(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 04/11/2023)

A base do pensamento de Hannah Arendt que deu origem à sua obra mais conhecida «A banalidade do mal» é o paroxismo da violência perpetrada pelos governos totalitários e diretamente retirada do nazismo. A filósofa judia-alemã mostrou a insuficiência das teorias e categorias científicas, económicas e políticas tradicionais e até da religião, para captar e explicar a novidade do que estava a acontecer, ou do que aconteceu na Alemanha nazi. Hannah Arendt concluiu que o domínio total é mais opressor que a escravidão e a tirania, que é mais destruidor que a miséria e o expansionismo territorial. O controlo total pretende atingir e capturar os humanos; adota como critério de legitimidade a redução dos homens a seres naturais, a animais, como um dirigente israelita qualificou os palestinianos, repetindo a classificação que os nazis haviam feito dos judeus.
O chocante e o revelador do que está a ocorrer na Palestina é que «o mal nazi» não foi uma aberração, um tumor que deu origem ao monstro do primeiro governo, no Ocidente, baseado na purificação e no extermínio dos seres humanos.
A originalidade de Hannah Arendt, ou uma das suas originalidades, foi a sua reflexão sobre o mal ter como objeto as sociedades altamente industrializadas e desenvolvidas, caso da Alemanha, sem apelar ao totalitarismo teológico-religioso, como ocorrera com a Inquisição ou as guerras da Reforma e Contrarreforma. O tema do mal, em Arendt, não tem como pano de fundo a malignidade, a perversão ou o pecado humano. A novidade da sua reflexão reside justamente em evidenciar que os seres humanos podem realizar ações inimagináveis, do ponto de vista da destruição e da morte, sem qualquer motivação metafísica, sem necessitarem de um Deus, por sentirem que são mais fortes que as suas presas. Uma apreciação de predadores, tão mais repugnantes quanto procuram as presas mais débeis e mais vulneráveis. As hienas são o paradigma deste comportamento.
Não era, certamente, a intenção de Hannah Arendt provar através de Israel que a banalidade do mal, a sua amplitude e ausência de limites apenas dependem das circunstâncias e do interesse de uma entidade política em alcançar um dado objetivo.
O que Israel, a sociedade israelita, que se assume como o povo eleito do deus que criou, está a dizer ao mundo, a todos os povos, é que o Holocausto não foi uma invenção alemã. Que o apartheid não foi uma invenção dos boers da África do Sul, que o genocídio das populações nativas na América e na Austrália não foi uma exclusividade de ingleses, espanhóis ou portugueses. Que as bombas atómicas lançadas em Hiroshima e Nagasáki não foram um ato isolado, nem as deportações de Estaline, nem os crimes de Pol Pot…
O que Israel está a dizer ao mundo sobre o seu direito de exterminar os palestinianos no campo de concentração de Gaza para se defender do Hamas é um paradoxo que os manipuladores da opinião escondem: Israel, os israelitas, os judeus comportam-se exatamente como outros povos e comunidades, não têm direito a piedade especial pelo seu passado, nem a reparação, nem, logicamente, a ocupar territórios.
A justificação do terrorismo de Israel com o direito de defesa é uma falácia que remete para o conhecido paradoxo de Abilene, a ação de quem age em contradição com o que anuncia, para iludir o que realmente pretende fazer.
Com «A Banalidade do Mal» e também com «As origens do totalitarismo», Hannah Arendt ajudou-nos a colocar Israel e o judaísmo no concerto das nações, sem atenuantes, como um vulgar estado agressivo, expansionista, totalitário, apenas limitado pela força que os outros lhe consigam opor. Isto é, Israel justificou a resistência de todos os palestinianos e que a apreciação da prática política do estado de Israel não pode ser feita através do sofisma de escolher o menor de dois males, que os «outros» são piores. Os outros podem ser iguais, mas são eles que estão a ser sujeitos à violência. São eles que estão cercados e as suas crianças mortas mesmo de mãos ao ar.
Why did the almighty United States not warn Israel about the impending attack?!?! Palestine.
Zakharova
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E QUANTO MAIS ESCANDALOSO MELHOR… O OBJETIVO DA OPERAÇÃO FALSE-FLAG É APANHAR O IRÃO NA CURVA
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Palestina: mercenários e extremistas religiosos (vulgo Hamas) financiados pelo Ocidente mainstream combateram os palestinos moderados (consequência: o Ocidente mainstream proclama: «não existem palestinos moderados com quem negociar»)… quanto mais escandalosa for ‘a coisa’ melhor… o objetivo é apanhar o Irão na curva.
Artigo publicado na “London Review of Books” em Maio de 2002, a propósito da destruição da cidade palestiniana de Jenin, na Cisjordânia ocupada, pelo exército israelita, numa espécie de ensaio geral para o que agora está a acontecer a Gaza. Os métodos então usados (2002, frise-se de novo) FORAM ASSUMIDA E DESCARADAMENTE COPIADOS DOS QUE OS NAZIS ALEMÃES EMPREGARAM PARA EXTERMINAR OS JUDEUS DO GUETO DE VARSÓVIA DURANTE A II GUERRA MUNDIAL E ACABAR COM A REVOLTA QUE AÍ TEVE LUGAR.
Escrito há 21 anos, o artigo confirma, por antecipação, a lógica, os métodos e os objectivos do nazionismo hoje. Que vão “acabar com o Hamas”, dizem eles, e tirar-lhe toda a capacidade de repetir o que aconteceu em 7 de Outubro. Basta ver e ouvir o desespero, os gritos de dor, a revolta e raiva das crianças palestinianas que hoje vão sobrevivendo ao massacre dos seus irmãos, pais, tios, primos e amigos para adivinhar como serão os militantes de um qualquer “Hamas” reeditado daqui a 20 anos. Porque haverá inevitavelmente uma reedição, um herdeiro do Hamas, seja qual for o nome que então lhe derem, e os métodos nazionistas no presente tudo estão a fazer para garantir que assim será. E dessa reedição serão as crianças que agora sobreviverem militantes e guerreiros muito mais implacáveis, empenhados e sofisticados do que os militantes de hoje. Não é preciso ser Nostradamus para adivinhar tal futuro, dois neurónios e meio bastam.
O autor do artigo, Yitzhak Laor, é judeu israelita.
https://www.lrb.co.uk/the-paper/v24/n09/yitzhak-laor/after-jenin
(“London Review of Books”, Vol. 24 No. 9 · 9 May 2002, “After Jenin”, Yitzhak Laor)
Excertos:
“What has the war between us and the Palestinians been about? About the Israeli attempt to slice what’s left of Palestine into four cantons, by building ‘separation roads’, new settlements and checkpoints. The rest is killing, terror, curfew, house demolitions and propaganda. Palestinian children live in fear and despair, their parents humiliated in front of them. Palestinian society is being dismantled, and public opinion in the West blames it on the victims – always the easiest way to face the horror. I know: my father was a German Jew. (…)
There’s no doubt that Israel’s ‘assassination policy’ – its killing of senior politicians (Dr Thabet Thabet from Tulkarem, Abu Ali Mustafa from Ramallah) or of ‘terrorists’ (sometimes labelled as such only after being eliminated) – has poured petrol on the fire. People talk about it, yet no politician from the Right, the Centre, or even from the declining Zionist Left has dared speak out against it. And despite critical articles in the press, the Army has kept on doing what it wanted to do. Now they have had what they were really aiming for: an all-out attack on the West Bank. (…)
But this ‘evil of the past’ has a peculiar way of entering our present life. On 25 January, three months before the IDF got its licence to invade the West Bank, Amir Oren, a senior military commentator for Ha’aretz, quoted a senior officer:
In order to prepare properly for the next campaign, ONE OF THE ISRAELI OFFICERS IN THE TERRITORIES SAID NOT LONG AGO THAT IT IS JUSTIFIED AND IN FACT ESSENTIAL TO LEARN FROM EVERY POSSIBLE SOURCE. If the mission is to seize a densely populated refugee camp, or take over the kasbah in Nablus, and if the commander’s obligation is to try to execute the mission without casualties on either side, THEN HE MUST FIRST ANALYSE AND INTERNALISE THE LESSONS OF EARLIER BATTLES – EVEN, HOWEVER SHOCKING IT MAY SOUND, EVEN HOW THE GERMAN ARMY FOUGHT IN THE WARSAW GHETTO. (…)
Israel may not have a colonial past but we do have our memory of evil. Does this explain why Israeli soldiers stamped ID numbers on Palestinian arms? Or why the most recent Holocaust Day drew a ridiculous comparison between those of us in the besieged Warsaw Ghetto and those of us surrounding the besieged Jenin refugee camp? (…)
Like everything else in our corrupted life, it comes down to the number of dead: ten dead Israelis are a massacre; 50 Palestinians not enough to count. (…)
Gas chambers are not the only way to destroy a nation. It is enough to destroy its social tissue, to starve dozens of villages, to develop high rates of infant mortality. The West Bank is going through a Gaza-isation. Please don’t shrug your shoulders. The one thing that might help to destroy the consensus in Israel is pressure from Western Europe, on which the Israeli elite is dependent in so many ways.”
O entretenimento derivado de teorias da conspiração, só tem um objectivo:
Dispensar os seus cultuadores de uma avaliação objectiva dos acontecimentos pressentes, tal como eles se apresentam.
Quais as acções das autoridades em Gaza – Hamas – para protecção dos civis palestinianos face à situação de guerra que fez desencadear com os massacres de 7/10/23?
Nada se conhece – Nada se diz – Nada se censura
Tadinhos dos tipos do Hamas, procuram defender-se e buscam que a idiotia ocidental continue a protegê-los e subsidiá-los apelando ao seu direito a serem terroristas usando escudos humanos.
A cretinice por estas partes está já a nível da norma para uma cambada numerosa de ignorantes e incultos, que sempre se assumem interventores autorizados desde que convocados aos acordes de quem gere a ‘doutrina dos coitadinhos’!!!
Pare de dizer asneiras. Quem viveu a vida inteira da doutrina dos coitadinhos foi o Estado de Israel. Por isso o traste do embaixador de, Israel na ONU teve a pouca vergonha de lá se apresentar com uma estrela de David. A mínima crítica lá vem o Holocausto, o Hitler, o raio que os parta.
Vai ver se o mar dá choco.