As coisas importantes

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 12/05/2023)

Miguel Sousa Tavares

Vamos explicar outra vez: não há água. E outra vez ainda: não há água. Portugal está sob ameaça iminente de ter de começar a racionar a água, já não só para a agricultura, mas para o próprio consumo humano. O mais de um milhão de turistas que todos os Verões triplicam a população residente do Algarve vão correr o risco, este ano, de, após servidos os 60 campos de golfe, os laranjais e olivais intensivos, as estufas de frutos vermelhos para os pequenos-almoços dos alemães e as cada vez maiores plantações de abacate (esse fruto exótico que precisa muito de humidade e que a Europa não dispensa), abrirem as torneiras e não verem água a correr. Talvez aí, finalmente, percebam do que estamos a falar. Entretanto não se preocupem, essa iluminada que ocupa o cargo de ministra da Agricultura já terá visto atingido o ponto de seca necessário para activar os mecanismos europeus que, não lhe inventando água, lhe darão dinheiro com o qual ela julga, pobre criatura, resolver, como de costume, os problemas estruturais da agricultura portuguesa. É isto que António Costa não entende, é isto de que Marcelo não se ocupa.

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E enquanto ambos e todos os partidos, os comentadores e o “país político” esperam o depoi­mento do adjunto Pinheiro na CPI da TAP como quem espera a revelação das Tábuas de Moisés, alguma gente tem passado por lá e dito algumas coisas curiosas, que mereciam aprofundamento, mas que, como não criavam o escândalo mediático oportuno e adequado, não colheram atenções: um representante dos sindicatos ousou dizer que, afinal, David Neeleman tinha “uma visão estratégica para a TAP” (a qual a comissão não viu interesse em aprofundar), e Diogo Lacerda Machado, diminuído por ser o “amigo de António Costa”, ousou dizer que a troca dos A-350 pelos A-320 Meo fez todo o sentido e que o “ruinoso negócio da VEM Brasil”, negociado por Fernando Pinto, foi o que permitiu à TAP conquistar a sua posição até hoje dominante no mercado do Brasil, com um lucro avaliado em 10 mil milhões de euros. Coisas que mereciam ter sido melhor esclarecidas até em termos de futuro da empresa. Mas parece que é mais importante e mediático passar 10 dias a discutir se um “parecer” existe ou não existe, se é um relatório ou um “parecer” e a esperar ansiosamente que as notas de uma reunião do adjunto Pinheiro (que até podem ser agora acrescentadas livremente, por irresistível vingança) deem a uma eunuca oposição a oportunidade de se fingir útil e vigilante.

Quando não se têm políticas alternativas sobre a substância daquilo que verdadeiramente interessa — no caso, o futuro da TAP —, gasta-se o tempo e as atenções a fazer “oposição” de opereta. A um Governo inerte responde uma oposição de fachada, disposta a substabelecer as suas funções no Presidente. O qual, porém, e para desgraça nossa, também adora este jogo de aparências.

<span class="creditofoto">ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO</span>
ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

Veja-se o caso do aeroporto de Lisboa, talvez a mais cara e mais estruturante obra que o país tem pela frente. À esquerda do PS não se conhece qualquer ideia sobre o assunto; à direita, não é coisa que ocupe o Chega ou a IL. Resta o PSD, que começou por defender a Portela+Montijo e depois passou a defender Alcochete, para acabar a defender mais uma comissão e mais um ano de espera para estudar um assunto já estudado intensamente há 20 anos. E na véspera da entrada em funcionamento da comissão, depois de uns senhores irem falar com Montenegro, este impôs que se estudasse também a hipótese Santarém — talvez porque fica mais perto de Espinho. Ora, Santarém, como a Ota e outras ideias malucas, é um completo disparate, que só sobrevive por um intenso blitz mediático alicerçado em mistificações. Santarém ficaria a mais de 90 km de Lisboa, quando, como o Expresso aqui contou na semana passada, a distância média dos aeroportos europeus às cidades que servem é de 21 km. Dizem eles para contrariar o argumento que haveria um shuttle que reduziria o tempo até Lisboa para 40 minutos por comboio. Mas não explicam por onde e a que custo se faria a linha do shuttle e quantos seriam precisos para que os passageiros desembarcados de um avião tivessem logo um comboio à espera para os levar à Gare do Oriente, de onde apanhariam um táxi para o centro da cidade: avião após avião. Também dizem que o aeroporto em Santarém não custaria um euro aos contribuintes, porque seria financiado por privados, que já teriam garantido mil milhões para o efeito. Tudo dá vontade de rir, a começar pelos privados que nunca apareceram e pelos mil milhões que não chegariam nem para as terraplanagens de uma só pista.

Mas, mais do que tudo, o que é assustador é que o país se prepare para embarcar nisto, confiando a decisão a uma comissão técnica de “sábios”, sem que antes o poder político — Governo, oposição, Presidente —, tão ocupados com outros assuntos mais importantes, faça a necessária discussão política: para que queremos um novo aeroporto em Lisboa? Dizem-nos que, uma vez ultrapassados os 20 milhões de passageiros/ano na Portela, Lisboa precisa de um aeroporto que possa receber 50, 80 ou até 100 milhões/ano. Quem o diz e quem tem conduzido o processo e pressionado a decisão são os empresários de hotelaria e turismo, que se queixam de estar a perder milhões pela impossibilidade de verem mais aviões a aterrar na Portela. Mas é o turismo que deve decidir o objectivo primeiro do futuro aeroporto de Lisboa e o futuro da própria cidade? Lisboa quer e aguenta 50 milhões de turistas? O desejo premente dos lisboetas, que já sofrem quanto baste com o excesso de turismo, é verem a sua cidade transformada numa imensa Albufeira à margem do Tejo, para satisfazer a ambição das dezenas de novos hotéis planeados?

E, já agora, o futuro e a salvação de Portugal vai continuar a ser a aposta no turismo de massas, em Lisboa, no Algarve, na costa alentejana, e por aí acima? Com os empresários do turismo algarvio a reclamarem a simplificação urgente da imigração de trabalhadores dos PALOP e da Ásia, pois que têm 50 mil postos de trabalho por preencher e que, pagando o ordenado mínimo e instalando os trabalhadores onde nenhum turista quereria passar uma noite, só mesmo os pobres entre os pobres aceitam servir. E, pior: continuando a construir desenfreadamente, onde já não resta um metro livre nas praias, se espera 20 minutos para entrar de barco numa gruta, não há sítio para estacionar o carro em lugar algum, se demora três vezes mais tempo num supermercado do que em Lisboa ou Porto e em breve não haverá água nas torneiras, porque ela estará a regar os golfes e os campos de abacateiros e laranjais intensivos. Há 30 anos que sustento em vão esta discussão, mas como a estupidez, longe de cessar, é verdadeiramente infinita, como dizia Einstein, só resta repetir as mesmas perguntas: é este o turismo que queremos e de que precisamos, é esta a nossa aposta no futuro económico do país — crescer até rebentar? Nem ao menos aprendemos nada com a pandemia?

O mesmo com a agricultura. Quando oiço um empresário agrícola (não confundir com agricultor) reclamar água para os seus regadios intensivos instalados em terras onde já sabia que não havia água, dá-me vontade de o exportar daqui para fora, juntamente com a sua “agricultura”. Mas tenho, inversamente, uma profunda admiração por alguns pequenos agricultores, que, nas zonas mais secas do Alentejo, fazem uma agricultura com zero de desperdício e com inovações no uso e poupança de água, fruto do estudo do que se fazia antes combinado com a tecnologia de hoje. A prazo, só temos uma saída, que é o oposto do que estamos a assistir: não é reclamar água para a agricultura que se quer fazer, é fazer a agricultura que se pode fazer com a água que se tem. Mas para tal era preciso, mais uma vez, que o poder político se interessasse pelo assunto e tivesse a coragem de tomar as decisões necessárias.

O Presidente da República é o responsável principal pela defesa da soberania nacional. O conceito é abstrato e talvez demasiado vago. Mas não tenho dúvidas disto: em lugar de andar a gastar a palavra todos os dias, a meter-se nos assuntos do Governo, a ameaçar com o uso dos seus poderes ou a distribuir Ordens da Liberdade por quem nada fez pela liberdade, podia, com mais proveito comum, encabeçar a defesa da terra, da agricultura, da água, da paisagem e do futuro do país, que depende de tudo isto. E isto é a soberania nacional.

2 Uma das coisas que mais me espanta neste país nem são aqueles que têm, ou fingem ter, falta de memória: são aqueles que descaradamente apostam na falta de memória dos outros. Na semana passada, aqui na sua coluna, e como quem não quer a coisa, Francisco Louçã referiu-se ao “golpe de 2021, que provocou eleições para a maioria absoluta” e que, segundo ele, foi promovido por António Costa, ajudado por Marcelo. É preciso ter lata! O “golpe de 2021”, para quem ainda se lembra, foi a aliança entre o BE (certamente incentivado por Louçã), o PCP e a direita para chumbarem um banal Orçamento e paralisarem o país durante cinco meses, interrompendo um processo de recuperação económica no pós-covid. O desfecho foi a redução do BE a um terço da sua força parlamentar, o reforço substancial do Chega, o desaparecimento do CDS e a maioria absoluta do PS. Que Louçã não tenha aprendido a lição de 2008, quando fez a mesma coisa com o PEC IV, juntando-se à direita para derrubar um Governo do PS e trazer a troika e o Governo Passos Coelho/Portas, é com ele. Mas que tente passar a responsabilidade para cima de quem quis assim atingir, contando com o esquecimento colectivo para reescrever a história, é verdadeiramente assombroso.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

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11 pensamentos sobre “As coisas importantes

  1. Não há ideias à esquerda do PS quanto ao aeroporto de Lisboa ?

    https://www.pcp.pt/ate-quando-risco-de-um-aeroporto-dentro-de-lisboa-por-um-novo-aeroporto-no-campo-de-tiro-de

    https://www.pcp.pt/sobre-noticias-em-torno-do-aeroporto-de-lisboa-governo-tenta-iludir-povo-portugues-ao-mesmo-tempo

    Para alguém que anda a dar lições a morcões há 30 anos, parece que não estudou o suficiente para o teste…

    Sô Tavares, teclar um pouco não custa.

  2. Ele sabe muito bem que existem propostas, nomedamente do PC.
    É mais uma forma de silenciar as propostas apresentadas pelo PC.
    Falta de ética do jornalista.

  3. O ponto 2 é o MST a ser MST: intelectualmente desonesto no que à política interna, partidária, económica, diz respeito.

    O BE chumbou e muito bem o orçamento em 2021, tal como PC, PSD, CDS, IL, e Ch, todos com motivos diferentes, claro.

    Os partidos que se colocaram ao lado do PS, o Livre e PAN, foram igualmente castigados nas urnas. Um mantendo-se como apêndice de deputado único do PS, o outro sendo reduzido de volta a uma só deputada.

    Não lhe chamaria um golpe como F.Louçã, mas sim um teatro, uma farsa. Marcelo não fez a sua obrigação (de dizer que deveria ser apresentado outro orçamento melhorado e com mais diálogo com outros partidos), e em vez disso acenou com a cenoura ao A.Costa logo em Setembro: “se orçamento não for aprovado, há eleições”.

    A.Costa fez o que queria: apresentou mau orçamento (ainda hoje vemos as consequências disso em todas as greves e até urgências fechadas, na não execução do investimento, na perda de poder de compra, etc).
    A.Costa não negociou com ninguém, sem sequer uma única sugestão do BE.

    O BE até só fez 9 propostas, todas com 100% de razão, como aliás uma fonte de dentro do PS veio a admitir mais tarde.
    Nem sequer uma única proposta simbólica, daquelas que não custam nada ao orçamento (pelo contrário até podiam dar mais receitas, como era o caso da reversão da lei laboral da troika para pelo menos voltar ao que o próprio PS defendeu até 2011…).

    Lembro também a forma como a imprensa se juntou para defender os seus donos (o grande capital detentor dos meios de comunicação social, e os grandes patrocinadores da RTP também) e fazer uma campanha contra a Esquerda “irresponsável”, “intransigente”, “extrema esquerda”, “igual à Direita”, etc.

    A maioria é cega ainda hoje, mas eu já nessa altura via toda a manipulação da máquina de propaganda do regime.
    A mesma máquina mediática que fez isto à Esquerda MODERADA e CHEIA DE RAZÃO em Portugal, era a mesma máquina mediática que mais tarde haveria de fazer dos nazis uns “democratas”, do ditador de Kiev um “herói”, da criminosa NATO “defensiva”, e dos pró-paz como o PCP todos uns “putinistas”.

    Há ainda a considerar o que me farto de avisar: está maioria “absoluta” é ilegítima, pois não representa os Portugueses.
    Não é aceitável que um partido tenha 52% dos deputados e poder absoluto quando só teve 41% dos votos, só de 21% dos eleitores, e haja portanto um país onde 16 em cada 20 cidadãos adultos são contra a maioria desse partido, sendo esse valor entretanto de 17 em cada 20, pois o PS já desceu nas sondagens após uma parte desses eleitores iludidos terem percebido que foram enganados.

    Ora, A.Costa, e toda a gente com responsabilidade no PS e PSD (portanto Marcelo incluído) sabem que a lei eleitoral da garota feita por e para PS e PSD é mesmo assim: não proporcional, e até violadora do espírito da Constituição, pois os votos deixaram de valer o mesmo com este malabarismo nos círculos eleitorais e no Método d’Hondt.
    Portanto, quando Marcelo mostrou a cenoura e Costa a mordeu, ambos sabiam que o resultado provável seria este: uma maioria ilegítima, nascida de uma mentira, e contra a vontade da esmagadora maioria dos portugueses.

    E neste sentido, bem vistas as coisas, se calhar F.Louçã até tem alguma razão em usar a tão grave e séria designação de GOLPE. Não foi um “Maidan”, mas foi um “Merdan” à portuguesa.

    Portanto, se há alguém com falta de memória é o MST. Aliás, falta de memória, de honestidade intelectual, e de vergonha.

    O facto dele relembrar a também certíssima decisão do BE de chumbar o orçamento austeritãrio de Sócrates em 2011 como se isso fosse uma asneira do BE, e a quebra eleitoral do partido em ambas as situações como se isso não resultasse da mentira do PS e da MainStreamMerdia manipulativo, mostra bem como MST vive num mundo à parte.

    Portanto, perante um país em que PS e PSD fazem um acordo de governabilidade após eleições de 2009, e em que devido ao €Urofanatismo anti-democrático de ter uma moeda única não referendada e um BCE que não garante dívida do Estado, e sabendo que esse governo péssimo do corrupto Sócrates só caiu naquele momento pois foi quando o PSD deixou de o apoiar meramente devido à sede de Passos Coelho e companhia de ir ao pote, o MST acha mesmo que o BE teria feito melhor em apoiar o €uro, a austeridade, e o Sócrates, e também numa situação semelhante em que o orçamento (e os PEC) não tinham uma única proposta do BE.
    Que lata!

    • “lei eleitoral da garota”

      Da BATOTA! Raios partam o corrector automático…

      A prova de que o chumbo de 2011 foi certo,.é que o BE chegou aos 10% em 2015, quando passou tempo suficiente para o povinho perceber a burla que lhe tinha sido imposta pelo PS, PSD, e “imprensa livre” (MST e companhia incluídos).

      A mesma coisa se passará agora. O BE também voltará aos 10% ou mais nas eleições seguintes após este povo tolinho perceber novamente no pelo a burla de que foi alvo.

      Aliás, se houver justiça no Mundo e as novas gerações forem um bocadinho menos teimosas e ignorantes, veremos a pouco e pouco a substituição do PS pelo BE e Livre, e a substituição do PSD pela IL.
      E parece-me que o PCP também ainda terá uma palavra a dizer.
      Se daí resultar uma nova lei eleitoral, democrática, proporcional, representativa, 100% Constitucional, ótimo. Será o primeiro momento de melhoria efectiva e significativa do regime desde 1979 (criação do SNS).

  4. 1 – Política de soalheiro, com comadres imbecis e jornalismo ‘Maria’.
    Tudo tão contagioso que ‘mil milhões que não chegariam nem para as terraplanagens de uma só pista’!
    2 – Reescrever a História, a de ontem e a de sempre, é passatempo de pseudointelectuais visando construírem um futuro em que se prefiguram como poder.

  5. MST no seu melhor, donde se havia afastado há já algum (muito) tempo. No artigo da semana passada deu mostras de voltar aos bons tempos de acutilante e certeiro nas suas crónicas e, hoje, confirma ser o melhor opinador da actualidade. Parabéns!

  6. A questão que se coloca é: será que isto é mesmo verdade? Quero dizer, quem está a fazer estes testes, relatórios, quem tem mais a ganhar com o controlo da água? Ao dizermos em todo o lado, como no clima, que não haverá mais água, estamos a preparar a mentalidade para aceitar, porque
    ninguém pode ir verificar os estudos ou o subsolo, quero dizer, as pessoas honestas. Infelizmente, não acredito nisso e não acreditei porque se parece com todas as tretas que estão a inventar para controlar melhor os recursos essenciais. Sabem que 8 mil milhões de pessoas pagam pela água todos os dias? É isso mesmo
    Estão a planear isto há muito tempo, o que não invalida o consumo excessivo e o desperdício desnecessário que o mundo está a fazer. Há pessoas que falam do mar subterrâneo em todo o mundo… verdade ou consequência… em quem acreditar, dura realidade!

    A água é um assunto essencial, mas infelizmente há sempre dois pesos e duas medidas. Também temo o momento em que a única forma de encontrar uma situação de abundância será obrigar as pessoas a reduzir o seu consumo.

    Além disso, alguns governos europeus acabaram de celebrar um contrato com os Emirados Árabes para lhes fornecer centenas de milhares de milhões de m3 de água doce!

    Enquanto Portugal decidiu tornar-se um país de serviços, uma aberração! A recuperação destes erros já não é possível.. O ensino já não dispõe do pessoal necessário para assumir esta missão. E não é neste período de cortes orçamentais que se vai investir os meios colossais necessários . Mais uma vez, estamos sempre um passo atrás.

    Pergunto-me se a raiz do problema não estará nas, chamadas “transferências de competências”. Isto implica que já não temos as competências, que as transferimos. Por conseguinte, já não temos o direito de utilizar essas competências “transferidas” .

    A guerra é inflação, inevitavelmente.
    A escassez de produtos é inflação.
    Obviamente que quando tudo aumenta, vamos buscar o essencial e isso leva a um desinteresse por certos produtos, o que prejudica a nossa economia.
    Muitas pessoas estão agora a reparar o seu equipamento e a pensar antes de comprar, o que não acontecia antes.
    Também se apercebem de que o que compram agora é de má qualidade.
    A troca directa e os bens em segunda mão estão a aumentar.
    O sector da construção está mal, e diz-se que quando o sector da construção está mal, tudo está mal.
    Todas estas faltas de material estão a aumentar a inflação.
    As nossas indústrias estão a desaparecer umas atrás das outras, estamos à mercê dos estrangeiros, o que agrava ainda mais a inflação.
    Os salários não estão a acompanhar, as taxas de juro estão a subir e a poupança não está a acompanhar a inflação.
    A guerra na Ucrânia é um rastilho para os EUA minarem a Europa.
    A história, se olharmos para trás, diz-me que se não tivéssemos tido os russos a tirar-nos da última guerra, não teríamos tido os 30 anos gloriosos que tiraram o nosso país da miséria.
    Este é um reconhecimento muito fraco dos nossos salvadores.

    Já estamos a viver uma ditadura. Uma ditadura romana, claro, mas ainda assim uma ditadura, uma vez que uma pessoa obriga os outros a obedecerem-lhe durante o seu mandato.

    Com estas leis, estamos cada vez mais num contexto autoritário. Quem é que satisfaz quem? É essa a questão. Que classe está mais interessada em ter controlo e mais interessada em sentir-se segura? Diria mesmo que qual é o sector da nossa sociedade que quer sentir-se seguro a todo o custo?
    Esta secção, que vota e, portanto, decide, é a secção dominante. Por isso, é ela que está a matar o nosso país.

    Podemos também ver todas estas acções como uma restrição crescente do acesso ao imobiliário.
    Francamente, tudo isto se enquadra muito bem na frase do Sr. K. Schwab: “Não terás nada, mas serás feliz”. Schwab.
    A única dúvida que tenho é quanto tempo é que os Portugueses vão demorar a perceber?
    A História está em marcha e avança depressa, muito depressa…

    E ninguém fala da falta deliberada de políticas de natalidade e da mudança populacional em curso… Este paraíso de segurança não será por muito tempo… basta olhar para qualquer gabinete de imigração portuguesa… Esta UE que aplica zelosamente a política de Kadenove Coulerghi…

    A troika de 2009-2010 (FMI-BCE-BM) impôs ao governo, fosse ele de que lado fosse, a abertura do mercado turístico para gerar PIB. O último flagelo até à data são os “edifícios flutuantes” que descarregam 3500 turistas num dia. Quando os bens estão lá, não se pode impedir as pessoas de os desfrutarem! São os mestres de Davos e os seus amigos que estão a causar esta confusão, com os compradores de imóveis.

    É triste que não se consiga encontrar alojamento, mesmo trabalhando…
    e ainda por cima quando se é um “elemento essencial” da sociedade…
    Que mundo novo engraçado…
    Mas onde está o “progresso”?

    O turismo e o acolhimento de estrangeiros (mesmo de reformados pacíficos e ricos) é como o álcool: Um pouco é bom, muito é muito mau.

    A partir do momento em que há ricos aproveitadores que se apressam a agarrar o que é interessante, chega um momento em que o objecto de tentação escasseia, ou mesmo desaparece, e aqueles que normalmente teriam beneficiado dele ficam apenas com lágrimas nos olhos.

    Todos os países ditos de liberdade são países de moral depravada.
    Basta olhar para os alicerces das nossas principais instituições: já não há regras, já não há autoridade, o Estado está desactualizado a todos os níveis, à deriva com governantes que estão no mundo do espectáculo.

    Portugal tornou-se um grande caixote do lixo onde a imigração descontrolada, a insegurança, a injustiça,…
    A única preocupação é que a repetição maciça desta situação coloca efectivamente um problema de habitação.

    O esforço nacional depende, em grande medida, de uma gestão racional das despesas públicas e, nesse domínio, a conta não está, de facto, lá.

    Então e os numerosos estudantes que estudaram em Portugal à custa do Estado e que escolheram fazer a sua vida no estrangeiro, os investimentos de categorias superiores off shore, mesmo o dossier UBS ainda não resolvido, as numerosas empresas que têm uma participação no estrangeiro, incluindo na Europa, os que compram obrigações chinesas e ações americanas, que conduzem veículos exóticos e chupam os morangos de Espanha! Em suma, a lista é longa e não é exaustiva. Pessoalmente, penso que o modelo Português está condenado ao desastre, é um sentimento recente que é alimentado por escolhas políticas e sociais nas quais não me reconheço.

    Não é fácil governar um país, especialmente quando se é ministro que jurou fidelidade ao mundo financeiro que o construiu.

    A nossa democracia está doente há mais de 40 anos e a sua saúde acaba de ser atacada.

    .

  7. MST a voltar às juras de amor, quiçá ansiando pelo dia de nevoeiro do destemido timoneiro. A única falta de memória era das pequenas recusas que rapidamente o seu querido partido foi obrigado a começar a retroceder face à realidade, tal como agora reclama para si os louros do passe unimodal, mas o que é isso perante tanta paixão? O que pode a racionalidade de quem acrescenta mais 10 alternativas não querer resolver coisa nenhuma? O alvo da paixão não pode falhar, só ser falhado.

  8. O calor aumenta, a água evapora, e as alterações façam com que não chova onde o terreno está preparado para recolher e transportar a água por centenas de kilometers, sendo que inundações também não faltam. Não é complicado, é um complexo e frágil equilíbrio ao qual alteramos demais e ainda não deixamos assentar noutro.

  9. Mais um excelente texto de MST. Relativamente ao ponto 2 do seu texto, é importante que MST desmascare as recorrentes tentativas de rescrever a historia, deturpando o que realmente se passou. O BE e o PC foram os protagonistas pela negativa desses dois episódios que levaram a períodos de instabilidade no país, ao contrário daquilo que foi a vontade popular nessas alturas. Da primeira vez, a Troika apoderou-se das nossas vidas. Da segunda, os resultados foram evidentes: PS com maioria absoluta, BE e PC com insignificante representação parlamentar e uma direita moribunda completamente refém de extremistas de índole fascista. Destas responsabilidades não se livram. Nem que o Louçã e outros nos tentem fazer de estupidos com as suas intervenções. Contudo, o povo já deu provas de não ser assim tão estupido. Mas mesmo assim, não aprendem.

    • O PS continua a fazer a larga maioria da legislação com os seus parceiros habituais, tal como fez sempre. Não há nada a aprender, que as migalhas já acabaram até dar jeito outra farsa.

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