A guerra na Ucrânia marca o fim do século americano

(Mike Whitney, in UNZ, 07/06/2022, Trad. Estátua de Sal)

“A ferocidade do confronto na Ucrânia mostra que estamos a falar de muito mais do que do destino do regime de Kiev. A arquitetura de toda a ordem mundial está em jogo. (Sergei Naryshkin, Diretor de Inteligência Estrangeira).

Eis o pensamento do dia sobre a “moeda de reserva”: cada dólar americano é um cheque passado sobre uma conta com um saldo negativo de 30 triliões de dólares.

É isso mesmo. A “plena fé e crédito” no Tesouro dos EUA é, em grande parte, um mito mantido por um quadro institucional que repousa sobre fundações de areia. Na verdade, o dólar não vale o papel em que é impresso; é um IOU (isto é uma promessa de pagamento, “I Owe You”) a lutar num mar de tinta vermelha. A única coisa que impede o dólar de desaparecer no éter é a confiança das pessoas ingénuas que continuam a aceitá-lo como moeda legal.

Mas porque é que as pessoas mantêm a fé no dólar quando as suas falhas são do conhecimento geral? Afinal, os 30 triliões de dólares da dívida nacional americana não é segredo, nem os 9 triliões de dólares adicionais acumulados no balanço do FED. É uma dívida furtiva que o povo americano desconhece completamente, mas pela qual é, no entanto, responsável.

Para responder a esta pergunta, precisamos de ver como o sistema capitalista funciona realmente e como o dólar é apoiado pelas muitas instituições que foram criadas após a Segunda Guerra Mundial. Estas instituições gerem o ambiente necessário para a fraude mais longa e mais flagrante da história – a troca de bens manufaturados valiosos, matérias-primas e trabalho árduo por pedaços de papel verde impressos com presidentes mortos. Só podemos maravilhar-nos com a genialidade das elites que inventaram este esquema e depois o impuseram às massas sem um grito de protesto. Naturalmente, o sistema é acompanhado por vários mecanismos de aplicação que eliminam rapidamente qualquer pessoa que tente libertar-se do dólar ou criar outro sistema. (Lembro-me logo de Saddam Hussein e de Muammar Gaddafi). Mas o facto é que – para além do quadro institucional e do extermínio implacável dos opositores ao dólar – não há razão para a humanidade permanecer apegada a uma moeda que está enterrada sob uma montanha de dívida e cujo valor real é praticamente desconhecido.

Mas nem sempre foi assim. Houve uma época em que o dólar era a moeda mais forte do mundo e merecia o seu lugar no topo. Após a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos eram “o dono da maior parte do ouro do mundo”. É por isso que uma delegação internacional “decidiu que as moedas do mundo já não estariam ligadas ao ouro, mas poderiam estar ligadas ao dólar americano”, porque o dólar americano estava, ele próprio, ligado ao ouro. Sobre o tema, eis um artigo da Investopedia:

“O acordo ficou conhecido como o Acordo de Bretton Woods. Estabeleceu a autoridade dos bancos centrais para manter taxas de câmbio fixas entre as suas moedas e o dólar. Em troca, os Estados Unidos comprariam de volta os dólares americanos, pagando em ouro.

O dólar americano foi oficialmente adotado como a moeda de reserva mundial e foi apoiado pelas maiores reservas mundiais de ouro devido ao Acordo de Bretton Woods. Em vez de reservas de ouro, os outros países passaram a acumular reservas em dólares americanos. Precisando de um local para guardar os seus dólares, os países começaram a comprar títulos do Tesouro americano, que viam como uma reserva de dinheiro segura.

A procura de títulos do Tesouro, juntamente com os gastos deficitários necessários para financiar a Guerra do Vietname e os programas internos da Grande Sociedade, levaram os EUA a inundar o mercado com papel-moeda…

Tal foi a procura de ouro que o Presidente Richard Nixon foi forçado a intervir e desvincular o dólar do ouro, criando-se o sistema de às taxas de câmbio flutuantes que existe hoje. E embora tenha havido períodos de estagflação, definidos como inflação elevada e desemprego elevado, o dólar americano tem permanecido a moeda de reserva mundial.” (Ver aqui o artigo original da Investopedia).

Mas hoje, o ouro desapareceu e o que resta é uma pilha fumegante de dívidas. Então, como é que o dólar conseguiu manter o seu estatuto de moeda proeminente do mundo?

Os apoiantes do sistema do dólar dirão que tal tem algo a ver com “o tamanho e a força da economia dos EUA e o domínio dos mercados financeiros”. Mas isto é um disparate.

A verdade é que o estatuto de moeda de reserva não tem nada a ver com o “tamanho e força” da economia americana pós-industrial, orientada para os serviços, impulsionada por bolhas, com traços merdosos de economia do terceiro mundo. Também não tem nada a ver com a suposta segurança dos títulos do Tesouro dos EUA que – ao lado do dólar – são o maior esquema de Ponzi de todos os tempos.

A verdadeira razão pela qual o dólar continuou a ser a principal moeda mundial é a cartelização dos bancos centrais. Os bancos centrais ocidentais são um monopólio, de facto, dirigido por uma pequena cabala de corredores de fundo que coordenam e conluiam a política monetária a fim de preservar o seu domínio maníaco sobre os mercados financeiros e a economia mundial. É uma Máfia Monetária e, como George Carlin disse: “Tu e eu não fazemos parte dela. Tu e eu não estamos no clube grande. Em resumo: É a manipulação implacável das taxas de juro, previsões e flexibilização quantitativa (QE) que tem mantido o dólar no seu alto mas imerecido pedestal.

Mas tudo isso está prestes a mudar, inteiramente devido à política externa imprudente de Biden, que está a forçar os principais atores da economia global a criarem o seu próprio sistema rival. Esta é uma verdadeira tragédia para o Ocidente, que beneficiou de um século de extração ininterrupta de riqueza do mundo em desenvolvimento. Agora, devido às sanções económicas impostas à Rússia, está a surgir uma ordem inteiramente nova em que o dólar será substituído por moedas nacionais (tratadas por um sistema de liquidação financeira independente) em acordos comerciais bilaterais, até ao final deste ano, quando a Rússia lançar uma moeda apoiada por mercadorias para utilização pelos seus parceiros comerciais na Ásia e África. O roubo em Abril das reservas da Rússia no estrangeiro deu início ao atual processo, que foi ainda mais acelerado pelo banimento da Rússia nos mercados internacionais. Em suma, as sanções e boicotes económicos dos EUA expandiram a zona não-dólar em várias ordens de magnitude e forçaram a criação de uma nova ordem monetária.

Quão estúpido não é tudo isto? Durante décadas, os Estados Unidos têm gerido um esquema em que trocam a sua moeda de embrulhar peixe por coisas de valor real (petróleo, bens manufaturados e mão-de-obra). Mas agora a trupe de Biden abandonou completamente este sistema e dividiu o mundo em diferentes campos.

Mas porquê? Para castigar a Rússia, certo? Sim, é isso mesmo.

Mas se for esse o caso, não deveríamos tentar descobrir se as sanções realmente funcionam, antes de mudarmos imprudentemente o sistema?

É demasiado tarde para isso. A guerra contra a Rússia já começou e os primeiros resultados já estão a ser sentidos. Basta olhar para a forma como destruímos a moeda russa, o rublo. É chocante! De acordo com um artigo da CBS:

O rublo russo é a moeda com melhor desempenho do mundo este ano“…

Dois meses após o valor do rublo ter caído para menos de um cêntimo de dólar, devido às sanções económicas mais rápidas e mais severas da história moderna, a moeda russa registou uma recuperação espantosa. O rublo saltou 40% em relação ao dólar desde Janeiro.

Normalmente, um país que enfrenta sanções internacionais e um grande conflito militar vê os investidores a fugir e o capital sair constantemente, provocando a queda da sua moeda…

A resiliência do rublo significa que a Rússia está parcialmente protegida das sanções económicas punitivas impostas pelas nações ocidentais após a sua invasão da Ucrânia… ” (Ver o artigo da CBS NEWS aqui).

O quê? Quer dizer que o ataque ao rublo afinal não resultou de todo?

Parece que não. Mas isso não significa que as sanções sejam um fracasso. Oh, não. Basta olhar para o efeito que tiveram sobre os produtos russos. As receitas de exportação estão a cair, certo? Aqui está mais informação da CBS:

Os preços das mercadorias estão muito elevados neste momento, e embora os volumes de exportação russos tenham caído devido a embargos e sanções, o aumento dos preços das mercadorias está mais do que a compensar estes declínios”, disse Tatiana Orlova, economista sénior de mercados emergentes da Oxford Economics.

A Rússia ganha quase 20 mil milhões de dólares por mês com as suas exportações de energia. Desde o final de Março, muitos compradores estrangeiros têm cumprido a exigência de pagar a energia em rublos, aumentando o valor dessa moeda” (Ver o artigo da CBS NEWS aqui).

Está a brincar comigo? Quer dizer que o rublo está a subir e Putin está a ganhar mais dinheiro do que nunca em matérias-primas?

Sim, e o mesmo se aplica ao excedente comercial da Rússia. Veja este extrato de um artigo no The Economist:

“As exportações da Rússia… aguentaram-se surpreendentemente bem, incluindo as exportações para o Ocidente. As sanções não estão a impedir que as vendas de petróleo e gás para a maior parte do mundo continuem ininterruptamente. E a subida dos preços da energia aumentou ainda mais as receitas.

Como resultado, os analistas esperam que o excedente comercial da Rússia atinja níveis recorde nos próximos meses. O Instituto de Finanças Internacionais estima que até 2022 o excedente da balança corrente, que inclui comércio e alguns fluxos financeiros, poderá atingir 250 mil milhões de dólares (15% do PIB do ano passado), mais do dobro dos 120 mil milhões de dólares registados em 2021. Vistesen diz ser dececionante que as sanções tenham aumentado o excedente comercial da Rússia, e assim ajudado a financiar a guerra. A Ribakova acredita que a eficácia das sanções financeiras pode ter atingido os seus limites. A decisão de reforçar ainda mais as sanções comerciais deve surgir em breve.

Mas estas medidas podem levar tempo a entrar em vigor. Mesmo que a UE implemente a sua proposta de proibição do petróleo russo, o embargo será implementado tão lentamente que as importações de petróleo da UE da Rússia cairão apenas 19% este ano, de acordo com Liam Peach da consultoria Capital Economics. O impacto total das sanções só será sentido no início de 2023, altura em que o Sr. Putin terá acumulado milhares de milhões de dólares em receitas para financiar a sua guerra.” (Ver artigo do The Economist aqui).

Deixe-me ver se percebi bem: as sanções prejudicam realmente os EUA e ajudam a Rússia, por isso os peritos pensam que devemos impor mais sanções? É isso?

Exatamente. Agora que alvejámos um dos pés, os peritos pensam que seria sensato alvejar também o outro.

Serei eu o único a ser atingido pela loucura desta política? Veja este excerto de um artigo de RT:

A Rússia pode ganhar um rendimento recorde de 100 mil milhões de dólares em vendas de gás a países europeus em 2022 devido ao aumento dos preços da energia, informou esta semana o jornal francês Les Echos, citando analistas do Citibank.

De acordo com o jornal, as receitas projetadas das vendas de gás serão quase duas vezes mais elevadas do que no ano passado. A análise não tem em conta os lucros da venda de outras mercadorias, tais como petróleo, carvão e outros minerais.

Les Echos relata que, apesar das sanções e advertências de um embargo abrangente à energia russa, os 27 países da UE continuam a enviar cerca de US$ 200 milhões por dia para a Gazprom”. (Artigo da RT aqui. Mas não deve ver devido à censura à RT).

Assim, as receitas das vendas de gás e petróleo estão literalmente inundando os cofres de Moscovo como nunca antes houvera sucedido. Enquanto isso, os preços da energia na UE e nos Estados Unidos dispararam para os máximos de 40 anos.

Você pode ver como esta política é contraproducente?

A UE está a afundar-se numa recessão, as linhas de abastecimento foram gravemente perturbadas, a escassez de alimentos está a aparecer regularmente, e os preços do gás e do petróleo dispararam. Qualquer que seja o prisma de análise as sanções não só falharam, como também tiveram um efeito contrário espetacular. Será que a gente de Biden não vê os danos que está a causar? Estarão completamente fora do contacto com a realidade?

Imagine os ucranianos usando a nova bateria de artilharia de Biden (HIMARS) para bombardear cidades na Rússia? E depois o quê?

Depois Putin tira as luvas e corta imediatamente o fluxo de hidrocarbonetos para a Europa. Isto é o que acontecerá se Washington continuar a escalar. Podemos ter a certeza disso. Se a “operação militar especial” da Rússia se transformar subitamente numa guerra, as luzes por toda a Europa apagar-se-ão, as casas começarão a congelar, as fábricas ficarão em silêncio, e o continente deslizará de cabeça para uma depressão prolongada e dolorosa.

Alguém em Washington está a pensar nestas coisas, ou estão todos tão bêbados com os seus próprios recortes de notícias que perderam completamente o contacto com a realidade?

Aqui está mais de um artigo de RT:

“Enquanto o Ocidente coletivo continua a insistir – contra toda a realidade observável – que o conflito na Ucrânia está a correr bem para Kiev, os principais meios de comunicação social sentem-se cada vez mais desconfortáveis com a situação na frente económica. Cada vez mais observadores estão a admitir que os embargos impostos pelos EUA e seus aliados não estão a esmagar a economia russa, como inicialmente previsto, mas sim a sua própria economia.

A Rússia está a ganhar a guerra económica”, disse Larry Elliott, editor de economia do Guardian, na quinta-feira. “Já passaram três meses desde que o Ocidente lançou a sua guerra económica contra a Rússia, e não está a decorrer como planeado. Pelo contrário, as coisas estão mesmo a correr muito mal”, escreveu ele…

Num ensaio publicado a 30 de Maio, o colunista do Guardian Simon Jenkins também disse que o embargo tinha falhado…

Como Jenkins salienta, as sanções aumentaram efetivamente o preço das exportações russas como o petróleo e os cereais – tornando Moscovo mais rico e não mais pobre, deixando os europeus com falta de gás e os africanos com falta de alimentos.(Artigo da RT aqui que não se deve ver devido à censura)

Compreendeu a parte em que se diz que “a Rússia está a ganhar a guerra económica”? O que pensa que isto significa em termos práticos?

Significa que a tentativa mal sucedida de Washington de manter a sua hegemonia global, “enfraquecendo” a Rússia, está de facto a exercer uma enorme pressão sobre a Aliança Transatlântica e a NATO, o que desencadeará uma recalibração das relações que levará a uma rejeição desafiante do “sistema baseado em regras”.

É isto que significa? Irá a Europa separar-se de Washington e deixar a América afundar-se sob o seu oceano de 30 triliões de dólares de tinta vermelha?

Sim, é exatamente o que isso significa.

Os proponentes da guerra por procuração de Washington não têm ideia da magnitude do seu erro ou dos danos que estão a infligir ao seu próprio país. O desastre ucraniano é o culminar de 30 anos de intervenções sangrentas que nos trouxeram a um ponto de viragem em que o destino da nação está prestes a piorar. À medida que a zona do dólar encolher, o nível de vida diminuirá, o desemprego aumentará e a economia cairá em espiral.

Washington subestimou grosseiramente a sua vulnerabilidade a um retrocesso geopolítico catastrófico que está prestes a levar o novo século americano para um fim rápido e agonizante.

Um líder sábio faria tudo o que estivesse ao seu alcance para nos livrar desta confusão.


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9 pensamentos sobre “A guerra na Ucrânia marca o fim do século americano

  1. É espectacular, este artigo. A sorte da Europa é que Putin é razoável e tenta sempre resolver tudo a bem e com equilíbrio. Se fosse um líder de natureza agressiva e vingativa, o tal corte de petróleoe gás já teria ocorrido. Afinal de contas, a Europa declarou guerra à Rússia, mas mesmo assim a Rússia continua a garantir a economia europeia (os idiotas chamam-lhe “dependência”).
    Veremos como será no Inverno. Se fosse eu, era assim: “agora que a Novorússia foi libertada, ou acaba a guerra, acabam as sanções, e as fronteiras da NATO regressam a 1997, ou a Europa vai morrer de frio e a Rússia patrocinará mudanças de regime em todo o lado, tal e qual como fazem os EUA” – e não seria negociável, seria acordo de pegar ou largar. É assim que acontece nas rendições incondicionais dos derrotados…

    PS: quase me esquecia da razão pela qual vinha comentar: para ultrapassar a censura do regime Capital-Fascista Euro-fanático e Extremista-Atlantista, basta usar uma VPN. No navegador Opera, basta um clique para ligar a VPN e escolher um IP da Ásia, por exemplo. Assim todos os artigos censurados pela ditadura de NeoLiberais Pinochetistas NÃO-eleitos de Washing… Bruxelas, passam a ser facilmente acedidos. Como aquele artigo da RT que mostra os Curdos Suecos (um deles já eleito e essencial para aprovação do orçamento da actual precária coligação) a dizerem que têm vergonha do seu país caso os seus líderes idiotas vendam a alma ao ditador Erdogán e decidam extraditar pessoas inocentes em nome da entrada na NATO: a organização terrorista ofensiva (fundada entre outros por Salazar) recordista de invasões e crimes de guerra e MILHÕES de mortos…

    PS2: mais um vídeo genial protagonizado pelo Scott Ritter, de visualização obrigatória (são só 26 minutos, mas vale mais que 24h de propaganda pró-NATO na “imprensa livre”).

    https://m.youtube.com/watch?v=0qQrQCBYQXE

    Teria todo o gosto em “perder” uma hora a transcrever e traduzir esta entrevista para a EstátuaDeSal, caso assim a deseje publicar. Tudo o que Ritter diz, sobre o conflito, como os russos estão a morrer mas a ganhar, o regime russo, o regime ucraniano, a forma como a ditadura de Kiev se transformou num ninho de Nazis do qual Zelensky é só a fachada, as armas desviadas na darknet, os perigos/morte que isso nos (a pessoas no resto da Europa, vítimas de um ataque terrorista com um desses lança mísseis portáteis) pode trazer num futuro próximo, etc, fazem desta entrevista um must see!!!

  2. O sonho de Putin!
    Destruir o dólar de papel por um rublo de ouro
    apoiado pelo yuan do dragão Xi .

    O petro dólar está morto… Para o petro yuan!
    Não estou satisfeito com isso, mas é um facto porque a Arábia Saudita negociou o pagamento do seu petróleo em Yuan.

    O fim do “dollar-king” chegará quando o petróleo já não for pago em dólares.
    À medida que o comércio do petróleo decresce, o dólar tornar-se-á menos importante.

    Será uma séria derrota para os EUA? Porque as consequências podem ser dramáticas para a sua economia.
    E se a Rússia “ganhar” a guerra na Ucrânia, uma derrota militar e política também.
    O fim do império?
    E o que farão os Estados financeiros profundos?

    O declínio do dólar começou em 2000,que irá acelerar brutalmente .

    O dinheiro em papel ou virtual baseia-se apenas na confiança (fiat money). Aqui, qualquer que seja o país, seria preciso ser louco para continuar a confiar no dólar (ou no euro).

    Poderia levar algum tempo se não houvesse uma massa considerável de dólares (e euros) em circulação no mundo, a perda de confiança irá acelerar muito rapidamente com a inflação e o pânico (não há mais contrapartida real de produtos para a moeda americana).

    Mais do que outra moeda virtual, poderia ser um bem tangível, a velha relíquia bárbara (ouro) que pode voltar a ser utilizado.

    O Yuan e o Ruble são susceptíveis de se tornarem muito amigáveis em breve.

    É provável que todos os países emergentes e países exportadores de mercadorias tendam a escolher o novo sistema monetário sino-russo, o que deverá levar a uma depreciação do poder de compra das moedas fiat e a uma inflação elevada na zona do dólar e do euro.
    O dólar americano tem um futuro brilhante à sua frente, a menos que o euro se torne uma moeda paliativa para o dólar.

    As guerras monetárias traduzem-se frequentemente em conflitos entre os povos. Temo, portanto, o pior para um país como Portugal , onde a sociedade nunca esteve tão dividida. À medida que a inflação e as condições de vida das pessoas pioram, as tensões sociais, que já são elevadas, podem explodir de vez.
    Em suma, os próximos meses e anos vão ser de rock’n’roll e vamos ter de nos agarrar bem..
    Quem iniciou a guerra monetária? O Estado profundo EUA/Europa ou a Rússia? Tanto quanto sei, foi a UE que a iniciou com sanções, sob o conselho do estado profundo falido dos EUA. Portanto, a Rússia está apenas a defender-se a si própria. E tudo o que está a fazer, tinha planeado.

    A situação é de facto “complicada” … em grande parte “graças à sabedoria e à Defesa dos nossos interesses” pelos nossos políticos …
    Pergunto-me se esta crise ucraniana não será o pretexto usado pelos nossos líderes para poder definitivamente
    arruinar-nos economicamente, depois de já termos destruído as nossas liberdades fundamentais, utilizando a crise covidiana…
    Tenho dificuldade em acreditar que um bando de idiotas possa acidentalmente levar a um tal desastre…
    Se for este o caso, promete ser fascinante…

  3. Um excelente texto, de uma clareza impressionante, e uma fantástica aula de Macroeconomia “para totós”, que até mesmo um perfeito leigo pode facilmente entender, desde que não tenha teias de aranha no cérebro.

    Sabemos que uma equipa de reputados economistas, chefiados por Sergey Glazyev, desde 2019 ministro responsável pela Integração e Macroeconomia da União Económica da Eurásia (EAEU), está a preparar neste preciso momento as bases de um novo sistema monetário internacional, que provavelmente será apresentado no final do ano. Tudo está a correr muito depressa agora, e parece-me que os americanos e os seus aliados ocidentais já foram claramente ultrapassados.

    Tudo indica, de facto, que em breve será lançada uma nova moeda-padrão para as transações internacionais, provavelmente associada ao setor energético, que tornará obsoleto o dólar. Os chineses têm ainda que se livrar das enormes quantidades de dinheiro americano que têm armazenadas, como resultado de terem comprado a dívida americana. Quando eles começarem a lançar este dinheiro nos mercados em forma de títulos do Tesouro, isso vai provavelmente reduzir o dólar ao nível do lixo.

    Assim, parece realmente que os verdadeiros poderes que nos Estados Unidos manipulam o fantoche Biden se arriscam a fazer com esse grande país o mesmo que Nero fez a Roma.

    Curiosamente, desde que a guerra na Ucrânia começou e o ocidente entrou em guerra económica contra a Rússia, que eu leio os economistas não alinhados a preverem exatamente o que já está a acontecer com as economias ocidentais no seguimento das suas “sansões” autodestrutivas, bem como a previsível ineficácia das mesmas face à economia russa, que só está a colher benefícios. E se esta realidade foi tão fácil de prever para eles, também deveria ter sido acessível para os economistas alinhados com o Ocidente. Pergunto-me se será apenas incompetência, ou se não terá sido o desespero que, na iminência de a médio prazo irem finalmente perder o seu abusivo estatuto de Poder Imperial, terá levado os oligarcas americanos a encetar esta “fuga para a frente” à revelia de toda a informação científica disponível.

    A ser assim, todos temos razões para estarmos preocupados com o futuro deste planeta, e da Humanidade em geral. É que o desespero tende a propiciar ações desesperadas, e isso é muito perigoso quando os desesperados possuem armamento nuclear.

    Isto ainda vai no princípio.

    • Recorde-se que, no início desta confusão toda, Biden apreendeu as reservas do Banco Central da Rússia, cortou o acesso das instituições russas ao sistema Swift e bloqueou os mercados financeiros e de importações/exportações a tudo o que fosse russo (até gatos, mais tarde – sim, eu sei que não foi Biden, mas alinhemos lá com a hilaridade disto), tudo isto, sem exceção, sem consultar o Fed.

      Lembre-se ainda do que aconteceu quando, depois de anunciado que o gás russo teria de ser pago em rublos através daquele mecanismo especial de criação de contas em bancos na Rússia (etc), os economistas do Governo Alemão entraram em pânico e quiseram nacionalizar a subsidiária da Gazprom em Berlim para ver se isso resolvia alguma coisa – isto então foi o maior Sketch humorístico de todos os tempos, ai minha vida!!

      Para responder ao que comentou: acho que isto tudo foi um misto de excesso de confiança e outra coisa. O desespero só entrou em funcionamento mais tarde.

      Deviam estar tão seguros (ou assim pensavam) acerca da predominância do Dólar e dos seus títulos de tesouro como moeda de reserva que pensaram que podiam fazer tudo sem terem que refletir antes de avançar.

      Neste ponto deu jeito que Biden tenha sofrido um ataque de amnésia e não se tenha lembrado de que talvez, e apenas talvez, fosse conveniente consultar as gentes do Fed antes de tomar qualquer tipo de decisão drástica.

      Problema: como americanos estão habituados a tomar decisões unilaterais acerca de tudo, pensam que podem fazer o que lhes apetece sem falarem uns com os outros e trocarem impressões acerca deste tipo de assuntos que determinam a ascensão ou a ruína total de uma economia, mas já sabemos como eles são: Rambos autênticos.

      Acho que vêm demasiados dos seus próprios filmes e acabaram por cair nas trapaças da propaganda que foi criada por eles, coitados.

      Uma pessoa até tem pena…

      Agora andamos a vê-los a correr atrás da própria cauda sem saberem o que fazer!

  4. Meu caro, concordo obviamente consigo, todo esse histórico é por demais conhecido e eu próprio já explanei essas mesmas ideias em outros locais. Obviamente, não me apetece escrever um livro de cada vez que opino aqui sobre textos alheios, procuro resumir o mais que posso e alguma coisa fica sempre por dizer.

    Mas, e isto é inquestionável, a Ciência Económica é a mesma no Leste e no Ocidente, e eu não acredito que os poderes de decisão ocidentais não tenham os seus conselheiros científicos competentes e credíveis. Então, sim, reitero o que disse, a ofensiva americana a que se assiste é um ato de desespero pela iminente perda do seu estatuto de única superpotência mundial.

    Que iria acontecer de qualquer maneira em favor da China, ou de uma aliança centrada na convergência russo-chinesa. Só que mais lentamente e mais tarde no tempo.

    Um braço!

    • Compreendo perfeitamente o que diz!

      Simplesmente, considerei pertinente fazer um breve resumo inclusivamente para os mais esquecidos, algo que pode ser útil para recordar que nem sempre tudo é planificado.

      De resto, o que menciona a nível de Conselheiros e de Ciência Económica ser igual no Leste e Ocidente, e de tudo isto ser um ato de desespero para agarrar a hegemonia a que se habituaram, tudo correto.

      Continuação!

  5. Este blogue é uma lufada de ar fresco que ajuda a dissolver a bafienta narrativa que se incrustou nas mentes de uma grande parte dos portugueses (limitando a análise ao rectângulo) que, normalmente, apenas consegue processar meia dúzia de “sound bites” merdiáticos lançados no “mainstream” (pardon my french).
    Ler posts e comentários de pessoas que utilizam mais do que 2 neurónios dá-me algum alento.
    Obrigado!

  6. O artigo é um banho de realidade e lucidez e os comentários mostram que há muito mais gente acordada do que a chinfrineira permanente do pensamento único, balindo e rosnando indignações plastificadas, tenta fazer crer. Tal como ao Vieira, isso dá-me algum alento, mas receio os actos desesperados do “império do bem” quando a dita realidade se lhe meter pelos olhos dentro. Todos estamos fartos de saber como, ao longo da História, a guerra tem sido, muitas vezes, o “Grande Apagador”, uma espécie de botão de “reset” com que por vezes os países tentam sair de becos sem saída em que se meteram ou os meteram. Como escreve o José Neto, tudo isto “é muito perigoso quando os desesperados possuem armamento nuclear” e, desgraçadamente, há do lado de lá do Atlântico muitos chanfrados à la John Bolton que acreditam piamente poderem os EUA sair vitoriosos de uma guerra nuclear. Se, e quando, elas começarem a cair, convém lembrar que os vassalos do lado de cá não construíram abrigos suficientes onde nos possamos enfiar todos. Aqui no rectângulo, então, a despreocupação é tal que nem sirenes de alerta temos para fugirmos para os abrigos que não existem e a maior parte das cidades, para não falar de vilas e aldeias, não tem sequer metropolitano, como também estamos fartos de saber. Enfim, apesar do meu incorrigível, quase patológico, optimismo, confesso que quando tento adivinhar o futuro só me aparecem nuvens negras.

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