Minha rica escola

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 13/05/2016)

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João Quadros

Aos poucos foi crescendo a polémica das escolas privadas com contratos de associação. Fazem favor de sublinhar – contratos de associação. Já sublinharam?


Isso não é sublinhar, é riscar. Escrevam, todos juntos em coro e a dar a mão: “Os contratos de associação são mecanismos do Estado para suprir dificuldades na rede pública.” Agora, escrevam a bold: “Como todos esses mecanismos temporários, devem cessar quando a necessidade que lhe deu origem também cessar.” Pronto, está feito. Podem pegar no que acabaram de escrever e enviar para aquelas escolas com contratos de associação (e pais) que puseram crianças nas aulas a escrever cartas a políticos para que não acabem com subsídios. Espero que não tenham dado muitos erros.

Para a nossa direita liberal as empresas privadas vão à falência, porque deixam de ter clientes, e é bem feito, é o mercado a funcionar. Já escolas privadas irem à falência porque o Estado vai deixar de ir lá gastar é um ai valha-nos o Cristo que é uma infâmia!

Posto isto, exijo subsídio estatal porque quero tomar banho de imersão em água Castelo. Quero poder optar pelo privado na esfrega das partes privadas. Quero ser um cidadão com direitos especiais apenas porque não me sinto satisfeito com a água do serviço público à minha disposição; para mim tem pouco gás e a outra é melhor. Paguem, se faz favor.

A ideia do PSD/CDS é pagar duas vezes a educação dos miúdos: investimos na escola pública e depois ainda pagamos a outra para esvaziar a que pagámos. Quando isto passar, a direita nunca mais vai poder dizer mal de subsídios – é o fim de 90% do discurso.

Para os deputados do PSD e CDS, trata-se “de uma questão de liberdade de escolha, mas acima de tudo, de garantir que as promessas (com pais, alunos e escolas) são cumpridas. Ou seja, de que o Governo honra a sua palavra”. É assim mesmo deputados da ex-maioria, acima de tudo a palavra do Estado é sagrada!

Vamos regressar ao ano 2011, directamente (sem passar pelas notícias em que a palavra honrada do Estado corta unilateralmente os salários aos funcionários e abocanha os contratos com os pensionistas) para as capas de jornais de 28 Setembro: “O Estado vai faltar ao prometido e não vai pagar os prémios aos melhores alunos do secundário”; “Melhores alunos ficam sem prémio de 500 euros”; “A poucos dias da cerimónia de entrega, o ministro Crato suspende os prémios pecuniários de mérito”.

Em 2011, quando ficou com o dinheiro dos miúdos (e as promessas a pais, alunos e escolas não foram cumpridas), o ministro da Educação justificou-se dizendo: “O reconhecimento do mérito não pode ser só distribuir dinheiro. Mesmo sem receberem os 500 euros, o reconhecimento do mérito dos alunos fica.”

Resumindo, se fôssemos segundo a lógica do ex-Governo de Passos, agora o Ministério da Educação reconhecia o mérito das escolas privadas, que é uma coisa que fica, e cortava-lhes já a massa toda e siga. Pumba, sem dar cavaco! À Crato.

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