Os mapas não mentem!

(Hugo Dionísio, in Facebook, 10/03/2023)

A Geórgia encontra-se a braços com a tentativa de mais uma revolução “colorida”. Pelas ruas de Tiflis (Tbilissi) vagueiam as bandeiras da UE e da Ucrânia, às mãos de manifestantes, os quais pertencem aquela elite paga com os dinheiros do Ocidente, seja através de projectos da UE, ONGs da CIA e do MI6 ou das omnipresentes multinacionais.

No início da “operação militar especial”, as pressões dos EUA sobre o governo georgiano, com vista à abertura de um segunda frente na guerra, foram de tal modo sentidas que um dos seus governantes sentiu a necessidade de o tornar público, dizendo que “se atacarmos a Rússia deixará de haver Geórgia, portanto, não vemos o sentido desse ataque”. Pois, eles não viram, mas houve quem visse. Principalmente quem queria continuar a materializar no terreno a estratégia delineada pela RAND designada de “Stretching Rússia”, e que assenta no desenvolvimento de uma profusão de conflitos ao longo da fronteira do maior país do mundo, de forma a exaurí-lo de recursos e fazê-lo cair, partindo-se em 23 pequenas e – manipuláveis – nações.

Sentindo cada vez mais a ameaça vinda da CIA, o governo georgiano decidiu agir sobre a raiz do problema, ou seja, tentando controlar a porta de entrada dos agentes da CIA no país, constituída pela enorme rede de ONGs da USAID (agora reabilitada na Hungria), NED ou Freedom House. Tratam-se de ONGs para todos os gostos, da “democracia” à liberdade, passando pelo “combate à corrupção” ou pela “Igualdade pan-sexual”. Tudo muito humanista, mas apenas com um só sentido: alimentar nacionalmente uma rede de milhares de agentes, pagos pelo ocidente, que se infiltrem nas instituições do país, submetendo-o à vontade ocidental. Uma suportadas directamente pelos EUA; outras por colónias como Alemanha, França, Inglaterra ou Holanda.

O dinheiro nunca falta para dobrar nações à sua vontade, normalmente fazendo-as entrar em constrição, voltando as respectivas sociedades contra si próprias. Foi assim que na Ucrânia, povos irmãos, desataram a perseguir os falantes de russo, os ortodoxos, comunistas, sindicalistas e outros. É assim que, na Moldávia se prendem, perseguem e ostracizam os moldavos simpatizantes com a cultura russa, ou nos pigmeus bálticos se exaltam nazis, segregando centenas de milhares de cidadãos russos que lá ficaram do tempo da URSS, proibindo-os de votar, falar a sua língua… Tudo muito democrático e livre.

O que fez então o governo georgiano que tanto feriu os interesses do “povo” pró-NATO e que tanto fere os “valores” da democracia e liberdade, nas palavras dos suspeitos do costume? Bem… Fez-se o que se faz nos EUA e na UE para impedir que os “inimigos” abram aqui as suas agências de desestabilização. O Parlamento georgiano fez aprovar, democraticamente, uma lei que classifica como “agentes estrangeiros” as ONGs que recebam – do estrangeiro – um montante superior a 20% dos seus proventos.

O que é que isto tem de mal? Nada! É o mesmo que se faz por cá. Já pensaram no controlo que, na UE, se faz do financiamento das IPSS, das Associações ou cooperativas? Nos EUA e UE pratica-se a transparência, como forma de prevenir semelhantes actuações – veja-se como se perseguiu as associações dirigidas por russos -, nos países alvo apregoa-se o obscurantismo, a corrupção e a promiscuidade. É a imagem de marca do ocidente colectivo: apregoa-se o que dá jeito.

Mas o que isto tem de revoltante tem também de esperançoso. Afinal, são já vários os países, à volta da China, da Rússia e do Irão, que governados por defensores da sua soberania, se negam a deixar o seu povo servir de joguete e carne para canhão, regulando as fontes de financiamento das ONGs nacionais. A Malásia viu-se a braços, igualmente, com uma coisa do mesmo tipo, a qual, felizmente, fracassou.

Agora, vejam o poder de manipulação que estas organizações possuem: conseguem mobilizar dezenas de milhares de manifestantes, autênticos soldados de malfeitores, que queimam, partem e matam, se necessário for, promovendo uma revolta, não por causa da corrupção, dos salários ou da habitação: mas, por causa da transparência no financiamento das associações não governamentais!

Para se perceber o papel deste exército “soft”, é bom olhar para o mapa que junto. Quem é que, no seu juízo perfeito, olhando para este mapa, consegue dizer que é a federação russa que está ao ataque e a NATO é que se está a defender? Veja-se bem: cercada a ocidente pela Finlândia, Estónia, Letónia e Lituânia, o que falta para a NATO cercar todo o país e, assim, conseguir torna-lo numa espécie de buraco negro?

Na Bielorússia (a vermelho) tentou-se uma revolução colorida, reprimida pelas forças do tratado de segurança colectiva, e aprovando-se leis que restringem a actividade das ONGs ocidentais, classificando-as de “agentes estrangeiros”. Claro, de “ditador” para cima, Lukashenko foi culpado por defender o seu país da ameaça de se tornar uma frente de batalha, tal como Hitler o havia feito. Lukashenko é ditador por não querer que o seu país fosse uma Ucrânia.

A Ucrânia (a vermelho), já sabemos. É um país cujo regime traiu o seu povo e aceitou fazer de exército contratado, cumprindo os intentos de Washington, na compleição do cerco à Rússia. A Rússia tem demasiadas armas, gente, importância e recursos naturais, para ser deixada actuar livremente, especialmente se aliada à China.

A Crimeia (ver círculo), que em 2014 esteve às portas de se tornar uma base da NATO, caso o tivessem conseguido, impediriam o acesso militar da federação russa ao Mar Negro e a qualquer porto de águas quentes. Daí a importância desta península.

A Georgia, a azul, tendo um governo pró UE, mas não russofóbico, está a braços com uma revolução colorida. Dado o seu tamanho e a dimensão do exército, a cair na esparrela montada pela CIA, deixará de existir. Uma vez mais, um governo é atacado pelo Ocidente por defender o seu povo, o seu território e a sua soberania.

O Azerbaijão, a verde, é outro que está em banho maria. Salva-o ter muitos hidrocarbonetos e poder, de alguma forma, “comprar” uma certa neutralidade. Mas, com o agudizar dos problemas da NATO no preenchimento do cerco… A ver vamos.

Já o Cazaquistão, esteve também a braços com uma revolução colorida, tal como na Bielorrússia, salvo pelas forças do Tratado de Segurança Colectiva – uma espécie de NATO da Federação Russa, mas efectivamente defensiva. No Cazaquistão, para além da regulamentação das ONGs, também se procedeu ao encarceramento de milícias para-militares apoiadas pela CIA e Turquia, tendo-se desmantelado também um conjunto de laboratórios biomilitares secretos, daqueles que são proibidos, mas que os EUA têm instalados à volta da RPC e FR.

Agora, faça-se um pequeno esforço de nos colocarmos na pele de um cidadão russo informado, que tem orgulho da sua pátria e da história, que conhece as ameaças e que, ao contrário de muitos europeus, não está preparado para prescindir da soberania do seu país, entregando-a nas mãos da Wall Street. Este cidadão, normalmente, de escolaridade elevada – uma coisa comum por lá –, na escola ou universidade, olha para um mapa destes e pensará que o seu país é agressor e encontra-se em fase de expansão “imperial”? É isto que ele vê no mapa?

Ou será que vê antes um cerco a ser construído à volta do seu país e, olhando para os anos 90 e o que aconteceu à URSS, tende a pensar que os EUA querem isolar, submeter e destruir o seu país. E pensando isto, como será que fica este cidadão? Contente? Será que fica optimista com a perspectiva de ver a sua pátria cercada, isolada e destruída?

Ah! Mas se se submetesse… Não, se se submetesse, acontecia-lhe o mesmo que aconteceu à URSS quando Gorby e o presidente com mais álcool no sangue da história mundial – Ieltsin – o fizeram: o país colapsou, partiu-se e entrou em profunda crise, tal como os que se apartaram.

Depois, este mesmo cidadão, olha para a UE, a qual, dominada pelos EUA, se suicida de forma agradável e quase sem resistência popular; olha para o Reino Unido, o qual já é o país ocidental com mais crianças com fome, e os seus serviços secretos chegam ao descalabro de anunciar um relatório a que diz: “soldados russos recém mobilizados, por falta de munições, combatem com pás”, numa espécie de eterno retorno da união operário camponesa, mas desta feita, sem foice e martelo, mas com pás… Depois, os EUA rebentam com o Nord Stream mas colocam a culpa nos ucranianos. E olhando para isto, para esta degradação desenfreada, o que pensa?

O mapa não mente!

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6 pensamentos sobre “Os mapas não mentem!

  1. Ao ponto a que isto chegou. Um americano comprou um apartamento ao lado do meu. Já avisei as autoridades deste ataque à minha soberania, se ninguém fizer nada em relação a isto, vou ter de tomar medidas e arrombar a porta de um outro vizinho e anexar o apartamento dele ao meu. Desta forma tenho a certeza que este não o venderá a um europeu ou americano.

    • Não sei … É ingenuidade… Preconceito… Ou é mais profundo que isso? Não será … Não se perceber patavina de como se constrói o lobbying e a pressão política a partir do exterior? Deve ser isso… Só se olha para o apartamento, mas não para quem domina as fundações e as partes comuns! Deve ser isso.

  2. Ainda que o significado seja basicamente o mesmo, o documento da RAND não se chama “Stretching Rússia”, mas sim “Extending Russia”.

    • É verdade… Enganei-me no raio da palavra. E li o estudo ou consultei-o mais de uma vez… Até já lhe chamei “stressing Rússia”. Vai tudo dar no mesmo. As intenções são precisamente essas.

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