Mais que um negociante, Trump é um mafioso

(Whale project, in Estátua de Sal, 18/02/2024, revisão da Estátua)


(Este artigo resulta de um comentário a um texto que publicámos sobre Trump, ver aqui. Pela sua pertinência, neste momento, resolvi dar-lhe o destaque que, julgo, merece.

Estátua de Sal, 18/02/2024)


A Máfia siciliana surgiu, justamente, como um negócio de proteção. Os agricultores cultivavam pacificamente o seu campo e criavam o seu gado. Entretanto, apareciam no meio da noite ladrões que roubavam o gado e as colheitas, espancando quem lhes fizesse frente. No dia seguinte, o desesperado lavrador recebia a visita de uns sujeitos, bem-falantes, que lhe ofereciam proteção. Era pagar-lhes e nunca mais teria problemas daqueles. Quem recusava podia contar com mais ataques, ou até ser morto, ou ter a casa queimada.

Rapidamente toda a gente se submeteu. Era bem mais seguro pagar do que armar-se em herói, até porque a Máfia também tratou de controlar as autoridades policiais, corrompendo-as e matando quem não entrasse no esquema. Ao longo da história a Máfia foi crescendo, expandindo áreas de negócio e, se hoje parece ter perdido muito da sua força, contínua a ser uma verdadeira praga no Sul de Itália.

Mas não é a história da Máfia que interessa aqui. Interessa é a sua estratégia. Porque a estratégia dos Estados Unidos é a mesma. Criam instabilidade, hostilizam povos à porta da Europa, lançam guerras em todo o lado e depois exigem à Europa que lhes pague proteção. Proteção contra a instabilidade que eles criam.

Mais que um negociante, Trump é um mafioso. Nem mais nem menos. Mas, também os bons democratas falam da necessidade da Europa se rearmar, beneficiando, mais uma vez, a indústria de armamentos americana. Trump é simplesmente mais bombástico e boçal. Mas, estamos a contas com a Máfia, seja lá quem for que por lá ocupe a cadeira do poder. E a necessidade de rearmar vem justamente da instabilidade criada por esta Máfia que, com as suas guerras de agressão, tornou o entorno da Europa muito mais inseguro. E a Europa morde o isco: em vez de procurar a paz fomenta a guerra; temos o Borrell a falar da necessidade de proteger o jardim contra a selva e, por isso, resta-nos mesmo pagar proteção mafiosa.

Trata-se de Máfia, não de negócios. E estão-se nas tintas para os países que são pobres, assolados por secas, e por isso têm muito mais onde gastar o dinheiro que pagar 2% do PIB em proteção mafiosa, leia se comprar armas aos americanos.

Mas as nossas elites, muitas delas só indiretamente eleitas, como a Comissão Europeia, estão-se nas tintas para as nossas vidas e para o facto de haver gente que quase não come para que possamos, todos, pagar a tal proteção mafiosa. Proteção de que não precisaríamos se não andássemos sempre a embarcar nas cantigas deles e de uma Alemanha, que nunca foi desnazificada e que nunca deixou de sonhar com o seu Espaço Vital em terras russas. Proteção de que, certamente, não precisaríamos se engolíssemos o racismo que nos fazia comprar escravos aos tártaros – ou andar a caçá-los por conta própria -, e tratássemos de falar com a Rússia, em vez de tentarmos a escalada da guerra, fomentando um clima de insegurança perpétua à nossa porta.

Porque os mafiosos estão do outro lado do mar. E, se a coisa correr o pior possível, quem vai levar com a maior gordura do cozido somos nós. E, os mafiosos vão assistir de camarote.

Esta cegueira dos dirigentes europeus talvez se explique pela corrupção, arma que a Máfia também usava, quando nasceu na Sicília e continuou a usar à medida que se expandiu. Porque é impossível, que gente com dois dedos de testa acredite mesmo que, se pagarmos essa proteção mafiosa, acabaremos por deitar a mão aos recursos da Rússia pela destruição do seu povo, ou que ache normal a manutenção de um clima de guerra eterna. Corrupção – e, se calhar, algumas ameaças à mistura -, porque ninguém se esqueceu ainda do assassinato de Olof Palme, político muito critico dos métodos da NATO, abatido na rua como caça grossa.

Quem se lixa no meio disto tudo é o mexilhão. Somos nós que andamos a pagar estes circos todos, e depois vamos votar na extrema-direita mafiosa porque a culpa é dos imigrantes, muitos deles fugidos ao caos que os mafiosos criam nas suas terras.

O problema da imigração ilegal na Europa multiplicou-se desde as destruições lançadas pelos mafiosos, com a nossa cumplicidade, no Iraque, na Líbia e na Síria. Mas a culpa é da Rússia. Enquanto pensarmos assim, é pagar à Máfia e não bufar.


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5 pensamentos sobre “Mais que um negociante, Trump é um mafioso

  1. Permita-me só um contributo histórico curioso acerca da “Máfia vs Tio Sam”:

    – Numa viagem de trabalho que realizei à Sardenha tive a sorte de ser recebido de forma muito calorosa, e naturalmente, de quem como os latinos sabe receber e oferecer o que tem melhor. Ao jantar, que ocorreu em casa de um dos parceiros italianos, a determinada altura demos graças por ter povos tão distintos (italianos, portugueses, espanhóis gregos) à mesma mesa e de nos entender-mos de forma tão expressiva e afável. Encontramos tantos pontos em comum pela história ( que também temos em comum) que a determinada altura falamos da cultura sarda e o facto de fazerem questão de receber bem – ao que repliquei que em Portugal também, felizmente temos esse costume -. Foi daqui que surgiu uma questão que marcou a nossa interação – “sabes porque é que na Sardenha se recebe bem e na Sicília só há Mafiosos que pouco prezam a vida humana e muito menos quem os visita?

    A resposta começa por dar uma ideia dos povos que colonizaram a Sardenha e as suas origens humildes e trabalhadoras. Já quando falou da Sicília disse-me o seguinte “A mafia já existia na Ilha e durante a era Mussolini tentou-se controlar e perseguir de forma a eliminar a Mafia da Ilha. No entanto não conseguiram eliminar na totalidade e muitos fugiram…. fugiram muitos para os Estados Unidos da América onde criaram uma Mafia “siciliana” também!!! Mais tarde na II Guerra Mundial a Sicília esteve sob ocupação nazi e para retomar esse território, os Aliados, nomeadamente as forças norte americanas, em particular a CIA, financiaram e armaram a Mafia siciliana para desenvolver ações de forma a minar e diminuir as forças nazis, para, de certa forma “preparar o terreno” para que a “reconquista” da Sicília pelos Aliados tomasse forma e tornasse a operação militar mais fácil. Depois da deposição de Mussolini e da “reconquista da Sicilia” com a ajuda da Máfia, esta, “formalizou-se” e “institui-se” numa “sociedade mafiosa” nesta ilha mediterrânica. Desde esse tempo nunca mais houve quem conseguisse controlar o “fenómeno” sendo a ilha neste momento aquilo que todos conhecemos”

    Rematou a conversa com a seguinte frase “……malditos yankees”

    I rest my case!!!

  2. Pois, é a alhada em que estamos metidos. Os mafiosos do outro lado do mar teem a tendência em todo o lado de apoiar os piores filhos de uma egua parida que uma determinada terra já deu porque serão esses quem melhor se venderá aos seus interesses.
    Na Sicília foi a Mafia, que efectivamente Mussolini tentou destruir, nunca lhe doessem as maos quanto a isso.
    Quando estive em França há uns 10 anos conheci um siciliano, um jovem de 24 anos que tinha ido para lá aos 18.
    Falavasse justamente da nossa indiferença perante o martírio do povo sirio as maos de forças obscuras que toda a gente sabia quem financiava e das forças governamentais e da nossa indiferença e até hostilidade contra quem fugia a guerra.
    E dizia o jovem que a gente da Sicília era há séculos refém da Mafia que cometia crueldades sem nome tendo havido pelo menos um caso de uma criança metida em ácido ainda viva.
    Dizia o moço, “pode se cortar um pescoço mas isto é uma cueldade que devia ser impossível. É neste terror que vivemos, em plena Europa, nunca ninguém fez nada. Como vão querer saber dos sírios?”.
    Muitos sicilianos escolhiam por isso muito jovens o caminho da emigração tal como ele tinha feito porque recusar um convite para se juntar à Mafia não era opção. Só no restaurante onde eu trabalhava havia três muidos como ele.
    E ninguém faz nada porque apoiar mafias em todo o lado nunca foi problema.
    Foi uma elite de generais com muito de mafioso que foi apoiada pelos Estados Unidos transformando quase toda a América Latina em ditaduras fascistas sangrentas e rapaces.
    No Irão, a Operação Ajax tratou de destronar um primeiro ministro que queria vender os recursos da sua terra a um preço justo e dar dignidade ao povo, dando força a um tirano com perturbações mentais reconhecidas que se intitulada “a luz dos arianos”, sendo que o homem, Mohammed mossadegh de seu nome só não foi morto porque o louco tirano teve a lucidez de não o querer transformar num mártir. Mas passou o resto dos seus dias em prisão domiciliária na qualidade de prisioneiro do Xa.
    No seguimento da queda da União Soviética fizeram se bons negócios com as mafias russas e até se tentava dizer que lá não havia assim tanta Mafia como os russos se queixavam. E que isto de ser empresário por lá exigia muita burocracia, os russos, tendo vivido no nefasto comunismo estavam pouco habituados às práticas empresariais e confundiam tudo com Mafia.
    O apoio a dirigentes corruptos com muito de mafioso foi a prática dos Estados Unidos em todo o lado. Os indonésios e os timorenses que o digam.
    Por isso, sendo os Estados Unidos tão proficuos em apoiar Mafias, nada mais natural que lhe copiem também as práticas sempre que isso lhe der jeito.
    Vai aqui um repolho muito bem enrolado.

  3. Absolutamente de acordo: Trump é um mafioso boçal e descarado. Mas não menos mafioso é o corrupto senil Joseph Robinette Biden. Há décadas que qualquer presidente americano é por inerência capo de uma megamáfia que, como dizes, precisa de guerras e conflitos permanentes para “vender” os seus serviços. O problema dos “democratas” americanos com o capo Donald é apenas um: a boçalidade e o descaramento. Eles querem, como fazem há décadas, continuar a beneficiar da extorsão, mas besuntados da raiz dos cabelos até ao troço final do intestino grosso com grossas camadas de verniz e pó de arroz que lhes disfarcem a verdadeira natureza. O seu lema é: pode a mulher de César continuar a ser uma grande puta, por todos nós, seus dilectos filhos, acarinhada, mas é absolutamente necessário que não o pareça. O problema da criadagem europeia com o capo Donald é exactamente o mesmo. Eles querem continuar no seu miserável mister de lavar com a língua os penicos e escarradeiras do capo Donald e dos capos subalternos do outro lado do mar, mas não suportam que todos vejamos os vermes rastejantes que são. É apenas por isso que anseiam por um capo bem vestido e bem falante que capo não pareça.

  4. Na campanha eleitoral que opôs Biden a Trump eu até me dava vontade de rir ver a ânsia que está gente tinha em que Biden ganhasse as eleições, definindo Trump como um pesadelo e Biden como um povo de virtudes democráticas e até humanas.
    Eu perguntava se teriam batido com a cabeça nalgum lado pois que o homem que tinha como senador apoiado todas as aventuras belicas dos Estados Unidos incluindo a destruicao do Iraque, mesmo quando o seu partido não estava no poder, tinha sido o infatigavel colaborador das destruicoes da Líbia e mais tarde da Siria, pelo que não me parecia um cu mais fácil de lamber.
    Antes pelo contrário, parecia me pelo seu belicismo, pela sua obsessão anti russa e até pelos seus já visíveis danos cognitivos que seria um cu que mais facilmente nos poderia mandar para o céu dos cachalotes ou dos peixe espada conforme o tamanho que tivéssemos.
    E as tantas não se tem revelado um capo tão pouco desbocado como isso. Afinal de contas alguém que chama a cara podre assassino a um homólogo e tirano a outro não é um capo tão bem falante como isso.
    E por cá realmente temos uma cambada de vermes rastejantes a espera de ganhar algumas migalhas disto tudo. Que grande patranha e que grande sarilho em que estamos metidos.

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