(Pedro Santos Guerreiro, in Expresso Diário, 25/01/2021)

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As eleições presidenciais têm quatro leituras imediatas: a grande vitória do moderado Marcelo, a grande escalada do radical Ventura, a subida da abstenção e uma esquerda anã. O Presidente vai agora conduzir em modo mãos-livres, em função da estabilidade que sempre revelou defender e do reforço da direita institucional que nunca escondeu querer. Mas o país está em crise funda e duradoura. E se Marcelo era o candidato do sistema, o sistema não pode respirar de alívio. Pela abstenção e porque a extrema-direita se nacionalizou, ficando em segundo lugar em 11 dos 18 distritos continentais e na Madeira, e passando em pouco mais de um ano de 67 mil para cerca de meio milhão de votos.
A GRANDE VITÓRIA DO MODERADO MARCELO
Não teve grandes adversários, porque lhes ganhou antes da campanha: o PS, maior partido do Parlamento, não tugiu nem mugiu para não ter uma derrota explícita. Teve a implícita de ficar de fora.
Marcelo vinga pelo primeiro mandato imensamente popular, mas também pela campanha de equilíbrios difíceis que conseguiu fazer, incluindo dois debates em que cilindrou os que acabariam por ficar em segundo e terceiro lugares. E assim se mantém tudo igual para um novo mandato em tudo diferente. Porque o Presidente sai deste novo mandato para a reforma, este é o seu último bilhete para mudanças no país. E porque o país está numa situação económica e social, e portanto política, muito diversa da de 2016. Para pior. Hoje estamos em pandemia grave, amanhã estaremos em crise aguda. Uma crise que demorará anos.
Marcelo conduzirá agora em modos mãos-livres em função de dois objetivos determinantes: a da estabilidade política, da moderação, da unidade; e a da reconfiguração da direita, para que ela não acentue a descaracterização para o radicalismo nem acentue o vazio de representação para eleitores sociais-democratas que não se reveem em Rui Rio e democratas-cristãos que olham para Francisco Rodrigues dos Santos e não veem lá nada. Parece estar tudo à espera que Marcelo deixe de andar com o governo ao colo, mas é provável que o vejamos também a intervir agora à direita. Como? Como sempre: pela poder da palavra, assente num grande apoio popular. A popularidade de Marcelo foi e é a base do seu poder.
A GRANDE ESCALADA DO RADICAL VENTURA
O Chega foi criado em abril de 2019, teve 67 mil votos nas legislativas desse ano e o seu líder alcança quase meio milhão de votos nas presidenciais de 2021. O terceiro lugar é, nas suas palavras antecipadas, uma derrota, mas mesmo quem não quer passar cartão a Ventura não pode ignorar quão alto ele chegou nem que se “nacionalizou” a praticamente todos os distritos.
Agora virá a rábula do demite-se-mas-fica, o que na verdade pouco importa. Importa sim que há um partido de extrema-direita em rapidíssimo crescimento em Portugal. Já não são só a cintura de Lisboa e o Alentejo, Ventura não só multiplicou por mais de sete os votos do seu partido nas legislativas, como disparou em todos os distritos, ficando em segundo lugar em 11 dos 18 distritos (Vila Real, Bragança, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Leiria, Santarém, Portalegre, Évora, Beja, Faro) e na Madeira.
A SUBIDA DA ABSTENÇÃO
Três em cada cinco portugueses não votaram. Não houve nova mobilização nem houve desmobilização total, pois a abstenção não foi tão elevada quanto se chegou a recear. Mas a democracia não pode ver-se em festa.
A abstenção foi elevada não só porque numa reeleição ela sobe sempre, não só porque estamos em pandemia, mas porque esta foi (mais) uma campanha falhada, porque o PS se demitiu de ir a jogo e o PSD ficou na bancada, porque as eleições deviam ter sido adiadas, porque milhares de pessoas que queriam votar não puderam. De uma vez por todas, avancem com o voto por correspondência.
Espera-se que Eduardo Cabrita não volte a delirar com a visão de uma “festa da democracia”, mas fica a nota positiva para a Comissão Nacional de Eleições e para todos os que se envolveram hoje no processo: depois da medíocre prestação uma semana antes no voto antecipado, o dia das eleições decorreu com as demoras naturais mas correu bem e sem percalços noticiados.
A ESQUERDA ANÃ
Ana Gomes safou o segundo lugar, mas muito longe dos seus objetivos. Marisa Matias teve uma votação à imagem da campanha, isto é, muito fraca. João Ferreira, que fez uma campanha melhor, logrou ficar em quarto, mas com um resultado fraco, ultrapassado por Ventura e perdendo para o líder do Chega em bastiões comunistas. Os três juntos tiveram metade da votação dos candidatos de esquerda há cinco anos. Era difícil pior. Provavelmente, três políticos arrumados quanto a projetos futuros de liderança.
O ESPAÇO LIBERAL
Tiago Mayan Gonçalves, que foi a grande surpresa positiva da campanha, acabou por não ter uma supervotação, mas teve ainda assim o dobro dos votos que a Iniciativa Liberal teve nas legislativas. Cumpriu. Superou as expectativas iniciais. Pode ter nascido um político com mais caminho pela frente. Já Vitorino Silva, o simpático lanterna-vermelha, ficou no mesmo caminho, um pouco abaixo dos resultados de há cinco anos.
– A abstenção nesta eleição concreta não tem que assustar o sistema, não só pelas razões enumeradas pelo Guerreiro, mas principalmente porque toda a gente sabia quem a ia ganhar.
Isso desmobilizou até muitos apoiantes de Marcelo que estavam “descansados” e não se preocuparam em ir votar.
– Quanto à esquerda, eu ando a avisar há anos. Deixem de insultar toda a gente de fascista e racista que além de fazerem figura de completos idiotas só se enterram. É estúpido insultar o próprio eleitorado. O povo que esquizofrenicamente dizem gostar tanto.
A resposta que me dão é, claro, a mesma cassete que dão a qualquer objecção. Insultarem-me de fascista e racista. Claro. Mais imbecis é impossível.
Eu dantes votava em vocês mas confesso que com a vossa arrogância imbecil e os insultos e ameaças constantes está cada vez mais difícil.
É dificil votar em psicopatas que até me oferecem porrada por coisas como saber que o Lenine não derrubou o Czar mas o esquerdista democrata Kerensky ou por discordar que o regime democrático criado pelo 25 de abril seja racista e que o povo trabalhador português seja uma cambada de nazi-fascistas que persegue pretos.
– Marcelo. Se o segundo mandato for igual ao primeiro estamos ok.
– A extrema direita de Ventura remete para a estupidez da esquerda.
Ele é a “Bosta da bófia” “é preciso matar o homem branco” e quem criticar algum preto ou cigano é racista…
Ah, e quem saiba que os regimes leninistas, como a Coreia do norte, são ditaduras. é fascista e tem de “levar dez vezes com um barrote nas costelas a ver se atina”.
É esta merda que vocês andam a fazer que o alimenta.
É essencialmente um voto de protesto contra os excessos da esquerda radical. Eu não voto nele, mas pessoas com menos cultura política é fácil serem empurradas POR VOCÊS para os braços do Ventura.
Vai levar nas nalgas, fascista
estas eleições e os resultados só representam um candidato : Marcelo , a Ana Gomes têm muitos anticorpos por isso Antonio Costa não a apoiou ,não é qualquer um que representa o P.S: e ela não representa ,por isso os foguetes do Rio estão molhados e veremos isso nas autarquias ,mais o Ventura não teve aqueles votos ouve quem fosse votar contra a Ana Gomes ,eu votei noutro candidato.
Nessa direita que se refere não estão a maioria de quem vota PS e seus militantes? Sabe-se que Ana Gomes não representa o PS. É uma populista e cobre-se de socialista para fazer a sua vida política. Costumo votar PS mas ontem votei João Ferreira porque não as atitudes de Ana Gomes, Marisa Matias e muito menos Marcelo Rebelo de Sousa. Acho que via ter a mesma atitude do escorpião que a meio do rio deixou de cumprir a sua promessa. Em fascistas e pessoas sem palavra não voto porque André Ventura disse que se não ficasse em segundo se demitia do chega. Demitiu-se?