PS — Francisco Assis e Sérgio Sousa Pinto (SSP)

(Carlos Esperança, 24/03/2021)

O oportunismo não é apenas apanágio da direita, mas esta tem na política, na ética e na economia, a parte substancial. Paga melhor, a carne é fraca.

Todos se recordam de Francisco Assis, um liberal de longo passado no PS, a fingir de social-democrata, adversário de alianças à esquerda, a saltar de canal em canal da TV, para impedir um governo PS com apoio dos partidos à sua esquerda. Não lhe faltou guarida nos média, convites para entrevistas e artigos de opinião, até se esvaziar, e esgotar a paciência dos ouvintes e leitores.

Hoje já tem um lugar rendoso e mediático para servir a direita e pressionar o partido na deriva liberal que encontrou um travão em António Costa.

Agora é Sérgio Sousa Pinto, outrora o jovem promissor, com posições de esquerda, hoje um ambicioso militante que espera ventos de direita para disputar a herança partidária.

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Assis e SSP têm direito a ser o que quiserem, mudar de opinião e assumirem o que são, ou aquilo em que se tornaram, só não têm o direito de conduzir o PS para um beco em que fique refém da direita e, muito menos, a reclamarem-se herdeiros de Mário Soares, sem que o próprio se possa defender do ultraje. Basta lembrar-lhes o apoio de Soares à solução de esquerda, para a conquista da Câmara de Lisboa, a Jorge Sampaio.

SSP comporta-se como Passos Coelho a reivindicar a herança de Sá Carneiro, sem ter a dimensão, cultura ou instrução para perceber o ridículo, ou como Cavaco a anunciar-se ideólogo da social-democracia moderna. Estes são mais genuínos porque lhes falta a preparação para se darem conta do ridículo, mas não são camaleões como SSP, são apenas ignaros.

Todos os partidos têm Zitas Seabra sem o quinhão de sofrimento que esta passou na clandestinidade e na luta contra o fascismo. A censura não é por serem de direita, não há democracias sem esquerda e direita, sem pluripartidarismo, é pelo oportunismo de se servirem do partido cujo ideário recusam perante o aplaudo dos adversários, ao sabor das suas ambições e interesses.

Parafraseando Churchill, os inimigos estão dentro do partido, os outros são adversários.


Francisco Assis afastado das listas do PS às Europeias

(In TSF, 09/01/2019)

(Já não era sem tempo. Parece que o PS o vai deixar a falar sozinho. Costa deve estar muito sólido na liderança para deixar que este conspirador em almoços de leitão na Bairrada regresse ao país, vindo desse alfobre de mordomias que é o Parlamento Europeu.

Mas claro, ele tem sempre uma solução que é apresentar-se ao Dr. Rui Rio para ser cabeça de lista pelo PSD, já que o PSD está cada vez mais esfrangalhado e o Montenegro anda já a contar espingardas. Era um reforço de peso para o PSD e não seria de espantar esta transferência a meio da época. Sim, porque também se fala do regresso do Jorge Jesus ao Benfica, não é verdade?  🙂 

Comentário da Estátua, 09/01/2019)



O atual eurodeputado e cabeça de lista socialista nas eleições de 2015 não consta, ao que a TSF apurou, da lista que a direção de António Costa está a elaborar. Novo cabeça de lista está escolhido….



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Francisco Assis – viagem sem regresso

(Carlos Esperança, 24/05/2018)

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O eurodeputado Francisco Assis tem um passado político demasiado relevante para que as suas legítimas opções possam ser ignoradas, dentro e fora do PS.

Quem, como eu, se reclama social-democrata, não pode rever-se da deriva neoliberal que se acentua no velho militante do PS e, muito menos, na reincidência com que se identifica com as aspirações da direita portuguesa.

A entrevista ao Público desta terça-feira foi um serviço aos partidos que o usaram, quando da formação do atual Governo, e o dispensaram logo que deixou de ser útil. E não se arrepende do mal que fez ao partido e ao País, com o discurso catastrofista e anticomunista primário, ignorando a legitimidade do voto, igual para todos os partidos.

Contra o seu desejo, o BE, o PCP e o PEV pouparam o PS à chantagem da direita, de que estava refém, onde o PSD ameaçava ser a eterna charneira.

Se há uma dívida de gratidão, é do PS aos partidos à sua esquerda e não o contrário, mas Assis insiste em excluir da vida democrática os partidos que lhe apraz sem se dar conta do seu défice democrático, do benefício da atual solução governativa e dos malefícios do Governo anterior.

Inesperada é a insistência na disponibilidade para continuar eurodeputado de um PS contra o qual foi o mais ruidoso adversário, não ter uma palavra de condenação sobre o Governo dos partidos que prefere, e persistir no que é mais caro à direita para envenenar o funcionamento das instituições democráticas.

A insistência absurda na recondução da PGR, que a própria reiteradamente considerou função de um único mandato, desejo também antes manifestado pelo atual PR, é uma provocação de quem deseja ser satélite da concorrência. Na véspera do Congresso do PS é porta-voz do PSD.

Francisco Assis perdeu a visão política e o pudor, aliado aos trânsfugas que viajaram da extrema-esquerda para os braços da direita caceteira e miguelista, na política, no jornalismo e na opinião remunerada. Ao dizer que este governo tem um prazo de validade, não se limitou a dizer o óbvio, aliás com limites legais, revelou apenas que excedeu o seu.

É natural que mantenha ainda alguma influência dentro do PS, mas suicidou-se perante o País, ética e politicamente. É deprimente o fim, mas a direita costuma pagar favores com avenças.