Uma explicação política

(Luís Alves de Fraga, 23/11/2018)

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Não tenho a pretensão de ensinar ninguém ou de saber mais do que todos, mas possuo um bem do qual, em regra, nem toda a gente usufrui e que aproveito ao máximo: tempo para pensar. Por isso, hoje vou tentar dar uma (de várias que se podem dar) explicação da actualidade política nacional.

Por certo, já repararam que este Governo é o primeiro, desde 25 de Novembro de 1975, que é apoiado no Parlamento pelos partidos de esquerda. Isto não faz dele um Governo de esquerda, mas leva-o a ser o que de melhor é possível fazer com a esquerda, em Portugal.

Ora, esta situação é, do ponto de vista político, um momento de RUPTURA com o passado, pois, se os Portugueses souberem votar nas eleições futuras de modo a manter esta maioria parlamentar de esquerda, tão próximo não teremos desgraças como foram todas aquelas provenientes de Governos de direita, onde tudo se fez para favorecer os interesses financeiros e nada se deu em troca para modificar, um pouco que fosse, a vida dos trabalhadores com pequenos ou médios rendimentos do seu trabalho.

Se a maioria se mantiver à esquerda, é sempre possível negociar a três (PS, PCP e BE) para encontrar soluções tendentes a equilibrar um pequeno país, pobre de recursos e com uma economia super frágil.

Uma consequência imediata da actual situação é o esvaziamento ideológico do PSD e o desespero em que vive o CDS/PP. É evidente e salta aos olhos de toda a gente, que não esteja cega pelo facciosismo partidário, que os partidos do centro-direita e direita andam à deriva sem encontrarem um rumo para fazer oposição efectiva e alternativa a este Governo.

Face a tal panorama, qual é a solução que adoptam? Vejamo-la, porque ela é subtil, insidiosa e capciosa.

Com o drama dos incêndios do ano passado desencadeou-se uma tentativa muito evidente de desacreditar o Governo com base em razões emocionais e, depois, com base em toda a casta de irregularidades e pormenores possíveis de imaginar – recordo, por exemplo, a questão da contagem dos mortos – para gerar à volta do Governo uma nuvem de irresponsabilidade e descrédito. Foi de tal ordem que a ministra da Administração Interna se viu obrigada a pedir a demissão. Se recordarmos o período anterior, ganhamos a certeza de uma oposição errática de Passos Coelho completamente à deriva, sem apoios de lado nenhum.

Entretanto, na falta de outra forma de desgaste, foi-se envenenando a opinião pública com as fugas de informação sobre o processo “Marquês”. Estava em rescaldo o assunto fogos e, de repente, sem se perceber exactamente o que havia acontecido, surge na imprensa o caso do roubo de material de guerra em Tancos. Caso que se reacendeu, meses depois, com implicações tais que levaram à demissão do ministro da Defesa e do Chefe do Estado-Maior do Exército.

No entretanto, à beira das férias de Verão e na falta de fogos, há a greve dos professores, assumindo posições irredutíveis. Há greves de enfermeiros no começo do Outono e, de novo, inconformidade dos professores; sucedem-se greves menores até estalar a ameaça da dos juízes e, de volta do orçamento, se tecerem reivindicações de toda a ordem. Mas, de permeio, vem à tona a questão de falta de investimentos em unidades hospitalares e a demissão de médicos por falta de condições de trabalho. Surgiu a situação da CP. Veio a greve dos oficiais de justiça, que paralisou os tribunais, a dos enfermeiros, a dos estivadores de Setúbal. Continuar é acrescentar um rol de factos, alguns de pequena importância ou grande importância (caixa de munições caída de uma camioneta dos fuzileiros, desaparecimento de material de um navio da nossa Armada) como a falência da estrada em Borba.

Em todas as situações a opinião pública foi sendo envenenada pelos órgãos de comunicação social de modo a reduzir a credibilidade do Governo, criando artificialmente a sensação de que ele é pior do que o de Passos Coelho, pois a memória colectiva é muito fraca e nela só prevalece o imediato.

Quem é que está por trás dos órgãos de comunicação social? Naturalmente, grandes interesses financeiros aos quais não satisfaz uma ruptura nos hábitos governativos, deslocando para a esquerda o que antes estava na direita.

Se tivermos em atenção que, numa perspectiva macro em Portugal, a “Geringonça”, ao contrário do esperado, fez um “milagre” económico e financeiro, esta é a manobra estratégica que a alta finança, se calhar até com a simpatia de vários sectores de Bruxelas, está a desenvolver, para, perante uma solução “ganhadora”, a médio prazo “rebentar” com o Governo e com futuros entendimentos de esquerda.

Não consegui ser mais conciso, mas creio ter posto a claro o cenário onde se estão a movimentar as forças da direita mal servidas pelos “seus” partidos políticos.

8 pensamentos sobre “Uma explicação política

  1. Apenas faltou a esta excelente análise, a EDP, como agente remodelador de ministros, secretários de estado e até diretores gerais inconvenientes, fazendo-a trocar, em prejuízo do país e dos cidadãos, por homens de mão. Tudo isto descredibilizando do governos e partidos e, ao mesmo tempo adubando o populismo crescente.

  2. Grande análise, da actual situação política!! Parabéns ao seu autor!! Subscrevo na íntegra o texto, muito claro, objectivo e elucidativo!! Bem haja!! Obrigado, Sr. Jorge Fraga!!!

  3. Peço desculpa, ao Senhor Luís Fraga, que por lapso, tratei por Sr. Jorge Fraga!! As minhas sinceras desculpas, pelo lapso!! Obrigado, e continuação de uma boa noite!!

  4. É realmente muito estranho como é que tantos problemas como o caso de Tancos, os incêndios e agora até uma estrada que ruiu, mais as greves e protestos, como é que tudo isto aparece nos jornais e nas televisões? Está mais do que na altura de nacionalizar a Comunicação Social para que essas coisas não apareçam aí a despropósito, sem nada que o justifique a não ser terem acontecido, de modo que os Portugueses “saibam votar” nas próximas eleições e que a oposição, esse transtorno de gente demente, desapareça de uma vez por todas.

  5. Apesar de concordar com o teor geral do post, não vale a pena pôr todas as reivindicações – em vésperas da votação do orçamento – no mesmo cesto.

  6. De vagar se vai ao longe, dirá o venturoso do CHEGA!….
    Creio que este se inspira ou inspirou no crápula execrável desse bolsonarzeco que chegou à presidência do Brasil num processo fraudulento até dizer chega (nada de confusões com o partido do venturoso que obteve 20% dos votos em Loures por prometer “correr com os ciganos”), no qual processo eleitoral o PT JURÍDICO cá do sítio ainda prevalecente desde 2010 na chamada esquerda brasileira, também decidiu participar oportunistamente, ligitimando uma das maiores fraudes de que há memória no planeta Terra, descartando o seu líder carismático e por direito próprio o maior líder político de todos os tempos do Brasil e o maior líder popular do mesmo planeta, não tendo vergonha esse PT JURÍDICO, nem escrúpulos, de rasgar uma cartada internacional decisiva chamada “Recomendação da ONU” – o velho operário metalúrgico que nem sabe falar inglês preso sem culpa formada provada num processo diabólico só próprio de yankees norte-americanos que até conseguiram levar à PGR brasileira uma fulana casada com um espião norte-americano?!?!….compraram todo o judiciário designadamente um tal juizeco de primeira instância que se corrompe desde o processo BANESTADO vendendo sentenças mas que tem tido a cobertura da pomposamente chamada suprema corte onde pontificam figuras como; um tal gilmar que diz a um jornalista para dizer ao patrão que meta no cu (no Brasil usam mais o vocábulo “bunda”) uma pergunta que lhe fez; ou um outro pedante barroso que tem um dos maiores escritórios de advocacia no Rio de Janeiro que conta com a criminisa rede Globo como principalclienteque manda arranjar sobrancelhas, pinta unhas e defende que “direitos fundamentais” são relativos -, e assim vai a “democracia” burguesa capitalista!….

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