Um funeral de Londres antes de Bruxelas

(Carlos Matos Gomes, in Facebook.com, 22/10/2022)

Um funeral em Londres antes de Bruxelas. A senhora de preto que reza os responsos do velório é a primeira ministra do Reino Unido a anunciar que John Bull soltou o derradeiro suspiro. A porta que se encontra por detrás é a de uma capela mortuária.

É uma trabalhadora precária à porta do local de trabalho após ser dispensada. Uma colaboradora em linguagem neoliberal. Ou uma empresária a título individual, uma condutora de Uber que nunca soube ler o GPS, uma entregadora de pizzas ao domicílio que entornou as caixas com o molho de tomate e queijo. Ela representa o que resta do continente que já foi o centro do mundo.

Liz Truss está num velório, como uma mestre-de-cerimónias da Servilusa antes da cremação do cliente a quem serviu.

Liz Truss tem sido ridicularizada de forma impiedosa, mas ela é, tal como Ursula van der Leyen, Borrel, Boris Johnson, o secretário da Nato, a presidente do parlamento europeu, a banqueira do BCE o produto da escolha que a banca e a finança fizeram e que impuseram aos europeus através de regras e campanhas de manipulação que levaram a ser “eleitos” estas personagens obedientes, atrevidas com a sua ignorância e inconscientes, irresponsáveis e desastrosos. Há uma máquina de produzir Liz Truss e produtos semelhantes e de os fazer eleger.

As tonterias de Liz Truss traduzem-se nas políticas europeias de desde há anos, de submissão aos mercados financeiros, à especulação, de desindustrialização da Europa e de deslocalização da produção para a China e a Ásia, de cega obediência à cartilha do neoliberalismo introduzido em Inglaterra por Margareth Tatcher, à vassalagem estratégica dos Estados Unidos.

O falecimento que Liz Truss anuncia não é resultado nem do Brexit nem da guerra na Ucrânia, pelo contrário, o Brexit e a participação da Europa na guerra da Ucrânia é que são o resultado das políticas de políticos europeus ao longo de anos. O Brexit e o caos e os cacos da participação da Europa (com a Inglaterra de porta-estandarte) na guerra na Ucrânia são os resultados desejados e intencionais dessas políticas. Liz Truss é apenas, ou será apenas a última, ou uma das últimas oficiantes do processo que os antigos designavam por ars moriendi (a arte de morrer) da Europa.

Infelizmente, julgo não faltar muito para vermos Ursula van der Leyen à porta do edifício Berlaymont, em Bruxelas, neste papel de Liz Truss, com Josep Borrel no papel do cangalheiro que está no segundo plano da imagem, em Downing Street. A pergunta dos europeus será, então, o que fazer com o edifício de dois hectares, de dezasseis pisos, construído no lugar de um convento e que alberga mais de três mil funcionários? Reciclá-lo como os desesperados conservadores ingleses já pensam fazer com Boris Johnson?


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