(Sandro Mendonça, in Expresso Diário, 29/06/2017)
Mário Draghi esteve esta passada 2f no ISEG, Universidade de Lisboa, para uma operação de comunicação. Diga-se: uma operação de charme debaixo do mote “Diálogo com a Juventude”. O tema era nada menos que o crescimento da economia real e o emprego de qualidade: “Youth, Innovation and Productivity in Europe – Lisbom 2017”.
Ao Banco Central Europeu não interessa agora ser só respeitado, …. descobriu que é melhor também ser amado. Isso foi o que aconteceu desde a mutação da crise económico-financeira na Europa em crise política com todos os seus riscos de desagregação e o fortalecimento dos movimentos de extrema-direita. O tiro da austeridade saiu pela culatra.
E hoje o que temos é um fenómeno que afinal o modelo de “homo economicus” explica: os tempos mostraram que o projecto europeu, do qual dependem o poder e os privilégios do staff do BCE, olhou para o abismo.
No seu discurso inicial Draghi insistiu que a “confiança” é muito importante para a governança económica da região europeia, para tal é preciso que haja “credibilidade” das medidas de política. Para essa credibilidade a “comunicação” é fundamental. Era isso que Draghi sinalizou que estava a fazer a este nível, e pela primeira vez, neste contexto universitário e em Portugal. A operação consistia então em que alunos de quatro instituições de ensino superior de economia de Lisboa colocassem questões: ISCTE, ISEG, Nova e Católica. (para exemplo: abaixo reproduzo a pergunta do aluno do ISCTE). Draghi respondeu sempre com um guião pré-preparado, com a sua voz de veludo em sintonia com o manto que acompanhava os seus gestos.
Nem uma palavra sobre austeridade (deu no que deu, não foi …. ?!), e todo o foco colocado de novo nas “reformas estruturais”. Qual a receita então para a inovação e a produtividade? A eliminação de barreiras no mercado interno, liberdade para a finança de capital de risco e a sempre badalada aposta no capital humano.
A economia real é uma excelente, e acertada, preocupação a ter. Mas desde quando os tratados dizem que esta deve ser uma ocupação do BCE?!
Na Europa do euro só a política monetária teve espaço político durante a última década (sim, os primeiros sinais da crise financeira começaram já há dez anos, no final de 2007, nos EUA). Só ela poderia expandir, enquanto a política fiscal só servia para reprimir. Mas depois de segurar a cidadela a partir deste ponto fixo o BCE sente-se confiante o suficiente para se animara ocupar o espaço vazio na Europa para políticas estruturais de larga escala e longo prazo.
Dir-se-ia que Draghi exibe um invisível manto de imperador. Irradia influência. A pergunta é: até quando (ou melhor, até onde) será dada a esta nova grande santa madre igreja económico-financeira a liberdade para continuar exorbitando o seu mandato?
O BCE centralizou a política monetária, e hoje centraliza a bancária … agora quer ser o centro das medidas estruturantes com vista às reformas da economia real? Mas com que legitimidade institucional e com que mandato democrático? Manto não é mandato.
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A pergunta de João Braz Pinto, Doutorando em Economia da ISCTE Business School:
“Mr. President Draghi,
As advanced economies struggle with output below potential (particularly since the Global Financial Crisis), severe challenges are facing the coming decades. One of the most intensely debated among researchers, given its importance for near, medium and long term economic growth is the productivity growth. In fact, productivity, which is the ultimate engine of economic growth, has been exhibiting a persistent deceleration in global economy in the recent decades which clearly undermines growth prospects.
What is your view on the originis/sources of the current global low productivity trap? Is it a cyclical phenomenon (reflecting lower factor utilization due to weak demand conditions), a long-term trend (changing demographics) or a result of both (Prolonged cyclical downturn can, itself, pull down
potential growth)?
Thank you very much!”
charme.