais de 40 milhões de mortos e quantos feridos pela luta contra o nazismo deixaram um enorme trauma. Todos os anos, ainda hoje, toda a população russa marcha nas ruas com as fotos dos seus mortos e a atmosfera é muito impressionante, pungente. Ainda está viva na alma russa. Os Ukronazis faziam fronteira com os russos de Donbass e mesmo noutros lugares. Os oligarcas americanos organizaram o golpe, agitando perpetuamente a violência contra aqueles que resistiam a Donbass.
Agora a guerra só deixa mortos e incapacitados, perturbações comportamentais de ambos os lados. A Europa está a enviar armas contrárias à sua vocação de paz. É incoerente, absurdo, e está a crescer crescendo. Quando terão lugar as negociações de paz, cada dia deixa apenas mortes, miséria, doença, sofrimento.
A realidade é uma dura guerra de atrito de ambos os lados e quando ouço os nossos queridos lideres eleitos que talvez nunca tenham estado no exército e ido para o campo, como podem falar de coisas que não sabem e, acima de tudo, não os ouço falar de paz!!!
Os belicistas são incapazes de imaginar os horrores da guerra que nos afectariam mais de perto, mesmo na nossa carne e na das pessoas que amamos… A história ensinou-nos que aqueles que foram para a guerra com uma arma apontada à cabeça ficaram logo desiludidos… Actualmente, o poder de não ir é bastante diferente e uma democracia corrupta não merece os milhões de mortes que o risco de apocalipse nuclear e de devastação planetária geraria.
Ao armar os ucranianos, transforma-os em carne para canhão para interesses ocidentais… A expansão da NATO, a interferência ocidental, os acordos de Minsk não cumpridos, as populações de língua russa da Ucrânia bombardeadas desde 2014, a incapacidade dos nossos líderes para negociar a paz através do reconhecimento e correcção dos erros do Ocidente criaram esta situação deplorável, apesar dos erros do chefe de Estado russo…
O mundo está de pernas para o ar porque os anti-valores em relação à democracia estão a tornar-se valores. Não há guerra na Ucrânia para a DEMOCRACIA, mas para aniquilar a Rússia, a consequência é que a Ucrânia é destruída. Uma democracia de valores ocidentais não deve apoiar o 2º país mais corrupto do mundo. Zelinsky tornou-se um bilionário em resultado desta guerra. Como é que ele o fez?
Esta situação está totalmente desfasada da realidade por parte dos povos da Europa que não só não têm consciência do que lhes pode acontecer, como também uma verdadeira falta de realismo sobre as consequências potencialmente apocalípticas para os seres vivos na Terra se esta escalada continuar.
Devemos acordar e deixar de ignorar a necessidade de negociação e de diplomacia inteligente. Os russos são mais de metade da Europa e os EUA sempre tiveram uma vantagem em dividir e governar. Esta operação é uma estratégia para destruir a Europa a fim de reconstruir os EUA, que faz fronteira com a queda do Império. Os europeus não têm qualquer vantagem em iniciar uma guerra na Europa. Um detalhe importante: a Rússia é apenas um dos países mais poderosos do mundo, a Europa envelhecida e temerosa não tem rival. Se os EUA destruírem a Europa, é vantajoso para eles.
Rússia é um país com 16 fronteiras, o que não é muito comum e que pode explicar muito sobre a psicologia ultra-defensiva da nação russa.
A Rússia tem sido frequentemente invadida mais ou menos pacificamente do norte pelos Varegans, vikings que eram mais comerciantes do que saqueadores e que contribuíram para a criação dos estados primitivos russos.
A partir do leste havia a constante ameaça dos mongóis da Horda de Ouro e do oeste os germânicos (cavaleiros teutónicos), balto-eslavos, polaco-lituanos (que fizeram uma aliança com os mongóis antes da batalha de Kulikovo) e suecos, porque não se devem esquecer que a Suécia era um estado muito poderoso na época de Gustav II, derrotados na batalha de Poltava, no Sul e no Sudeste a pressão dos povos turcos dos pastéenos, até que os otomanos, os menos fortes da Pérsia (o Irão tem sido mais frequentemente um aliado do que uma ameaça para a Rússia, a aliança Rússia-Irão-Arménia, não data de ontem)
Não parece ter havido muito conflito entre a Rússia e a China, que parece ter o mesmo tipo de mentalidade ultra-defensiva.
Após os mongóis, os polacos e a Suécia, os russos tiveram de enfrentar o Grande Exército de Napoleão e depois a intervenção ocidental em apoio ao Império Otomano, nomeadamente durante a Guerra da Crimeia com o corpo expedicionário britânico e os seus auxiliares franceses (1853), e depois novamente duas vezes face às potências germânicas como a Áustria (Hungria) e a Alemanha (II e III Reich).
Na maioria dos casos não parece que tenha sido a Rússia a atacar, mas sim o contrário, é verdade que muitas vezes lhes arrancaram os dedos à dentada!
Não acabou bem para a Polónia, que quase saiu da história durante algumas décadas, nem acabou bem para o Império Otomano, que foi desmantelado e perdeu todos os seus bens a norte do Mar Negro, nem acabou bem para o Grande Exército, nem acabou bem para os dois Reichs alemães.
Seria portanto melhor regressar a uma situação de não-beligerância nesta marcha dos Impérios que é a Ucrânia (o nome Ukraïna significa, como a Krajina nos Balcãs, “marcha” ou “periferia”), que corre o risco de se tornar um não-estado desmembrado (pela Rússia a favor dos russos de língua russa e de etnia russa no Leste e no Sudeste e pela Polónia no Oeste).
A história russa é muito diferente da dos britânicos ou dos Estados Unidos, por exemplo, que não eram muito defensivos e estavam constantemente inclinados para a expansão.
A geografia e a centralidade de um país têm muito a ver com a sua psicologia.
Um pouco como a Suíça, sem saída para o mar, numa área muito, muito maior.
O facto de estarem a enviar tanques de fabrico alemão irá certamente beneficiar Putin. Como um sinal para os russos, está definitivamente a recordar-lhes as dolorosas memórias da Operação Barbarossa. Com políticos como a Ministra dos Negócios Estrangeiros alemã Annalena Baerbock a declarar que a “Alemanha está em guerra com a Rússia, Putin está a brincar no limite”. Este tipo de discurso reforça, a ideia de que o Ocidente quer destruir a Rússia.
Depois dos relatos lacrimosos das vítimas da guerra, os nossos políticos não se mexem. Eles não querem saber dos ucranianos. Servem apenas para mover a população, para que fique claro para eles que Putin é o mau da fita e que ele tem absolutamente de ser detido.
Infelizmente, os nossos políticos não têm nenhum plano, nenhum objectivo realista, apenas uma espécie de corrida precipitada que não é muito coerente. De que serve enviar 30 Abrams, 14 Leopardos alemães, 30 Leopardos polacos , 14 britânicos Challenger2, um punhado de Leopardos espanhóis portugueses e lituanos, que provavelmente não chegarão ao campo de batalha durante vários meses e que serão varridos de qualquer maneira.
O que se segue? Fala-se em entregar F.16, mísseis de longo alcance.
Parece que queremos mesmo ter mísseis russos na nossa cabeça.
Uma pequena reserva, no entanto. Se é justificado e legítimo expressar reservas sobre certas ideias conservadoras na Rússia promovidas por Putin, ou mesmo condená-las, cuidado com a tentação, tão comum no Ocidente, de apresentar a nossa cultura como um modelo único e inevitável. Seria bom deixar as sociedades evoluir ao seu próprio ritmo. Atacá-los torna as coisas piores e as primeiras vítimas são os seus cidadãos.
O Irão era uma democracia em 1957. O seu governo queria nacionalizar as matérias-primas nas mãos dos americanos e dos britânicos (ainda eles) que fizeram um golpe de Estado e colocaram o xá no poder. Sabemos o que aconteceu a seguir. Que desonestidade hoje por parte do Ocidente para condenar o regime autoritário nascido das suas manipulações.