Olhai as vinhas, coitadinhas!

(Por José Gabriel, in Facebook, 25/01/2023)

Naquele tempo, há milhares de anos, o homem, num golpe de génio, inventou o vinho. E achou que era bom. Logo soube também que, como tantas coisas importantes a vida, tinha o vinho uma dupla face: um lado prazeroso e alegre, outro triste e feio. E não temeu, pois sobrava-lhe bom senso e sabedoria para consumir o novo néctar com moderação. Os deuses também gostaram e não o dispensavam nas suas libações. Chegaram mesmo a usá-lo como metáfora do divino sangue. Poderia haver excessos? Sim, como em todas as atividades humanas. Mas isso não dependia da natureza do consumido, mas a insensatez o consumidor. E, assim, o vinho acompanhou os homens na sua jornada e eles acharam que era bom.

Até que os homens inventaram uma coisa chamada União Europeia. E esta, na sua obsessão de proteger os cidadãos da velha Europa de tudo o que lhes desse prazer – em nome a higiene, a saúde, a segurança…- e, considerando que os cidadãos são todos descerebrados, decidiu que todas as garrafas e outros contentores do precioso líquido fossem rotulados com imagens assustadoras e advertências que – à semelhança do que acontece com o tabaco – desencorajassem os sequiosos humanos do seu consumo (ver notícia aqui).

A bondosa organização até já calculou a percentagem de consumidores que abandonariam o vinho desmotivados por essas advertências. Tem ela a certeza de que até o mais inveterado bebedor deixará de o ser por esses rótulos lhe fazerem ver, qual epifania, a verdade. Ignora-se quais os sucedâneos recomendados para a celebração de cerimónias religiosas e outras em que se brinda com o funesto líquido. Talvez só escape a cerimónia do baptismo dos barcos, uma vez que esta consiste, geralmente, no acto de partir uma garrafa de champanhe contra o casco da embarcação, o que constitui uma bela metáfora às intenções benévolas da União Europeia.

Acontece que, ao longo desta história do vinho, os homens inventaram os Italianos, povo dado aos prazeres sólidos e líquidos da mesa. Ora, os Italianos, sabendo as intensões da UE, e assanhadiços que são quando lhes entram no cardápio, já anunciaram que jamais obedeceriam às ordens da Úrsula europeia e recusariam que as suas garrafas de Brunello di Montalcino, Chianti, Barolo e outras maravilhas fossem visualmente poluídas com tão sinistros avisos. E exortam outros povos a fazer o mesmo.

Ora, pergunto eu, ao menos neste assunto conseguiremos fazer frente aos caprichos dos mandantes europeus? Aqui, acho que os meus irmãos latinos – pelo menos – se levantarão. Contra os abusos de poder da UE e, claro, para um brinde à nossa saúde.


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3 pensamentos sobre “Olhai as vinhas, coitadinhas!

  1. Não é plausível que os nossos irmãos latinos se levantem contra os abusos do poder da União Europeia a propósito de uma intensão caprichosa desta em rotular garrafas de vinho com imagens assustadoras e advertências destinadas a desencorajar o consumo do funesto líquido. Já se o consumo de vinho fôr uma metáfora ao envolvimento na guerra com exaustão dos recursos económicos de todos os países da União Europeia e botas no terreno, nesse caso, penso que é provável.

  2. E no entanto pouco ou nada se fala do problema dos nitritos e nitratos (E249, E250, E251, E252) que são adicionados às carnes processadas (fiambre, paio, etc) para as conservar com uma cor mais atraentemais rosada, mas que já se verificou que aumentam de forma significativa o risco de cancro no intestino, algo.que se agrava quando se leva estas carnes a uma fonte de calor (forno, lume, tostadeira, etc).

    Em França já se tomam medidas para limitar isto. Mas em Portugal nem sequer se fala. E a UE a perder tempo com o vinho. Às tantas anda mas é tudo bêbado e querem impor limites aos outros para que sobrem mais garrafas para eles. Se calhar foi o Juncker que lhes pegou a “ciática”…

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