A nossa História construiu-se com independência, não com subserviência

(Por Hugo Dionísio, in Facebook, 10/11/2022)

As mudanças sucedem-se a uma velocidade vertiginosa e precipitam-nos para uma queda acentuada nos padrões de vida. Portugal, como é óbvio, não vive à margem desta realidade. Hoje, prova-se, mais do que nunca, que a UE é uma construção americana, do Partido Democrata essencialmente, e que a UE só é o que a Casa Branca deixa ser.

Hoje, a guerra fria 2.0 tudo justifica, e é ver a religiosa do greenwashing (lavagem verde, falsa verde) que é Annalena Baerbock, a desdizer tudo o que havia dito antes sobre carvão, petróleo, GNL, GPL, desde que venha do outro lado do Atlântico, para poluir ainda mais, ou, especialmente, desde que não venha da Sibéria.

Vejamos o que se passa com o gás natural em Portugal, que nunca pode ficar atrás, nestas competições de “colaborador do mês”. Há uns anos Portugal iniciou o seu processo de instalação de gás natural nos prédios residenciais, um avanço que significou muitas coisas: maior conforto, pois deixámos de andar com a botija às costas; preço mais acessível…

Contudo e sobretudo, o que a instalação de gás natural significou em matéria de impacto ambiental, foi muito importante. A construção, por exemplo, do Gaz Maghreb Europe pipeline, vindo da Argélia para a Península Ibérica, representou a possibilidade de se consumir um gás menos poluente e com menos custos logísticos ambientais (e financeiros) para ser cá colocado (hoje interrompido devido ao conflito Argélia/Marrocos).

E eis que o governo maioritário do PS, se prepara para legislar no sentido de retirar a obrigatoriedade de instalação de canalização de gás natural nos prédios novos ou renovados, revertendo o que foi um importante avanço, não apenas em matéria de preço, mas também do ponto de vista ambiental.

Diz o governo que “no atual quadro de crise energética, torna-se imperioso não estimular o consumo de gás natural de acordo com as orientações da União Europeia”. Ou seja, no atual quadro o ambiente e a salvação do planeta deixa de ser importante, provando-se que agenda verde da UE só é verde porque constitui um ciclo de acumulação de dólares.

Agora que outros ciclos foram compostos, já se pode voltar ao carvão, ao nuclear… Mas não o governo português… Não. Este, encerra centrais a carvão para comprar energia elétrica em Espanha vinda de centrais a… carvão. A UE mandou!

Diz ainda o bem-mandado governo que “afigura-se como imprescindível para dar o sinal correto ao mercado da construção em Portugal, no sentido da sua descarbonização”. Ainda me hão de explicar como é que usar gás de petróleo liquefeito, com emissões superiores ao gás natural, transportá-lo em camiões, refiná-lo, engarrafá-lo e transportá-lo para as residências, fazer as botijas, transportá-las vazias, reenchê-las e no fim, pagar um preço mais elevado, como é que isto contribui para a descarbonização.

Claro que, o mesmo governo, vem com a falácia das renováveis, tipo carro elétrico só comprável por ricos, dizendo que “o aumento de soluções alternativas à disposição dos consumidores que, aliás, mais eficazmente contribuem para o objetivo nacional e europeu em matéria de neutralidade carbónica”, justifica esta medida.

E eu pergunto: um trabalhador português médio, que compra ou arrenda uma casa sem instalação de gás, e vendo os preços das “soluções alternativas”, as quais implicam um investimento que não pode fazer (e a eletricidade também não está a diminuir de preço), o que será mais provável fazer? Investir 2, 3, 4 ou 5 mil euros em soluções elétricas, fotovoltaicas ou vitrocerâmicas, ou voltar à célebre botija de gás de petróleo liquefeito? A qual não implica qualquer investimento inicial?

Lá se vai a neutralidade carbónica, até porque, este divórcio que a UE promove entre nações europeias, está a trazer de volta meios de produção energética que a própria UE declara obsoletos. E como estamos todos no mesmo planeta…

Claro que, no final, temos de questionar: e de onde vem o petróleo que usamos para fazer GPL, ou de onde vem o próprio GPL? Pois, vem dos EUA, falando-se também do Canadá ou da Nigéria. Ou seja, mais caro, mais longínquo, mais poluente… E como contribui isto para a neutralidade carbónica? Nada, como sabemos. A neutralidade carbónica é apenas uma batata que é colocada na boca de gente como Úrsula Van Der Lata (também se lhe chama Van Der Pfizer), que seguidores e apaniguados como António Costa, Marcelo, Montenegro, Venturinha, Figueiredos e outros seguem de forma religiosa, e que apenas se destina a uma coisa: desindustrializar a Europa e em especial a Alemanha.

Não existe uma única medida na agenda verde da UE que não tenha este objetivo e que não contribua para ir buscar petróleo e gás ao outro lado do Atlântico, precisamente porque foi aí que foi desenhada a estratégia em causa, sabendo-se que não é possível a uma indústria de ponta funcionar só com renováveis. Mas vá-se lá explicar isto aos religiosos e sectários propagandistas verdes do neoliberalismo.

O facto é que, este tipo de medidas, só nos fazem andar para trás, a todos os níveis. Se em Portugal a soberania restante já não era visível à vista desarmada, depois deste processo de desconstrução europeia, países semiperiféricos como o nosso ficarão reduzidos a meras províncias ultramarinas longínquas. Muito pouco importantes, quer em matéria de recursos humanos, que temos poucos, de recursos naturais ou industriais… Um profundo nada!

É que quem acreditar que um país semiperiférico como este consegue algum dia sair desta morte lenta, seguindo religiosamente os ditames da UE e prescindindo, a cada passo, da sua independência e soberania, em nome de uma “solidariedade” nunca correspondida… É melhor estudar a história de Portugal.

Portugal, nos seus períodos mais gloriosos, sempre esteve contra os poderes europeus instituídos. Como nos seus períodos mais negros, sucedeu, em regra, o contrário. Na Independência, o Papa (a Úrsula da altura) era contra, teve de ser comprado contra a vontade da grande potência europeia da altura, Castela (A Alemanha e França de então). Com D. Dinis e a reorganização da propriedade feudal e a criação de um estado central, Portugal esteve interdito pelo Papa, não se fazendo aqui os sacramentos oficiais com autorização de Roma. Em Aljubarrota, Papa e Castela queriam a posse do país, novamente. Nos Descobrimentos, tivemos de nos revoltar contra todos e competir com todos. Em 1580, foi com a anuência de Roma que o Cardeal D. Henrique entregou isto a Espanha, novamente. Fomos invadidos pelos franceses, duas vezes, pilhados pelos ingleses a seguir. Roubados nas colónias por holandeses e outros. Foi sempre assim. Até no 25 de Abril, a Europa ocidental interferiu para tornar o país cliente da Europa central. Até Timor passou para a Indonésia por ordem do Tio Sam, para, entre outras coisas, pagar ao ditador Suharto a matança de milhões de comunistas e progressistas.

A verdade é que Portugal só tem futuro com uma visão global, universalista e internacionalista, mas independente e soberana. Não podemos ficar à espera que outros façam os planos que temos de ser nós a fazer. Da Europa só podemos esperar alianças contextuais, numa lógica de equilíbrio de poderes, mas o projeto tem de ser nosso e para o nosso povo e não podemos esperar isso de países que nos tratam como país periférico.

A História diz-nos quem somos e aponta caminhos para o futuro. Assim os saibamos identificar. Talvez esteja na hora de mandar o Conde Andeiro pela janela outra vez, desta vez na pessoa dos traidores que entregam a soberania, e com ela o futuro, deste país, às potências estrangeiras. E nem me venham com as tretas do “nacionalismo” barato ou de que “queres é fechar-nos”. Isso é música. Quando muito temos de fechar-nos a quem nos quer, apenas e tão só, instrumentalizar e explorar. Temos de fomentar e multiplicar relações amigáveis, troca, mas em termos justos para as duas partes.

Os termos em que o fazemos hoje, podem parecer-nos bem, porque para cá vêm uns fundos comunitários. Contudo, essa troca é realizada à custa do longo prazo, do futuro geracional do país. Os fundos que recebemos vêm em troca da nossa estratégia não ser, de facto, nossa, mas dos grandes potentados da Europa central, que a desenham de acordo com as suas necessidades de divisão europeia do trabalho, sugando os nossos melhores quadros e mantendo cá o trabalho menos produtivo.

Recebemos esmolas, em troca da nossa força vital, em troca da destruição do nosso aparelho produtivo (Portugal tinha uma industria, agricultura e pescas muito fortes), da nossa soberania monetária e económica, da nossa independência energética. Quando prescindimos disto, temos de ir buscar a quem nos exige uma troca injusta, sabendo que a não podemos recusar. É por isso que hoje, gente que se diz portuguesa e canta o hino a todos os pulmões, não consegue dizer não, a medidas como as que aqui trago.

Se isto não fosse grave, ainda temos de comer e calar.

Quando tanto se fala em liberdade e direitos humanos, saiba-se que apenas ontem, dia 09/11/2022, os estados americanos do Vermont, Oregon, Tennessee e Louisiana procederam à votação de um referendo que visa abolir a escravatura enquanto pena criminal. Ou seja, só ontem, o país que mais religiosamente fala de democracia, votou referendos que eliminam a escravatura, de facto. E acreditem, ou não, no Louisiana, ainda não foi desta.

E temos de levar lições de democracia e liberdade de um país que ainda tem escravatura, que tem pena de morte por cadeira elétrica, que tem 850 bases militares em 57 países e gasta mais em armas que todos os outros juntos, enquanto se multiplicam, nas suas ruas os sem abrigo e as pessoas que vivem em tendas e automóveis. Uma vergonha, que quem diz defender a dignidade da pessoa humana não denuncie isto. Uma vergonha que quem diz que a comunicação social das grandes corporações é livre, não consiga encontrar estas coisas nas notícias.

E a congruência é tão grande que até vemos MarconKinsey cumprimentar o Presidente Maduro, de forma tão efusiva, dizendo-lhe que está aberto a cooperar com o seu país e que o reconhece como presidente legítimo, depois de Úrsula há um mês ter reafirmado reconhecer no traidor Guaidó, o legítimo presidente da Venezuela! Bem podemos ver que jogo de sombras aqui se joga.

Contudo, Macron não é parvo e já viu o que vai acontecer à França se não se chegar à frente. Vejamos o caso alemão: se descontarmos as empresas que já existiam no tempo do Reich, existe alguma empresa de ponta alemã criada nos últimos 40/50 anos?

Quando digo de ponta, digo, em tecnologias de ponta. Há algum telemóvel alemão? Alguma marca de computadores? De aviões? Plataformas eletrónicas? Banco líder mundial? Indústria de chips? Nada… Todas as grandes oportunidades do mundo digital estão reservadas aos EUA, ou à China, e essa é a razão pela qual os EUA não gostam. Porque a China seguiu o seu caminho, não se vendeu.

Agora retirem à Alemanha a energia e as matérias-primas baratas made in tundra. O que acontece? Pois, acontece que Scholz foi para a China, num avião francês, carregado de CEO’s que querem salvar os seus lucros, pagando aos chineses para que os deixem aí continuar a instalar as suas fábricas de produtos que não fazem falta aos chineses. Mas os alemães precisam muito dos produtos e fábricas chinesas, porque estes, ao contrário dos primeiros, dominam 170 áreas económicas mundiais. Scholz não foi ajudar o povo alemão, para isso teria de ficar no seu país e torna-lo independente expulsando os ocupantes que o colonizam e impedem um alemão de ter orgulho em ser alemão. Scholz foi salvar os lucros astronómicos dos seus apoiantes, financiadores e chantagistas, tentando fazê-los avançar em direção à financeirização: fábricas na China, rendimentos em Nova Iorque ou Londres, Shangai ou Hong Kong. É deste tipo de traidores que falo e é a este tipo de gente que estamos entregues…

E depois ainda tenho de ouvir um lacaio como o Ventura a dizer que é um português de bem… Ó que cara…

Não abram os olhos não, que quando os abrirem só vos sobram as ervas do campo, se não tiver lá chegado algum coelho de estimação e um multimilionário ianque primeiro!


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6 pensamentos sobre “A nossa História construiu-se com independência, não com subserviência

  1. Gosto deste Hugo, apesar de discordâncias pontuais com que não me apetece chatear, excepto uma deste texto.

    > apenas ontem, dia 09/11/2022, os estados americanos do Vermont, Oregon, Tennessee e Louisiana procederam à votação de um referendo que visa abolir a escravatura enquanto pena criminal.

    Não é assim tão estranho que uma lei sem aplicação, e da qual não se espera que passe nos tribunais, fique perdida com o passar das décadas; o estranho é terem que ir a referendo e estes terem mínimos de 20% de oposição.
    Quanto à Alemanha, é bom que Scholz saiba que o não à China a que o querem é o colapso, também de qualquer agenda verde.

  2. Abram os olhos para o mundo real:
    – a elite não pode ser usada como bode expiatório!
    – SIM É ISSO: muitos, muitos, muitos ocidentais pretendem estar instalados no planeta como cidadãos de Roma:
    —> projectar a pilhagem de outros territórios;
    —> projectar a existência de outros como fornecedores de abundância de mão-de-obra servil;
    —> etc.
    .
    .
    LUTAR PELA LIBERDADE SIGNIIFICA NÃO TER MEDO DE TRABALHAR PARA A SUSTENTABILIDADE.
    Leia-se:
    1- trabalhar para a sustentabilidade demográfica (isto é: valorizar quem possui disponibilidade emocional para criar/educar crianças)
    2- trabalhar para a sustentabilidade económica (isto é: valorizar, sem igualitarismos, todas as profissões necessárias à sociedade, inclusive a mão-de-servil)
    .
    .
    Sim:
    —>>> LIBERDADE/DISTÂNCIA/SEPARATISMO dos boys e girls do sistema.
    (separatismo identitário)
    .
    .
    .
    -> América do Norte, América do Sul, Austrália, Iraque, Síria, Líbia, etc… agora o ocidente está a apontar para a Russia.
    -> Sim, pois é: os europeus-do-sistema investiram nos mercenários de Kiev (investiram no saque da Russia e no saque da Ucrânia)… e… estão à espera de um quinhão no saque da Russia.

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