OS LESADOS DO BES ou a Boa Governação

(Por Joaquim Vassalo Abreu, 20/12/2016)

lesados

Todos nos lembramos do modo como foi efectuada a resolução do BES e da convicção com que pouco tempo antes todos os responsáveis, de políticos no poder a reguladores, desde o Governador do Banco de Portugal a Passos Coelho e desde Maria Luís Albuquerque ao Presidente da altura Cavaco Silva, asseguravam a sua estabilidade, solvabilidade e capacidade para enfrentar qualquer obstáculo, pois os seus rácios de liquidez assim o demonstravam. Asseguravam eles…

Pouco tempo depois observamos como tudo acabou: na separação do Bom do Mau. Criou-se um Novo Banco que ficou com os Activos tidos por solvíveis e injectou-se 4,9 mil milhões de Euros para assegurar os rácios necessários para a estabilidade das responsabilidades perante os passivos que são sempre exigíveis e que são, em primeiro lugar, os depósitos dos clientes.

A bondosa finalidade era vender-se o Banco Bom, o Novo Banco e recuperar-se, assim, o dinheiro aí investido pelo Fundo de Resolução e pelo Estado. Mas, enquanto decorria esse processo, e fruto de uma avaliação inconsistente e apressada, o Banco veio acumulando prejuízos (só no primeiro exercício foram mil milhões de Euros), baixando de valor e deixando por resolver questões de tal importância, principalmente na sua reputação, e que a não serem resolvidas trariam como consequência a maior perda de valor ainda e a posterior quase impossibilidade de o vender, a não ser por valores simbólicos.

Está neste caso, e em primeiríssimo lugar, a questão dos LESADOS com a compra de Papel Comercial do BES e todos nos lembramos também da ligeireza, da irresponsabilidade e leviandade com que Passos Coelho e o seu governo trataram este caso, dizendo Passos tratarem-se de assuntos privados nos quais não se imiscuía e rematando na campanha eleitoral com aquela triste “saída” de aconselhar os Lesados a recorrerem aos Tribunais, predispondo-se mesmo a, para pagamento das custas, encabeçar um peditório nacional…

Essa leviandade, reflexo do modo estarolas como sempre governaram, concorreu para que nada fizessem para a estabilização do Sistema Financeiro, objecto das ondas de choque da crise financeira e das dívidas soberanas, como também da irresponsabilidade de grande parte dos seus gestores a quem só importavam os prémios e ordenados chorudos.

Tudo isso já é bem visível à observação e conhecimento de todos e um espelho do que foi a sua trágica e indolente governação. Não vou aqui dissertar o que é uma boa governação, mas dou como exemplo este caso, caso paradigmático da diferença entre uma e outra, que atesta que quem está no poder tudo deve fazer para resolver os problemas que são estruturantes e que afectam a vida e o futuro de todos, como não deve descurar as injustiças, como as deste caso, que não podem deixar de ser resolvidas ou mitigadas quando o Estado a posse do Banco assumiu.

Eu na altura glosei com a dicotomia (Bom e Mau) e escrevi um texto, em tom sarcástico e crítico, a que chamei “ACABOU-SE O MAIS OU MENOS” (aqui vai o Link para quem não o leu ou não o recorda: http://wp.me/p4c5So-sy ) e em que pretendo dizer, no fundo, isso mesmo: separado o bom do mau tudo o resto deixou de existir como preocupação. Como os LESADOS do Papel Comercial do BES.

Este Governo, com habilidade, com diálogo e com bom senso, sabedor da importância que este problema aportaria à desejada venda do Banco (quem compra não quererá comprar de certeza litigâncias e pendências em Tribunais) e sabedor das tremendas injustiças que em muitos casos ele comportava, fez o que tinha que fazer e devia ter feito.

Isto é BOA GOVERNAÇÃO e eu sinto-me feliz por ter votado em António Costa e apoiar este Governo e esta solução governativa. E é também prova mais que evidente que esta Direita não merece governar.

Tenho dito!


Fonte do Artigo

Um pensamento sobre “OS LESADOS DO BES ou a Boa Governação

  1. Tudo graças à mentalidade de que as pessoas não entendem as altas e exclusivas congeminações virtuosas da politica e então para que não as desvirtuem na sua ignorância e maldade há que esconder-lhas e apresentar conversa que instile ilusão interpretada como confiança. Como se houvesse neste planeta pessoas predestinadas, quando, verdade de La Palisse, todas sem exceção de alimentam dos mesmos meios, precisam de dormir, são tratadas cirurgicamente, e, suprema Graça Divina, são a seu tempo dissolvidas na terra. Nada fica! É essa mentalidade a causa maior das desgraças da humanidade. Os povos das regiões mais temperadas e mais quentes do globo são especialmente vítimas desse ilusionismo, definitivamente…

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