Os negócios da TAP – a náusea…

(António Garcia Pereira, in NoticiasOnline, 30/12/2022)

Era uma vez uma senhora chamada Alexandra Reis que, a 1/9/2017, foi contratada por meio de um contrato sem termo (ou seja, permanente) pela Administração da TAP, para exercer funções de direcção, mais precisamente de“Chief Procurement Officer”, na área de Compras. Seguramente muito prendada, foi um dos quadros da TAP que receberam, por referência ao ano de 2018, um ano de elevados prejuízos da Companhia, um chorudo “prémio de desempenho”.

Em Dezembro de 2020, ainda nos tempos do reinado do Sr. Neeleman, foi nomeada vogal do Conselho de Administração da TAP, por um mandato de 4 anos, assumindo assim um cargo onde só de vencimento-base (isto é, para além de todas as outras mordomias, como carro e despesas de representação) passou a auferir a módica quantia de 25.000€, 14 meses ao ano. E destacou-se desde então pelo empenho em defender e ajudar a implementar todas as medidas contra a generalidade dos trabalhadores da empresa, muito em particular os despedimentos e os cortes salariais (dos outros, é claro…). 

A 5/2/2022, a CEO da TAP anunciou, dentro da empresa e à CMVM, que Alexandra Reis tinha apresentado a sua renúncia ao cargo (figura jurídica que é da iniciativa do próprio e não confere direito a qualquer indemnização), “decidindo encerrar este capítulo da sua vida profissional e abraçar agora novos projectos” e ainda que essa renúncia, “já comunicada ao mercado, produzirá efeitos no dia 28 de fevereiro de 2022” (sic). Para além disto, o relatório de contas da TAP também referiu que a administradora “apresentou, por carta dirigida à Sociedade no dia 4 de Fevereiro de 2022, renúncia ao cargo”.

Mas logo em Junho seguinte, ou seja, cerca de somente 3 meses depois, se percebeu qual era, afinal, o tal “novo projecto”: o mesmo governo de António Costa que a tinha mantido na administração da TAP, e que nada achara digno de estranheza ou de pedido de informações na referida “renúncia”, nomeia a dita senhora (por despacho dos dois ministros da tutela Pedro Nuno Santos e Fernando Medina) para Presidente de outra empresa do mesmíssimo sector empresarial do Estado, a Navegação Aérea de Portugal- NAV Portugal, EPE.

Cerca de 5 meses depois, o mesmíssimo governo de António Costa designa a felizarda senhora protagonista de toda esta história como Secretária de Estado do Tesouro, entidade que tutela, do ponto de vista financeiro, a empresa de onde saíra 9 meses antes! Tudo isto sem que então governantes, dirigentes políticos e, já agora, jornalistas vissem neste autêntico carrossel de cargos qualquer questão digna de registo, e isto mesmo que ainda não se soubesse que, com a dita saída da TAP, Alexandra Reis embolsara meio milhão de euros.

A partir do conhecimento público deste negócio tão milionário quanto eticamente repugnante, assistiu-se então a toda uma série de malabarismos que deveriam fazer os seus autores corarem de vergonha, acaso a tivessem, o que, notoriamente, não é o caso. Assim, a própria senhora procurou envergar as vestes da seriedade afirmando – pasme-se, mas logo sendo muito saudada por isso, desde logo pelo próprio Primeiro-Ministro!?… – que devolveria tudo o que viesse a ser declarado ilegal ter recebido, como se não fosse essa a consequência incontornável de uma declaração de ilicitude… E esquecendo-se “convenientemente” de referir que a sua proposta inicial até fora a de receber um valor muito “parecido” com aqueles com que a TAP pôs na rua centenas de trabalhadores com antiguidades 5 e 6 vezes superiores, ou seja, a módica quantia de quase um milhão e meio de euros…

António Costa logo invocou – “para variar”… – que desconhecia o que se passava e que esperava informações dos ministros da tutela, Pedro Nuno Santos e Fernando Medina. Estes, por seu turno, invocaram também nada saber. Como se a fiscalização da boa ou má gestão da TAP não fosse da sua responsabilidade e como se alguém pudesse acreditar que a saída de uma administradora nomeada pelo governo não suscitasse, pelo menos, um pedido de informações sobre as respectivas circunstâncias. E invocaram que até já tinham pedido esclarecimentos à TAP. 

A CEO da TAP – a autora da supra-citada comunicação pública da renúncia – remeteu-se inicialmente ao silêncio, pensando conseguir assim escapar, uma vez mais e com a prestimosa ajuda de sempre do ministro Pedro Nuno Santos, por entre os pingos da chuva. Mas quando a pressão da opinião pública, interior e exterior à Companhia, mais do que justamente não cessou e se tornou muito dificilmente suportável, lá tratou de pôr a SRS- Simons & Rebelo de Sousa, a Sociedade de Advogados que tomou conta das questões jurídico-laborais da empresa (do despedimento colectivo aos despedimentos disciplinares, passando pelos acordos milionários de rescisão com alguns directores) a produzir uma pseudo-justificação jurídica para este escândalo.

A este propósito convirá, todavia, referir que nem o aqui aplicável Estatuto do Gestor Público, nem o Código das Sociedades Comerciais prevêem ou admitem denúncia ou demissão “por mútuo acordo”, e muito menos implicando o pagamento de quaisquer compensações. Se o gestor renuncia ou é demitido com justa causa, nada tem a receber, e se sai por força de uma decisão que lhe é imposta e que não tem fundamento, então não há renúncia,mas sim demissão, e ilícita, logo conferindo, aí sim, o direito a receber o valor das remunerações até final do mandato, mas não podendo ser superior ao de 12 meses se for um gestor público.

Ora, a TAP veio dizer, agora e apenas agora (pois até aqui estava tudo no “segredo dos deuses”, ao abrigo de uma muito significativa cláusula de confidencialidade, como se este tipo de cláusulas se pudesse sobrepor às exigências de transparência e de controlo dos dinheiros públicos) que,afinal, terá havido um processo negocial, “da iniciativa da TAP”. E ainda que, dos 500.000€, 107.500€ seriam de férias (ricas férias, portanto…) não gozadas, 56.000€ da cessação do contrato de trabalho como directora, e “só” os restantes 336.000€ (resultantes de uma “brilhante” negociação que todos deveríamos agradecer) é que seriam da juridicamente infundamentada compensação pelo também juridicamente inadmissível pseudo-mútuo acordo… 

Acresce que a lei determina que se o gestor, no prazo de 12 meses após a cessação do mandato, regressar – como Alexandra Reis regressou ao fim de 3 meses apenas – ao exercício de funções no âmbito do sector público, o montante da indemnização, mesmo quando ela é devida, é sempre reduzido ao valor da diferença, se ela existir, entre o vencimento que tinha e aquele que passou a auferir no novo lugar ou cargo, “devendo ser devolvida a parte da indemnização que eventualmente haja sido paga”. E, todavia, ninguém, a começar pela própria TAP, fala neste “pequeno” pormenor. 

Mas há mais ainda! O valor que a TAP tem de despender com este faraónico acordo é muito superior aos anunciados 500.000€, já que, por um lado, terá de pagar os 23,75% de contribuição patronal para a Segurança Social (TSU) sobre tudo o que sejam retribuições, incluindo remunerações de férias não gozadas e respectivos subsídios, e, por outro lado, no tocante à parcela paga a título de indemnização pela cessação do mandato de gestor, e visto que a TAP tem averbado prejuízos, ela terá de, nos termos da lei, pagar tributação autónoma sobre o dito valor indemnizatório, no astronómico montante de 45% do mesmo. Em suma, mais de 200.000€ de encargos de tributação, sem que a mesma TAP, a sua administração, os seus consultores e a sua tutela digam uma palavra sobre esse acrescido escândalo!

É, pois, preciso ter muita imaginação e, mais do que isso, um enorme desplante para engendrar uma “explicação” como a apresentada pela TAP ao governo que, afinal,escamoteia todos estes pontos e nada esclarece do essencial: quem impôs a saída da senhora e porquê, como se justifica afinal a dita “compensação”, porque se mentiu à CMVM e à Empresa sobre a verdadeira causa da cessação do mandato e quanto é que tudo isto custa à Empresa?

Finalmente, António Costa, fiel ao seu método sumamente oportunista de defender até aos limites do totalmente indefensável os seus próximos (de Eduardo Cabrita a Miguel Alves, por exemplo) e depois “largá-los da mão” como se nada tivesse a ver com eles ou com a respectiva escolha para governantes, já mandou Medina ordenar à senhora que se demitisse. E agora, já livre desse incómodo “lastro”, Costa vai seguramente passar a dizer que a questão já faz parte do passado, que já comunicou às entidades competentes e agora há que aguardar os resultados e que agora tem é de se concentrar no essencial, que são os problemas do País…

A verdade é que toda esta questão não é essencialmente jurídica (embora, e como se viu, também o seja…), mas sim ética e política, e sob este ponto de vista ela é mesmo um nojo absoluto, que em qualquer país minimamente acordado (já nem digo civilizado…) deveria ter conduzido à demissão dos dois ministros da tutela, senão mesmo do próprio Primeiro-Ministro, como responsável máximo de um Governo que assim actua.

Na verdade, se Alexandra Reis renunciou para se dedicar a um novo projecto profissional, tal como foi então formalmente comunicado pela CEO da TAP, a que título lhe foi então paga uma compensação, e ainda por cima de tão elevado valor, e a que título é que ela até se atreveu – é o termo apropriado – a querer receber milhão e meio de euros? Mas, se afinal foi mesmo obrigada a sair, e se o foi sem fundamento, por responsabilidade e “birra” da CEO, isso é admissível, ou antes constitui um acto de autêntica gestão danosa da Madame Christine, fazendo a empresa suportar escusadamente um custo elevadíssimo? Ou, enfim, se foi um afastamento devidamente fundamentado, a que título se lhe pagou o valor em causa? E se não servia para administrar a TAP, como e porquê passou a servir para gerir a NAV e, logo depois, para integrar o Governo?

Tendo também presentes as mais elementares regras da experiência comum de vida, alguém pode acreditar que tudo isto se passou à revelia dos ministros da tutela e que, mesmo a posteriori, estes não se interessaram por saber o que se passara? Ou é uma vez mais a postura arrogante e de impunidade, sempre garantida por Pedro Nuno Santos,da CEO da TAP, que justifica toda esta nauseabunda trapalhada (disfarçar uma demissão com uma, remunerada e bem, “renúncia”, tudo sob a protecção do secretismo habitualmente praticado com os acordos negociados com “filhos” gestores de topo, como os de Abílio Martins,Pedro Ramos e João Falcato, por exemplo)?

É, aliás, cada vez mais chocantemente evidente, e de uma arrogância crescente, a duplicidade de critérios e de condições praticadas na TAP para a generalidade dos trabalhadores da empresa (a quem se despede com indemnizações reduzidas e repartidas por 2 anos, ou se continua a exigir mais e mais sacrifícios e a impor ritmos e condições de trabalho cada vez mais penosos, a cortar salários, a querer retirar direitos e a destruir o que resta da contratação colectiva) e para os administradores e quadros de topo seus amigos (cujos escandalosos montantes salariais ou de indemnizações são atribuídos sem limites e logo criteriosamente escondidos com a já referida capa das “cláusulas de confidencialidade”).

É assim para mim absolutamente óbvio que:

1º Alexandra Reis rigorosamente nada deveria receber a título da citada “compensação” (devendo mesmo ser intimada a devolvê-la, e de imediato).

2º Deveria ser muito claro o destino de Madame Christine:tendo sido uma das responsáveis pela situação e havendo uma vez mais faltado à verdade, e ainda por cima depois de todas as demais situações obscuras em que tem estado envolvida – desde a da contratação de gestores de topo para a TAP, milionariamente pagos, à da renovação da frota automóvel (só a dos mesmos gestores de topo, claro…), passando pela do negócio da mudança de instalações, tudo sempre envolvido na maior das opacidades –, a CEO deveria ser de imediato demitida,  com mais que justa causa!

3º Idêntico caminho deveriam seguir os dois ministros da tutela: ou sabiam o que se passava e não só foram criminosamente cúmplices com tudo isso como até deram consciente e intencionalmente a Alexandra Reis os “prémios” da Presidência da NAV e do cargo governamental, ou não sabiam, e sendo absolutamente claro que deveriam saber, a sua gritante incompetência e irresponsabilidade são igualmente criminosas.

4º Estando em causa uma empresa do sector empresarial do Estado e a enorme massa de dinheiros públicos nela investidos, os basilares princípios da transparência, da fiscalização e do estrito controlo na respectiva aplicação, impostos por disposição imperativa da lei que não pode ser afastada por despacho ou cláusula contratual alguma, deve-se impor a realização imediata de uma rigorosa auditoria a todos os contratos, acordos e compromissos (de trabalho, de prestação de serviços, ACMI, leasing, renting, etc.) celebrados, pelo menos nos últimos 5 anos, por cada uma das empresas do grupo TAP, com divulgação do respectivo teor, da sua justificação e da indicação discriminada dos custos que cada um deles representa para a empresa. 

Essa seria, de facto, a única forma de avaliar de forma precisa, correcta e objectiva o que tem sido verdadeiramente a gestão da administração da TAP e a acção da tutela governamental! E de combater com determinação a mais que justificada náusea que todas estas manobras suscitam em toda a pessoa de bem! 


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5 pensamentos sobre “Os negócios da TAP – a náusea…

  1. Já falei da pilhagem da riqueza de um povo..

    Pensamos que estamos num país republicano mas na realidade somos governados por burgueses que se sentam em palácios.
    Só pensam nas suas vantagens, estão acima da lei, um sistema fora do solo que terminará mal se continuarem assim.

    “O Estado não é a solução, é o problema”, como disse um certo Ronald R.

    E pensar que nos será dito no futuro precisaremos ainda mais governo e, portanto, mais impostos porque ainda não fizemos o suficiente até agora. Patético…

    Uma verdadeira inversão de valores ocorreu com o ultra-liberalismo globalizado: os parasitas ocupam as posições de elite, com uma visão religiosa da “ciência” pseudo-económica como catecismo para o povo.
    Esta é uma das principais causas dos infortúnios injustificados dos “sem rancor”.

    Os pobres contornam as leis, os funcionários eleitos e administradores de empresas publicas mudam-nas para se adaptarem a elas. Todos fazem o que podem! Em qualquer caso, mesmo com 1% dos votos expressos, uma eleição é válida. A elite no local enxaguam-se o máximo de tempo possível. O Estado demonstrou mais uma vez a sua única capacidade: irritar o povo. O barco está a balançar cada vez mais, e perigosamente!

    A inaptocracia (ou “ineptocracia”) é o governo dos incapazes. De acordo com a definição:

    “Inaptocracia: um sistema de governo no qual os menos capazes de governar são eleitos pelos menos capazes de produzir, e no qual os restantes membros da sociedade menos capazes de se sustentarem ou serem bem sucedidos são recompensados com bens e serviços que foram pagos pela confiscação da riqueza e do trabalho de um número continuamente decrescente de pessoas”.

    Uma grande parte das pessoas de empresas publicas ocupam empregos cuja utilidade é questionável.

    Claro que é o mesmo em todo o lado: quantos funcionários administrativos para quantos enfermeiros e médicos nos hospitais? Nas autoridades locais, é também uma parte, ainda pior do que no Estado.

    Em suma, não há apenas políticos, mas todo um exército de pessoas que sentem que a sua utilidade social é nula, ou mesmo que as suas actividades são prejudiciais para o bom funcionamento do país, mas não são tão loucas que se sacrifiquem.
    Já vi muitos executivos públicos que ganham mais de 5.000 euros por mês em plena carreira sem qualquer responsabilidade ou responsabilização pelo valor do seu trabalho. Esse é o estatuto da função pública, é um direito adquirido com a concorrência que melhora com a idade. Tudo provém daí, o estatuto é mais importante do que o serviço que prestam à nação.

    A administração é livre e cria a sua própria actividade sem qualquer relação com as necessidades do país, e isso está a arruinar-nos, mais a concentração do poder nas mãos de pessoas que não são responsáveis perante ninguém e que são também da administração a maior parte do tempo.

    Estas pessoas, estão sempre mais próximas da gestão e sempre muito afastadas da base, não têm qualquer utilidade”. Estas pessoas estão perfeitamente conscientes da sua inutilidade, e para justificar os seus salários, chegam a regulamentos que são os primeiros a quebrar, mas que nos aplicam de uma forma bastante exigente.
    O Boétie escreveu há quase quatro séculos atrás:
    “Eles só são grandes porque estamos de joelhos”.

    Infelizmente os Portugueses ainda não têm fome suficiente para se aperceberem disso.
    Os escravos já não precisam de correntes, os créditos substituem-nas..

    Esta gente cria a sua própria obediência, como as lojas maçónicas, os lobbies, os partidos ou qualquer outra casta de paraísos que acreditam que por serem ricos ou no topo da hierarquia, são os senhores do mundo …

    A história das revoluções é a história das fomes. Enquanto as pessoas pudessem comer a sua fartura, não iam para as ruas. Ajuda, subsídios, pequenos bónus… todas estas coisas são calculadas com a maior precisão possível pelos nossos políticos principais (é para isso que servem) para que nos sentemos em frente às nossas televisões a ver futebol em vez de lhes dizermos o que pensamos do sistema. Tudo é calculado, como me explicou uma vez um politécnico.

    O único problema importante parece-me ser demasiado Estado e a solução é uma verdadeira descentralização nas profundezas de Portugal.

    Todos estes trabalhadores de alto nível e os outros, “o seu campo de excelência? Em tabelas Excel, procedimentos coloridos em papel brilhante, formalidades – desculpem, “processos” – sublinhados em slides PowerPoint”!

    Isto faz-me lembrar um excelente livro escrito por um ex-líder que se interrogou a dada altura da sua carreira: Qual é o objectivo do que faço e para o qual me dão um ordenado chorudo? A sua resposta foi honesta: nada!!

    O livro data de 2011, nunca foi tão actual e como todos estes oportunistas que se estão a empanturrar dos nossos impostos que não fazem o seu exame de consciência..

    Sim, uma sociedade precisa de organização para se desenvolver. Precisa de ser administrado no sentido do bem comum. O grande problema que temos hoje é que o governo não age na direcção do bem comum e, além disso, impede-nos de o rectificar. Ele próprio abandonou elementos essenciais de controlo sobre a economia do país, nomeadamente a soberania monetária e o controlo sobre a troca de bens e serviços. Não é possível, por exemplo, criar alguns milhares de milhões de euros para desenvolver um determinado sector sem se endividar.

    E voltamos à questão “Porquê?

    Uma vez que o Estado perdeu a sua soberania, devemos perguntar-nos quem é soberano hoje e quais são as motivações deste poder mais ou menos escondido.

    É verdade que o nosso Estado se comportou muito mal durante esta crise. Mas esta está longe de ser a 1ª vez, e está longe de ser o 1º governo que se ocupa de tudo menos de nós! Lamento que não tenha salientado que se os Estados têm estado ocupados há já algum tempo apenas a recolher dinheiro para os grandes grupos privados e os bancos, é principalmente porque somos membros da UE e, como os vários tratados afirmam, tudo é feito para privatizar o mais possível os serviços que eram públicos. Acabámos de ver o que acontece quando os hospitais públicos são cortados. Depois, explicam-lhe que os hospitais públicos não funcionam bem, e que lhe vão dar alguns que serão geridos pelo sector privado, o que trará muito dinheiro para os patrões e accionistas, e os cuidados serão muito bons (para aqueles que podem pagar ou ter seguro privado). O nosso sistema de saúde (entre outras coisas) é muito bem concebido a partir do zero e se todas as receitas esperadas forem correctamente cobradas, funciona como um encanto! O mesmo se aplica ao nosso Estado que, antes da UE, cobrava impostos em benefício das necessidades dos cidadãos e também regulamentava a circulação de bens e capitais. Isto não impediu os empresários de fazer o seu negócio e ganhar a vida, mas a grande vantagem era que eles não podiam ao mesmo tempo beneficiar dos lucros ou vendas .. E destruir o tecido industrial e criar massas de desempregados indo fabricar no estrangeiro sem qualquer imposto sobre a devolução. Ou ficamos na UE e fechamos a boca sobre as consequências (empregos, saúde, etc.), ou saímos e voltamos a pôr em prática um Estado responsável digno desse nome, envolvendo-nos no controlo dos funcionários eleitos para limitar a corrupção, os conflitos de interesses, e mesmo a traição, quando estes senhores favorecem os interesses estrangeiros em detrimento dos Portugueses..

    Com isto fiquei convencido de que chegámos ao fim , e que não é um partido político que nos vai salvar..
    Não estaremos nós a caminhar para um colapso de proporções sem precedentes? É evidente que o colapso económico, que só agora começou, irá desdobrar-se e crescer a partir do 2 semestre. E quando as pessoas não têm comida, poucas instituições ficarão de pé,com a
    nossa sociedade, poluída pelo materialismo e individualismo..

    Isto mostra que os cidadãos e politicos devem recriar um novo modelo de organização pública, uma economia saudável, soluções sociais, finanças que financiem a economia real…

  2. Ocorre-me pensar numa Câmara Corporativa a funcionar em Democracia.
    Composta por gente de bem, com provas dadas nas suas vidas e profissões, aceites entre pares, capazes de verificarem os textos e a coerência das leis, de poderem apresentar propostas de criação e alteração de leis e regulamentos, em falta ou que suscitassem problemas de funcionalidade.
    A corrupção percebida é um caldo venenoso para toda a vida em sociedade.

  3. Excelentíssimo texto.

    Imagino um governo de Portugal com gente do calibre de Garcia Pereira, Mariana Mortágua, e João Ferreira, a cumprir a Constituição, a governar para o povo, e a fazer uma limpeza das “elites”, a encerrar offshores, a acabar com injustiças, e a colocar fim ao centrão da negociata e, por breves momentos, quase me pareve possível Portugal ter futuro…

    Mas mais de 90% pensam de forma diferente da minha. Querem mais do mesmo, ou já desistiram e são abstenção.
    Se na questão do Euro é uma morte lenta, na questão da política interna é um suicídio colectivo.

    Nunca os Portugueses estiveram tão satisfeitos com a governação como na primeira Geringonça. Nunca os portugueses estiveram tão desiludidos com A.Costa como agora na “maioria” (de 41%l).
    Mesmo assim, há quem não perceba o que (quem e que partidos) é que fez a diferença…

    Insanidade é fazer a mesma coisa uma e outra vez e esperar resultados diferentes – Einstein

    Mas se calhar uma parte da população, bem remediada e sem empatia pelos miseráveis, a tal de classe média, não espera resultados diferentes. Sobrepõe-se o seu egoísmo e medo (neste caso irracional) de perder o pouco que tem caso alguma coisa mude realmente.

    Marx previu isto. A forma como a certo momento do Capitalismo, é a própria pequena-burguesia (já satisfeita com as poucas beneces que o sistema lhe deu) quem impede o sistema de funcionar melhor e de ter as alterações que possam colocar o sistema a melhorar a vida de todos.

    Nos casos de outros países, sem partidos dominantes e com Parlamentos mais fragmentados (e isso é uma coisa boa, e só anti-democratas dizem o contrário), ainda se vai mudando algo e impedindo a criação de uma máfia de um partido só. Mas em Portugal, como nos EUA, juntam-se os dois grandes males da “democracia liberal” (aka ditadura da burguesia, por oposição à ditadura do proletariado): o comodismo da classe-média e a máfia do(s) partido(s) dominante(s).

    Não foi para isto que se criou o conceito de DEMOcracia. Ela foi criada para representar o povo, e para permitir mudanças quando a governação vai contra os interesses do povo.
    Em Portugal, para além da esmagadora maioria não fazer ideia dos Direitos que a Constituição lhes dá, e nem sequer saberem como funciona a lei eleitoral (da batota do PS+PSD), não sabem sequer o que é realmente a Democracia.

    Alie-se a isto a impreparação das gerações mais velhas, a superficialidade das gerações mais novas, e a total lavagem cerebral feita pela totalmente corrupta e mentirosa, manipulativo e mal intencionada comunicação social mainstream (em que impreparados e superficiais acreditam como se fosse a sua aparição de Fátima dos tempos modernos), e temos todas as premissas que me fizeram chegar a uma conclusão definitiva: este país não é para quem quer ter futuro.

    É só para os que se governam a si próprios com o dinheiro dos outros, para os da “meritocracia” com a herança dos papás, e para uma classe média que só alheada da realidade se contenta com o país que tem.

    Com 554€/mês se estabelecia em 2020 o limiar da pobreza, segundo a Pordata. Com tal valor o número de pobres era de 1.9 milhões após apoios sociais e de 4.5 milhões antes desses apoios.
    Agora imaginem se esse limiar fosse de facto um valor decente…
    Ora, que eu saiba, uma mãe solteira em Lisboa com um só filho, tem dificuldade em, em simultâneo, pagar a renda, as contas da eletricidade e gás e internet, as despesas do filho, roupa, etc, e ainda fazer todas as refeições até ao fim do mês mesmo tendo um salário mínimo de 760€/mês.

    Ah, e tem de trabalhar 40 ou mais horas semanais para os receber, pois o P”S” votou ao lado da Direita fascista contra a proposta da Esquerda das 35h no sector Privado.
    E as horas extraordinárias são pagas pela metade, e são quando o patrão quiser. Se for despedida, vai com uma mão à frente e outra atrás.
    Não lhe sobra sequer dinheiro para se poder sindicalizar.
    Nem sequer viver a vida. É todos os dias uma escrava das contas e da máquina de calcular. A “liberdade” é algo de que ouviu falar, mas nunca pode realmente usufruir.

    E diz-nos o Eco que em média o poder de compra dos salários em 2023 estará ao nível de 2014. Sendo que o de 2014 estava pouco ou nada acima do que era no último ano do Escudo.

    É só a mim que isto causa um tremendo nojo e uma vontade de fazer cair o regime? Uma indignação que até faz comichão, e vontade de correr aqueles 3 milhões de eleitores rosa/laranja e €uropeístas à chapada?
    Isto já não é “só” insanidade, isto já é sado-masoquismo!

  4. Se fosse só e apenas isso (a razão e motivo desta declaração acima em causa), não estaríamos assim tão mal. Este ilustre advogado, em prol da Nação e da Verdade, dever-se-ia concentrar em apresentar os inúmeros casos semelhantes na “roubalheira governativa” descarada e não só. Enquanto apenas se só, se divulga estes casos repugnantes e se o “assunto” fica sómente em conversa e conhecimento que não traz consequências absolutamente nenhumas, pois que daqui a poucas semanas, tudo isto será completamente esquecido e então, não passará de ser apenas depois, de pertencer ao âmbito de “cultura geral”. Acabará por ficar no rol do esquecimento e será depois catalogada como “má-lingua”, baseada na “inveja” por o autor desta declaração, não ser sido também contemplado, pela sorte de “se esar bem relacionado”.

    Mas se no entanto, estas e muitas outras situações semelhantes, estiverem organizadas de modo a poderem ser levadas aos tribunais competentes, para esses responsáveis serem devidamente julgados e punidos, de acordo com as leis vingentes. Enquanto as pessoas que sabem pormenorizadamente o que se passa com esses casos, a fim de se poder reunir provas incriminatórias, baseadas e comprovadas através de factos suficientes para fazerem fé e sustentarem com possibilidade de êxito perante os casos apresentados nos tribunais. Quando isso acontecer, eu própio subscreverei e me empenharei de “corpo e alma”, para fazer tudo o que é preciso, para que esses “autores entricheirados pela política e poder governativo”, sejam punidas pela lei. Não sou advogado, nem nada que separeça. Mas se houver um advogado apenas, que tome essa iniciativa, poderá esse mesmo advogado, acrescentar o meu nome à lista desses empreendedores pela luta da justiça e do direito.

    Até lá, estas histórias e outras semelhantes, não passarão disso mesmo: histórias interessanes para enriquecer a nossa cultura geral. Aqui fica lançado o repto ao autor deste artigo acima referido.

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