A loucura na política

(Luís Marques, in Expresso, 09/05/2015)

Luís Marques

                          Luís Marques

Um deputado do PSD, de seu nome Carlos Abreu Amorim, confessou há uns tempos que tinha deixado de ser liberal, sem revelar no entanto a que nova corrente política, ideológica ou religiosa tinha aderido. O dito deputado parece que era conhecido na chamada blogosfera, antes de ter garantido um lugarzinho no Parlamento. Consta que este mesmo senhor é um dos autores do vergonhoso projeto que procurava controlar a cobertura das campanhas eleitorais pelos media. Fica agora muito mais claro porque é que o referido deputado deixou de ser liberal e a que valores se converteu.

Um primeiro-ministro em funções a publicar uma biografia, não o balanço da sua governação, no arranque de uma campanha eleitoral, eis mais uma originalidade

Esta conversão acontece a todos, ou quase todos, os políticos, depois de entrarem na esfera do poder. Parece que há por lá um vórtice que transforma liberais, socialistas, sociais-democratas e alguns exóticos em “homens da Regisconta”, todos iguais nos seus comportamentos, tiques e atitudes. Todos eles transformados em guardiões de uma ideologia sem alma e sem rosto, a qual se concretiza na defesa do poder pelo poder, de um poder sem valores e, muitas vezes, sem lei.

Um poder cada vez mais distante da realidade, do cidadão e do respeito pela liberdade dos outros. Um poder que se autoalimenta através de uma burocracia asfixiante, de intoleráveis intromissões na privacidade dos cidadãos, em regulamentos para tudo e para nada. Um poder que quer tomar conta de nós como se fossemos crianças, que em vez de facilitar dificulta a vida dos cidadãos, das famílias e das empresas. Um poder que pratica o saque fiscal em troca de serviços miseráveis.

A proximidade de eleições coloca os agentes deste poder em alvoroço e revela a massa de que são feitos. Uma espécie de loucura invade a política deixando a descoberto a verdadeira natureza dos autoproclamados representantes do povo. Os casos sucedem-se a um ritmo alucinante. Foi a já referida tentativa de amordaçar os media. Foi a extraordinária e inqualificável mensagem eletrónica de António Costa para o jornalista João Vieira Pereira. Foi o reiterado elogio de Passos Coelho a Dias Loureiro, apresentado, na versão do primeiro-ministro, como exemplo de empresário e de sucesso de um homem do interior.

Se tudo isto já seria motivo para nos deixar a boca aberta de espanto e indignação eis que Passos Coelho decide dar um passo em frente, autorizando a publicação da sua biografia, recheada de revelações suscetíveis de alimentar o anedotário político nacional, feito de intrigas, ‘jogadas’ individuais e manobras de bastidores. Um primeiro-ministro em funções a publicar uma biografia, não o balanço da sua governação, no arranque de uma campanha eleitoral, eis mais uma originalidade. Sim, sopram ventos estranhos na política em Portugal.

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