A oeste nada de novo

(Estátua de Sal, 14/09/2016)
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Como se esperava não houve ainda acusação a José Sócrates. Também não houve arquivamento do processo. A Justiça, como ao que parece só tem mais seis meses, pode vir a parir um prematuro: deviam ter-lhe dado mais nove, pelo menos. Ou seja, o resultado do inquérito arrisca-se a ter que ir para a incubadora para sobreviver, ou se calhar há um grande risco de nos virmos a deparar com um nado-morto.
Depois do juiz Alexandre ter dado a entrevista que deu, este desfecho não surpreende. O que deve fazer espantar o cidadão é como pode ser justificada a prisão de alguém, em relação ao qual, após três anos de investigação, não se consegue produzir nem uma acusação do tamanho de um dedo mindinho: prenderam o homem para investigar, devido ao calibre dos indícios que diziam possuir, e até à data nem um alfinete para amostra.
A não ser que haja qualquer coisa menos transparente por detrás de mais um alongamento dos prazos processuais.  Relembro as palavras do próprio juiz Carlos Alexandre na entrevista à SIC, “tem muito poder”, logo a Justiça em geral tem muito poder, o qual pode ser usado para o mal, apesar de ele dizer que só usa para o bem.
Por exemplo, se alguém que use a métrica moral do juiz Alexandre, considerar que é “bem”, um qualquer desfecho do caso Sócrates vir a lume lá mais para a altura das próximas eleições autárquicas com o intuito de o PS vir a ser prejudicado com o alarido daí decorrente (para já não falar de que há ainda quem sonhe com a antecipação do calendário eleitoral…), tal é mais que coerente com as afirmações do Juíz: é a Justiça a trabalhar para o “bem” e a combater o “mal”. Logo, nenhum problema de consciência se lhe colocará que fira a sua autoproclamada “ética kantiana”.
A razão porque coloco esta meridiana hipótese é simples:
1) Está de acordo com as declarações do Juíz Alexandre;
2) Prova que Sócrates foi preso sem qualquer fundamentação jurídica plausível que se veja, à época em que o foi, independentemente de ter culpas no cartório ou não.
3) As razões apontadas pela PGR não convencem ninguém. Se há ainda mais factos e pontas para investigar, a acrescer às que já tinham, então acusavam desde já com as provas que fundamentaram a prisão, continuando as investigações. Quando terminadas estas, a serem encontradas novos ilícitos, produziriam nova acusação. Ou será que um tipo que seja acusado de um crime deixa de poder ser acusado por um crime adicional?!
Quem não conseguiu em três anos fazer o trabalho a que se propôs, será que o vai conseguir fazer em seis meses? Eu já não tenho dúvidas. Não vai conseguir mesmo.
E, a ser assim, teremos assistido à manobra mais soez e refinada de ataque ao Estado de Direito vinda de dentro dos próprios agentes que o corporizam e tem obrigação de o defender, em conluio com poderosos interesses económicos, forças políticas e orgãos da comunicação social. A ter existido uma orquestração nesta escala eu concluo que Salazar foi um aprendiz de feiticeiro, não passando a PIDE de uma manifestação do barbarismo de um camponês primário.

3 pensamentos sobre “A oeste nada de novo

  1. Pelos vistos, Sócrates está pagando (bem caro) a sua política de redução de tempo de férias e corte dos salários da classe dos juizes, que estão a ser representados nesta trapaça toda por Sua Excelencia Carlos Alexandre o Magnífico.
    Os juizes deste pais precisariam no entanto de muito mais rigor e disciplina…basta pensar na legendária lentidão dos processos. E pessoalmente, me lembro ter tido uma vez a comparecer perante uma senhora juiz por um assunto menor (é verdade!), mas nem se dignou olhar para mim uma única vez, só falou com minha advogada…nunca me esquecerei.

  2. Uma das mais sibilinas e sovinas críticas que a direita faz do Estado é que este não sabe gerir nem utilizar bem o dinheiro, que é um gastador ruinoso dos impostos dos contribuintes, que só sabe pôr verbas sobre os problemas e não os resolve e outros mimosos preconceitos que usa para denegrir o Estado e propor o “Estado mínimo” que significa entregar o Estado aos privados “empreendedores” que como conhecemos da prática são os relvas e os …
    Também os “empresários” que por cá se confundem com a direita obtusa, corroboram em pleno tal ideia pois toda a filosofia subjacente a tal ideia trata, precisamente, de coloca-los à frente dos destinos do país e a mandar nos políticos.
    Uma das imagens simples que estes empresários usam é comparar uma “empresa” com o Estado. Dizem; se uma empresa gasta sem resultados alguém tem de ser responsabilizado. Que, se a empresa estuda um projecto e investe nele uma vasta equipa de dezenas de quadros qualificados e muitos milhões sem conseguir o objectivo defenido, desfaz a equipa, chama os responsáveis e os responsabiliza ou os despede por incompetência.
    Bem, no “caso Marquês” jamais se ouviu a direita e qualquer empresário ou empresariado a queixar-se da “enorme fortuna de nossos impostos” gastos sem que haja o mínimo de resultados pretendidos ou, pior ainda, apenas a obtenção de falsos resultados.
    Não obstante tais resultados a equipa pede reforços, pede mais tempo para ir à descoberta de novas, invova a complexidade que ela própria criou com insano propósito. Enfim, continua a lançar carradas do tal “nosso dinheiro” sobre os problemas que nem resolve nem lhes põe termo.
    Porra, se querem levar a vingança até ao limite contratem um jagunço e acabe-se de vez com o “processo”. Sejam coerentes e não gozem mais connosco e à nossa custa.

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