Ó Daniel, que sova, aguentas-te?

(Por Carlos Marques, 01/09/2022)


(Este texto resulta de um comentário a um discurso que publicámos de Daniel Oliveira ver aqui. Pelas questões que levanta e com as quais se debate a esquerda, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.

Estátua de Sal, 02/09/2022)


«Nunca lidarei bem com o moralismo agressivo dos convertidos».

Diz o fã #1 do Zelensky, que tanto atacou o PCP quando o partido recusou, e muito bem, ouvir o chefe da Nazilândia no Parlamento Português, após já ter ido falar ao Parlamento Grego e mostrar um vídeo de um Nazi de Azov.
De repente era Daniel o moralista, e o PCP o amoral. Já se esqueceu… Mas eu lembro bem demais!

«Nunca significou um apoio a todas as posições do PCP, que incluíram conivência com algumas ditaduras».

Foi escrita do Daniel, ou exigência editorial do irmão Costa, deixar de fora a parte final óbvia deste parágrafo: com exceção do BE/Livre/PAN, os TODOS os restantes partidos do Parlamento Português também têm historial nesta conivência com algumas ditaduras e, pior, com invasões/guerras que destruíram países inteiros.

«Não tinha grandes razões de queixa do tratamento mediático desde a chegada de Jerónimo de Sousa à liderança. Não tem grande espaço no comentário».

Como se os sucessivos comentários com o PCP de fora, e os IL/CDS/Ch em grande destaque não fosse uma coisa má, uma manipulação da perceção, uma caça ao voto não-oficial, e um ataque descarado ao PCP, e acrescento, ao BE, e PAN. Curiosamente, o Livre/Tempo de Avançar teve mais representação sozinho durante vários anos do que estes partidos todos juntos: Daniel Oliveira, Ana Drago, Rui Tavares, só para referir a troika principal.

«Não há um documento oficial ou uma declaração do secretário-geral – que vinculam o partido – que reconheça a invasão. E que a trate como um ato contra a autodeterminação de um povo, sem responsabilizar imediatamente a Ucrânia e os EUA por isso. Só que, no que toca a invasões militares criminosas, ilegais e imorais, o PCP não é um estreante».

Chama-se factos. O Daniel pelos vistos aderiu à pós-verdade do regime da NATO. A invasão foi o que a ditadura ucraniana fez contra o povo do Donbass, por 3 vezes. Acto contra a autodeterminação de um povo, é o que o Ocidente fez à Catalunha, e continua a fazer à Crimeia, neste caso Daniel incluído. E se o Dia D não é uma invasão criminosa, ilegal, e amoral, então a intervenção militar da Rússia para travar a agressão Nazi contra o povo do Donbass, também não é. Antes, o Daniel era um comentador de esquerda interessante. Hoje, não passa de um idiota útil do Pentágono. E este parágrafo prova isso mesmo.

«PSD e CDS não se limitaram a apoiar a criminosa, ilegal e imoral invasão do Iraque. Envolveram Portugal nessa aventura.»

Muito interessante o deixar de fora o PS em relação a todas as outras operações criminosas da NATO em geral, e dos EUA em particular. O PS, quando chegou ao poder, recusou participar com as tropas portuguesas nessas invasões? Pois claro que não!

«Critico Jerónimo como critiquei Barroso e Portas. A sua posição é imoral, porque insensível aos valores da autodeterminação dos povos».

Para despistar os mais desatentos, começa por invalidar a equiparação do PCP com os fachos. Certo. Mas depois chega aqui e equipara a posição dos pró-paz do PCP com a dos NeoCon belicistas. É igualmente incomparável, mas se o reconhecesse, depois como é que o Daniel ia atirar a matar no PCP no mesmo texto que começa com o título que nos tenta enganar no sentido contrário? O Daniel, a mim, enganou durante muito, demasiado, tempo, mas já não me engana mais.

«Incoerente com o que os comunistas defenderam no Iraque».

O PCP defendeu a paz em ambos os casos. Criticou a agressão da NATO em ambos os casos. Condenou o imperialismo porco dos EUA em ambos os casos.

Mas mais uma vez o Daniel precisa da sua própria incoerência para chegar ao seu real objetivo: atirar a matar no PCP no mesmo artigo em que nos tentou convencer que ia defender a liberdade política/festiva do Avante e do partido.

Com que então, para este idiota útil do Pentágono, prestar ajuda ao povo vizinho do Donbass a partir de dia 24-Fevereiro com uma operação limitada na dimensão e território e cirúrgica (em que as 5 mil vítimas civis são devido aos crimes de guerra da ditadura ucraniana), já a ser bombardeado desde dia 16 de Fevereiro pelos NAZIS violadores dos acordos de PAZ de Minsk, é “equiparável” a inventar armas de destruição massiva e invadir um país inteiro no outro lado do Mundo, com bombardeamentos indiscriminados e matando direta e indiretamente um milhão de pessoas… Está tudo dito sobre a capacidade de raciocínio do Daniel. É idiota útil até dizer chega.

«EUA, NATO e a UE estão, excecionalmente, do lado do ocupado.»

Não. Não estão do lado do ocupado. Estão do lado do imperialismo que invadiu a Ucrânia desde 2014, derrubando uma democracia, e substituindo-a por um regime etno-naZionalista. Estão do lado de quem invadiu o Donbass, e ameaçou invadir a Crimeia. Estão do lado dos NAZIS. Estão do lado de quem prometeu que ia destruir a Rússia. Estão do lado do ódio. E nem sequer estão em graus semelhantes, pois os EUA são o Império, a UE é o seu vassalo financiador, e a NATO é o braço armado dos criminosos de guerra.

«Em que outros impérios resistam. Na realidade, o comunismo pró-soviético não combatia o imperialismo, escolhia um imperialismo contra outro.»

Aqui a lição que o Daniel merece já foi dada pelo Pacheco Pereira: só idiotas e ignorantes confundem o programa histórico com o programa atualmente activo. O PCP é anti-imperialista. Escolhe a autodeterminação dos povos contra TODOS os impérios. Oportunidade perdida para falar do imperialismo do €, do português, e de como é totalmente errado falar de imperialismo soviético. Os soviéticos nasceram contra o imperialismo russo. Deram autonomia a outros povos que nunca a tinham tido antes. Ajudaram em várias lutas pela independência e/ou anti-imperialistas em todo o globo. Cuba e o PCP não apoiaram o MPLA em nome de um “imperialismo”. Apoiaram-no em nome da luta contra o imperialismo português.

Se depois o Daniel confunde imperialismo com uma grande potência, se confunde imperialismo com a disseminação de uma ideologia, confunde imperialismo com a união de outros povos contra o imperialismo ocidental, isso só mostra os seus erros de análise logo à partida.

«Automatismo antiamericano, é um espelho fiel do automatismo pró-americano de quem determina a sua agenda política e moral pelos interesses circunstanciais da Casa Branca».

Mais uma frase, mais uma desonestidade intelectual. Como se estar do lado das regras, da paz, do anti-imperialismo, como se ser a favor da independência/autodeterminação, como se ser antiguerra dos EUA, anti invasão dos EUA, antifascismo dos EUA, anti-imperialismo dos EUA, anti interferência dos EUA, anticorrupção dos EUA, anti mentira dos EUA, etc, fosse um “espelho fiel” dos mete-nojo que defendem tudo o que o imperador Darth Sidious na Casa Branca defende.

Esta parte é tão, mas tão estúpida, que seria equivalente a dizer que o automatismo de autodefesa perante um agressor de violência doméstica, é o “espelho fiel” do automatismo do próprio agressor em impor a sua vontade pela violência. E eu que pensava que o Daniel não conseguia descer mais baixo em mais uma das suas “defesas” do PCP…

«Lições sobre a ditadura de Pequim».

É engraçado este termo em relação à China, vindo de um gajo que chama “democracia liberal” quer aos EUA, quer a Israel, quer à União Europeia.

«Nesta autossatisfação tribal, está a afundar estruturas necessárias para os tempos que se avizinham, como a CGTP.»~

Agora condenar a criminosa NATO e os agressores EUA, e os assassinos NAZIS, é ficar num “buraco de autossatisfação tribal”. Enfim…

«Tornou mais difíceis posições ponderadas sobre a guerra, que não se querem confundir com a sua amoralidade».

Imagine-se um gajo com uma posição completamente imponderada sobre esta guerra, como o Daniel, tentar dar lições de moralidade a quem defende a paz e critica os que provocaram a guerra.

E aqui vemos um exemplo claro do real trabalho do Daniel na imprensa mainstream: servir como a opinião “alternativa” que define o tamanho da Janela de Overton no debate político em Portugal. Até chegar ao Daniel, ainda é uma posição moral. À sua esquerda (PCP, BE) passa a ser “amoral”. Na teoria o termo é “unthinkable”. Mas este fica ainda melhor em tempos de guerra com imagens de criancinhas em Kiev a saudar o “heroico” batalhão Azov… depois de 8 anos (e principalmente aqueles dias entre 16 e 24 de Fevereiro de 2022) em que não se mostrou nada do que estes filhos da p*ta todos andaram a fazer no Donbass.

É para os interesses desses, EUA/NATO, NAZIS, ditadura de Kiev/Lviv, que a idiotice do Daniel é tão útil. Vá lá, acertou em cheio em todo o parágrafo sobre Mikhail Gorbachev. O Daniel mostra que até alguém como ele pode ser um relógio avariado… acerta duas vezes ao dia.

«O PCP é nostálgico da URSS (nenhuma novidade nisso)».

Aqui, um exemplo de “com a verdade me enganas”. Sim, o PCP fala muita vez de muitas das coisas boas da URSS. Sabem porque temos SNS, escola pública, pensões, salário mínimo, direitos laborais, etc? É graças à URSS, pelo que fez no seu território, e pelo que obrigou o capitalismo a fazer para não dar “ideias” aos povos nos seus regimes ocidentais.

Mas que eu saiba, e aqui até a direitolas Clara Ferreira Alves consegue ser mais intelectualmente honesta que o Daniel na sua omissão “por descuido”, o PCP é crítico do autoritarismo da URSS já desde o tempo de Álvaro Cunhal.

Isto que o Daniel fez, e este tipo sectário e ultraminoritário da esquerda está sempre a fazê-lo, é uma desonestidade argumentativa equivalente aos que chamam “saudosista de Salazar” a quem ainda hoje fala bem do Padrão dos Descobrimentos. São aquela esquerda muito “progressista” que quer demolir este monumento. Porque para eles, a história não se interpreta, a história demole-se, como se fôssemos o Estado Islâmico, ou pior, os países Bálticos…

«Invasões imperiais de países soberanos que custaram centenas de milhares de vidas».

Um simples erro factual, não foram centenas de milhares, foram milhões, entre mortes diretas e indiretas das consequências da destruição dos países, suas sociedades, e infraestruturas. Já para não falar das sanções ILEGAIS, autêntico terrorismo económico, que provoca miséria, fome, e morte também. Algo que o Daniel defende contra o povo Russo… A um comentador qualquer num blog ou numa rede social, perdoava-se o lapso no número. A um gajo que escreve num “jornal” e fala na TV, e é pago para investigar antes de dizer asneiras, é inaceitável.

«Não querem banir o PCP».

Ai querem, querem! Veja lá as declarações do ultra-NaZionalista ucraniano do Svoboda a dizer que não percebia como o PCP ainda estava legalizado, e a onda de apoio a esse NAZI dada por todos à Direita, e também por tantos Rosas e até alguns mais Livres… Aliás, é assim na ditadura ucraniana, a tal que serve de exemplo do “melhor” que o Ocidente tem para dar a outros povos que também se queiram defender da “agressão” Russa.

«Com tudo o que me separa do PCP».

Ah, isso sim. Esta frase é que não podia faltar. O tal Daniel, um autodenominado radical, a fechar a Janela de Overton. Ele é o Radical. Ouçam-no, para dar a sensação de pluralismo, mas não o sigam, e parem por ali. À sua esquerda está a “imoralidade”, o Unthinkable.

E assim, agora que abri os olhos em relação à real utilidade deste senhor, se desmonta a manipulação por trás do artigo que, pelo título, iria ser uma defesa do Avante, do PCP, e da Liberdade política, de pensamento, e de expressão. Vai enganar outros, Daniel, que a mim não me enganas mais.

O que eu não adorava pagar a este rapaz a viagem para o Donbass, para ele ir lá dizer aos invadidos, bombardeados, e assassinados, que os Russos que os foram salvar é que são os agressores, e que os NAZIS é que estão do lado da moralidade… Isso é que ia ser levar no focinho. Era só o que merecias, Daniel. Mais nada!

PS: e peço desde já desculpa a quem ler, e à Estátua de Sal, mas hoje precisava mesmo de destilar o ódio todo contra esta figura. É incrível as voltas que a vida dá, mas hoje tenho mais simpatia por um Coronel Douglas McGregor dos EUA cuja opinião comecei a ouvir recentemente, do que por um “camarada” que tantas vezes ouvi no passado.

Mas eu sou assim, não escolho as minhas simpatias consoante a ideologia, mas sim com base nos princípios, valores humanos, e respeito pelos factos e honestidade intelectual, que são definidos ainda antes da escolha da ideologia. Sem isso, a ideologia é apenas uma máscara em cima de um monte de esterco.

Hoje não tenho ninguém em quem votar em Portugal. E apesar de ideologicamente estar entre o Socialismo Democrático do BE, e a Social-Democracia demasiado Liberal da ala “esquerda” do PS, só tenho um partido merecedor do meu respeito: os Marxistas-Leninistas do PCP. Uma opinião criada desde que conheço a história do partido em Portugal, lutador pela Liberdade e construtor da Democracia. Uma opinião crescente à medida que fui conhecendo o programa atual ativo do partido. E uma opinião reforçada com as posições do PCP nestes 6 meses, até mesmo nos casos das discordâncias, pois tenho total capacidade para reconhecer que a divergência é apenas na conclusão.

Até a essa opinião chegar, quer eu, quer o PCP regemo-nos pelos mesmos princípios: factos, coerência, honestidade intelectual, contexto histórico. É com esta gente que tenho o prazer de discutir e discordar. Não é com idiotas úteis, ignorantes, mentirosos, mal-intencionados, fachos, e branqueadores de nazis.


Gosta da Estátua de Sal? Click aqui.

13 pensamentos sobre “Ó Daniel, que sova, aguentas-te?

  1. Subscrevo tudo. A “onda Daniel” já rebentou e esfumou-se. Como dizia o outro, “porque não te calas”, neste caso do Daniel, “porque não te dedicas à pesca” lu então “vai mas é trabalhar seu merdoso”

    • Obrigado pela subscrição. Eu percebo o seu ponto, mas não mando ninguém calar. Não sou o rei fascista de Espanha. Simplesmente deixo-os falar. Se falarem bem e eu concordar, dou os parabéns. Se falarem bem e eu discordar, entro na discussão com a mesma elevação. Mas se falarem mal, com desonestidade e de forma manipuladora, mando-os ao sítio que merecem. Neste caso, mandei-o ao Donbass, que é para variar, uma vez que a personagem em causa se queixa tanto de o mandarem a Cuba ou à Venezuela. E é um sítio onde eu também quero ir, para ajudar a economia local a re-erguer-se com o meu turismo. Assim haja paz. Quanto mais cedo, melhor. Tirando o cravo vermelho e a bandeira verde e vermelha da nossa República, nunca fui pessoa de usar símbolos, mas acho que vou abrir uma 3ª excepção e, quando lá for, vou comprar uma fita de São Jorge, e uma camisola do Shakhtar Donetsk, para poder usar no Ocidente quando fizer exercício físico sem ter de enfrentar os olhares acusatórios do fachedo e da idiocracia… Vai ser a 1ª camisola de um clube de futebol que compro em toda a vida.

  2. Um texto esclarecedor da mentira dos mercenários comentamerdosos aplicado a um caso concreto. Diz-se que nas situações de ruptura é que se vêm os princípios. O que se diz é que DO andou a enganar meio mundo e a receber por isso. Eu topo-os ao longe quando não falam nas condições de vida dos trabalhadores e andam como avionetes a disfarçar as sua retóricas míopes, lá no alto nas núvens… Acha que DO vai aceitar as suas observações e corrigir-se podendo perder as mordomias que lhe chegam, talvez, da embaixada ?

    • Eu acho que quem tem princípios também se pode enganar. E quem é intelectualmente honesto e usa a lógica no seu raciocínio, também pode mais tarde ou mais cedo corrigir os seus enganos.

      No caso do Daniel Oliveira, já andei iludido demasiado tempo de que ele poderia ser destas pessoas.
      Mas o ataque que ele fez ao PCP (e que me fez tomar a decisão de nunca mais ver o Eixo do Mal) aquando da recusa do Zelensky discursar no Parlamento Português (depois da pouca-vergonha que fez no Parlamento Grego, e que o Daniel omitiu), mudei de ideias.

      Tal como desabafei no meu comentário publicado pela EstátuaDeSal (obrigado pelo destaque, já agora, é de facto um debate urgente nas Esquerdas), o Daniel Oliveira tem uma função específica na imprensa mainstream, e quando deixar de ter essa função, deixa de ter emprego. Porque outra razão uma imprensa dominada pelo Facho-Capitalismo o está sempre a convidar para comentar aqui e ali, desde SIC N, Expresso, Canal Q, etc?

      Ele serve só para manter a aparência de pluralismo, e para fechar a tal Janela de Overton. No dia em que defender uma posição dura, como a decência exigiria, contra o Apartheid de Israel, e em pleno tempo de antena da SIC (o canal mais Israelita de Portugal) chamar ditadura genocida em vez de “democracia liberal que se defende de terroristas”, o Daniel deixa de receber o cheque na semana seguinte.

      No dia em que ele disser que é crítico da NATO, tudo bem, pois está lá só 1 no meio de 4 a dar a tal noção de “pluralismo”, quando na realidade a percepção que passa é a de que essa posição é radical e minoritária, é para o Pedro e a Clara e o Nuno se rirem um bocadinho, ou para o José, o Francisco e o outro Pedro também mostrarem os dentes no outro programa.
      Mas no dia em que ele defender os princípios quando realmente interessa, como você muito bem disse, nesse dia a sua função de colaborador é terminada pelo irmão Costa.

      E repare noutra coisa, apesar de saber que a Esquerda tinha toda a razão nas reivindicações que fez sobre o SNS em Outubro de 2021, o Daniel passou 4 meses, todas as semanas, a repetir esta frase: “a Esquerda vai ser penalizada”. Isto é a mesma coisa que ele fez neste texto. Dá a ideia que vai defender, mas na realidade só lá está para dar a machadada final. O Daniel a dizer 16 semanas seguidas “a Esquerda vai ser penalizada” pesa muito mais do que qualquer crítica dos outros que lá estão, também cada um na sua função, que não vou analisar agora.

      Quem comete tanto erro, e ataca tão vil quem defende a PAZ, chamando-lhe até “amoralidade”, não tem emenda. Continuará a dizer o que for preciso para pagar as contas.
      É a isto que alguns chamam de “fascismo soft”. É a censura através do livro de cheques, ou recibos verdes, sem necessidade de uma PIDE com lápis azuis. Não é preciso a GNR a apreender o Avante, e a prender quem o imprime, quando se tem uma exército de Danieis Oliveiras em prime time.

      Por isso repito o que já disse ao pessoal do PCP, BE, e até alguns ingénuos que foram atrás do Livre: o “Avante” no século XXI não se faz em papel. Faz-se na TV. Se a Esquerda não junta esforços para ter uma TV alternativa ao lado dos canais da pouca-vergonha, então já perdeu a guerra comunicacional logo à partida. Como estamos a ver de forma assustadora, não há liberdade de imprensa em Capitalismo. Há apenas a aparência dessa suposta liberdade. E para a esmagadora maioria dos cidadãos comuns, distraídos, cansados, ou impreparados, isso é mais que suficiente para fazer o rebanho seguir o lobo.

      E enquanto o rebanho segue o lobo, enquanto o lobo passa o cheque ao idiota útil, e enquanto o idiota útil mantém o rebanho dentro da cerca “certa” (a tal Janela de Overton), tudo continua na mesma. Até ao dia em que os insatisfeitos e descrente no sistema sejam em nº suficiente para deitar abaixo esse regime. Ou o poder volta a “cair na rua”, ou o poder vai continuar nas penthouses de Davos. Não há meio caminho aqui.

      «Eu topo-os ao longe quando não falam nas condições de vida dos trabalhadores»
      – e aqui é que está o brilhantismo de pessoas na função do Daniel Oliveira. Estão lá para falar disto, para nos distrair, enquanto passam à maioria a percepção de que eles são a posição minoritária (no meio de painéis onde os outros 3 defendem o contrário, ou numa lista de opinadores de “jornal” onde só o Daniel diverge para este lado). Depois de passada essa percepção, lá vem a frase chave (uma chave que fecha a tal Janela de Overton) a dizer que ele está longe do PCP/CGTP, ou a chamar “amoral” a quem defende a paz, ou a dizer que a defesa do SNS vai fazer o BE “ser penalizado”.

      Os 3 momentos que me fizeram abrir os olhos em relação ao Daniel Oliveira, e a sua função de colaborador do Facho-Capitalismo:
      – quando a Clara olhou para ele no Eixo do Mal e disse: “mas tu és da Esquerda aceitável, não és como a Extrema”
      – quando em poucos dias chamou “ditadura” à Hungria, e depois “Democracia Liberal” a Israel
      – e agora, quando ataca raivosamente a posição pró-Paz do PCP, lhe chama amoral, e defende que o Presidente dos Nazis fale no Parlamento Português por altura do 25-de-Abril, depois do que ele se atreveu a fazer no Parlamento Grego (mostrar vídeo de um Nazi do Batalhão/Regimento Azov).

      Houve também outro momento que me deixou a pensar, embora seja uma situação menos óbvia: quando defendeu que foi um erro em Portugal “deixar” que tanta gente tenha casa própria (pois isso teria levado ao investimento excessivo num sector menos sustentável como a construção civil, e ao endividamento das famílias), em vez de ter mais gente a pagar rendas aos proprietários dos prédios… É uma posição de “Esquerda” do caraças… E depois percebi melhor quando disse que ele tem duas casas, vive numa e arrenda a outra. Ou seja, ele pode ter duas, os outros terem sequer uma é que é um “erro”…
      It’s the housing market, stupid!

      • Quero eu dizer, e concluir, com este último parágrafo, que os valores do Daniel Oliveira, pelo menos pelo meu ponto de vista de quem o leu e ouviu até fartar, são apenas os valores da Carteira e do Umbiguismo. Ele defende o que for melhor para si. Se for melhor para ele dar uma facada a quem defende a Paz, e dar um beijinho a quem mata pessoas no Donbass, é exatamente isso que ele fez, faz, e vai continuar a fazer.

        Ou seja, é o oposto de um Bruno Amaral de Carvalho, um valente, corajoso, ser humano extraordinário, que coloca o seu ganha pão em risco, em nome de continuar a fazer o seu trabalho: investigar a realidade, e expor os factos, com toda a melhor deontologia de que o real jornalismo é capaz.

        Defender princípios já me custou um emprego numa empresa do grupo Alphabet (da Google). Sei bem o que custa. Insurgi-me contra práticas fascistas de controlo e censura dos “colaboradores”, e repressão de qualquer tentativa de união ou revindicação de um pingo de direitos laborais. Fui franco contra a indignidade de ter de negociar o salário à jorna, aliás, ao minuto. Fui honesto quando à falta de produtividade causada por certos procedimentos da gestão. Indignei-me com o facto de receber um recibo verde, e ter de pagar IVA com esse salário, ao mesmo tempo que o patrão fazia ZERO descontos para a segurança social.

        Os que se calaram, continuaram a receber o cheque no final do mês. Eu deixei de o receber, mas fiquei de cabeça erguida, e quanto mais tempo passa, mais orgulhoso estou por ter defendido os meus princípios e valores. Mas não mudei nada. Sou um mero anónimo na sociedade. Por isso fiquei tão fulo com o Daniel, quando me apercebi do que ele (e outros) é na realidade. De como se vendem. De como desperdiçam o tempo de antena. Isso, eu não lhe perdoo.

        De um facho nada se espera. Sentimos apenas nojo, ou indiferença. Mas quando se espera muito de alguém, a desilusão é sempre maior, e dói. Foi por isso que lhe dei a tal “sova”, para que lhe doa um bocado a ele também.

        Eu podia aceitar, como aceito, posições diferentes. Aliás, a minha posição é diferente da do PCP. O que não posso aceitar, e isso tirou-me completamente do sério, é que um gajo como o Daniel chame “imoralidade” à defesa da Paz. Acho que nem o facho André Ventura alguma vez me causou assim tanta indignação. Lá está, do Daniel esperava alguma coisa, mas do facho nunca esperei nada.

        A EstatuaDeSal que me perdoe voltar a usar tanto espaço de comentário, mas o desabafo fez-me bem.

  3. Sr. Carlos Marques e os seus comentários: 30 valores em 20.

    Não há que se possa dizer, porque já foi tudo dito com precisão e síntese.

    Constantes lufadas de ar fresco na clareza de pensamento racional.

  4. É pá, hmm, pois. Na minha opinião, que nada vale, é um dos perigos do aburguesamento convencermo-nos que os outros também são pessoas sérias num sistema sério a procurar soluções com a maior das bondades. Se todos à volta no trabalho, ainda para mais um que envolve socialização constante, acreditam piamente no que lhes é transmitido e/ou nas suas intenções, acaba por entranhar-se. Está longe de ser o único a restringir a democracia liberal a não ser impedido de falar e ter propriedade.
    Não acho que seja por ser parvo, tem claramente muita leitura e contactos com quem não é valorizado. Convenceu-se é que o sistema de regras é a propaganda, e não as acções, e que é possível de ser mudado a bem, e acaba a defender a inconsequência e a não acreditar no pior. Que lhe sirva quando faltar água, comida e luz.

  5. Sr Carlos Marques,quanto a perder o emprego por princípios não é o único,e cada vez torna-se mais difícil defender princípios no mundo do trabalho onde reina o “deus dinheiro”..

    A maioria das pessoas no meio politico considera a desonestidade intelectual como modo aceite de vida na politica, como ‘mal necessário’ para se sobreviver politicamente. A honestidade intelectual, por outro lado, é considerada por muitos politicos como sinal de fraqueza, sim, como convite aos outros para se aproveitarem deles.

    Os que são honestos só porque “a honestidade é a melhor política” colocam a política na frente da honestidade intelectual e talvez descubram, às vezes, que a honestidade intelectual não parece ser a melhor política, e por isso talvez se sintam tentados de ser desonestos.

    “A honestidade intelectual é coisa do passado, e os que tentam ser honestos estão condenados ao fracasso.” — Stephen, EUA.

    A pressão para ser desonesto na politica intelectualmente exerce um poder muito grande. Os politicos e jornalistas,como comentadores televisivos são desonestos para tirar vantagens, mas honestamente o suficiente para se convencer da sua própria integridade. Para amenizar o seu conflito interno, eles minimizam ou justificam a desonestidade de muitas maneiras.

    Muitos chegam a dizer que é preciso ser desonesto para ser bem-sucedido.

    ‘Ser honesto neste mundo é ser um homem dentre dez mil.’ Assim escreveu William Shakespeare há mais de trezentos anos atrás. Desde então, o respeito das massas pela honestidade e seus valores não mostrou melhoras. Porque os politicos dão tão pouco valor à honestidade e os seus satélites?

    A maioria dos politicos e seus satélites não acham que tenha sentido dizer sempre a verdade. Muitos dizem que não poderiam ganhar eleições sem desonestidade. Diariamente vêjo propaganda que exagera ou descreve artigos que enganam as pessoas. Embora os líderes políticos tenham o sério encargo de cuidar do bem-estar geral do povo, a maioria acredita nas suas palavras ..

    Sem dúvida, estes exemplo têm muito a ver com o declínio da honestidade.

    Vemos desonestidade em todos os níveis da sociedade. Seja no governo, na ciência, nos desporto, na religião, ou nos negócios, a desonestidade parece fora de controle..
    Muitos que se comprometeram a servir aos interesses do povo são expostos como cuidando de seus próprios interesses. Os chamados crimes de colarinho branco tornaram-se generalizados. Cada vez mais pessoas da alta sociedade ou de bom poder aquisitivo cometem violações éticas e criminais sérias no exercício da profissão.
    Há uma preocupação crescente com o que uma revista européia descreve como “‘corrupção nas altas rodas’ — prática em que funcionários de alto escalão, ministros, e com muita freqüência, chefes de estado exigem dinheiro antes de aprovar compras de vulto e projetos grandes”. Num certo país, “dois anos de investigação e detenções quase que diárias não frearam os corruptos incorrigíveis”, declarou a revista britânica The Economist.

    A desonestidade tem ficado tão generalizada e tão sofisticada, que ameaça minar a própria estrutura da sociedade. Em alguns países, quase não se consegue nada sem ser desonesto. Quando se suborna a pessoa certa, consegue-se passar em exames, obter carta de condução, fechar um contrato ou ganhar uma causa jurídica.

    Por que preferem algumas pessoas ser corruptas em vez de honestas? Na maioria dos casos, ser desonesto pode ser o modo mais fácil, ou mesmo o único modo, de conseguirem o que querem. Muitos dos que observam políticos, parecem não fazer caso da desonestidade ou até mesmo a praticam apenas seguem o exemplo deles.

Leave a Reply to Um CidadãoCancel reply

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.