A questão da Caixa e a vassalagem

(Carlos Matos Gomes, in Facebook, 30/10/2016)

cardeal

A questão da administração da Caixa é um bom revelador do totalitarismo financeiro como doutrina oficial da União Europeia. A especulação financeira e o dinheiro virtual impõem o seu poder à política, sobrepondo-se às escolhas democráticas dos cidadãos e impõem o seu poder à economia real, desligando-se da produção dos bens. O sistema bancário assumiu as taras das igrejas medievais e o seu totalitarismo. Os banqueiros impuseram-se como os antigos sumo-sacerdotes, os únicos que dominam um saber esotérico, o de fazer dinheiro, e constituíam-se como uma casta, a quem os fiéis têm de pagar bem, obedecer sem os questionar e que não se confundem com a restante massa. O BCE funciona como o papado de Roma. O papa nomeou António Domingues o seu cardeal na Caixa e o novo cardeal tem o direito a impor as condições em que vai exercer o seu múnus, de escolher os coadjutores e sacristães que entender. Não está sujeito à lei local. É impune e não lhe pode ser assacada a responsabilidade pelos seus atos. Excepto receber as tensas e prebendas. Ao governo democraticamente eleito e aos cidadãos resta aceitar de joelho no chão. Se não aceitar este cardeal, nas condições impostas pela cúria do BCE, a Caixa e o Governo Português são considerados hereges, com todas as consequências. É neste ponto que nos encontramos, António Domingues foi nomeado cardeal, não pela sua competência, nem por qualquer dote ou talento, mas porque faz parte da casta dos banqueiros, é um ungido pelo BCE. É um irmão numa seita que não se rege pelos princípios da ética – é um eleito do senhor, neste caso do senhor Draghi.
Para o governo e os portugueses o pagamento devido ao António Domingues, cardeal da Caixa, e aos seus turibulários representa exactamente o mesmo acto a que teve de se sujeitar Afonso Henriques em 1143 quando escreveu ao papa Celestino II uma carta a declarar que tinha feito homenagem à Sé Apostólica, nas mãos de o cardeal Guido e que “se obrigava a pagar à Santa Sé o censo anual de 4 onças de ouro, sob condição de o papa defender a sua honra e a dignidade da sua terra”. A nomeação desta administração da Caixa, nestas condições, é uma clara imposição feudal e totalitária. É neste regime em que estamos 873 anos após esse ato de vassalagem de Afonso Henriques. A única diferença é que as ordens e os respeitos tem agora a sede em Franckfurt e não em Roma. É evidente que os cardeais nunca se regem por valores éticos, mas pela sua moral.

Nós, os portugueses, vamos pagar a purpura do cardeal Domingues, mas não o vamos respeitar. E também convém não ter ilusões quanto à evolução das relações de poder e ao direito dos povos a determinarem os seus destinos. O que tem sido dito a propósito deste delegado pontifício de nome Domingues, por mim também, são meras expressões de dar má montaria. Mas infelizmente eles são como as carraças e não é fácil arrancá-las.

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