“Valas comuns” ? Não. Fake news que nem 24h duraram

(Alexandre Guerreiro, in Facebook, 16/09/2022)

Quando há notícia de “valas comuns” na Ucrânia, uns apontam imediatamente culpados e até descrevem como aconteceu a desgraça.

Ou seja, justiça que nem é sumária, é instantânea; não se guia por valores honestos, é ideologicamente motivada; nem chega a ser kafkiana, é apenas uma vontade apressada de expressar o ódio.

No que me diz respeito, mantenho a coerência desde o início da intervenção militar da Rússia: a primeira coisa a fazer é destacar uma equipa de investigação internacional e neutra, eventualmente, composta por elementos da ONU e do CI da Cruz Vermelha.

Com uma missão desta natureza estaremos aptos para encontrar as respostas às perguntas:

– O quê?

– Quem?

– Quando?

– Como?

– Onde?

– Porquê?

Só assim estaremos capacitados para compreender o que aconteceu e responsabilizar devidamente os autores. Do que me recordo, isto ainda é justiça. Estes são os tais valores que, não sei porquê, mas deixaram de ser os da União Europeia.

Isto para dizer que há uma diferença significativa entre uma “vala comum” – buraco ou cova onde se colocam vários cadáveres – e um conjunto de “sepulturas” ou “campas” – vulgarmente chamado “cemitério” e local onde se enterram cadáveres, preferencialmente, cada um individualmente e devidamente identificado.

As valas comuns podem configurar crimes de guerra e crimes contra a humanidade, dependendo do contexto em que são criadas.

Mas as valas comuns podem não configurar crimes seja de que espécie for se não houver capacidade para enterrar condignamente os cadáveres ou, por algum evento extraordinário, não for possível, por razões de saúde pública, dar-lhes o tratamento digno devido.

Reparem que, não há muito tempo, durante a pior fase da pandemia COVID-19, a Índia realizou cremações em massa e criou até valas comuns para poder dar vazão a tantos mortos em tão curto espaço de tempo (cfr. shorturl.at/ALO01).

Crimes contra a humanidade? Não creio. Por razões de saúde pública, em tempos extraordinários, não havia outra hipótese razoável.

Na noite de 15 de Setembro de 2022, a Reuters e a comunicação social portuguesa apressaram-se a dar a notícia de “vala comum com mais de 440 cadáveres foi encontrado em Izyum, Ucrânia” (cfr. https://archive.ph/1Nzq1). Colocou um hífen seguido de “polícia”, deixando a dúvida sobre a autoria dessa constatação, mas manteve o título que sugeria uma certeza.

Minutos depois, a Reuters divulgou o mesmo título mas acrescentou “segundo a polícia” (cfr. shorturl.at/hqrTY).

A Reuters publicou ainda notícias em que dizia que foram encontrados corpos com cordas à volta do pescoço, sugerindo, por isso, que se tratavam de casos de homicídio doloso e intencional.

O que aconteceu depois foi curioso: a Reuters viu-se na obrigação de retirar notícias e corrigi-las por, segundo a própria, os seus jornalistas não terem visto os cadáveres com cordas ao pescoço (cfr. shorturl.at/fmoPZ).

Já ao longo do dia de ontem, aquela primeira notícia ganhou outra forma. Passou a ter, então, como título “Ucrânia diz que foram encontradas centenas de cadáveres em valas comuns” (cfr. shorturl.at/fIJLR).

A Reuters demarcou-se completamente de um título que, por cá, continua a ser apresentado da mesma forma (cfr. shorturl.at/hJWZ5).

Aliás, a RTP e a Antena 1 mantêm a notícia de que foram encontrados corpos com mãos atadas e cordas ao pescoço (cfr. shorturl.at/lmuZ6). O Jornal de Notícias também faz o mesmo (cfr. shorturl.at/mBCGU).

E a notícia na versão portuguesa é dada de tal forma que até já ganhou o nome de “Massacre de Izyum”.

O problema é que as imagens revelam que “a vala comum” do “massacre de Izyum” é, na verdade, um cemitério improvisado onde são enterrados cadáveres, regra geral, cada um numa campa individual e, quando se sabe a identificação do “de cujus”, é colocada a identificação (nome, datas de nascimento e morte) e ali fica o cadáver até que alguém reclame o corpo.

Aqueles que não conseguem ser identificados são enterrados individualmente e é colocada uma cruz com um número (registo do cadáver com os traços físicos e biológicos) e alguns elementos de identificação possível (membro das Forças Armadas ucranianas, civil, etc) para posterior identificação e entrega do corpo caso alguém o reivindique.

O mais sensacional nisto tudo é que este método já tinha sido amplamente difundido por alguns jornalistas que se permitem fazer jornalismo e mostrar o que se passa no terreno.

O jornalista Bruno Carvalho, por exemplo, fez uma reportagem para a CNN Portugal, em Abril, na qual relatou “in loco” e ao detalhe uma prática semelhante em Mariupol (cfr. shorturl.at/aEMNT).

Aliás, esta vala comum de Mariupol é mais um caso caricato. Começou por ser uma “vala comum com mais de 9.000 corpos” (cfr. shorturl.at/ETY14). Depois, passou para 1.000 com vista de satélite. E, finalmente, acabou por ser um cemitério improvisado.

Insisto que deva ser conduzida uma investigação internacional imparcial a um caso que está a ser usado para fins ideológicos. Mas que o caso de Izyum parece estar longe de ser o resultado de um “massacre” e a referida “vala comum” parece ser mais um cemitério improvisado do que um local onde foram descarregados inúmeros corpos.

Aliás, como eu exploro no vídeo do directo que realizei na noite de ontem, importa começar por responder à seguinte questão:

– quão burros são os russos ao ponto de massacrarem centenas e depois decidirem enterrá-los individualmente com a respectiva identificação?

O normal num massacre não seria tratar os mortos com dignidade, seria, isso sim, incinerar e destruir todos os vestígios de crimes cometidos e enterrá-los de modo a que ninguém soubesse que existiam sequer.

P.S.: Além da análise intensiva a Izyum, analiso ainda as supostas “salas de tortura” de Kharkiv e os resultados das últimas eleições na Suécia.


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19 pensamentos sobre ““Valas comuns” ? Não. Fake news que nem 24h duraram

  1. Subscrevo por inteiro este artigo do Alexandre Guerreiro.
    Aliás, eu antevi isto assim que o Rybar começou a noticiar a retirada Russa de Balakleya, e depois de toda a região ocupada/libertada de Kharkiv/Kharkov até ao rio Oskil.

    Quando ouvi a ditadura Ucraniana a falar em “filtrar” pessoas, temi o pior.
    Afinal, desta vez não foram tão longe como em Bucha. Fizeram “só” uma farsa com o local de enterro dos próprios soldados que foram derrotados quando a Rússia ocupou/libertou Izium, daí os tais sinais de morte violenta.

    Por outro lado, é sinal de que a “filtragem” feita por SBU/Azov não apanhou grande coisa.
    Desta vez, quando os Russos saíram, salvaram os civis pro-Democracia ao levá-los consigo para a Rússia e para a República de Lugansk.

    Não sei quem ficará mais fulo com Putin e Shoigu, se os Ucranianos pró-Rússia/pró-Democracia/anti-Nazi/anti-NATO que viram a sua região novamente ocupada/reconquistada pela contra-ofensiva Nazi/NATO, ou se os familiares dos soldados Russos que deram a vida para chegar a Izium, e agora viram o seu esforço esfumar-se em poucos dias.

    Há duas conclusões que se podem desde já tirar, uma boa e uma má.
    A boa é que esta FakeNews feita nos mesmos moldes e termos de Bucha confirma indiretamente que Bucha também foi uma farsa.
    A má é que o que fica enterrado de vez numa vala comum é o “jornalismo” Ocidental.
    George Orwell previu, e o regime Capitalista Autoritário NeoLiberal Imperialista assim o fez.
    2022 = 1984

    • George Orwell escreveu o ‘1984’ como um alerta. O império do bem e a criadagem europeia, tanto política como mediática, acham que é um manual de boas práticas.

      • Ao tempo da II Guerra Mundial George Orwell era jornalista da BBC e irritava-se até à náusea por causa da censura inglesa, de resto perfeitamente justificada em tempo de guerra numa Inglaterra sitiada, que não o deixava publicar o que ele bem queria. Essa foi a razão de ter escrito “1984”, que é na verdade um manifesto contra a censura. Ele era um fascista russófobo e anticomunista primário que também escreveu “Animal Farm”, que no Portugal salazarista saíu com o belo título “O Triunfo dos Porcos”. Os “porcos” eram os bolcheviques durante a Revolução russa de 1917.

  2. Tudo o que o articulista afirma no seu artigo é consensual.

    Com efeito, é impossível olhar para a já bem conhecida imagem, presente nas capas da nossa Imprensa, onde se vê claramente pessoas a desenterrar caixões, e não perceber imediatamente a incongruência da mesma com os títulos respetivos, em que se fala de “terror em Kharkiv” e “valas comuns”. Pensarão esses pseudojornalistas que não morre ninguém numa guerra? Ou estarão a partir do princípio de que os seus leitores são todos uns perfeitos imbecis?

    Só nestas duas recentes ofensivas ucranianas, primeiro em Kherson e depois em Kharkiv, terão morrido perto de 20 000 soldados de uniforme ucraniano, cálculo por baixo, sem falar dos que estão agora a ser aniquilados pela aviação russa na região de Kharkiv, apanhados que estão fora dos “bunkers” onde anteriormente se abrigavam. Obviamente que também morreram membros da coligação russa e civis, embora em muito menor número.

    O facto de os mortos estarem em caixões individuais só revela que foram enterrados com respeito. Já foi por diversas vezes divulgado que os soldados ucranianos deixam habitualmente os seus próprios cadáveres a apodrecer nos locais onde caíram.

    Está estabelecido em termos de estratégia militar que as baixas num exército em ofensiva são em regra cerca de dez vezes superiores às dos defensores, mesmo que a artilharia pesada e a aviação tenham sido previamente neutralizadas, o que não foi o caso. Esta será a verdadeira razão pela qual os russos não atacaram as posições bem fortificadas do exército ucraniano na região de Kharkiv, tendo preferido esperar que eles saíssem em ofensiva para terreno aberto.

    A ocupação provisória de assentamentos em Kharkiv terá correspondido então a uma manobra estratégica de atração do inimigo para fora da sua zona de conforto, permitindo assim a sua aniquilação pela aviação tal como está a suceder. Por outro lado, as tropas ucranianas não têm condições de deixar para trás segundas e terceiras linhas de mão-de-obra, o que permite que venham a ser cercadas nas suas novas posições.

    Recordo que a estratégia russa na Ucrânia visa a aniquilação física dos exércitos inimigos estejam eles onde estiverem, e não a ocupação de territórios, excetuando as regiões russófonas do Donbass que estão ali para proteger. Sabe-se que agora a prioridade dos russos é limpar o interior dessas zonas para terminar definitivamente com os bombardeamentos das cidades importantes, e isso está a ser feito neste preciso momento contando com o reforço de parte das tropas que deixaram Kharkiv.

    Mesmo porque os russos não têm na Ucrânia homens suficientes para manter o controle de uma linha de contacto com mais de 1 000 Kms. Como eu disse recentemente num fórum do VK brasileiro em que participo regularmente, 170 000 soldados não chegam nem para encher duas vezes o estádio do Maracanâ.

    Se a Guerra da Ucrânia passar para o nível seguinte, os russos terão de reforçar ali o seu contingente e abrir novas frentes de combate. A aglomeração de navios de guerra ao largo de Odessa parece indicar que essa cidade será o próximo alvo, e será natural que o seja para cortar completamente o acesso ao mar, mas os planos do MoD russo permanecem impenetráveis e muito difíceis de prever.

    O que também se aplica aos estrategas da NATO que manipulam as tropas de Zelensky.

    • O lema principal da criadagem mediática é: “Tudo pela narrativa, nada contra a narrativa.”
      Mas têm outro: “Se non è vero, è ben trovato!”

    • Acho que estás a ser demasiado otimista em relação ao exército Russo.
      É por isso que gosto de ler o Erwan Castel, no Donbass desde 2014, a lutar por uma boa causa, mas sempre a fazer um esforço para não cair na propaganda Russa.
      E o próprio Rybar, e até o IntelSlava, foram críticos do que o MoD Russo fez e disse acerca desta retirada em Kharkiv.

      Se por um lado em Kherson a contra-ofensiva Nazi/Nato está a ser um fiasca sangrento perante a boa defesa móvel Russa, por outro lado a contra-ofensiva em Kharkiv foi de facto bem desenhada (ppde-se até dizer que a de Kherson foi uma finta na qual os Russos caíram) que obrigou a uma retirada apressada e com baixas nas defesas que aí estavam, acima de tudo tropas menos preparadas e menos equipadas de Donetsk.

      E neste momento a iniciativa está de tal forma do lado Nazi/Nato, que até o rio Oskil é uma linha de defesa a ser disputada, quer em Kupiansk, quer mais abaixo perto de Liman, onde o rio Siversky Donets já foi de facto atravessado pelos DGR (Diversion and Recognition Groups) Nazi/Nato, que foram quem fez a contra-ofensiva de Kharkiv.

      Quanto ao total de tropas russas, os números tradicionais não se aplicam. Eles conseguem fazer mais com menos, quer a atacar quer a defender. Mas isso tem várias limitações:
      – se os Nazi/Nato concentrarem muita gente, a Rúdsia tem simplesmente de retirar dessa zona (viu-se em Kharkiv);
      – não dá para chegar a todo o lado e isso obrigou já a 3 retiradas, duas planeadas (Kiev, e a primeira em Kharkiv até à barragem do rio Siversky Donets), e uma apressada (a clara derrota mais recente em Kharkiv até ao rio Oskil);
      – e torna os avanços mais lentos na zona prioritária (arredores de Donetsk) o que permite aos Nazi/Nato ainda hoje estarem a bombardear as cidades e a matar civis na zona pró-Democracia da DPR (a que a propaganda Ocidental chama de separaristas pró-Russos).

      O facto de se estar a escalar, com mais bombardeamentos a infraestruturas, não augura nada de bom, como já bem observado no mais recente artigo do Soromenho aqu publicado na EstátuaDeSal.
      Fala-se em quase 800 aeronaves (se me lembro bem: 430 aviões e 340 helicópteros) concentrados nas fronteiras da Ucrânia, fala-se em exercícios militares da Bielorússia a Norte da Ucrânia, fala-se em mais navios em redor de Odessa (talvez para voltar a atacar aí após os transporte de cereais estar completado), e ainda em muitos reforços de material e homens, com o objetivo de obter pelo menos mais um batalhão de cada um dos Oblasts/Repúblicas da Rússia.

      Aliás, há até quem fale que a fase preferencial para o avanço Russo não é o Verão nem é o pico do Inverno, mas sim aquelas duas partes do ano em que nem há nevões, nem há folhas nas árvores, o que facilita a visibilidade para a esmagadora artilharia Russa, e dificulta o trabalho de quem defende escudando-se sob as zonas florestais.
      Não sei se será assim, ou não. Sei que o pior ainda não começou. Porque mais guerra é sempre pior do que mais paz.

      Mas também sem quem provocou/ameaçou (Nato) e quem começou e recomeçou (Nazi) a guerra, portanto percebo que esta guerra só terá fim quando quem promoveu os acordos de paz e estava disposto a negociar (Rússia) chegar a uma posição suficientemente vitoriosa para impor novas negociações, e do outro lado houver um exército derrotado na ditadura Nazi, e um povo descontente no regime autoritário imperialista do Ocidente.

      Se um lado luta pela vida e pela existência (Rússia, Crimeia, e Donbass em particular, e Novorússia e Não-Ocidentais em geral), então esse lado não vai desistir enquanto se sentir ameaçado.
      Eu, como não gosto de povos ameaçados, e recuso apoiar quem os ameaça (Nazi/Nato), e sendo a neutralidade uma utopia do kumbaya em tempo de guerra (se bem que respeito os eforços pró-Paz), só podia escolher um lado: Z.

      Por isso, estejas a ser demasiado optimista ou não, espero que no final de contas estejas certo. Odessa não pode continuar a ser de quem queimou gente viva.
      E o Ocidente não pode continuar a ser desgovernado por quem olha para Nazis e vê “aliados”.
      I rest my case… por agora.

  3. O que no artigo do link a seguir é dito não terá nada de novo para quem acompanha a “questão ucraniana” pelo menos desde 2014, com o golpe de Maidan, mas a sistematização da informação nele contida faz com que a sua leitura seja um valor acrescentado. A autora é ucraniana, ex-diplomata, hoje radicada na Rússia:

    https://www.thecitizen.co.tz/tanzania/oped/the-uncomfortable-truth-about-radical-ideologies-in-ukraine-3751460

    Da mesma autora, também muito interessante, com informação mais actualizada (na RT):

    https://swentr.site/russia/562803-best-defense-is-good-offence/

  4. Decreto n° 448/2021 do presidente da Ucrânia. 254 pontos e uma obsessão: a Rússia e de como cercá-la, encostá-la à parede e dar cabo dela. A data da promulgação é 21 de Julho de 2021 e trata-se de uma autêntica declaração de guerra. Um cheirinho:

    “90. A tarefa prioritária é o uso ativo dos existentes e a criação de novos formatos de interação entre a Ucrânia e a OTAN no âmbito de medidas para restaurar e fortalecer a segurança na região do Mar Negro, em particular como área de responsabilidade da Aliança.

    91. Serão feitos esforços para aumentar a presença da OTAN na região do Mar Negro, aumentar o número de exercícios conjuntos Ucrânia-OTAN no mar e na zona costeira, aplicar adequadamente o “Pacote do Mar Negro” da OTAN para a Ucrânia e a Geórgia e expandi-lo ainda mais . Serão também tomadas medidas para envolver a Ucrânia no desenvolvimento da Estratégia da Aliança na região do Mar Negro.”

    A desonestidade e a certeza da impunidade da mentira, dado o condicionamento cognitivo a que os ocidentais cidadãos (tratados como borregos) são sujeitos, revela-se, entre outros, no descaramento mentiroso do ponto 24:

    “24. Hoje, a política da Federação Russa é a principal ameaça à Ucrânia e à Europa. A Federação Russa está fazendo esforços para restaurar seu papel como ator global por meio de pressão política, militar, econômica e informacional sobre os estados e instituições da comunidade transatlântica. A Federação Russa usa toda a gama de instrumentos de agressão híbrida com o objetivo de estabelecer o controle sobre a Ucrânia, violando sua integridade territorial e tentando bloquear seu movimento para a adesão plena à UE e à OTAN, bem como desestabilizar outros estados, violando o ordem jurídica internacional baseada nas normas do direito internacional. A retirada da Federação Russa do Tratado de Céus Abertos visa a destruição da arquitetura de segurança europeia e a destruição dos regimes internacionais de controle de armas.”

    Quando se afirma que “A retirada da Federação Russa do Tratado de Céus Abertos visa a destruição da arquitetura de segurança europeia e a destruição dos regimes internacionais de controle de armas”, é impossível que quem escreveu isto não saiba que a Rússia só se retirou do Tratado de Céus Abertos depois de os Estados Unidos, sob protesto russo, o terem feito, no tempo de Donald Trump. É impossível que os vigaristas que redigiram isto e o palhaço vigarista que promulgou não saibam que a Rússia tentou até ao limite convencer os americanos a manterem-se no Tratado de Céus Abertos, insistindo nas suas vantagens para a manutenção de um clima mínimo de confiança mútua.

    https://www.president.gov.ua/documents/4482021-40017

    • Joaquim Camacho, muito bem.

      Sabemos que os líderes atuais da Ucrânia foram lá colocados em 2014 pelos americanos para servirem os interesses americanos, que nada têm a ver com os interesses do povo ucraniano. Para o efeito usaram as organizações neonazis ucranianas que levaram ao poder com o golpe da Praça Maidan, mas essas seitas, profundamente arreigadas na cultura ucraniana desde os anos 30 do século passado, estavam ali a ser recuperadas praticamente desde o fim da URSS.

      De notar que a integração da Ucrânia na NATO aparece na política recente desse país como um imperativo fundamental, apesar de a NATO não ter nenhum interesse económico e a Ucrânia não estar na altura sob nenhuma ameaça. O argumento oficial era que a Ucrânia tinha “o direito” de pertencer à NATO, pois então. Por acaso até não tinha, precisamente de acordo com o princípio de “Segurança Indivisível” que consta da Lei Internacional.

      Na verdade, a escolha das elites ucranianas soa completamente irracional e contrária a todos os interesses do povo ucraniano. A Ucrânia “real” tinha todo o interesse em se manter de boas relações com a Rússia, que lhe fornecia energia a baixo custo e era em si mesma um vastíssimo mercado aberto que beneficiava toda a sua economia.

      Não existe nenhuma racionalidade no percurso e nos objetivos traçados, e não deixa de ser interessante que a máquina de propaganda ocidental consiga ainda assim a aceitação desses argumentos primários junto da sua população completamente estupidificada.

      A civilização ocidental em processo de regressão acelerada.

    • É por essas e por outras que a Rússia se viu obrigada a fazer a tal concentração de tropase os exercícios militares DENTRODA SUA FRONTEIRA, ao ver a NATO/EUA quase a chegar a Moscovo.

      A declaração de guerra final foi, na minha opinião, quando já a ditadura Nazi estava a violar acordos de paz de Minsk e a bombardear milhares de vezes por dia as cidades do Donbass (entre 16 e 23 de Fevereiro de 2022), e no dia 19 o ditador Zelensky foi à Conferência de Munique ameaçar que alargaria a guerra até à Crimeia (território de facto Russo, segundo escolha livre e democrática desse povo).

      Aliás, a ocupação/libertação dos oblasts de Kherson e Zaporoje é justificada, para além do valor tático/estratégico para por exemplo cercar Mariupol a partir do Oeste, como medida preemptiva de proteção da Crimeia.

      Faz-me total confusão/indignação como o Ocidentel Colectivo decidiu pura e simplesmente ignorar esta questão fundamental. Já para não falar da hipocrisia de reconhecer o Kosovo e depois chamar à Crimeia uma “anexação ilegal”.

      Eu, pelo menos, sou coerente: todos os povos devem ter o Direito Humano à Autodeterminação. Seja Crimeia, Donbass, Kosovo, Catalunha, ou Texas.
      É aliás por isto (e por ser Soberanista) que simpatizo com o Brexit e com a maioria Hungara. Os povos ou são soberanos, ou são colónias.
      Infelizmente, os €uropeidistas escolheram a moeda de Frakfurt, o Parlamento de Estrasburgo, a Comissão NÃO eleita de Bruxelas, o grupo armado terrorista/fascista do Atlântico Norte, eo tiro nos pés que são as sanções ilegais.
      Assim, a Europa não tem futuro.

  5. Não percebo !
    Não percebo que pessoas com responsabilidades políticas como uma Ana gomes, que quis mesmo ser presidente de um país, possa continuar (porque o faz desde o principio do conflito) a apelar à guerra de forma agressiva e despudorada…
    Não percebo que jornalistas como uma Fernanda Cancio que conheci lutadora, interrogadora das verdades oficiais, defensora dos emigrantes e das minorias étnicas, possa ter caído na versão oficial americana sem sequer se preocupar com opiniões fundamentadas de jornalistas que estão efectivamente no terreno …
    Não percebo que quem quer que veja uma Ursula Van der Leyer fazer um circo quando anuncia a recolha de mais e mais dinheiro, como se estivesse num leilão ( para gastar em armas que sabemos hoje estão a ser vendidas na dark net ) não fique chocado/a com a frieza e o discurso sinistro desta mulher.
    Não percebo como é que pessoas que já eram adultas nos tempos da grande mentira que foi o Iraque, voltem a acreditar na boa vontade da política externa americana.
    Não percebo como é que pessoas que tem obrigação de estarem informadas, passam alegremente ao lado das constantes e documentadas exibições da extensão do nazismo ucraniano (Zelenski frequentemente acompanhado por soldados que tem os símbolos bem cozidos nos uniformes que usam já para não falar do que já se passava antes da guerra quando eram erigidas estátuas a bandara por tudo o que era sitio)
    Não percebo que gente adulta e informada ponha em duvida a opinião de pessoas que efectivamente estão aptas a comentar uma guerra de um ponto de vista estratégico (como os generais ditos “putinistas” ) por terem participado nelas nas várias missões que integraram.
    Não percebo que gente séria e inteligente não perceba a absoluta incongruência da ascensão de Zelenski ao poder…
    Não percebo o mundo em que vivemos em que se fala de guerra como quem fala de futebol, em que se acha normal punir um povo inteiro pelas acções de um governante em nome da democracia…(esquecendo convenientemente que os portugueses foram recebidos por esse mundo fora quando vivíamos em ditadura e pior, quando fazíamos o nosso próprio Vietnam em Africa…
    Não percebo as pessoas que pretendem que o mundo é preto ou branco, com bons e maus sem sequer tentarem perceber as nuances da historia…
    Não percebo que não choque ninguém a absoluta falta de contraditório a que estamos condenados, ou as hordas de boots que pululam nos comentários com as mesmas respostas tipo “estás a ser pago pelo Putin”
    Não percebo que se acredite na verdade oficial do “estamos todos contra a russia quando apenas 15 ou 20% da população mundial acedeu a implementar sanções a esse país. Aliás, este é talvez o único ponto que percebo, o nosso unbiguismo histórico que nos faz acreditar que somos de facto, a par com a America, o centro do mundo civilizado.

    Por vezes parece-me tudo tão grotesco que quero acreditar que um dia vou acordar e as coisas terão mudado…mas os meses vão passando e vejo as mesmas pessoas, com os mesmos discursos, com o mesmo palco e aí sim, fico mesmo deprimida !

    Desculpem o desabafo mas às vezes é preciso exorcizar…

    Saúdo o trabalho deste blog que tem mostrado uma coragem admirável ao nadar contra a corrente.

    • Um abraço, Maria, por seres mulher, teres a coragem de confessar que não percebes, mas teres encontrado as palavras necessárias que talvez ajudem outros a perceber. Obrigado.

      • Obrigada! Para mim foi verdadeiramente uma maneira de expressar a minha incompreensão já que… é difícil encontrar interlocutores no meu círculo. Estou farta da pergunta” mas estás pelo Putin?”. Assim como da agressividade e impermeabilidade decorrentes.
        Agradeço a atenção!
        Já agora, nota alguma inversão de pensamento? De forma geral ? Quero dizer, acha que as pessoas estão a acordar?

  6. Pingback: Não percebo! ~

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