Fome atinge 7,5 milhões na União Europeia, enquanto bloco discute novas sanções à Rússia

(MIRKO C. TRUDEAU, in Diálogos do Sul, 03/06/2022)

Pela primeira vez desde o início da guerra, a unidade europeia balançou, e os 27 líderes deram luz verde ao sexto pacote de sanções contra a Rússia, o mais complicado pelo impacto direto que terá sobre suas economias e a insegurança alimentar na zona, impondo um embargo e boicote (parcial) ao petróleo russo.

“Máxima pressão sobre a Rússia para que acabe com esta guerra”. Assim anunciou nas redes sociais Charles Michel, presidente do Conselho Europeu. A Hungria do ultradireitista Viktor Orbán estava bloqueando o pacote há semanas, alegando que faria ir pelos ares a segurança energética de seu país.

A União Europeia sanciona o petróleo russo

União Europeia concordou com um embargo de “mais de dois terços” de suas compras de petróleo russo, depois que não conseguiu acordo para uma proibição total das importações. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que a medida “corta uma enorme fonte de financiamento para a máquina de guerra da Rússia”.

A saída encontrada pelos negociadores foi adotar um embargo que inicialmente afetará as importações que chegam à UE por via marítima, excluindo por ora as entregas por oleodutos.

Enquanto isso, a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que Alemanha e Polônia concordaram em que até o final do ano renunciarão a continuar recebendo petróleo russo por oleodutos, e com isso o embargo acabaria afetando “90%” das importações da Rússia pela UE.

Este sexto plano de medidas da UE contra a Rússia inclui a retirada do principal banco russo, Sberbank, do sistema financeiro internacional Swift, a proibição de outras três emissoras estatais russas e a inclusão de novos nomes na lista de funcionários sancionados. Também concordaram em enviar à Ucrânia 9 bilhões de euros (9.630 milhões de dólares) para apoiar sua economia.

Enquanto isso, o gigante russo dos hidrocarbonetos Gazprom suspenderá a partir de hoje as entregas ao provedor energético estatal holandês GasTerra por negar-se a pagar em rublos.

Os Países Baixos se unem à Polônia, Bulgária e Finlândia, que já decidiram não pagar o preço do gás russo em rublos, o que lhes custou a suspensão do fornecimento. A Dinamarca avançou na mesma direção, embora não tenha havido uma resposta de Moscou.

Por outro lado, a Polônia deixou de fornecer combustível à Ucrânia de forma gratuita e agora só vende a Kiev este produto, informou a ministra polonesa de Clima e Meio Ambiente, Anna Moskwa.

Da reunião dos líderes europeus, saiu fortalecida a UE da Segurança e da Defesa, impulsionados pelos lobbies dos fabricantes de armas. Apesar da pressão do primeiro-ministro italiano Mario Draghi, as medidas não incluem nenhuma referência à via diplomática, ao processo de paz ou ao cessar-fogo.

Seja como for, as conclusões são muito ambíguas e não detalham quanto tempo a exceção estará em vigor, embora mostrem o interesse por revertê-la “o quanto antes”. O objetivo era reduzir as importações de petróleo bruto procedente da Rússia em 90% neste mesmo ano.

Estas medidas punitivas ameaçaram pela primeira vez a unidade da Europa Ocidental. Orbán acusou a equipe de Von der Leyen de “comportamento irresponsável” por propor antes as sanções do que as soluções. “Se cada país europeu pensar apenas em si mesmo, nunca avançaremos”, queixou-se o primeiro-ministro letão Krisjanis Karins.

Quase um mês depois de que Ursula von der Leyen, presidenta da Comissão Europeia, apresentou a proposta de sanções, os 27 conseguiram desbloquear a posição húngara na cúpula europeia extraordinária que realizam em Bruxelas. O embargo ao petróleo realizar-se-á em duas fases. No primeiro momento há uma exceção chave: a Hungria poderá continuar comprando o petróleo russo que chega pelos gasodutos.

Inflação e insegurança alimentar

A inflação nos países da zona do euro foi em maio em média de 8,1%, frente aos 7,4% de abril, impulsionada essencialmente pelos preços da energia e dos alimentos, em especial como consequência do conflito bélico entre a Rússia e a Ucrânia. À medida que a UE avança em um acordo sobre novas sanções focadas no fornecimento de petróleo russo, os preços da energia podem disparar ainda mais rapidamente nos próximos meses, advertem os especialistas.

Neste contexto, as bolsas foram sacudidas este ano já que o conflito na Ucrânia impulsionou aumentos em massa nos preços da energia e dos alimentos, o que se traduz por um aumento da inflação que ameaça a recuperação econômica posterior à pandemia. 

Quase 7,5 milhões de adultos da União Europeia (cerca de 17%) já padecem de “insegurança alimentar grave” — reduzem quantidades, pulam refeições, passam fome —, segundo o informe da FAO, a agência da ONU para a alimentação e a agricultura. O grande problema nutricional afeta um em cada quatro adultos da UE (24,8%). A anemia ou falta de ferro, uma das suas consequências, afeta 14,6 milhões de mulheres em idade reprodutiva na União Europeia.

Ruptura

A medida, muito menos ambiciosa do que queria Bruxelas, será aplicada aos hidrocarbonetos que chegam por via marítima, que correspondem a dois terços do total comprado pela União Europeia. Esta era uma das exigências de países como Hungria ou República Tcheca, que não têm acesso ao mar e se sentiam em desvantagem com relação a seus sócios comunitários.

85% do petróleo que a Rússia fornece chega por gasodutos. Depois de quase um mês bloqueando este movimento, Orban aparece como um dos grandes vitoriosos, o que pode estabelecer um perigoso precedente. A UE viu-se obrigada a ceder a suas demandas para não cair em um de seus grandes temores desde que começou a guerra: parecer desunida.

Também o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, que participou por videoconferência, perguntou-se: “Por que a Rússia pode ganhar quase um bilhão de euros por dia vendendo energia?”.

Além da guerra e do negócio das armas, este novo pacote certifica de fato a ruptura energética dos europeus com os russos. A UE é a principal cliente dos recursos energéticos russos. 27% do petróleo que chegou ao solo comunitário em 2021 procedia da Rússia. O desligamento energético já é uma das grandes consequências da guerra na Ucrânia.

O pacote anterior já impunha um boicote ao carvão. Incluir o petróleo é mais um passo na máquina punitiva da UE no quadro da guerra na Ucrânia, abrindo  um cenário complicado, já que entrando no quarto mês de guerra, as sanções não serviram para alterar os planos russos na contenda. Seus efeitos serão mais agudos a médio e longo prazo, sobretudo para os europeus, que estão esgotando suas opções.

O próximo passo lógico seria decretar o embargo do gás. Mas a grande dependência de países como a Alemanha, acrescido ao difícil processo para aprovar as novas medidas e ao cansaço punitivo que começa a sentir-se em algumas capitais mostram uma conjuntura complicada para o futuro.

As demais conclusões concentram-se na definição de uma ajuda financeira de 9.000 milhões de euros para apoiar a reconstrução ucraniana e afirmam que “as atrocidades cometidas pelas forças russas e o sofrimento e destruição que estão provocando não têm nome” e que “a UE é inquebrantável em seu compromisso de ajudar a Ucrânia a exercer seu direito inerente à autodefesa contra a agressão russa e a construir um futuro pacífico, democrático e próspero”.


Mirko C. Trudeau é integrante do Observatório de Estudos Macroeconômicos, associado ao Centro Latinoamericano de Análise Estratégica (CLAE).

Tradução de Ana Corbesier.


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10 pensamentos sobre “Fome atinge 7,5 milhões na União Europeia, enquanto bloco discute novas sanções à Rússia

  1. Resumindo:

    – Charles Michel, o Trump Europeu, vai sempre para o Twitter mandar meia dúzia de bitaites para o Senhor Joe Biden lhe dar umas palmadinhas na cabeça;

    – Mario Draghi, o Macron italiano, é que anda a pedir a agilização do processo de negociação de paz e a pedir o fim do conflito (a coisa está má quando até um homem destes começa a pedir a paz);

    – o maior problema existencial de Zelesnky, de momento, é questionar-se, extasiado e estupefacto, sobre o porquê da Rússia ganhar mil milhões de euros por dia a vender energia, mas não tem problemas no que toca a matar os seus compatriotas;

    – por último, 9 mil milhões de euros vão ser os primos em terceiro grau de 2 mil milhões que foram “emprestados” pelo FMI à Rússia de Ieltsin para desaparecerem para dentro de uns quantos bolsos menos daqueles que mais precisavam dele, e ficar tudo muito agastado quando se verificar que nada disso vai para os Ucranianos!

    No meio disto tudo, Joe Biden quer uma guerra com a China por causa de Taiwan, que já é chinês de acordo com posições diplomáticas e legais dos EUA, e um Lituano vem queixar-se de que “se cada país europeu pensar em si mesmo, nunca mais avançamos”, que é como quem diz: quero lá saber de ti e dos teus, eu quero é ser kamikaze e não vais ser tu a impedir-me!

    • Está bem feito o resumo.

      «a UE é inquebrantável em seu compromisso de ajudar a Ucrânia a exercer seu direito inerente à autodefesa contra a agressão russa »

      E não saímos disto. Mas a UE tem a obrigação de se envolver porque carga de água? A mesma UE que nunca se envolveu para obrigar a Ucrânia a respeitar os acordos de PAZ de Minsk!
      E qual auto-defesa? Continuar a lançar mísseis para as zonas civis de Donetsk e a matar gente civil (só esta semana foi mais meia dúzia) em zonas com ZERO alvos militares, como nos últimos 8 anos?
      E qual agressão Russa? Aquela que, se não tivesse acontecido, teria dado liberdade aos NeoNazis de Azov (agora com símbolo novo…) para matarem tudo no Donbass com as armas da NATO, enquanto a “imprensa livre” usava exatamente ZERO segundos para nos informar disso?

      Chegará a altura do ano em que a Rússia, após concluir os seus objetivos, colocará assim em cima da mesa:
      «Querem paz? Então vamos ver se querem mesmo paz: esta é a Novorrússia, tão legalmente independente quanto o Kosovo, e este é o novo mapa da Ucrânia tão legalmente feito como o da atual Sérvia, e este é o meu exército profissional (menos de 10% do total) preparado para voltar a casa (e ser substituído por tropas/missões de paz), assim que toda a nova realidade no terreno/mar seja reconhecida pela Europa, as regras da ONU sejam respeitadas pela Europa, a NATO páre de vez a expansão (e os soldados/mísseis dos EUA voltem para os seus buracos do lado de lá de Berlim), os históricos tratados de paz/neutralidade Rússia-Finlândia sejam cumpridos, que uma boa parte da ajuda económica dada à Ucrânia sirva para indemnizar e reconstruir o Donbass, e TODAS as sanções contra a Rússia sejam levantadas, e todos os envios de armas para a Ucrânia sejam imediatamente interrompidos. Como é? Querem mesmo a paz, ou acabei de vos desmascarar perante todos os vossos povos? E que tal se agora for a Rússia a aplicar sanções (corte do gás em pleno Inverno) até a Europa aceitar a paz?»

      Não sei se no Kremlin alguém pensa nestes termos, mas era o que eu faria. Sou vingativo e não sou de meias medidas. A sorte dos Europeus é que eles são mais moderados do que eu e têm uma paciência invejável.

      • Lembrou umas quantas coisas bem pertinentes.

        Primeiro, os ataques a Donetsk que mostram o tipo de gente com que se lida… No outro dia cheguei a ver isso, mas nem disse nada porque enfim.

        A questão de ser vingativo: Putin não perde a descompostura, mas não metia as mãos no fogo por Lavrov…

        Depois de se ver desviado da Sérvia, aproximou-se da Turquia e com a azia já estão a planear forma de transportar o grão para fora da Ucrânia!

        Quando se xinga um russo, ele mostra que somos nós que não gostamos de resolver os problemas!

        Quanto a cortar o gás: é preciso ? A Europa já se encarregou dessa! Ahah!

      • Quanto a tudo o resto que enumerou, provavelmente a única coisa que nós ainda teríamos a desfaçatez mais ofendida e surpreendida de responder seria: “eles são maus e fazem chantagem com a nossa humilhação num conflito que começamos e perdemos e que não queremos reconhecer! Nós não mudámos o regime de Moscovo para uma ditadura pró-ocidente e eles vão ficar sem a nossa democracia!

        Ajudem-nos com a nossa campanha de difamação, a proibir as tartarugas russas e as raposas da Sibéria!!

        Povos europeus, mais sanções!!

        Olhai o Reino Unido que impõe 35% de tarifa de importação a vários produtos da Rússia e da Bielorrússia! Sigam o exemplo desta colónia retinta que perdeu o domínio da sua própria Colónia, mas que os educaram nas boas maneiras do velho Império!

        Só lhes falta mandar os Índios a que roubaram a terra e que embebedam em Casinos para o campo de batalha e aí os atavismos dos Reizinhos Britânicos ficam completos!

        Mas os Russos é que são anti-democráticos ocidentais porque foram impedir o nosso regime fantoche adorador de extermínios – extermínios nazis da Segunda Guerra que nós condenamos no Parlamento Europeu, mas apoiamos num Estado Falhado (por acaso o mais pobre da Europa) desde 2014 e que queremos admitir na União Europeia para elevar os padrões da Democracia – e libertaram pessoas que, mesmo tendo pele branquinha, falam estranho, e nós não gostamos de coisas sujas para os nossos ouvidos civilizados e limpos.

        Eles é que são uns criminosos que não respeitam a nossa Ordem Internacional baseada em regras que nos agradam quando nos vêm tirar a terra que nós íamos roubar!

        Lutem pela Democracia, Europeus, enquanto vêem a inflação da Alemanha de +8% e esperam que vos aconteça o mesmo, que foi causada pela Senhora Lagarde numa tática que nem passaria ao Zequinha do Tasco porque mandou imprimir mais dinheiro que depois foi injetar na City de Londres e agora não sabe porque é que há inflação recorde, mas deve ser de certeza e sem dúvida alguma por causa da guerra Criminosa que íamos começar e foi-nos barrada pelo senhor Putin que é um autocrata que liberta povos oprimidos!”

        Coisas assim deste género, mais do mesmo. Eles não são muito originais, pois não ?

        Ainda se tivessem alguma empresa de Relações Públicas que os ajudasse a variar os discursos, coitados…

        Vêem-se metidos em tanta confusão criada por eles que já nem sabem como mentir com originalidade!

        Por último: «a sorte dos Europeus é que eles são mais moderados do que eu e têm uma paciência invejável»

        A questão da paciência, eu diria que sim.

        A imagem que me vem à cabeça é a de alguém (NATO/EUA/UE/Zelesnky/Azov/Banderistas) que passa o tempo a berrar ao ouvido de uma pessoa (Rússia e populações do Donbass) e, de repente, leva um estalo e fica sem saber o que dizer!

        Quando as bombas começaram a cair devem ter pensado lá com os seus botões “nem eu imaginei que eles avançassem mesmo. E agora?”

        Depois foi a confusão geral no quartel general da NATO/UE/Neo-Nazis Branqueados: Zelesnky não se calava, Von der Leyen pedia sanções, Biden não se lembrava das coisas, mas pedia mudanças de regime na mesma, Charles Michel, furioso não sabia com quem, escrevinhava no Twitter…

        E o Stoltenberg ia pensando nos primos Suecos e Finlandeses e na melhor maneira de dar a comer às colheres aos Europeus que a forma mais segura dos dois países nórdicos terem garantias de segurança era abandonar um tratado de neutralidade com a Rússia e unirem-se a uma aliança militar que é opositora da mesma há 70 anos!

        Como é que se chega aqui, pergunto eu ?

        É assim, quando o importante é ver quem casa com um agricultor, acho que se podem abandonar todas as esperanças remotas de apelar à inteligência do pessoal.

        Que súcia nos saíram estes!

  2. Isto é exactamente o que tenho vindo a analisar e a prever há muito tempo, eu sabia que isso iria acontecer.
    Vamos ter um reequilíbrio de activos porque as economias ocidentais são demasiado externalizadas, demasiado abstractas, demasiado especulativas e já não correlacionadas com a economia, esta desconexão entre as finanças e a economia teve de ser paga um dia tanto pela guerra como por uma redistribuição das cartas.

    Especialmente se tivermos em conta os dados demográficos.

    Os ocidentais estão a morrer demograficamente, menos de 2 filhos por mulher, por isso é um desaparecimento, especialmente se trouxermos rapidamente um grande número de migrantes sem lhes dar tempo para assimilar e misturar, por isso não é apenas uma mudança étnica, mas uma mudança religiosa, de valores, de relações de poder.

    O Ocidente está em declínio sistémico, e é completamente espiritual e filosoficamente decadente, está a cometer suicídio em todos os aspectos.

    Enquanto o mundo está a crescer, é optimista e quer mais, portanto a riqueza, os chineses são demograficamente mais de 1,5 mil milhões, estão em perpétuo crescimento, os indianos também já não podem ser detidos pelos europeus e americanos que nem sequer sabem quem são, o que são e desejam valores que foram a causa do colapso das civilizações, é a decadência.

    Como a natureza abomina o vácuo, a Eurásia vai tornar-se a referência, o padrão futuro já não é o dólar, mas mais uma vez o ouro e a China e a Rússia têm vindo a reconstituir os seus stocks de ouro há pelo menos 10 anos, desclassificaram, os países não-alinhados têm todo o interesse em sair da influência americana porque as inovações, as tecnologias, as ciências já não são ocidentais, mas sim orientais, asiáticas.

    O único projecto dos europeus é o wokism, o fim do homem branco, que é o seu programa, por isso não leva a nada, especialmente quando é a árvore em que estão sentados os ramos das nossas sociedades modernas.

    Putin está muito consciente da decadência do Ocidente e sabe que ao provocar uma enorme crise, vai fazer ruir o sistema capitalista, quer fazer ruir o capitalismo, já vai na direcção dos chineses, ao colocar os chineses à frente dos mármores, no início, mas vai muito mais longe do que isso. A Europa vai implodir e sobretudo as situações de paz civil em países demasiado comunitários, demasiado divididos, já em conflito em tempos de paz e que se devorarão uns aos outros em caso de colapso económico, por isso é uma doninha da desestabilização na França em particular, mas também nos EUA e noutros lugares, vamos passar pelo inferno e os russos no caos, vão provocar ainda mais caos, com chechenos, argelinos, o que quiserem, ele vai jogar com as nossas fragilidades.

    Ele tem-nos, tem o controlo dos alimentos e da energia, abre-se para o SUL, e põe a zero os contadores do porquê e do como das duas primeiras guerras mundiais. Ou seja, o controlo da energia não só na Rússia e nos países satélites, o maior e mais rico espaço geopolítico em termos de recursos, mas põe a mão no rubicão dos EUA, ou seja, no Médio Oriente, em Israel e em África, e aí vai magoar, é tão fácil.

    A Europa está em colapso por muitas boas razões, demograficamente, espiritualmente, filosoficamente, tecnologicamente, diplomaticamente (os cães de colo dos EUA), em termos da nossa influência cultural (ninguém quer wokism), é um colapso sistémico e logicamente as finanças, a economia, os paradigmas comerciais, as trocas, e a criação de valores acabarão por ser totalmente perturbadas.

  3. Em suma andaram sempre a nos mentir,sabendo eu de antemão que este embargo tinha consequências destrutivas para a economia real e para os europeus..Depois disto é fim da classe média a curto prazo com as suas consequências previsíveis..vamos aprofundar:

    Não há duvidas que os lideres europeus querem e desejam a destruição da Europa tal como ela foi concebida.

    “O aumento dos preços do petróleo corre vai mergulhar o mundo no caos.

    Porque o petróleo não é apenas o preço da gasolina e do transporte, mas é também o que determina o preço do trigo e das matérias-primas agrícolas.

    Uma grande parte da população mundial é extremamente vulnerável quando o preço do trigo sobe.

    No passado, infelizmente, assistimos mesmo a motins de fome, e é isto que é provável que aconteça”.

    Não estamos preparados para aceitar o preço das contra-sanções porque já não temos qualquer instrumento monetário eficaz contra a inflação na Europa (ao aumentarem as taxas , alguns países entrarão em falência, incluindo Portugal, e é impossível virar a prensa de impressão indefinidamente).

    Não acham que esta situação teria acontecido independentemente deste conflito? Penso que sim, mesmo que este conflito acelere claramente as coisas.

    Estamos apenas a começar a ver as consequências das sanções decididas à pressa pela UE e pelos EUA.
    Por vezes tem-se a impressão de que os nossos líderes europeus decidem com base na emoção, enquanto que é precisamente o seu papel gerir pelo menos a médio prazo, no interesse de todos e não fazer declarações de um só homem em frente da televisão.
    Temos visto decisões que vão para além do racional (querer apagar Solzhenitsyn, Pushkin, Tolstoy, Prokofiev …).
    Sancionar alguns Russos, ok, mas sancionar tudo o que é russo torna-se um disparate. É uma pena que a UE tenha entrado neste perigoso jogo de Zelensky. Da sua parte, isto é compreensível (discernir entre emoção real e propaganda é outro debate), mas nada obrigou os nossos líderes a segui-lo até este ponto. Estou a pensar em certos artistas que são por vezes anti-Putin e que são sancionados porque são “russos”.
    Os nossos líderes europeus devem recuperar um mínimo de inteligência, reflexão e retrospectiva.

    É o mal destes politicos de algibeira. Em vez de combater a fonte, tentam limitar o impacto dos problemas. Isto é verdade em todos os sectores (saúde, alimentação, tecnologia, etc.). No entanto, seria muito mais produtivo enfrentar o problema e não as suas consequências.

    Segundo os números de 2020 publicados pela Courrier International no mês passado (fonte: Observatório da complexidade económica), os principais países exportadores são a Rússia (19,5% das exportações mundiais), o Canadá (13,9%), os Estados Unidos (13,7%), a França (9,26%) e depois apenas a Ucrânia (8,97%). A seguir vêm a Austrália, Alemanha, Argentina, Lituânia e Polónia. Isto não impede que a guerra tenha um forte impacto.

    Isto é muito interessante Mas!
    – a predominância do trigo é uma construção capitalista de domínio do Sul (que não pode produzir trigo) pelo Norte (o único produtor, incluindo Rússia e Ucrânia, mas também o Norte da China, Austrália, Canadá, França…)
    – existem muitas alternativas locais e frequentemente mais saudáveis ao trigo no Sul (mandioca, arroz, painço, etc.)
    – cereais e açúcar dominando a dieta significa diabetes à saída: a preocupação é, portanto, localizar mais e comer algo mais do que cereais
    E a maior produção é de milho e é com a soja das culturas industriais para carne…
    Portanto, o discurso está demasiado orientado na direcção do que já existe.

    O sistema não é bom,e é frágil mas não o vamos alterar e depois falamos em reduzir a pegada de carbono, sem alterar o sistema com profundidade.

    Teme-se que haja fome em muitos países a curto prazo.
    Entre a dependência de muitos países da alimentação, a hiperespecialização de outros (café, chá, algodão, etc., encorajada pelo Ocidente) em detrimento da agricultura de subsistência, e a demografia galopante de alguns, em total contradição com o que o seu território permite em termos de agricultura (países desérticos e semi-desérticos em particular), temos todos os elementos que levam à fome em grande escala no caso de um acontecimento geopolítico ou climático imprevisto.
    E aqui estamos nós.

    Atenção, quer isso aconteça agora ou daqui a 3 a 5 anos devido a uma contracção da economia em resultado do declínio do petróleo, o resultado é muito semelhante. A certa altura, as condições meteorológicas tornar-se-ão tais que os países produtores de cereais o guardarão para si, temendo cada ano que as colheitas sejam catastróficas.

    Para adiar isto por algum tempo, penso que é cada vez mais necessário e urgente reduzir drasticamente o consumo de carne no Ocidente. Além disso, o milho requer muita água no Verão, quando o risco de seca é maior. Este ano, os lençóis freáticos estão em grave défice, mas ainda vemos os campos – parcelas de 10/20/30 hectares sem sombra ou uma sebe – regados a meio da tarde.
    Claramente, teremos de mudar o nosso modelo.

    O nosso modelo económico vai contra a nossa satisfação colectiva: a Verdade Terrestre O Amor é o nosso único valor humano comum digno de interesse e não tem preço. O cidadão, por iniciativa da lei, pelas suas perguntas legítimas e pelas respostas do Estado trazidas com diligência e deferência, em público e em comum.
    As condições da nossa existência são arbitrariamente fixadas por detentores ilegítimos que escrevem as circunstâncias da sua impunidade e as leis que os protegem. A polícia e a justiça são cúmplices dos seus vícios. Os meios de comunicação social são os instrumentos da sua propaganda.

    A falta de alimentos vai chegar, no final não vai mudar o problema porque as famílias pobres simplesmente não o podem pagar. Haverá escassez, isso é um facto, e com as nossas economias actuais são as familias pobres que vão perder.

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