Prendas indesejadas

(João Gomes, in Facebook, 25/12/2025)


No dia de Natal, enquanto as mesas se enchem e os embrulhos se rasgam, há prendas que ninguém pediu e que, ainda assim, aparecem com laços vistosos, papel brilhante e promessas generosas. O chamado Plano de Paz de 20 pontos apresentado por Zelenski enquadra-se bem nesta categoria: uma prenda cuidadosamente embrulhada, apresentada a Washington e enviada simbolicamente a Moscovo, mas cuja utilidade real é, no mínimo, duvidosa.

À primeira vista, o plano parece um gesto de abertura. Fala-se de cessar-fogo, de zonas desmilitarizadas, de recuos proporcionais, de decisões futuras legitimadas por referendos. Tudo envolto numa linguagem diplomática que evoca equilíbrio, racionalidade e boa-fé. Mas, como acontece com tantas prendas de Natal, basta retirar o papel para perceber que o conteúdo não corresponde às expectativas – sobretudo de quem o recebe.

Um recuo que não convém a quem avança

O ponto central da proposta territorial – a ideia de recuos militares simétricos, em particular no Donbass -— surge num momento em que a correlação de forças no terreno não favorece a Ucrânia. As dificuldades defensivas são conhecidas, o desgaste humano e material é profundo e a dependência do apoio externo é estrutural.

Do ponto de vista russo, aceitar um recuo tático agora equivaleria a trocar uma árvore de Natal carregada de presentes por uma promessa vaga de harmonia futura. Moscovo não só não tem incentivo militar para o fazer, como vê nesse ponto um truque clássico: congelar o conflito num momento desfavorável à Ucrânia para lhe permitir recompor-se. Uma prenda que, neste caso, vem com manual de instruções demasiado visível.

Minsk embrulhado em papel novo

Mais sensível ainda é a proposta de remeter a decisão final sobre territórios contestados para um referendo nacional ucraniano. Aqui, a ironia torna-se mais densa.

Os Acordos de Minsk, tantas vezes invocados pela Rússia – e discretamente esquecidos no discurso político ocidental – assentavam na ideia de autonomia específica para o Donbass, reconhecendo-o como sujeito político distinto dentro do Estado ucraniano. Transferir agora essa decisão para o conjunto da população ucraniana é, na prática, anular o espírito de Minsk e garantir um resultado previsível.

Para Moscovo, isto representa um recuo político inaceitável: o Donbass deixa de ser tratado como região com direitos próprios e passa a ser apenas mais um objeto de decisão de um Estado que a Rússia acusa de nunca ter querido cumprir Minsk. É pedir à Rússia que aceite, como prenda, a confirmação formal da sua derrota política num dossiê que considera central.

Diplomacia para consumo externo

Tudo indica que este plano foi menos concebido para ser aceite por Moscovo do que para cumprir uma função diplomática junto dos EUA e aliados europeus. Permite a Kiev afirmar que está aberta à paz, que apresenta soluções, que é razoável. Ao mesmo tempo, desloca para a Rússia o ónus da recusa.

Mas há um problema clássico com este tipo de estratégia: quando a outra parte não precisa de aceitar a narrativa, o efeito dissolve-se. Moscovo olha para o plano não como uma saída honrosa, mas como uma tentativa de engenharia política num momento em que acredita ter tempo, margem militar e resistência interna para continuar.

A árvore completa

No fundo, o Plano de 20 pontos parece uma prenda desenhada para quem ainda espera convencer o destinatário pela estética do embrulho. O problema é que, do lado russo, a perceção é a de quem já tem a árvore de Natal completa: ganhos territoriais consolidados, economia adaptada ao conflito e uma leitura estratégica de longo prazo.

Aceitar esta prenda significaria abdicar de vantagens reais em troca de garantias abstratas. E, em política internacional, como no Natal, ninguém troca o que já tem por algo que pode nunca funcionar.

Assim, neste dia de Natal, o plano de Zelenski surge menos como um caminho para sair do impasse e mais como uma prenda indesejada: bem apresentada, cheia de efeitos festivos, mas destinada a ficar esquecida num canto – pelo menos enquanto o conflito continuar a ser decidido mais pelo terreno do que pelas palavras.

13 pensamentos sobre “Prendas indesejadas

  1. Tenho a certeza que o palhaço Zé Lérias vai ser despachado pelos próprios aliados assim que deixar de ser útil e começar a ser contraproducente (o que está para muito breve). Vai dar mais jeito um mártir, “às mãos de Putin”, para dar um novo fôlego à narrativa russófoba.
    Até já começo a pensar que nem precisam ser os américas (comme d’habitude) a fazê-lo. Vão ser os ingleses, ou mesmo os alemães chefiados pelo empregado da BlackRock.
    A ver vamos, como dizia o ceguinho.

  2. Ganhar sem ter armas nucleares contra um país muito maior em termos de superfície e que as tem?
    Pensar que cheguei a achar que essa criatura poderia dar uma Presidente da República decente, ainda que não tenha votado nela.

  3. O desespero do palhaço Zelly bem como das elites europeias é mais que evidente. Notemos que Starmer concordou de imediato com o plano de 28 pontos de Trump, mostrando que a política externa do RU não difere em nada da do seu patrão além-mar. Logo de seguida a UE engendrou um outro plano explicitamente focado em cilindrar as linhas vermelhas bem conhecidas de Moscovo, para mostrar à evidência que a paz é inadmissível e não pode ter chance nenhuma. Entretanto, o palhaço de serviço, acossado pelas vitoriosas ofensivas russas, quer um cessar-fogo ou uma trégua ou outra coisa qualquer que lhe permita ganhar algum tempo, algum fôlego. Só que os russos, estando em vantagem clara, não têm o mínimo interesse em parar as ofensivas para o inimigo se recompor. Insistem e bem em querer sim um acordo de paz a sério, completo. Exigem igualmente garantias de segurança, contrariamente ao ocidente que só pretende segurança para si e nenhuma para os outros. Ora é óbvio que a segurança ou é para todos ou não é para ninguém. Se é só para um lado, a segurança não existe, ponto. Desesperada com falta de fundos e sem conseguir abocanhar os biliões russos “congelados”, a Ursa conseguiu arrastar os líderes europeus a concordarem em contrair uma dívida de 90 B a ser paga a prazo por todos nós, visto a Ucrânia estar tesa. Mas o FMI já avisou que o que a Ucrânia precisa para já é mais do dobro dessa quantia. Portanto, quem pensava tapar os buracos dessa maneira pode desenganar-se. Essa fortuna apenas permite algum adiamento no colapso inevitável. Se era para chegar à paz agora, porque não o fizeram antes de morrerem tantos milhares e o país ficar devastado? Pensaram que a Ucrânia podia ganhar como dizia a palerma da Ana Gomes? Ganhar o quê? Quem tem um mínimo de consciência sempre soube que Zelly já estava derrotado antes de começar. Errar é humano, mas insistir no erro já é loucura, retardamento mental, disconexão cognitiva….

  4. Que o homem não está bom dos cornos de certeza que não está.
    Ninguém que realmente queira paz vai dar uma mensagem de Natal ou qualquer outra expressando o seu desejo de morte do dirigente do país com quem está em guerra.
    Tudo bem que sendo o homem judeu o Natal não lhe diz a ponta de um corno e se lhe diz diz que a a data a que alegadamente nasceu um blasfemo que os seus arranjaram maneira de pregar numa cruz.
    Mas quem não estiver debaixo de substâncias ou doido nunca dará uma mensagem de Natal nesses termos. Especialmente se verdade e que quer a paz.
    E isto prova ate que ponto esta gente perdeu a noção.
    Na prática estão a deixar as vidas de 600 milhões de pessoas, será mais ou menos esse o número das populações da Rússia, Ucrânia e União Europeia, a mercê de alguém que perdeu de vez o juízo.
    Assim aquele a quem ele tanto deseja a morte o va mantendo. A ver se ainda temos algum futuro.
    Que grande patranha e que grande sarilho em que estamos metidos.

  5. Já não sei quem está mais atolado na “neve”, digamos assim, se os “grandes líderes” europeus, se o ditador de facto ucraniano… é que tem sido sobredose atrás de sobredose de capital, e cada vez mais se percebe que algo não vai bem nas suas cabeças, que já confundem a História com os textos da Kaja Kallas, os resultados práticos e os efeitos da guerra com atentados terroristas e ecocidas fortuitos, e até a propaganda delirante já não faz efeito, com o artista de variedades a apelar à obsessão com a morte de alguém numa mensagem de Natal tão demencial como o regime corrupto que representa, como num delírio satânico de um adorador do anti-Cristo.
    Não lhes desejo as melhoras, porque para isso teriam de se ir reabilitar primeiro, e largar a “neve” e o champanhe e os luxos e prebendas a que se habituaram. E isso é o que lhes custa mais, o desmame.

  6. O bandalho de Kiev já tem a cabeça a prêmio. Estará sempre sob ameaça depois de ter morto tanta gente na Rússia e ter apelado directamente a morte de Putin.
    Olhara sempre por cima do ombro e de certeza já olha.
    A possibilidade de lhe limparem o sebo antes de ter tempo para fugir para lugar seguro já e real.
    Mas esta guerra está a dar lhe o que um humorista canastrão que fazia filmes porno vestido de couro e tocava piano com a pila não podia sonhar: poder.
    Ter quase todos os dirigentes do mundo Ocidental a fazer lhe venias a a beber as sua lerias e um sonho de que nao quer acordar.
    E a paz fará o sujeito ter mesmo de acordar. E ele fará tudo para continuar a sonhar sonhos de dominação e poder.
    E tendo em conta a sua ascendência as vidas gentias que se perdem simplesmente não interessam.
    Que grande patranha e que grande sarilho em que estamos metidos.

  7. E República Checa, Eslováquia e Hungria fizeram um manguito na hora de assumir um empréstimo de 90 mil milhões de euros para continuar a apoiar o chulo Herr Zelensky.
    O Conselho Europeu falou de guerra, guerra e mais guerra e nem uma palavra sobre a degradação contínua das condições de vida dos europeus.
    Na Alemanha que nunca se desnazificou contas bancárias de organizações e indivíduos solidários com a Palestina ou críticos do apoio ao regime nazi ucraniano sao bloqueadas numa clara tentativa de impedir o trabalho de organizações e deixar indivíduos sem meios de subsistência.
    Qualquer um de nós imagine o que seria numa manha em que precisa de abastecer a despensa ir ao Multibanco levantar dinheiro e a maquina dizer que a transação não e possível. Ir ao balcão do banco e dizerem lhe que a conta está bloqueada.
    Isto está a acontecer a gente como nos na Alemanha enquanto nós preocupamos com miticos créditos sociais na China.
    O combate pela liberdade e pela vida e aqui, não na China ou qualquer outro país cujo regime não caia no goto desta gente.
    E não me venham dizer que esses países são ditaduras pois que há ditaduras com que esta gente se dá muito bem a começar pela de Herr Zelensky.
    Resta esperar e que mais nenhum dirigente desses paises dissidentes tenha o destino de Robert Fico, ou pior, pois que esse pelo menos sobreviveu sem sequelas de maior apesar do sofrimento pois que voltou ao activo sem perder a coragem, as maos de um qualquer fanático pro ucra. Certamente tendo esse regime sinistro por detrás mas sendo apresentado pelos presstitutos como um lobo solidário que agiu sozinho. E ainda tendo sido ele o culpado. Como aconteceu com Robert Fico que teve presstitutos a dizer, enquanto estava num hospital entre a vida e a morte, que tinha sido vítima da polarização que tinha criado. Som, o homem foi considerado culpado devo terem tentado assassinar.
    Sim, o nosso Diário de Notícias disse esta atrocidade e outros disseram coisas parecidas.
    E que sejam cada vez mais aqueles que dizem “não morreremos pela Ucrânia”.

  8. E depois da mensagem de Natal de Herr Zelensky a garantir que “em privado todos querem a morte de Putin só se este tivesse batido com muita força com os cornos num cipreste e que podia aceitar qualquer tipo de acordo com tal gente.
    Zelensky já provou até a exaustão que não quer paz, que é movido por um ódio irracional e implacável.
    Talvez se tenha sentido humilhado por, na qualidade de comerciante canastrão, ter tido de descer ao ponto de tocar piano com a pila.
    Herr Zelensky e um caso de policia.

Leave a Reply to joseliveiraCancel reply

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.