Os velhos hábitos

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 02/06/2023)

Miguel Sousa Tavares

Talvez tenha errado o alvo ao atribuir à PJ o “vazamento” em bruto de todo o processo Tutti Frutti para a imprensa. Talvez a façanha tenha tido origem mais acima e mesmo acima do Ministério Público. Seja como for, desta vez o rol de suspeitos pela fuga é consideravelmente menor, uma vez que não há arguidos, nem advogados dos mesmos, com acesso ao processo. Com um mínimo de esforço e vontade, até agora não demonstrados, a senhora procuradora-geral está em condições de, por uma vez, chegar à origem do mal. A menos que se pense, como já vi escrito, que não são graves actos como colocar o telefone de alguém sob escuta, apreender o seu computador e devassar o seu correio electrónico, que de tal forma violam o direito constitucional à intimidade da vida privada que só podem ser cometidos mediante prévia autorização de um juiz, no âmbito de uma investigação onde existam fortes suspeitas de cometimento de um crime grave que não possa ser investigado de outra forma, mas que sirvam, afinal, não para a instrução de um processo na qual o suspeito é chamado e constituído arguido, sendo então confrontado com as suspeitas e podendo defender-se delas, mas sim para vazar tudo para a imprensa, expondo desde logo à maledicência e condenação popular quem nem sequer sabia que estava a ser investigado. Aqueles que acham que destes velhos hábitos de “investigação” não vem mal ao mundo, pois o que interessa é a “verdade”, presumida ou real, sobretudo quando ela atinge alguém com quem não simpatizamos, ou são perigosamente ingénuos ou malformados. A diferença entre o Estado de direito e o Estado dos magistrados é que, vigorando o primeiro, este controla o segundo; mas, vigorando o segundo, é este que controla o primeiro. E perceberão melhor a diferença no dia em que, inocentes e ­alheios a tudo, mas porque a vida é muitas vezes imprevisível, souberem que alguém anda a escutar as suas conversas ao telefone e alguém foi buscar o seu computador para o vasculhar de alto a baixo e expor tudo nos jornais, talvez porque entretanto entraram para a vasta categoria dos “politicamente expostos” — uma tentação para os arqueólogos da verdade e justiceiros de tablóide. Aí perceberão definitivamente a diferença entre estar protegido pela Constituição e por um “juiz das garantias” ou estar nas mãos do simples impulso de um procurador do Ministério Público e um juiz ao seu dispor.

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2 Como seria de esperar por todas as razões à vista, Recep Erdogan fez-se reeleger Presidente da Turquia por mais cinco anos. A Europa e o Ocidente antecipam agora mais cinco anos de divergên­cias e afastamento do seu círculo de influência de um membro da NATO de importância geopolítica fundamental. Vêem, e acertadamente, a Turquia de Erdogan a criar obstáculos à adesão da Suécia à NATO, a manter-se numa posição de neutralidade relativamente à guerra da Ucrânia ou a querer mediar um processo de paz (o que, para o Ocidente, equivale a ser pró-Putin), a manter relações próprias com a China, ao mesmo tempo que se afasta cada vez mais da Europa e do que chamam os valores das sociedades liberais democráticas, e, tal como a Rússia, a revelar uma nostalgia imperial que a eleva já ao nível de potência regional. Tudo verdadeiro, tudo previsível, quase tudo preocupante.

<span class="creditofoto">ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO</span>
ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

Aconteceu com a Turquia o mesmo que aconteceu com a Rússia no mundo unipolar dominado pelos Estados Unidos que sucedeu ao da Guerra Fria. O Ocidente julgou poder determinar sozinho as regras do jogo à escala planetária, fundadas em princípios como o direito à autodeterminação dos povos, o comércio global, a democracia e direitos humanos para todos, etc. Mas não só os princípios enunciados variavam conforme as geografias e os amigos (o Kosovo tem direito à autodeterminação, mas a Catalunha ou a Córsega não, a democracia e os direitos humanos valem para a Rússia, mas não para a Arábia Saudita) como a própria globalização deixou de servir quando o comércio livre começou a beneficiar mais os pobres do que os ricos, para grande espanto dos liberais e dos esquerdistas. Mas, acima de tudo, tanto na Rússia como na Turquia, na China e noutros lados, o Ocidente acreditou que podia ditar as suas regras de conduta universal sem ter em conta a história de cada um, as suas divisões étnicas e diferenças sociais e religiosas. Achou que podia exigir tudo em troca de oportunidades de negócio, que, em muitos casos, como na Rússia ou na Ucrânia, foram apenas oportunidades de parcerias mistas de corrupção. Na Rússia, após a dissolução do Pacto de Varsóvia, ignorando a traumática história dos russos com a II Guerra Mundial e quebrando a solene promessa do secretário de Estado americano de então (“não avançaremos nem uma polegada para leste”), a NATO foi absorvendo novos membros, anteriormente membros do Pacto de Varsóvia, cercando e aproximando-se cada vez mais das fronteiras russas até acabar agora a vangloriar-se de ter conquistado mais mil quilómetros de fronteira com a Rússia através da adesão da Finlândia. À Turquia, membro da NATO e que há uns 15, 20 anos estava a fazer um claro esforço de modernização e aproximação à Europa, apoiada num sector militar ainda herdeiro das ­ideias de Kemal Atatürk, a ­União Europeia prometeu a adesão, mas que arrasta até hoje e que já todos perceberam que adiará eternamente. Mas, ao mesmo tempo, deu urgência ao pedido de adesão da Ucrânia, feito 20 anos mais tarde. Foi esta falta de visão estratégica do Ocidente num momento crucial para os destinos da Turquia que permitiu a Erdogan tornar-se o intérprete do caminho oposto ao da modernização e abertura à Europa, cavalgando o sentimento de despeito e humilhação com que os turcos se sentiram tratados pelo Ocidente: aliados na NATO, sim, dá-nos jeito; membros da UE, não, saía-nos caro.

O Ocidente transformou um potencial aliado, que a Rússia chegou a ser, num inimigo. A China já o é quase oficialmente e a Turquia vai pelo mesmo caminho. E ou muito me engano ou outros se vão seguir: a Índia, a África do Sul, talvez até o Brasil. É o que acontece quando velhos hábitos de pensamento, esclerosados nas mesmas universidades, os mesmos gurus e a mesma imprensa de sempre, persistem em ver o mundo segundo os seus padrões imutáveis de análise e de ética, que julgam exportáveis e eternamente aplicáveis a um mundo que deixaram de querer entender.

3 Utilizando o seu espaço de comentário da guerra da Ucrânia na SIC — verdadeiro modelo de isenção e profundidade de análise —, José Milhazes teve um contributo decisivo para o saneamento por razões políticas do russo-português Vladimir Plias­sov como professor de Língua e Cultura Russas do Centro de Estudos Russos da Universidade de Coimbra. Baseando-se apenas numa denúncia de dois “activistas ucranianos”, Milhazes deu voz e amplitude à acusação, provadamente falsa, de que Pliassov usava as aulas para fazer propaganda a favor da Rússia. Foi quanto bastou para que o reitor da Universidade, Amílcar Falcão, sem sequer ouvir o visado ou o testemunho dos seus alunos, todos desmentindo a acusação, o despedisse sumariamente por delito de opinião — que, a ter existido, seria fundamento inadmissível num país democrático; não tendo sequer existido, é simplesmente escabroso. Longe, porém, de ficar envergonhado ou arrependido com o seu contributo para tão edificante história, Milhazes voltou antes à carga. Agora atirou-se aos artistas que aceitaram participar na Festa do Avante!, acusando-os de serem coniventes com um partido que “apoia um regime de bandidos e assassinos”. Presume-se que se ele mandasse nem os artistas seriam autorizados a participar, nem haveria festa, nem mesmo o PCP estaria legalizado. Usando a sua tribuna televisiva, José Milhazes autoinvestiu-se da função de delator oficial dos “amigos de Putin e da Rússia”. Um papel que lhe assenta como uma luva, não tivesse sido ele um exilado político voluntário na Rússia soviética, onde estes eram velhos hábitos de convivência social: uma vez estalinista, para sempre estalinista. José Milhazes é para mim a demonstração viva daquilo que eu sempre pensei: a desculpa dos 20 anos para justificar passados fascistas ou estalinistas não colhe; aos 20 anos todos temos obrigação de distinguir muito bem o que é verdadeiramente essencial. O estalinismo, ainda que juvenil, não revela apenas imaturidade ideológica, mas sim um defeito de carácter.

4 Antecipando um Verão de fogos terríveis, a ­União Europeia activou a sua recente frota aérea de combate a incêndios, capaz de intervir em cada país conforme as suas necessidades: são 24 ­aviões e quatro helicópteros para toda a Europa. Cerca de um terço ou metade da “coligação de F-16”, a última exigência para a guerra que Zelensky fez e que, como de costume, irá obter dos europeus, Portugal incluí­do. Cada F-16 custa 20 vezes mais do que um dos aviões de combate a incêndios, e Portugal, que já ofereceu à Ucrânia, para a guerra, os seus helicópteros Kamov, que servi­riam para combater os incêndios, está muito satisfeito por ver cá estacionados dois ­meios aéreos da frota de incêndios europeia. É a lógica dos tempos que vivemos: tudo para a guerra, pouco ou nada para o resto.

5 Depois de tanta promoção, lá fui espreitar o “Rabo de Peixe”, a segunda produção portuguesa a ter honras de Netflix. E, tal como com a primeira, a decepção foi absoluta. Os velhos e maus hábitos do cinema português persistem, nada aparentemente se tendo aprendido com as boas experiências alheias. Uma história muito mal desenvolvida, com ligações por fazer ou sem sentido, uma incapacidade recorrente de conseguir contá-la através só dos actores, lá tendo de vir o inevitável e pré-histórico narrador, descrevendo até emoções e sentimentos dos personagens, e, por fim, claro, também o incontornável som digno dos tempos do cinema pós-mudo. Lastimável mistura entre som ambiente e som directo, inenarrável captura do som das falas, não se percebendo nada do que os actores dizem, excepto os palavrões, que, talvez para compensar, são gritados e frequentes. Caramba, como é ainda possível fazer-se tão mal? E como não há um crítico que se atreva a dizê-lo? OK, esta é a minha opinião e de quem só esforçadamente aguentou dois episódios, mas há-de haver alguém mais que pense o mesmo. Ou não: aquilo é magnífico?

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

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13 pensamentos sobre “Os velhos hábitos

  1. Pelo menos desta, vez o MST conseguiu uma proeza. Falar da Ucrânia sem passar um atestado em psiquiatria sem nunca ter visto o doente ao dirigente russo, como se tivesse qualificações na área da saúde mental que efectivamente não tem. Já é uma evolução.
    Mostra se agora de certo modo preocupado com um caso gritante de xenofobia e russofobia mas já falou numa tal de crueldade que seria exclusiva do povo russo a boleia de uns czares de há centenas de anos. Foi por sermos muito humanos que quase não deixamos pedra sobre pedra em Bagdade em meia dúzia de dias. O senhor falou agora mas calou se quando um pouco por toda, a, Europa cidadãos russos foram corridos de empregos onde ganhavam o pão por se recusarem a flagelar o seu país. Se aquilo é uma ditadura assim tão má podiam pensar que fazer tal coisa pode dar problemas se lá voltarem.com que direito se exige a um emigrante que arrisque nunca mais poder voltar a ver a sua terra? Mas a, vida dos white niggers nao interessa a ninguém. Como bem disse outro senador sinistro que classificou o dinheiro enterrado na Ucrânia como o melhor dinheiro já gasto por aquela nação especializada em rapina porque russos estão a morrer. Racismo puro e duro. Alguém exige a um cidadão estadounidense que condene as invasões do seu país? Algum foi corrido do emprego quando da criminosa invasão do Iraque?
    É mais uma vez temos um pai da criança mal identificado. O que o Milhazes faz chamasse Mcartismo. Sim, a caça às bruxas que assombraram o farol da liberdade na década de 50 do século passado. Um senador sinistro em horário nobre denunciava supostos comunistas e no outro dia ia tudo raso.
    De resto se o Milhazes é qualquer coisa acabada em vista ‘e oportunista. Estava a estudar para padre, rico padre dali sairia, fez se comunista quando os ventos mudaram e fez se racista, mordeu a mão que o alimentou durante mais de 20 anos quando os ventos voltaram a mudar. Nunca foi convicto de coisa nenhuma, vive só sabor do vento e cede aos mais baixos instintos da humanidade. O resto é história e escusamos de atribuir ao Estaline a responsabilidade pela criação de tal criatura.
    Apesar de tudo, o MST parece pelo menos ter reconhecido que racismo não é opinião, é crime.

    • À cena do racismo só falta que preceda a da homofobia para completar o quadro da palermice.
      E quanto à violência da Rússia, é mesmo necessário recorrer aos czares?
      E antes de Bagdad não houve Rússia no Afganistão; e Chechénia não é bem melhor exemplo de violência? e a Síria tão próxima… e a Ucrânia, todos os dias.

  2. E houve também os cowboys a matarem os selvagens dos indios, como aprendi nos livros de estórias como o Mundo de Aventuras e o Condor!🤠

    • pois é … os brancos deportados da inglaterra q fizeram o genocídio dos peles vermelhas, os chamados de ameríndios, o cretino ñ fala, deletaram isso da k7 q ele usa 😃

      mas, pq hoje é sabbath, dia de descanso dos sionitas (q mesmo sendo, continuam assassinando palestinos na terra destes) tenho de fazer uma pausa para saborear, enquanto posso, umas copadas do *red wine* da adega dos frades cartuxos alentejanos 😁 (à moda do toino)

  3. Os czares vieram a baila num texto anterior do MST no qual se tentava atribuir ao povo russo um certo monopólio da crueldade.Racismo pois claro porque somos todos capazes de boas coisas e a esse preço tambem o massacre dos Távora podia ser assacado na Rússia para falar de uma certa crueldade portuguesa. Nem uma velha de 80 anos escapou.
    Quanto aos afegãos não os tratou a Rússia pior que trataram antes os ingleses e, mais tarde americanos, ingleses e outros quando os talibans que armaram contra a Rússia lhes viraram o dente por serem cao que não conhece dono.
    Na Checenia também só havia boa gente, atacarem hospitais, escolas e locais de lazer, pondo bombas em aviões, matando a torto e a direito era só um detalhe
    A homofobia é bem pior em sítios como o Brasil, o país que mais mata gente LGBT no mundo. E podemos acreditar que os nazis ucranianos também amam essa malta. Racismo não é opinião, é crime.

  4. Impressiona-me os os disparates dos zombies que ontem eram especialistas em COVID-19 na televisão e hoje são estrategas militares… Zelinsky está no poder e o seu país foi cedido à NATO como campo de batalha para enfraquecer a Rússia.

    Eu sou apenas uma pessoa modesta que é obrigado a procurar as notícias, tendo o cuidado de eliminar as que são destiladas pelos autoproclamados especialistas em notícias da SIC ,etc,etc. Por isso, aprendo muito na esperança de que precisamos.

    Não estou a tomar partido nem pelos ucranianos nem pelos russos, porque isto não tem nada haver com um vulgar jogo de futebol… O que mais me comove neste conflito é o facto de o Ocidente ter utilizado a compaixão do seu povo para sacrificar os ucranianos! E, além disso, nada garante que alguns dos filhos dos soldados ucranianos sacrificados hoje para servir os nossos interesses não nos façam pagar por isso quando os abandonarmos definitivamente à sua sorte!

    Há tanta desinformação e censura que ocidente, na prossecução dos seus objectivos geopolíticos e financeiros, faz sofrer pessoas, e destruiu muitos países. Trabalhemos pela paz antes que seja demasiado tarde e o mundo inteiro se incendeie.

    Bem, a Ucrânia já estava a preparar a guerra contra a Rússia para poder entrar para a NATO.
    Ou seja, prometeram à NATO que iam ganhar, e por isso os EUA (para não continuarem a gastar munições) dizem que não podem continuar a ajudar enquanto não houver a tão esperada contra-ofensiva.
    Tendo em conta que a Rússia fortificou bem a sua defesa, penso que é realmente altura de fazer a paz, tanto mais que a Rússia se mostrou aberta à paz (negociada, claro) desde o início.
    Os políticos deveriam pensar em todas essas vítimas inocentes.

    A guerra; “um absurdo em que pessoas que não se conhecem se matam umas às outras, em benefício de pessoas que se conhecem mas não se matam umas às outras”. Tal como em todos os conflitos anteriores, dentro de alguns anos tudo acabará em salões silenciosos, durante jantares, com acordos e pessoas a afirmarem-se os melhores amigos do mundo. Que desperdício!

    O erro que todos cometeram no início deste conflito foi imaginar que se tratava de um conflito entre a Rússia e a Ucrânia e a Europa imaginou que bastava seguir as instruções dos EUA e impor o maior número possível de sanções para obrigar a Rússia a obedecer.

    Na realidade, o objectivo fundamental deste conflito para os EUA é desmantelar a Rússia, e os ucranianos estão simplesmente a ser utilizados como um veículo para este objectivo.
    Desde o golpe de Estado de 2014 e muito antes, os EUA não pararam de criar todas as condições necessárias para que este conflito eclodisse e para que a Europa fosse arrastada para este caso, com todas as consequências económicas que os europeus irão sofrer.
    Esta guerra é claramente um objectivo dos EUA e os ucranianos são a carne para canhão e os europeus os idiotas úteis neste caso.

    Constato com evidência que os países envolvidos neste conflito SÃO países capitalistas E que isso não é novidade, pois o imperialismo, agora o imperialismo americano, NÃO quer nenhum concorrente que o ameace. A Rússia é esse país, depois seria a vez da China, como podemos ver, esta última é objecto de declarações e ações anti-China.

    Para muitos o ocidente dá informações oficiais sobre uma unidade que não existe e, na verdade, nunca existiu. A culpa também é do declínio geral dos padrões intelectuais. Há décadas que os governos se esforçam por emburrecer as suas populações, o que se repercute ao mais alto nível através de um efeito “capilar”. Sinais cada vez mais fortes de decadência.

    É pena que a Rússia tenha tido uma atitude honesta e directa em relação aos países da Europa. A influência malcheirosa das Américas e a falta de firmeza dos países da Europa estão a levá-los a todos numa direcção que, em última análise, lhes é desfavorável.

    No final, temos um grupo de países a aplicar o método Coué e um país ultra-pragmático do outro lado. Putin é simplesmente um homem inteligente: tem uma visão dos equilíbrios e das realidades mundiais. Tem um código de ética: se está vinculado a contratos, respeita-os (por exemplo, os fornecimentos de gás, que nunca pararam – foi preciso o ataque extremamente violento dos Estados Unidos para destruir os gasodutos para lhes pôr fim). Por outro lado, como não tinha ilusões sobre a atitude beligerante do Ocidente (o que não é de todo a filosofia dos BRICS, que acordam globalmente contratos comerciais vantajosos para todos), preparou o seu país para uma grande operação. A moral desta história faz-me lembrar certas artes marciais: quanto mais violento for o adversário, mais ele sofrerá.

    Em relação ao sistema político e judicial português,penso que para chegar a este declínio, a esta destruição do país, não se me fará crer que ela não tenha sido desejada por certas personagens da nação.

    O nosso sistema actual está a espezinhar os valores históricos que deveriam ter estado na vanguarda do país, com tanta inércia para evitar que os cidadãos se envolvam, na minha humilde opinião são os cidadãos que deveriam liderar o debate para destruir esta inércia, em vez de verem um Portugal que está a ser vendido para o cepo, etc…

    O sacrifício do povo português, cujo trabalho já não interessa a uma nação agora totalmente submissa às leis do mercado ultraliberal, sob a bandeira sacrossanta da concorrência. O nosso país já não tem soberania: até onde pode ir esta queda, este sacrifício? Quem pode e como podemos voltar atrás no tempo? Encorajando os actores da globalização a instalarem-se em Portugal? Ignorando as pressões orquestradas por instituições como o FMI, o BM e o BCE?

    Com diversificação intelectual e social da energia, produção de medicamentos simples e essenciais no país, ajuda ao tecido industrial em tempos de crise…

    As pessoas mais pobres tornar-se-ão ainda mais pobres, há entidades que precisam de ser eliminadas para que possamos deixar de trabalhar ou trabalhar bem.

    Economia ultraliberal de empobrecimento e empobrecimento, repressão política, desprezo pelo poder pessoal vertical, parlamento e órgãos intermédios transformados em capachos, em suma, a “pinochetisação” da vida política do país. O sistema político ( não todos) transformaram-se num bando, salteadores de estrada que roubam todos os dias um pouco mais do que resta dos ornamentos da democracia, que agora só existe como montra institucional de um regime moribundo, moribundo e terminal ).

    Constato que este Portugal, tal como está, é prejudicial ao nosso país.

    Há muito tempo que Portugal deixou de ser apenas :
    1/ para rir
    2/ para nos manter ocupados
    3/ para vender a guerra, o que significa sacrifícios de sangue, várias formas de tortura, etc.

    A História ensinou-nos algumas lições.
    Continuo a pensar no exemplo das cidades-Estado gregas da Liga de Acaia e da sua moeda comum, que foi um fracasso total e que nos deveria ter ensinado uma lição e alertado para o nosso desejo de ter uma moeda europeia.
    .
    Outra Europa era possível, sem esta moeda que nos arruína e enriquece os fortes graças à concorrência interna que cria.

    A chave do relançamento não está em apostar numa geração intermédia, mas simplesmente em revitalizar a educação das crianças que vão criar o futuro da nação e que devem ser tratadas pelo Estado desde já e com urgência. Trata-se de educar as gerações mais jovens para a beleza e a bondade cívica , no sentido positivo da palavra, e de lhes dar os conhecimentos e as ferramentas para criarem empresas que possam ter um impacto positivo no mundo em geral. Se quisermos que a nação Portuguesa seja capaz de transmitir estes valores do passado para o futuro, é crucial desenvolver o que está a acontecer agora, utilizando a inteligência artificial e abandonando a mentalidade empobrecedora que vê o capitalismo como o poder supremo.

    A soberania, as liberdades individuais, a anti-globalização (Davos,Bilderberg,illuminati,Ossos do Crâneo,Clube de Roma OMS, etc,et senhores do mundo, etc.), etc. são temas tabu, desde que a “dissidência de direita” (= “extrema-direita”) os defenda (aliás!).

    Os bancos, o Estado estão-se nas tintas, porque os pequenos empresários estão a chorar e a abrandar (e com razão), enquanto os grandes beneficiários dos dinheiros públicos, os grandes grupos globalistas, dão migalhas aos políticos e os mandam embora, através de inaugurações e artigos de imprensa, por exemplo…

    Quando, como estratégia política, se tem o cuidado de classificar de “extremo” qualquer ideia contrária à sua, torna-se difícil .. Há quem traia Portugal por 2 milhões de euros, mas há quem a traia por um cargo ministerial, pela sua carreira, pelo seu ego!

    • És «apenas uma pessoa modesta» a quem a ideia de que «há quem traia Portugal» parece indiciar que tens uma ou outra noção que ultrapassa as que te sugerem o tubo digestivo.
      Ninguém é «obrigado a procurar notícias» senão que nelas procure obter informação que possa conduzi-lo a ajuizar do que sejam ou venham a ser as suas ideias.

      Que o Putin tenha «um código de ética: se está vinculado a contratos, respeita-os» e que haja maus cheiros associados a ideias, deve merecer-te uma mais cuidada reflexão.

      • Uma reflexão!. A minha própria experiência de vida ensinou-me que pode ser benéfico estar rodeado de pessoas mais inteligentes, ser “o menos inteligente da sala”, porque, ao estarmos rodeados, somos confrontados com vocabulário, conhecimentos e abordagens diferentes dos nossos, que, se os aceitarmos, podem ajudar-nos a evoluir e trazer-nos algo.

        Estou um pouco confuso. Partilho a ideia de que as pessoas não são idiotas e que são, naturalmente, capazes de se ocupar dos assuntos da aldeia. Por outro lado, há dois pontos que suscitam dúvidas:
        1) a igualdade da inteligência… Tenho as minhas dúvidas. Todos nós temos capacidades diferentes, adquiridas através das nossas diferentes origens, tanto sociais como genéticas, e somos o fruto dessas construções. Alguns humanos são fortes e outros não. Uns são empáticos e outros não. Alguns são sábios e outros não. Alguns são provavelmente muito inteligentes e outros não (caso contrário, porque não haveria mais génios?). Mas o problema não é basicamente o do poder? De facto, as pessoas “escolhidas” pelos votos não são obviamente nem as mais sábias, nem as mais fortes, nem as mais inteligentes, mas as que têm mais afinidade com o poder…
        2) evocar como princípio fundamental a igualdade de opiniões, baseada na igualdade de inteligências, leva a descartar uma noção fundamental, que é a do conhecimento. Todos nós podemos ter uma opinião sobre todos os assuntos, mas em alguns, o nosso conhecimento dará relevância a essa opinião, e noutros, será apenas o fruto das nossas crenças e preconceitos.

        Qualquer que seja o domínio em que se exprima, as chaves da inteligência são a curiosidade, a imaginação, o domínio da lógica e a capacidade de questionar o óbvio. Tudo isto pode ser ensinado, sem exigir capacidades cognitivas anormalmente elevadas. (Os menos dotados serão apenas mais lentos).

        Mas também podemos compreender porque é que a educação desempenha um papel decisivo, ao fornecer aos alunos métodos de trabalho, ou seja, reflexos intelectuais, ou uma forma muito específica de abordar uma nova área de conhecimento.
        Como corolário, os obstáculos à aprendizagem e à compreensão são a falta de curiosidade, a propensão para a crença e a incapacidade de ordenar os elementos de um problema.

        No entanto, a mesma pessoa será capaz de desenvolver competências noutros domínios, incluindo domínios que exigem uma boa inteligência dedutiva. Estou a pensar no caso extremo do batedor aborígene, capaz de “ler” os rastos mais do que discretos deixados pela caça e de deduzir deles uma história precisa e potencialmente verificável. Mas este batedor aprendeu a usar o tipo de raciocínio que produz este resultado.
        Na mesma ordem de ideias, poderíamos evocar a inteligência do mecânico que detecta uma avaria, o que um filósofo seria incapaz de fazer.
        No entanto, a inteligência política exige uma formação específica.
        Por fim, o objectivo da democracia não é colocar bons governantes no poder, mas evitar a guerra civil quando o rei deixa de agradar.

        • Quando um comentário percorre temas que dariam um tratado renascentista, fixo-me num só ponto: a democracia é tão só o nome mais corrente para a institucionalização da liberdade individual; será em final o que o agregado dos seus membros saiba fazer com essa liberdade; da oclocracia à democracia.
          E sim, o conhecimento é o maior limitador do poder desde que associado ao bom carácter e aí, menos que a inteligência, contam valores que sempre serão morais.
          Moral, palavra banida do léxico de um modernismo que se afoga em palavras para a evitar.

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