O Silva patrão

(Por Estátua de Sal, 02/02/2017)

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Sempre pensei que os sindicatos tinham como objectivo essencial defender os interesses dos trabalhadores. Os empresários, esses, tem as suas associações patronais que prosseguem a defesa dos seus interesses.

Mas, meus caros, a época actual é tão confusa que os papeis de cada uma das partes andam cada vez mais baralhados. Temos empresários a reconhecer que os salários em Portugal são mesmo baixos, apesar de considerarem que tem dificuldades em os aumentar, mas também a incentivar que toda a classe faça um esforço nesse sentido, até porque, a médio prazo, tal lhes será benéfico porque os trabalhadores os recompensam, em norma, com maior dedicação e produtividade. E temos sindicalistas a defenderem as dores dos empresários, avançando com reticências aos aumentos do salário mínimo que o governo se prepara para realizar em 2018 e 2019 de forma a atingir os 600€ nesse último ano. (Ver notícia aqui)

Aqui o temos, o líder da UGT, Carlos Silva, o grande defensor do empresariado nacional e das suas dores. Imaginemos então o seguinte diálogo em sede de concertação social entre o Ministro da Segurança Social e o dito cujo Silva.

– Bem, em 2018 vai o salário mínimo passar para os 685€ – diz o ministro.

– Ó sr. Ministro, mas será isso possível? Já pensou que, com esse aumento o Continente e o Pingo Doce, vão levar um rombo de todo o tamanho, vão aumentar os preços numa proporção maior que a subida do salário mínimo e os trabalhadores que vão às compras passam a pagar mais e, em vez de serem beneficiados, são prejudicados. Não concordamos, portanto, pois não queremos dar um pretexto ao patronato para aumentar os preços, prejudicando dessa forma os trabalhadores. Mais depressa apoiaríamos uma descida do salário mínimo para aumentar a competitividade das empresas e descer os preços dos bens de consumo. Isso sim, seria uma grande medida de política económica e estamos a pensar colocá-la à discussão na concertação social – disse o Silva num discurso resfolegante, de tal forma, que o bigode parecia que lhe ia tombar no colo.

Todos ficaram de boca aberta com tão inusitada intervenção e até o preclaro negociador António Saraiva da CIP, ficou a engolir em seco não sabendo o que dizer. Ir contra o Silva seria trair os interesses da classe. Se secundasse daria a ideia de que o Silva não passava de um ventríloquo falando a seu mando. O ministro quebrou o silêncio:

– Mas, sr. Silva, o Sr. está aqui a defender os trabalhadores ou os patrões?

O Silva encolerizou-se e o bigode saltou-lhe para o nariz quando respondeu:

– Sr. Ministro, não há trabalhadores sem patrões! Pelo que, para defender os trabalhadores temos que defender, em primeiro lugar os patrões. Sempre foi esse o nosso entendimento e continuará a ser.

– Assim sendo, sr. Silva, se não há trabalhadores sem patrões, também não há patrões sem governo, já que sem governo não haveria ordem e seria a selva. Por isso declaro que o aumento vai mesmo avançar. Entenda-se com o sr. Saraiva, podem ir lá fora e conversem em privado, o que não será difícil porque tem posições muito próximas. Faça-se um intervalo para tomar café.

Claro está que o diálogo acima é uma caricatura. Mas uma caricatura que não andará longe da verdade. No fundo, a UGT não passa de uma para-associação patronal disfarçada de sindicato, sempre disposta a subscrever acordos que colocam os interesses dos trabalhadores em segundo plano, privilegiando em primeira linha, os interesses do patronato. Sempre foi isso.

Mas estas declarações de Carlos Silva ultrapassam todos os limites. Tentar obstaculizar os aumentos do salário mínimo que o governo negociou com os partidos à esquerda que o suportam no parlamento é a queda, em definitivo, da máscara de sindicalista que ele usa.

Carlos Silva ainda não percebeu uma coisa, ou talvez já o tenha percebido e por isso anda tão pateta e desabrido. O surgimento da Geringonça e a sua manutenção e eventual continuação em futuras legislaturas, tornou-o num idiota inútil.

A concertação terá que se fazer prioritariamente no parlamento com o apoio dos partidos de esquerda, tendo em conta a postura de terra queimada do PSD que, como prometeu, se irá opor a todas as medidas que o  governo proponha, independentemente da posição que o Silva, disfarçado de sindicalista,  cacareje lá do alto do seu bigode.

 

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