Os oligarcas estão a aparecer à luz do dia

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 07/11/2022)

Compremos ações das suas empresas em vez de irmos votar!


Tal como o proscrito DDT que era espalhado pelos soalhos de madeira apodrecida fazia aparecer as baratas à luz do dia, a guerra na Ucrânia teve como um dos efeitos colaterais fazer surgir nos palcos do poder, sem disfarces nem homens por si os oligarcas ocidentais das tecnologias da informação, o setor decisivo na atual fase das civilizações dominantes. Os exemplos mais claros são os de Elon Musk (SpaceX, Starlink, Twiter) e de Marc Zukerberg (Facebook/Meta), que dominam as mais importantes redes de dados do planeta e vão despedir milhares de “colaboradores” para concentrarem força (capitais) nos segmentos nucleares do negócio: a investigação e desenvolvimento de novos produtos que lhes assegurem vantagens competitivas no futuro. Eles percebem que têm de estar à frente dos outros e isso implica agir num mercado global, vender um produto essencial e tornar dependentes de si todos os detentores de algum poder. Os despedimentos são uma poda regeneradora para fortalecer as “máquinas” de impor o pensamento único, de normalizar comportamentos, de apresentar a submissão como uma atitude libertadora e fruto da vontade e livre arbítrio. A campanha de manipulação sobre a guerra da Ucrânia demonstra que esta ordem pode ser imposta com o passarinho azul do Twiter e as argolas do Meta que substituiu o FB e que os fiéis ainda vão pagar para fazer parte da igreja, o que é, aliás, uma prática milenar.

Para estes oligarcas tecnológicos (de quem dependem os agora “famosos” nómadas digitais) o regime político, qualquer que seja a intervenção dos seres comuns na vida das comunidades, funciona apenas como um legitimador de negócios e como uma máscara que ilude a concentração de poder como uma calçadeira.

Para os oligarcas o regime político é tão indiferente como os sapatos serem de pala ou de atacadores, desde que eles lá possam meter os pés.

Paulatinamente e ao longo do tempo, os oligarcas foram-se aproximando diretamente do poder, das suas alavancas, recrutando “colaboradores” para as suas políticas, presidentes, ministros, deputados e marionetas que evitassem sujarem as mãos de sangue, mas os tempos estão a mudar, os recursos do planeta são finitos, aproximam-se graves conflitos de luta pela sobrevivência de grandes massas de povos no Primeiro e no Segundo Mundo e eles querem garantir a sua sobrevivência. Há que dar o corpo ao manifesto, ir para ponte de comando. Quem quer vai, quem não quer manda!

Douglas Rushkoff, professor de Media Theory e Economia Digital na Universidade de Nova Iorque, considerado um dos mais importantes pensadores do mundo pelo MIT, é autor do livro «Team Human» (2019), onde descreve a experiência por que passou quando foi convidado por um seleto grupo de oligarcas (cem multimilionários americanos acionistas de bancos de investimentos) para um seminário à porta fechada sobre o futuro. Concluiu: “Os ricos estão a planear deixar-nos para trás!” (Antigamente planeavam andar à nossas costas.)

As perguntas que lhe fizeram foram: “A Google está a desenvolver um “lar” para o cérebro onde a consciência do indivíduo viverá durante a transição, até renascer como um todo novo?” — “Como faço para manter a autoridade sobre minha força de segurança após um evento catastrófico?” Com toda sua riqueza e poder, os oligarcas não acreditam que possam modificar o futuro. Têm de tomar conta dele e defender-se em novas versões de castelos. Elon Musk, o proprietário da Starlink, da SpaceX, da Tesla, agora do Twiter foi muito referido como exemplo a seguir pelos oligarcas que temem um acontecimento apocalítico (que consideram inevitável), uma explosão nuclear, uma pandemia incontrolável, revoltas, e até a ameaça de robôs fora de controlo. Aventaram a sugestão de Elon Musk de colonizar Marte, ou de Sam Altman e Ray Kurzweil de colocar os seus cérebros em supercomputadores. “Eles estão a preparar-se para um futuro que tem muito menos a ver com tornar o mundo um lugar melhor do que com transcender a condição humana e isolarem-se de um perigo muito real de mudança climática, migrações, pandemias, pânico e esgotamento de recursos. Para eles, o futuro da tecnologia é, na verdade, apenas uma coisa: Escapar!” Para serem eles a escapar têm de se encontrar no poder. Na política os chefes são os primeiros a abandonar o barco e a garantir a sobrevivência!

Esta não é uma ideia para um filme de ficção científica, é a realidade americana, onde se concentram cerca de 80% das grandes empresas mundiais. A Europa, de há muito anestesiada, começa a tomar consciência desta nova realidade. O editorialista Philippe Bernard, no jornal francês Le Monde noticia com a candura de um anjo a estratégia dos oligarcas seguidores de Elon Musk, de Zukerberg, ou de Bill Gates: «… Necessitamos de imaginar meios para controlar a propensão dos oligarcas (multimilionários) de se substituir aos Estados»Lamenta-se o editorialista: «Eles creem-se os donos do mundo, mas ninguém os elegeu.» Pois não, mas também ninguém elegeu Rockefeller, nem Rothschild: foram e são eles que fazem eleger os seus agentes, ditos políticos. Continua o editorialista do «Le Monde» sermão sobre os malefícios do novo assalto capitalista: «Os sucessores no século XXI dos Rockefellers e dos Carnegie têm ambições mundiais (os originais do século XX também) e não têm moral.» (Os do século XX também não, ou teremos de considerar o colonialismo, as guerras da Coreia, do Vietname, as ditaduras sul-americanas, o Médio Oriente, o Congo atos de elevada moralidade, filantrópicos!)

Elon Musk é de novo convocado para ilustrar a realidade que o editorialista agora descobriu: “ O homem mais rico do planeta não se contenta em ser o dono da Tesla, em dirigir a SpaceX, parceira incontornável do Pentágono e da NASA, que dispõe de mais de 2.200 satélites da rede Starlink (programados 12.500), que forneceu 25.000 terminais de internet à Ucrânia para fins civis e militares e vende um serviço que pode ser acedido em quase todas as partes do mundo. Elon Musk é um poder de facto, um Tycoon, e quer intervir na definição da estratégia mundial que ele em parte paga com os lucros que os poderes instalados lhe proporcionam. (George Orwell em «1984 — Animal farm» antecipou o problema de os porcos a quem o dono da quinta deu possibilidades de comando de tomarem o poder.)

Musk, invocando o seu poder, apresentou um “plano de paz” para o mundo (urbi et orbi), com o reconhecimento da Crimeia como território russo, para desespero de Zelenski, para atrapalhação dos líderes políticos ocidentais e para contida alegria de Putin, que vê um oligarca ocidental desempenhar o papel que os oligarcas russos desempenham no seu regime e propõe ainda ligar Taiwan à China, onde possui uma fábrica Tesla!

A guerra da Ucrânia — a tal que algumas boas almas ainda acreditam ser uma invasão de um alucinado que quer ser imperador — também serve para espiarmos os verdadeiros alicerces onde assenta o regime político que nos governa e nos ignora democraticamente. Para revelar quem são os donos do mundo e o desprezível e desprezado poder do voto e da expressão da vontade dos eleitos e das grandes organizações mundiais.

Em vez de votos, em vez de irmos votar, compremos ações do Elon Musk, ou do Bill Gates! São democráticas e, se não são, representam um poder efetivo, são úteis!

Este é o novo Admirável Mundo Novo!

Artigo do Le Monde: https://www.lemonde.fr/idees/article/2022/10/29/il-faut-imaginer-des-moyens-de-controler-la-propension-de-milliardaires-a-se-substituer-aux-etats_6147849_3232.html


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2 pensamentos sobre “Os oligarcas estão a aparecer à luz do dia

  1. Vai houver outra forma de pensamento único:O euro Digital e os seus perigos!!

    Alguns bancos europeus anunciaram a chegada do euro digital para 2027, mas tudo indica que ele chegará mais cedo…

    O sonho de um mundo sem dinheiro físico e sem qualquer vigilância é muito engraçado.
    Quando se sabe o quanto os mercados negros e a corrupção fazem parte deste mundo.

    Porque vamos ser honestos durante dois segundos
    É triste, mas hoje em dia o dinheiro é sinónimo de liberdade
    Quanto menos tiver, menos pode fazer

    Por isso não consigo ver a enorme massa de pessoas desprivilegiadas a parar o seu tráfico ilegal e a aceitar morrer na sua miséria.
    Ou os múltiplos auto-empreendedores em processo de desenvolvimento deixam de aceitar trabalhadores para pagarem menos e impedirem de crescererm>recessão>falência.

    A tecnologia irá certamente tornar as novas soluções de pagamento difíceis de desafiar. Tal como na China, há o reconhecimento facial biométrico. Dependendo do que fizer, pode ser imediatamente perdoado ou privado de certas coisas… As pessoas que cometem muitos crimes podem pagar mais por um bem ou serviço ou ter o valor do seu dinheiro instantaneamente reduzido. É claro que se deseja contestar isto. Mas as pessoa humildes, normalmente sente-se “empurradas” para a mudança quando não existe alternativa ou não está amplamente disponível. O melhor é antecipá-lo e tentar tirar partido dele que não vai ser o caso..

    O que acontece se o sistema de moeda criptográfica for pirateado ou no caso de um blackout ou de uma simples falha do servidor?

    Se fizerem desaparecer o dinheiro do fiat, será um regresso à troca por transacções “invisíveis”,

    Embora 90% do dinheiro já está desmaterializado.

    Os criptogramas são utilizados para justificar a moeda digital,já o cripto é uma moeda especulativa,tudo o que prejudica as nossas sociedades com um sistema perigoso que nos levará à miséria…
    O fim da liquidez monetária é para nos controlar melhor!
    Basta olhar para o facto de já há algum tempo nos terem proibido de retirar a quantia que queremos….
    Para os cêntimos (moedas de cobre) quando se paga por cartão os cêntimos são contados mas não em moedas…
    Já não há mais dinheiro, porque a maioria de nós usa cartões bancários, haverá apenas para os mais ricos, tudo coexistirá, pois o número de sem-abrigo e pobreza extrema aumentará perante a hipocrisia humana da maioria de nós..

    É tempo de pensar na mudança……. O que é certo é que estamos na aurora de grandes mudanças,é censura vai nessa direcção, eles preparam o terreno assim que se passa pela moralização para justificar uma ou outra disposição tomada para chegar ao quadro que descrevi ( Não vejo como é que, porque as lojas privadas não vão perder clientes para favorecer apenas uma moeda digital, não têm qualquer interesse nela. Portanto, falta uma informação sobre esta transição, há muitos sinais de aviso, como o desaparecimento de bancos, etc., mas se quisermos evitar esta transição, teremos de saber como nos será sugerida (impondo versus dizendo que não é possível), como se irá materializar e quando será irreversível?
    Eu, que não sei nada sobre finanças, etc., sabia disto, simplesmente porque me apercebi há alguns anos que nos estão a dar “migalhas” e “cenouras” para nos atrair e nos manter viciados, etc.
    Assim que vi o aparecimento das moedas criptográficas, soube que os governos fariam tudo para as assumir à sua maneira para as controlar.
    Idem para veículos eléctricos.
    São planos para controlar o nosso dinheiro. Vai ser uma revolta, ou vai ser uma confusão. Os subúrbios vão apreciar se isto for feito, é uma revolução. Os pequenos comerciantes etc,etc. Os mercados das pulgas e piolhos. Os mercados exercerão a moeda e a nossa única liberdade que nos resta…Além da capacidade de decidir que despesas são permitidas para esta ou aquela pessoa, significará também um acompanhamento absoluto de tudo o que ganhamos e gastamos, tudo ligado a uma pontuação de estilo de crédito social, que irá piorando com o passar do tempo, e as novas gerações não serão sequer capazes de conceber as liberdades que outrora gozámos… em suma, o futuro parece brilhante, mas apenas para os membros da Wef..Como comentei noutros lados, o covidismo tem sido uma boa forma de testar até que ponto as pessoas podem aceitar ser controladas…e penso que este tipo de medidas será facilmente aceite pelas pessoas…… imaginemos que ganham bem, vende um apartamento. … etc, etc …
    Não se pode pôr gasolina (crédito esgotado), não se pode comprar uma boa garrafa vinho (crédito limitado), não se pode pagar um bom restaurante (crédito de carne ultrapassado), etc. … o que fazer com os seus euros digitais se não os pode gastar ????

    O que é assustador nas moedas digitais do banco central é que correm o risco de serem alojadas numa cadeia de bloqueio de consórcios privados com as maiores empresas privadas/instalações/empresas de pagamento do mundo que regem a vida quotidiana dos cidadãos como validadores. É a partir deste momento que todas estas empresas poderão saber exactamente, a totalidade das nossas transacções e que poderão implementar contratos ou sanções inteligentes de todos os tipos…

    Vamos viver o tempo suficiente para experimentar esta XXL privação de liberdade.
    A China é forçada a fazer isto porque a sua demografia ridiculamente alta é incontrolável sem controlo.

    As pessoas que não têm um tablet, um telefone ou um computador não terão dinheiro digital, podemos ver que isto vai complicar as pessoas, essas serão deixadas para trás!
    Por outro lado, este sistema digital precisa de energia para que funcione, é electricidade. Se uma falha generalizada de energia ou de computador ocorrer em todo o mundo, é pobreza e anarquia para todos, especialmente para aqueles que são imorais… não esqueçamos, apenas um ponto fraco deste sistema é a electricidade!

    Este próximo passo para os poderes que serão é necessariamente o único que lhes permitirá manter vivo este sistema aristocrático, que tem uma semelhança espantosa com o da monarquia absoluta, quando famílias ricas na Grécia antiga detinham todo o poder perante os plebeus revoltados pela desobediência civil.
    A única coisa é que os bancos centrais na prática já não são obviamente independentes dos Estados. Pelo contrário, o Banco Central Europeu (BCE) tornou-se uma instituição política ao serviço dos Estados e do Euro, uma vez que financia défices públicos, especialmente nos países do sul da zona Euro. Em resumo!
    A situação é de facto explosiva devido ao facto de o Ocidente não poder escapar à armadilha da dívida, ou seja, os Estados têm constantemente taxas de crescimento inferiores às taxas de juro a que tomam emprestado. Isto também é conhecido como a japonização da economia. O caso do Japão é de facto o melhor exemplo, com uma dívida acumulada de 250% do PIB!

    O mundo financeiro está num beco sem saída, dadas as dívidas incobráveis que os bancos comerciais têm de pagar, dado que a taxa de endividamento dos Estados (armadilha da dívida), mas também das empresas e famílias, só pode piorar no contexto actual, com um crescimento que está continuamente a aumentar menos rapidamente do que a dívida. E a concomitante recessão e inflação amplifica o fenómeno do endividamento do Estado, das empresas e das famílias.

    A única solução é, em teoria, aumentar as taxas de juro para um nível acima da taxa de inflação. Mas como isto agravaria os défices públicos e as dívidas dos Estados, empresas e famílias e acabaria por conduzir a uma nova crise bancária sistémica muito mais grave do que a crise de 2008, os bancos centrais não têm outra escolha senão imprimir e comprar as dívidas dos Estados num movimento perpétuo. De facto, o PODER DE CRIAR DINHEIRO CENTRAL é em teoria infinito, uma vez que um banco central não pode ir à falência, ao contrário de uma empresa, uma vez que não há contraparte, nenhuma garantia a trazer para o balanço sobre os activos de um banco central.

    O BCE só tem de comprar as dívidas podres dos Estados e imprimir. Mas não o pode fazer na prática porque levaria a uma queda do euro e a um aumento da inflação, causado em particular pelo aumento do custo dos bens importados e da energia paga em dólares.
    Mas então para os sortudos que me vão ler , como é que o sector privado, especialmente os bancos e os bancos centrais, mantém os Estados reféns?

    Dentro da zona Euro em particular, o mercado SVT, ou seja, os bancos comerciais e de investimento que gerem o mercado da dívida e os seus leilões no mercado primário em nome do Estado Portugués, são ambos Portugueses e sobretudo americanos. Por exemplo, Goldman Sachs para citar apenas um. Estes bancos vendem ao BCE no mercado secundário as dívidas podres dos estados que compraram anteriormente no mercado primário. Seria difícil imaginar que não haja conluio de interesses entre estas instituições financeiras.

    Mas vamos assumir que este não é o caso. Mas então o que poderia ser dito sobre a dívida Portuguesa detida por estrangeiros que é de aproximadamente 70%. Mais uma vez, é difícil imaginar que estes titulares estrangeiros não exerçam pressão constante sobre os estados e não estejam em conluio com eles. Mas vamos assumir novamente que este não é o caso.
    Como todos sabem, ou assim penso eu, o Euro é uma construção política que permite à NATO e aos EUA, entre outros, vassalizar o continente europeu para pressionar o continente asiático e a Rússia em particular. O Euro provocou inevitavelmente choques assimétricos e já estamos a chegar ao fim desta sovietização da economia. Todos os especialistas que trabalham nos bancos sabem que uma taxa de câmbio não é defensável. Além disso, a crise do euro dos anos 2008 demonstrou-o, levando o BCE a comprar as dívidas dos Estados para salvar o euro, sendo o objectivo criar regiões europeias (regiões do euro) e um Estado europeu soberano, destruindo as nações a fim de as enfraquecer. Sendo assim o objectivo dos EUA alargar as suas bases ideológicas, a sua cultura, etc… como qualquer império (antigo império romano). DIVIDIR E CONQUISTAR!!!
    Para manter este sistema vivo, para controlar futuras crises sociais e crises sistémicas, especialmente no sistema bancário, A MELHOR SOLUÇÃO É A MOEDA CENTRAL DIGITAL. De facto, permite o poder de ter um controlo total do capital, das despesas, de criar uma sociedade de vigilância para controlar os movimentos sociais ..

  2. Antologia breve de como entender o mal que que se expande intrusiva mente no modo de vida que nos querem impingir. Eu, e os meus perguntamo-nos O QUE FAZER?
    A minha luta por manter o direito á renúncia da estupidez e inacção continuará a ser permanente.
    Obrigado Carlos M. Gomes
    Rui Almeida

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