(Carmo Afonso, in Público, 04/07/2022)

Em erro de comunicação ninguém deve acreditar.
Erro de comunicação tem tanto valor como “erro informático” ou “querida, isto não é o que parece”. Pedro Nuno Santos (P.N.S.) poderia ter-nos dito que estava sem bateria enquanto ordenou aquele despacho ou que estava sem rede e que, dessa forma, não conseguiu falar com António Costa (A.C.). Era igual. Ninguém acredita aqui em erros desses.
Se não existiu o erro de comunicação que nos foi reportado, resta-nos não acreditar na literalidade das palavras de P.N.S., na tarde de quinta-feira, e fazer outra interpretação do que se terá ali passado.
Dias passaram e o caso de P.N.S. não faz sentido nenhum. Supostamente o ministro das Infraestruturas teve a iniciativa de ordenar e de tornar público um despacho, que versava uma das matérias mais importantes que o próprio tem em mãos, e um dos investimentos mais importantes para o país, sem consensualizar essa matéria com o primeiro-ministro.
A audácia de uma decisão dessas seria inédita. Se qualquer um de nós antecipa que nunca poderia correr bem, melhor o saberia P.N.S, político jovem mas experiente, e conhecedor da têmpera de A.C. e da importância da matéria para o país.
Por outro lado, se na véspera estava disposto, e a um ponto raramente visto, a desafiar A.C., porque no dia seguinte se encolheu e recuou daquela maneira? Será difícil de esquecer aquela imagem de P.N.S. do tamanho de um grão de areia. Se aceitou prestar-se àquele papel apenas para salvar a sua própria pele, e depois de inadvertidamente a ter arriscado, estamos conversados. Digo, que ato tão pouco digno.
Assistimos a um episódio do House of Cards sem nos darem a possibilidade de conhecer a parte mais fascinante e a que verdadeiramente interessa: a dos bastidores. Quem assistiu à série, e quem segue os meandros das dinâmicas da vida política, tem o instinto de desconfiar quando um episódio como o da semana passada acontece.
É altamente improvável que P.N.S. tenha ordenado um despacho com uma decisão tomada à revelia do primeiro-ministro. Mas se A.C. tinha conhecimento da decisão, porque reagiu assim no dia seguinte? Terá A.C. percebido que uma decisão tão importante não deveria ter passado para o domínio público daquela maneira imprópria e decidiu distanciar-se dela? Terá reflectido melhor na gravidade de não terem incluído Marcelo Rebelo de Sousa (M.R.S.) no processo? Ou terá pretendido diminuir P.N.S. como efetivamente conseguiu?
O exercício aqui é encontrar o Frank Underwood (personagem estratega, e maléfica, da série House of Cards, desempenhada por Kevin Spacey) deste enredo.
A P.N.S. as coisas dificilmente podiam ter corrido pior. Se foi ele o Frank Underwood, deveremos recomendar-lhe que não volte a tentar a sorte. Se foi o causador do enredo, foi o seu pior inimigo e o seu próprio coveiro. E uma demissão, do ponto de vista do capital político imediato, teria sido mais proveitosa. Que grande desastre. É por isto que não coloco as minhas fichas em P.N.S..
A.C. também é candidato a Frank Underwood. Numa narrativa em que não conhecia o teor do despacho, mostrou bem a força da sua barbatana. Saiu reforçado. Pelo caminho ainda reduziu a pó aquilo que, no P.S., parece o início da oposição à sua liderança e a ala esquerda do partido.
Mas fica por explicar o que só poderia significar uma tremenda falha de carácter. Conhecer o teor do despacho e, por sua iniciativa, demonstrar o seu contrário. Ser ele a determinar que P.N.S se demitisse, ou que fosse imolado como o cordeiro de Deus que tira o pecado do Governo, e por razões injustas. Esta versão dos factos é difícil de engolir. Não tenho A.C. em tão fraca conta.
Temos um terceiro candidato: Marcelo Rebelo de Sousa (M.R.S.), que, sem sujar as mãos, ficou como a entidade que, quando não é tida nem achada em assuntos que deveria ser, sangue começa a escorrer e cabeças rolam no asfalto. M.R.S. não pode ser excluído de Frank Underwood. Pode ter puxado o travão de mão a A.C., enquanto enfiava os calções de banho azuis na mala para o Brasil, e exigido demissões ou aquilo a que assistimos.
Este assunto não é menor. Ficámos suspensos no que parecia apontar para um ato audacioso de P.N.S, e na sua brutal demissão, mas acabámos por vê-lo terraplanado e amansado. Não sabemos se foi apenas um cobarde ou se teve a coragem de passar pelo que vimos e o espírito de sacrifício de zelar pela continuação do seu trabalho.
Também continuamos sem saber o que vai acontecer ao aeroporto da Portela, se se avança para a construção do aeroporto do Montijo e se haverá um terceiro aeroporto, onde e em que termos.
Temos direito a elaborar teorias. Até teríamos direito à verdade dos factos, que não nos é apresentada. É certo que não damos a cada tema mais do que dois dias de atenção. Facilitamos o procedimento de quem nos trata assim.
Nunca compreendi porque se quer construir um aeroporto novo,quando o objectivo das elites de davos,é acabar com o turismo de massas,fim de viagens de avião,etc,etc,por causa do pouco petroleo que existe na terra..
Se o JP Morgan anuncia a possibilidade de um valor louco de petróleo de 380 dólares, não estamos a ser preparados para um desastre económico?
Compreender que não haverá mais petróleo para todos, e a globalização exige um modelo económico que depende de uma abundância de energia barata. Esta é também uma forma diferente de ver o que está a acontecer agora.
As informações sobre as reservas reais descobertas e sobre o que resta nos campos de petróleo e gás em funcionamento situam-se ao nível dos “segredos de defesa” (e segredos comerciais) que condicionam a avaliação das companhias petrolíferas e as possibilidades dos países em causa de fazerem investimentos baratos para uma produção futura há muito esperada.
Se não houver nada no fundo dos poços: nenhum futuro …….
Isto é o que a maioria dos países produtores de petróleo enfrentam nos próximos 3 a 7anos.
Lê-se frequentemente que as reservas mundiais reais de petróleo e gás são cerca de metade do que é anunciado !!!?? ……
Se eu escrevesse para um jornal, e se fosse pago à linha, também era capaz de digitar um texto assim extenso para abordar um caso que a mim pelo menos me parece claro como água.
É assim:
A obra estava quase de certeza aprovada em Conselho de Ministros e prevista para avançar, mas entretanto o Costa terá sido avisado, provavelmente por Bruxelas, que a tal famosa “bazuca” anti-covid está com problemas de munição. Realmente com a inflação como está, é capaz de não ser muito avisado imprimir mais uma batelada de milhões de euros.
( De onde é que vocês pensam que iam sair os tais fundos de recuperação económica? Obviamente, de onde saem sempre, de uma impressora nas oficinas do BCE. É tão bom viver de dinheiro falso. )
Pensando melhor, não é muito provável que nos próximos anos haja muito dinheiro na Europa para passear. Não há passeatas, não há turismo. Logo, não há necessidade de novo aeroporto. E consequentemente, não há tachos para os magnatas do cimento armado. Temos pena.
E depois terá havido uma “falha de comunicação” no sentido do Costa para o seu infeliz ministro, que muito amavelmente aceitou arcar com as culpas. Que remédio, caso contrário lá se ia o próprio tacho.
Simples assim.
Quando só existe uma explicação racional para um dado facto, ela é quase de certeza a explicação verdadeira.
Boa teoria… 🙂
Carminho, querida, isto não é o que parece………………………
A política é a porca (já se disse)
Andam aqui negociatas e o mexilhão é que se ……
Especulação, especulação e ainda mais especulação, com uma dose moderada de erudição cinéfila à la Américain, assim como um pretensiosismo analítico à boa maneira de leftista liberal contemporâneo.
(Perdão pelo íncio atribulado)
É isto o que passa por seriedade. Especular, atirar postas de bacalhau ao ar e ver se caem dentro do balde, como previsto pela nossa bola de vidro em segunda mão que temos empoeirada e baça na arrecadação.
Não há factos. Não há análise de nada. Há verborreia política e cronística desnecessária.
Não falo da “polémica” que existe para entreter o pessoal. Tenha havido seja que problema for, não é esse o problema – apesar de haver um problema.
Falo do artigo em si que, honestamente e pessoalmente, não me parece acrescentar nada de essencial ao debate público, a não ser umas quantas referências superficiais a séries americanas, tal como perder tempo a discutir – indireta e inconscientemente – se a economia portuguesa deve estar dependente da construção dum aeroporto que é planificado e projetado há 30/40 anos (segundo um artigo do mês passado de MST, pelo que me recordo).
Parece que ainda não houve debate suficiente em comissões parlamentares ou a escuta de opiniões “científicas” em abundância que chegasse.
Chame-se o Portas, que ele, com meia dúzia de gráficos, arruma o assunto num ápice.
Enquanto isso, a semana passada (1 de Julho), no AbrilAbril questionava-se o porquê dos agricultores portugueses estarem há meses para sequer receberem apoios que já estão devidamente consignados (pelo PAC), mas que ainda não alcançaram as pessoas visadas por causa duma frivolidade como uma questão de inscrição (que não foi culpa dos agricultores) num mecanismo que serve para a atribuição dessas “ajudas” a que os pequenos e médios exploradores têm e já tinham direito antes da confusão!
Mas como Portugal é país provinciano cosmopolita, discute-se um aeroporto há 4 décadas e, pelo andar da coisa, nem com mais duas de discussão o projeto avança.
Constituam-se as comissões… Contratem-se os consultores externos…
Enquanto isto, continua a meter-se na cabeça das gentes que o importante para Portugal é continuar a investir no turismo de massas, pois a oferta de terrenos no Alentejo a espanhóis vai enriquecer-nos, ou ainda para ingleses verem a morosidade do processo de indecisão entre peixe ou carne no almoço da Assembleia da República.
Enquanto isso, os Agricultores e outros que tais tramam-se.
Comentários excelentes são tanto os de André Campos como os do Sr. José Neto acima, que abordam questões muito mais importantes e pertinentes do que o mero “atirar achas” para a fogueira da controvérsia política sem se basear em factos tangíveis, sem chamar à atenção para coisas verdadeiramente importantes e sem apresentar soluções para a resolução efetiva dos problemas para além do simples jogo do “Who is who ?” da “responsabilidade” política.
E, se o caso não faz sentido nenhum, é porque se calhar o melhor é ignorá-lo inteiramente, uma vez que pode ser uma simples forma de propagandear ainda mais o pessoal contra ou a favor de uma conjuntura política, não focando, assim, em coisas verdadeiramente importantes – já para não dizer que em Portugal as coisas fazem-se devagar, basta esperar dez anos e lá saberemos o que se passou.
Melhor ficar à espera do que andarmos à bulha a acusar tudo a torto e a direito para, no final, descobrirmos que não foi nada do que esperávamos!
Entretanto, já devem estar a montar a costumada “comissãozinha” parlamentar para averiguar quem é que não enviou a mensagem a quem.
Ainda se fosse uma coisa como Von der Leyen vs. CEO da Pfizer, vá que não vá.
É que isso, vá, até foi uma irresponsabilidade tremenda.
Agora, P.N.S. vs. A.C não tem charme, não tem atrativo e não tem o “élan” que justifique tamanha atenção mediática de novela das nove para descobrir quem foi o traído e quem traiu, assim como a discussão da custódia do Projeto Filial, a não ser uma tentativa da direita portuguesa, acordada estremunhada com o estrondo da iminente e segura controvérsia – e da abertura do portal para o “Poder” – filar-se a qualquer coisa para recuperar a relevância desboroada por anos de revoadas de idiotas – e para tirar eleitores ao Chega (todos a bordo do SS Populismo!)
Por outro lado, um aeroporto que mandaram construir, mas que pelos vistos não era para ser construído e, ao fim de 40 anos, vai continuar por construir, qual é o problema, ao certo ?
Esperem-se mais 20, nós demoramos o nosso tempo a fazer as coisas!
Ainda se fosse para as fazer bem! Mas depois não havia justificação para atribuir as sinecuras àqueles que vêm “resolver” os problemas anos mais tarde depois da coisa concluída.
Enquanto isso, os liberais esquerdistas vão berrando algumas asneiras ofendidas contra… Quem, ao certo ?
Venham mais 4 décadas de aeroportos…
Socorro! Não posso mais!