(João Quadros, in Jornal de Negócios, 20/05/2016)

João Quadros
Depois de alguns dias a desenterrar o papão nosso que estais no céu da Comissão Europeia, segundo as notícias, afina: “Bruxelas exige/impõe/quer mais medidas para reduzir défice e adia sanções até Julho.”
Fui ler o relatório, e o que lá está escrito não é impõe, nem exige, é “recomenda vivamente”, senhores jornalistas. Bem sei que já sabemos que a CE é como algumas mulheres – recomendar vivamente é pior do que ordenar porque vamos ter de o fazer, mas como se fosse por iniciativa própria.
Não conheço a posição do estimado leitor mas, pessoalmente, já tenho pouca paciência para este falso “suspense” da CE, muito induzido pela comunicação social. Se querem aterrorizar as pessoas, não podem estar sempre a usar a táctica: “Que susto!!! Mas afinal não era o assassino, era só um gato.” Já entrei naquela fase, quando o polícia de trânsito me quer dar conselhos para o futuro, do: “Passe lá a multa, e menos conversa, ou arranco com o carro e quero que te lixes.”
Esta notícia do adiamento das “presumíveis” sanções a Portugal para Julho confirma o completo disparate da ideia. Supostamente, poderia haver dois tipos de “sanção”. Uma por não termos cumprido o défice em 2015 e outra por acharem que não estamos a fazer nada para o corrigir em 2016. A segunda hipótese de sanção parece-me bastante estapafúrdia. Sanções, agora, por práticas futuras… É muito esquisito. Não vai mais nenhum “minority report” com vodka para mesa da CE. Deixa ver se percebo a ideia. “Esta malta está a tomar uma trajectória que ainda se arrisca a não cumprir o défice, é melhor multá-los para contribuir para isso.”
Quanto à sanção por não cumprimento do défice em 2015, está, desde já, posta de parte, uma vez que não acreditamos que a CE precise de esperar por Julho, para ver se o ano de 2015 ainda muda. Aliás, Moscovici afirmou que “o novo prazo para Portugal será 2016 e para Espanha 2017? O mais irónico é que os maiores responsáveis pelo incumprimento do défice são o indivíduo que, lá no seu âmago (e no seu partido no Parlamento Europeu – PPE pediu “força máxima” nas sanções a Portugal), quer sanções e os que nos querem sancionar. Passos não cumpriu o défice e a CE ajudou a que ele existisse (ver vida e morte de Banif ).
Para Moscovici, “este não é o bom momento político e económico para aplicar sanções a Portugal e Espanha.” Exacto, para quê punir o Governo de 2015 quando se pode fazer chantagem com o de 2016 e com o eleitorado espanhol?
Na verdade, estas sanções dependem não dos números, mas dos governos. São uma forma de tirar a força. São Dalilas mascaradas de sanções.
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Caro João Quadras, estamos na época das favas que os Portugueses cozinham tão bem (e eu também porque aprendi), portanto é preciso mandar lá os chatos que só querem nos desassossegar, sejam eles vindo da comissão Europeia ou da BCE do JC Junker, ou mais simplesmente dos “chateados” de ter perdido as últimas eleições!
Bem haja D.F. Dinis