Caos no centro do Mundo

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 10/07/2022)

A lógica binária no Ocidente leva à conclusão de que o caos é mau e é desordem e o bem é a ordem. Na antiguidade, na Babilónia, o deus mais importante era Marduk, o da Ordem que venceu o Caos.

A moderna Teoria do Caos surge com a ideia fundamental de que, em determinados sistemas, pequenas variações nas condições iniciais podem gerar grandes variações nos resultados finais. Trata-se do famoso “Efeito Borboleta”, que recebeu o nome técnico de “dependência sensível das condições iniciais”. Esta teoria é — continua a ser — uma heresia nos grandes meios de manipulação de opinião, que defendem para os rebanhos a simplicidade das crenças na bondade dos pastores, sejam eles dirigentes de grandes instituições financeiras, de oligarquias que gerem monopólios de produtos essenciais, sejam dirigentes políticos. O Caos ofende a Ordem. O Caos implica renovação. Mas para quem nos pastoreia existe um caos bom, o das crises financeiras e económicas e um caos mau, o das revoltas das massas e das sociedades.

A análise estratégica é, para surpresa de muitos e muitas especialistas de verbo gongórico e pensamento oco — em última estância, uma aplicação da Teoria do Caos.

Quase cinco meses de “análises estratégicas” como prato de substância nas TVs são suficientes para tirar algumas conclusões. A primeira é a da desfaçatez de grande número de “comentadores” que sem arte, nem saber, transmitem um discurso cujo único nexo é o desejo que as “coisas”, a realidade, se encaixe na embalagem que têm de vender. Assistimos, impotentes, a programas de televendas. Acredite e Compre. Não há garantia, nem devoluções. Foi assim com a Pandemia, é agora com a Ucrânia.

As leituras e o estudo são um estorvo ao “comentariado nacional”, devidamente certificado. Tudo para a maioria dos comentadores é simples e está-se mesmo a ver. Light, como as bebidas da moda. Calhou passar por uma revista que tratava da complexidade: Evidência de Estudos sobre Estratégia e a Teoria do Caos. Uma contribuição para a formação de estratégias. Revista Ibero Americana de Estratégia. (Ver aqui.)

Começa o artigo por, cuidadosamente, alertar que as definições do conceito de estratégia são quase tão numerosas quanto os autores que as referem. Embora exista convergência em alguns aspetos que estão na base do conceito, o conteúdo e os processos de formação da estratégia são objetos de abordagens muito diversas que assentam na forma como os autores concebem as organizações e entendem o seu funcionamento. A estratégia é um conceito multidimensional e situacional e isso dificulta uma definição de consenso, mas encontram-se áreas gerais de concordância da natureza da estratégia, entre prática e teoria: (a) a estratégia diz respeito tanto à organização quanto ao ambiente; (b) a essência da estratégia é complexa; © a estratégia afeta o bem-estar da organização; (d) a estratégia envolve questões tanto de conteúdo quanto de processo; (e) as estratégias existem em níveis diferentes; e (f) a estratégia envolve vários processos de pensamento, (entre eles o da complexidade e do caos).

Na formulação da análise estratégica o conteúdo, o processo e o contexto devem ser indissociáveis. Entre os vários elementos para análise estratégica devem ser considerados a posição e a perspetiva dos competidores ou atores, o sentido da sua ação, o foco (objetivo), os recursos e esta é a questão essencial: como pretendem os contendores obter (conseguir/impor) a ordem no caos que podem provocar com a sua ação? O que fazer no dia seguinte?

A influência do ambiente complexo e instável requer novas visões para a análise do processo estratégico. Esses pontos-limite, entre incerteza e certeza, escolhas e ações são possíveis e devem ser realizadas. E devem ser sujeitas a análise. Parafraseando o economista Brain J. Loasby, “se escolhas são possíveis, o futuro não pode ser certo; se o futuro é certo, então não há escolhas”. Ao grosso das tropas de comentadores oficiais nem lhes passa este pormenor da relação entre o futuro e a incerteza pela cabeça. O seu futuro não inclui escolhas. Têm dono e debitam uma lenga-lenga. No fim, o seu pensamento simplista e negador de escolhas é totalitário!

As “coisas”, a realidade é mais complexa do que nos é vendida. Mas ficamos a conhecer uma grande quantidade de caixeiros-viajantes, de promotores de vendas porta a porta, de estagiários a Meninos de Deus, que eu, pessoalmente, desejo que não cheguem à categoria de Inquisidores!


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2 pensamentos sobre “Caos no centro do Mundo

  1. A minha humilde opinião “A Estratégia do Caos ” é que a forma como estas políticas radicais invadiram o mundo foi enganada. Não foi em nome da liberdade ou da democracia. Foi através de choques, através de crises. Foram necessários estados de emergência.

    Milton Friedman compreendeu a utilidade das crises:

    “Apenas uma crise útil ou suposta produz uma mudança real. Quando isso ocorre, as medidas tomadas dependem das ideias então em vigor”.

    Fico abismado com os métodos utilizados para impor a ideologia ultra liberal. Faço a mim próprio as seguintes perguntas: Porquê? Porque queremos sempre mais dinheiro, mais poder, mais controlo? Porque não partilhar, não trabalhar para o bem comum, procurar a paz, a justiça e a igualdade? Quer dizer, parece ir além da simples ideologia económica, parece visceral.

    Esta ideia para mim parece crucial: quando os politicos fala de uma economia de guerra em termos de armamento, está a falar concretamente da transferência de tecnologias.
    Mas nesta chamada economia de guerra, a ideia é cortar a economia e as poupanças dos cidadãos Portugueses e europeus para apoiar o “esforço de guerra”. Este esforço visa uma guerra que não é nossa e que, de momento, não existe!
    Então, porquê falar de um esforço de guerra?
    Não pela diversão, nem pela guerra na Ucrânia, que nos está a custar apenas dois Césares vendidos pela Ucrânia à Rússia e que nunca mais voltaremos a ver. Mas para apoiar um euro em colapso e uma rápida aproximação à falência do Estado.
    Será então necessário recorrer a medidas excepcionais como para o Covid com conselhos de guerra económica onde as decisões mais loucas são tomadas impunemente para evitar a falência do Estado, e para reconstruir uma moeda saudável.

    Com uma dívida pública à volta de 260 mil milhões, estas medidas constituirão uma fuga maciça para a poupança e para o poder de compra dos Portugueses.

    Cheira mal, entre a escassez de gás, combustível, materiais, matérias-primas, alimentos, dívidas dos estados que explodem .
    Cada grande crise económica deu origem a uma guerra.

    A guerra é então para eles uma salvação, especialmente se ao mesmo tempo disserem que o querem fazer e não o querem fazer. A desastrosa guerra económica ordenada por Von Der Leyen, precipita a falência anunciada após 10 anos de impressão disfuncional do euro e do dinheiro. A verdadeira guerra irá mascarar tudo isto.
    Serão eles idiotas iluminados ou malvados usando a angústia ucraniana para servir os seus próprios interesses?
    Nem sequer temos um parlamento inteligente que possa corrigir as coisas, rasgado pelas lutas internas e pela busca da respeitabilidade que as mantém afastadas das verdadeiras questões. Portanto, temos a imprensa (desculpe, o centro de propaganda ideológica) que está lá para nos cantar alguns fados tristes… “Tudo está bem, portugueses!
    A Nato é uma bela peça de organização militar de considerável gravidade na qual vamos ser varridos como um pedaço de palha .

    Tudo isto para dizer que estamos a lidar com uma casta cínica e louca, pronta a transformar a Europa num campo de batalha para salvaguardar os seus interesses…, ou mesmo aumentá-los e impor a sua Nova Ordem Mundial… Os actuais jogos de aliança assemelham-se aos que conduziram à Primeira Guerra Mundial.

    Mas há uma coisa que não devemos esquecer, cada vez mais pessoas estão a tomar as ruas na Europa e em todo o mundo, mas o que é muito interessante é que o Irão está a construir uma bomba atómica com a ajuda da China, a Coreia do Norte e o Irão odeiam os EUA, eles vão imediatamente tomar o partido da Rússia em caso de guerra contra ela, detalhe importante, a frota de guerra da China tem mais navios do que a Marinha americana, os americanos sabem disso, eles têm medo deste fenómeno.

    Entre todas estas coisas que se estão a acumular ultimamente e que nos preocupam a todos, tenho a certeza (Inflação, possível escassez de combustível/gás no próximo Inverno, aumento do custo de vida, possível retorno do passe sanitário/de vacinação…, diplomacia belicosa).

    As contas bancárias, a crise económica, o euro… Com tudo o que está a acontecer, se a situação piorasse, acham que o Estado poderia vir e “ajudar-se a si próprio”, requisitar as poupanças dos Portugueses nas suas contas bancárias sem qualquer possibilidade de o impedir?

    É o estado das finanças dos Estados, que decide se são poderosos ou não, e vendo o estado dos países deste bloco, tanto ao nível da dívida, como da industrialização, e especialmente ao nível da tecnologia militar, etc., não há muito com que se preocupar. Os Estados Unidos são jogadores de póquer, os russos e os chineses, para mencionar apenas eles, são jogadores de xadrez e Go… Alguns estão em declínio, outros em crescimento, mas claro, mesmo que um gigante afogado faça grandes ondas, acaba por afundar…

    Os EUA vão arrastar o mundo para a Terceira Guerra Mundial para manter o seu domínio dos recursos energéticos e financeiros do mundo.
    Uma guerra convencional teria obviamente lugar na Europa. Mas Putin, sabendo que não tem meios para fazer face, avisou. A Rússia não hesitará em atacar a ponto de nenhuma nação ocidental ter ainda experimentado…

    Esta guerra não pode ser evitada, a menos que, entretanto, os governos da União Europeia desabem, caso contrário, os países da União Europeia colocarão sempre à frente do povo, os Estados Unidos da América, podemos parar uma guerra, mas não podemos parar o tempo, e o tempo está contra nós, peço a todas as pessoas que lerem esta mensagem que se preparem, porque a vida do despreocupado acabou, os Estados Unidos da América querem absolutamente que a Europa entre em guerra com a Rússia, mas a Rússia tem um forte aliado, a China.

  2. Tenho de prestar as minhas homenagens ao articulista Carlos Matos Gomes. Não é fácil escrever um texto assim extenso sem dizer absolutamente nada. Pelo menos desta vez não se meteu a postular sobre estratégia militar, da qual ele não tem a menor noção. Enfim…

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