O da Joana

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 05/05/2017)

quadros

Um terço gigante, da autoria de Joana Vasconcelos, foi inaugurado esta semana à entrada da Igreja da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima. Tenho a opinião de que Portugal só fica realmente completo quando a Joana Vasconcelos fizer uma padaria portuguesa gigante.

Acho uma ideia parva. Segundo ouvi dizer, Nossa Senhora tinha previsto aparecer outra vez em Fátima para festejar os 100 anos, mas puseram um terço gigante no local da aterragem.

Estou oficialmente cansado do centenário de Fátima e totalmente farto da Joana Vasconcelos. Lá está ela em todo o lado, sempre com as suas obras gigantescas. A Joana Vasconcelos deve festejar o 39 de Maio. Ela deve ser fixe é a fazer um charro. Deve ser um canhão.

A Joana Vasconcelos tornou-se a artista do regime, ainda que a frase pareça uma contradição. Mas desta vez temos um problema mais complicado porque, após ser conhecida a instalação, de seu nome “Suspensão”, começaram a circular, nas redes sociais, fotografias de um terço igual ao que foi erguido entre duas palmeiras em 2013, em Vila Velha, no estado de Espírito Santo, aquando da visita de João Paulo II ao Brasil. Aleluia! Isto foi o Milagre da multiplicação!!!

Joana Vasconcelos já se justiçou e diz que o terço brasileiro “não tem nada a ver” com o de Fátima. E a justificação, de que não têm nada a ver um com o outro, é, e cito: “Aquilo é um terço pequenérrimo feito de esferovite.” Fazendo uma comparação, o terço brasileiro tem 19 metros de comprimento e cerca de 60 contas, o da Joana tem 26 metros e 60 contas brancas. Ou seja, nunca se ponham nus em frente à Joana Vasconcelos. Resumindo, a única coisa que a Joana Vasconcelos inventou foi a palavra: pequenérrimo. Gostava de saber qual seria a reacção da Joana Vasconcelos se fizessem um sapato de mulher com tachos de brincar.

Diz ela que o efeito do terço que fez, à noite, tem um efeito que só existe em Fátima. E na Póvoa de Santo Adrião. Pelo menos, o outro é sustentado por duas palmeiras, o dela é sustentado por uma espécie de duas colunas de som gigantes, em vez de duas azinheiras.

Mesmo assim, a Joana Vasconcelos consegue ter menos lata a explicar o plágio do que a razão porque passou a olhar para Fátima com outros olhos.

O bom disto é ver que Fátima comprou gato por lebre. A Joana Vasconcelos arranjou uma fraude para comemorar os cem anos das aparições. Finalmente, fez-se justiça.


TOP5O

Suspensão

1. Infraestruturas de Portugal recomenda caminhos alternativos aos peregrinos – vão por cima de azinheiras.

2. Vereador do PCP em Cascais foi detido – por não tratar o filho por você.

3. Bloco de Esquerda quer prevenir consumo excessivo de Ritalina – é tomar ritalina em homeopático que, ao menos, não faz nada.

4. Líder parlamentar do CDS-PP diz que Portugal vive numa “democracia simulada” – o que os chateia é ser democracia.

5. Dois terços dos eleitores de Melénchon vão votar em branco ou nulo – o outro terço é o da Joana Vasconcelos.

O “DA JOANA”!

(Por Joaquim Vassalo Abreu, 03/05/2017)

terço

O da Joana”, “A da Joana”, “A Casa da Mãe Joana” e coisas do género são palavras e frases com sentidos vários, neste caso os primeiros querendo significar um lugar onde todos mandam e fazem o que querem, onde cada um faz o que lhe apetece ou onde todos se podem servir à vontade e o terceiro um pouco mais complicado e por cujo significado não desejo ir. Só posso dizer que, neste caso, é a Joana quem manda!

Tive que fazer esta introdução, não por que não ache os meus leitores suficientemente inteligentes para isso perceberem, mas para colocar, desde já, de lado todos os significados ínvios que me possam querer atribuir.

“O da Joana” é mesmo o terço gigante, como tudo o que ela faz que, qual escultura do José Rodrigues, que aquilo certamente não faria, encherá os olhos dos devotos peregrinos que a Fátima irão nos próximos dias doze e treze e que certamente os assombrará não só pela sua magnitude como pelo seu significado.

Tudo bem, tudo em grande, todos satisfeitos, todos admirados, mas…não passa, apesar da sua grandeza, de um terço! E, como se chama de “Suspensão”, como rezá-lo, se ele está suspenso? Pois aqui é que bate o ponto. Se fosse um “rosário”, aí até estava de acordo pois era uma obra completa. Mas, assim, ficando-se por “um terço”, cheira, apesar da sua grandeza, a coisa inacabada.

Outra desilusão: é feito de “contas brancas”! Contas brancas, Joana? Eu a pensar que ia surgir da sua cabeça de imaginação sem fim não um feito de tachos, que estes fazem um sapato, nem de corações de Viana, que fazem um coração gigante, e aqui faz todo o sentido, nem daquelas coisas que as mulheres enfiam na coisa quando lhes aparece a mensalidade, como fez para um balaústre ou alabustre, já nem sei, como dizia Camilo Pessanha, que eu ouvi outro dia o Manuel João Vieira a  declamar em Coura, um candelabro, pronto, assim uma coisa nova…agora, “contas brancas”? Nem ao menos às cores, Joana?

 Eu, se me pedisse opinião, e não seria difícil fazê-lo, eu tê-la-ia aconselhado, para evitar as críticas que aí inevitavelmente virão, logo à partida de racismo por serem apenas brancas, embora para regozijo dos daltónicos que assim não confundem a cor, depois por estarem ali imóveis e, mesmo iluminadas, não passarem de brancas, estivessem elas ao menos lapidadas para logo refulgirem em cores, eu tê-la-ia aconselhado, como vinha dizendo, a fazê-lo com sininhos!

Sininhos, sim! Repare só, ó Joana: Eu sei que ele é da Joana mas, não pretendendo assomar-me a seu consultor artístico, que disso nada percebo mas tenho a mania de ter umas ideias, mesmo que soem assim a estapafúrdias,venho alerta-la para um efeito que a Joana não previu e que é o vento! Admirada?

Eu sei que já está a pensar e certamente arrependida de não me ter ouvido. Um terço de sininhos, ali pendurados, ao vento, ao sabor da música do vento, oferecendo melodias sem fim…eu nem quero sequer pensar…E se, ainda por cima, fossem calibrados, pertencendo a cada um uma nota, um sustenido ou um bemol, programados assim para, consoante o vento, tocarem não só o Avé Maria, mas também o Hino da Alegria e, porque não também, o Hino Nacional também?

Um logro Joana, um logro! Onde a sua imaginação? Um terço apenas? Nem um “rosário” consegue fazer? Era “mais grande”? Mas não é, para si, quanto “mais grande” melhor?

Soube que aquele “Terço” se chama de “suspensão”! Que está suspenso é um facto facilmente constatável. mas mais importante que essa constatação, é a explicação. E então, enquanto lia a sua filosófica explicação, eu fui-me lembrando da Zita e pensei: mais uma convertida?

Pudera Joana, pudera! É que Fátima, não sendo propriamente a “Casa da Joana”, é uma fábrica a céu aberto, embora com a contabilidade bem fechada. E você, mesmo sendo Joana, conseguiu lá chegar!

Bravo Joana! Um “terço” já está feito. E o “rosário” quase…


Fonte aqui

ODE AO MEU PAÍS AMADO

(Ana Cristina Leonardo, in Expresso, 12/11/2016)

ANALEONARDO

                Ana Cristina Leonardo

Vivemos sufocados pelo presente. Diluídas as estações do ano que marcavam a lenta e redonda passagem do tempo, sobram aos urbanos as intermináveis bichas de verão para a praia, a febre primaveril dos fenos, o outonal fumo das castanhas e o pesadelo do Natal em pleno inverno. Mais solstício, menos equinócio. O presente, subtraído aos padrões climáticos regulares, transformou-se num continuum a que não falta porém excitação mundana. Não temos como nos aborrecer. Quando escrevo, as eleições americanas provocam entre nós uma secreção extraordinária de adrenalina e os locais opinam sobre o seu voto, embora infactível, com uma paixão que só recordo dos tempos em que Sócrates, o Carismático, segundo Ascenso Simões, era eleito o homem mais sexy do país ou, vá lá, recuando um pouco mais, ao sumiço de Maddie (houve mesmo um grupo de portugueses, João Galamba inclusive, que participou num vídeo de repúdio a Trump, repetindo para a câmara ‘I give a fuck’ sem que todavia houvesse queixas americanas de ingerência nos seus assuntos internos, talvez porque os EUA ‘don’t give a fuck’ para Galamba). Entretanto, com o caso Piloto de pousio e o próprio a monte, as atenções viram-se para a Web Summit, conferência europeia de empreendedorismo e tecnologia que traz a Lisboa cerca de 53 mil tecnocromos, com uma lista de participantes que inclui entre outros Barroso e Portas (sem dúvida dois exemplos de sucesso em qualquer área), mas onde não conseguimos descortinar o nome do embaixador do programa relvista “Impulso Jovem” (a parte boa para os não empreendedores é que os transportes públicos vão funcionar ***** durante os dias da conferência). Houve ainda o caso do turista que derrubou uma estátua tricentenária no Museu de Arte Antiga, o que levantou grande sururu sobre a segurança às Janelas Verdes, sem que ninguém todavia se tenha interrogado sobre quão idiota alguém pode ser para ir tirar selfies para um museu borrifando-se nas obras expostas. Obra de peso é o galo assinado por Joana Vasconcelos com o patrocínio de azeite homónimo: quatro toneladas. Li que canta. António Costa tentou que também se alumiasse, mas as pilhas do comando estavam gastas.

Vai depois para a China o galo, ficando aqui até ao final do mês, substituto do burro da Ferrari de que privaram recentemente os lisboetas, o que me recordou o “Fim” de Mário de Sá-Carneiro: “Que o meu caixão vá sobre um burro/ Ajaezado à andaluza/ A um morto nada se recusa/ E eu quero por força ir de burro!”. Como não gostar de Portugal?