A sorte que temos

(José Gabriel, in Facebook, 08/06/2022)

(Publico este texto como uma espécie de aparente interregno da campanha da guerra. E digo aparente porque com o mundo a desabar diariamente à nossa volta, a grande preocupação de D. Marcelo I é a bola e a sua vocação para treinador de bancada. E lembrei-me do Titanic e do filme: o barco a afundar e a orquestra impávida e serena a tocar na proa do navio. E fica tudo dito sobre a qualidade dos nossos líderes e sobre a sua margem de manobra no conflito: não podem ir além da discussão sobre a marca das chuteiras. Ou talvez nem isso.

Estátua de Sal, 08/06/2022)


Vi, como muitos portugueses, o jogo de futebol entre as selecções de Portugal e Suíça. Pese, porém, a clareza do resultado – mais que satisfatório, há que dizê-lo – e um jogo sem incidentes de maior, senti que me faltava algo. Qualquer coisa que desse sentido a tudo o que se passou, que clarificasse no espectro mais largo da nossa existência individual e colectiva as implicações futurantes do acontecido.

Porque, admitamo-lo, todos suspeitámos que por detrás dos acontecimentos mais felizes que vivemos se esconde a sombra inspiradora de quem ordena e orienta a realidade. Este vazio existencial que me atormentava não tardou a preencher-se, iluminando toda a obscuridade da dúvida.

No seu palácio, Marcelo falava. (Ver aqui).

Não de banalidades que preocupam os cidadãos de pouca imaginação e ainda menos fé – como comprar comida suficiente, pagar as contas básicas, pôr um dedal de combustível no depósito…-, mas do que realmente importava. Marcelo reflectia sobre o jogo, sobre a forma dos jogadores, sobre a estratégia desenvolvida, enfim, filosofava e iluminava-nos as nossas ansiosas sombras.

Teceu, até, para benefício de todos nós, considerações sobre a possibilidade de a próxima Liga das Nações se realizar em Portugal, ideia que encheu os corações de alegria, pois todos temos saudades do calor humano que essas realizações trazem, bem como as oportunidades de refazer áreas das cidades contempladas após a festivas actividades dos fanáticos das equipas vencedoras e os compreensíveis desabafos dos das equipas vencidas – agressividade transferida, chamam-lhe os especialistas.

E pronto, era isto que queria sublinhar. Somos felizes. Quantos países têm a ventura – salvo seja – de ter um presidente que ajude o seu povo, trôpego como um a galinha, a voar como uma águia? Obrigado, senhor Presidente, por mais este momento de pura felicidade nacional.


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5 pensamentos sobre “A sorte que temos

  1. Há uma semana atrás vi o Sr presidente em campanha contra a fome ao lado da Sra Jonet,e comecei a pensar porque há tantos pobres,e muitos poucos ricos.

    Os politicos compreenderam rapidamente que é mais fácil produzir pessoas pobres do que pessoas ricas e, como a pobreza tendia a declinar como o seu eleitorado, decidiram, adoptar uma política de modo a ter a pobreza..

    Este é um ponto em que concordo com os anglo-saxões: o dinheiro dos contribuintes é sempre melhor utilizado pelo contribuinte do que pelo Estado.

    A pobreza é fabricada. O estado fraco, sem sangue, que não quer desagradar a ninguém, prova-o todos os dias.

    A principal causa da pobreza é que as classes média e pobres estão condicionadas a permanecerem pobres desde a infância pelo sistema político que tem muitos tentáculos.

    Como se cultivam os pobres em Portugal?
    Criar-lhes todas as dificuldades necessárias para que o elevador social não seja levantado..

    Por exemplo:Nas escolas,onde os mais pobres mesmo que sejam bons alunos,são logo condicionados pelos professores.A maioria dos alunos para os bons cursos são escolhidos a dedo com notas viciadas..( conheci alguns casos).

    Não tem a mesma justiça,saúde,etc,etc que os ricos.

    O resultado?
    Dificilmente podem ter algum elevador social.

    Em Portugal, sempre adorámos a pobreza, basta olhar para a publicação das declarações de bens dos representantes eleitos, que é uma verdadeira corrida para ver quem pode ser o mais pobre.
    Por um lado, louvamos a pobreza e, por outro, ficamos surpreendidos por nos termos tornado pobres.

    A vantagem para algumas empresas é que têm consumidores e uma reserva de mão-de-obra que pode ser trabalhada à vontade, com horários de trabalho tão irregulares que já não têm vida social e estão ainda mais dependentes das empresas para satisfazer as suas necessidades.

    Vejam a correlação entre % de industrialização de um país e o PIB per capita.

    A riqueza é produzida através do aumento da produtividade.
    Só a indústria pode alcançar ganhos de produtividade com robotização e optimização de processos:

    As profissões de serviços pessoais não podem obter ganhos de produtividade como a indústria.

    Um cabeleireiro não cortará o cabelo de uma senhora mais depressa, a menos que ela lhe corte o cabelo.

    Se o Estado se comportasse como um bom pai, a produção geral beneficiaria toda a gente….mas como os nossos líderes estão à mercê das Finanças (que sabem tirar a grande parte!), são eles que beneficiam do máximo do bolo e além disso….. violam a realidade fazendo-nos acreditar que as desigualdades são culpa do Estado….. Há pessoas preguiçosas, pessoas que desistem, mas sobretudo os gananciosos que querem sempre mais, sabem como fazê-lo através dos seus serviços de lobby, alimentando os fantoches do Estado que os servem.

    Os pobres não estão condenados a permanecer pobres se o resto da sociedade não os ajudar a adquirir os conhecimentos necessários.
    Os habitantes dos bairros gostariam de “sair dela”, e conseguem fazê-lo quando não são devorados pelo comunitarismo e por ideologias regressivas.

    A sociedade tributa tudo o que vai para além dos seus limites. Isto parece justo, especialmente para aqueles que há muito preferem a assistência ou o roubo ao esforço. Mas para os trabalhadores pobres, o que é mais injusto é que os outros estão melhor do que estão sem qualquer esforço, quer estejam em situação de bem-estar ou privilegiados por nascimento. Em qualquer caso, o rendimento mensal por si só não pode ser tido em conta.. Entre esta taxa confiscatória, o imposto predial e o imposto de habitação, vê-se bloqueado em bastantes projectos pessoais e tem de se escolher entre a manutenção da casa ou as férias.

    Cuidado para não equiparar a pobreza à delinquência e a riqueza à virtude!
    Conheço pessoas pobres que são muito mais honestas e respeitosas do que algumas pessoas ricas, e é por isso mesmo que por vezes uns continuam pobres enquanto outros enriquecem…

    A educação dos ricos, ensina como os ricos se organizam entre si para enganar os mais pobres? ou a educação dos pobres, que os ensina a ajudar os seus vizinhos pobres, porque um dia serão talvez os únicos a ajudá-los a sair do cio em que caíram, por sua própria vontade ou empurrados por alguém mais rico do que eles?
    A moral dos ricos não é a moral dos pobres. Eles complementam-se e adivinham a favor de quem?

    Defino os muito ricos como aqueles que têm dinheiro suficiente para controlar os meios de comunicação, espalhar propaganda em benefício da sua própria classe, influenciar a política, leis, colocar os trabalhadores locais em competição com os escravos económicos das zonas mais pobres, organizar a desagregação social, destruir a unidade familiar de modo a dominar o povo, etc.

  2. Não me posso queixar. O sr. Presidente enche-me as medidas. Há uma pequena mácula que não é culpa dele. É minha. Embora sendo “português de coração e raça”, futebol vejo, mais não gosto. Uma proposta. Da próxima vez, se possível, uma palestra sobre o sexo dos anjos. Não tem de ser já, até porque a temática é de tal modo interessante e prometedora que necessita uma boa preparação prévia. Uma boa altura seria quando os portugueses estiverem a estrebuchar ainda mais com a carestia de vida. Sexo dos anjos na televisão, todos os canais, horário nobre. Com o sr. Presidente um convidado especial, Milhazes, por exemplo. Na questão do sexo dos anjos, por favor, destrinça da ambiguidade terminológica, sexo/actividade e sexo/orgão. Para que todos os anjinhos fiquem definitivamente esclarecidos quanto às capacidades enciclopédicas do seu presidente.

  3. De alguém que, há uns anos atrás, disse que “a única forma de evitar populismos é estar perto das pessoas” não se esperaria nada menos do que manifestações públicas de elevado grau intelectual e pertinência para as conjunturas políticas atuais.

    Ele, no fundo, disse uma coisa destas para ver se apanhava o pessoal desprevenido! “Ora, vamos lá ver se estais com atenção! Farei-vos uma para vos testar como nos meus velhos tempos de lente catedrático!”

    O Sr. Presidente Marcelo, de facto, dominou uma técnica dificílima e que pertence ao espólio de uns pouquíssimos e seletos indivíduos: a arte de dizer algo, não dizendo nada e dizendo o contrário!

    Ele quer evitar os populismos, portanto despeja uma frase vazia para ver se as pessoas reparam que isto, em si, é um populismo e pôr as pessoas a pensar para chegarem à conclusão de que ele está a enganá-los e, ao mesmo tempo, a conduzi-los na direção adequada!

    O Sr. Presidente Marcelo é, sem qualquer sombra de dúvidas, o melhor dirigente político e líder tático que Portugal alguma vez teve. Alguma vez se notou uma tal benevolência para com as populações ?

    É de tal forma benfazeja a sua intervenção política que ele educa as pessoas com uma frase que representa aquilo que ele deseja censurar!

    Bravo!!

    Nuno Álvares Pereira estremece diante de um Marcelo!

    E são várias as suas intervenções de semelhante índole: quando vai tirar fotos, quando está na praia, quando ao vai aos incêndios, quando vai ali, quando pergunta se os jornalistas já jantaram… Ele está sempre a colocar os portugueses à prova, quer deixá-los, como o bom pedagogo que é, preparados para o eventual ressurgir de um Populista!! Mas ninguém percebe isto!!

    E ele, desesperado, frustrado, completamente abatido no meio dos seus esforços para conduzir os portugueses a uma maior consciência de si mesmos e do mundo que os rodeia, continua a sua missão de fazer compreender os seus eleitores de que tudo o que faz tem a intenção de lhes mostrar que tudo em que ele se vê envolvido é aquilo que não deve ser feito!!

    Tamanho altruísmo é inédito! Tais sacrifícios são deveras beneméritos e merecedores de infindas loas em seu nome!

    Considerem-se os beijinhos: ah, que tortura! Ele não o faz porque gosta, não…

    Primeiro, pense-se no incómodo de ter que andar sempre de colutório atrás dele, pois nunca sabe quando é que em dada esquina vai precisar de atirar um beijo repelado a uma carinha enrugada que está enamorada com o Sr. Presidente!

    Depois, pense-se no pesadelo de ter que enfrentar as hordas de camponeses e pensionistas torcionários de afetos de Freixo de Espada à Cinta ou, cruzes credo, Reguengos de Monsaraz!

    Ai, a repulsa de ter que andar aos beijos aqui e ali, nunca tendo um momento em paz, mas sempre com o intuito de mostrar que ser-se promíscuo com sexagenários não serve de nada e é o que se deve combater no país, ah, que herói que suporta tais martírios indizíveis!

    Não há ninguém tão empenhado como o Sr. Presidente no combate aos populismos, baseando-se num sistema educativo da sua autoria em que se pretende demonstrar inequivocamente algo sempre sem o demonstrar de facto!!

    A arte de não fazer, fazendo, é pertença dos indivíduos mais briosos e preclaros da sociedade!

    Efetivamente, o Sr. Presidente Marcelo não o admite, mas ele é, com todo o coração, um declarado Taoísta invertido:

    Faz, não fazendo, mas não parando num único sítio ou polémica.

    Conduz com esforço, mas sem te esforçares e sem dares a entender para onde é que conduzes.

    Sê como a água, adapta-te às circunstâncias políticas e sondagens, mas sê firme, intransigente e duro como betão no teu propósito de não mostrar as tuas verdadeiras intenções.

    O problema é que, num país católico como Portugal, e sendo ex-afiliado do PSD, o Sr. Presidente Marcelo não se pode assumir como tal.

    Portugal, afinal de contas, é um país de bons costumes, avesso a essas estrangeiradas extravagantes e nada cristãs, logo lá vai ele carregando a sua cruz em silêncio, imperturbável, mas convicto da sua missão evangelizadora de acabar com todos os populismos e vacuidades na política portuguesa.

    E fá-lo, precisamente, com Futebol e a Liga das Nações: o expoente máximo da unidade na pancadaria entre os povos do Mundo! É assim que se acabam com as guerras, as fomes e as embaixadoras que querem ilegalizar o PCP: com um fora de jogo!!

    Ilegalizar o PCP – é legítimo. Siga o jogo. Deixa-me dizer meia dúzia de coisas sobre variedade e diversidade parlamentar, sem condenar ninguém e com o intuito de deixar o pessoal confuso quanto ao que se quer dizer!

    Liga das Nações – atrai o turismo. Construa-se mais outro aeroporto. Portugal é país importador e é-o há 300 anos. Não vamos mudar agora. Dantes eram móveis e produtos os mais variados, agora são turistas!

    Guerra na Ucrânia – deixa-me estar calado que é para ver se esta gente percebe o que é que eu quero dizer com o meu silêncio. Eu condeno a guerra, mas não digo nada que é para eles chegarem lá, mas enquanto isso vou fazer um discurso aqui e ali a apelar por mais unidade e militarização do meu país para demonstrar o quão contrário a guerras eu sou.

    Agora vem dizer que “todos perdemos com a guerra”. Pois. A coisa maior que se perdeu foi o juízo! Mas o Sr. Presidente lá se debate por que as pessoas o recuperem com as suas táticas inovadoras.

    De resto, se o Sr. Presidente não marcasse presença, diariamente, no meio jornalístico que tão bem conhece, seria um enorme desconchavo e uma falta de consideração para com os portugueses que, ávidos e desenfreados, aguardam a sua sabedoria intemporal que os conduzirá ao renovar da sua vontade política!

    Ínclito e Magnânimo homem, que até a Camões faria inveja com o seu degladiar-se pelo povo e contra os Infiéis da Democracia, assim como a sua ilustre e loquaz pessoa que difunde a erudição máxima que acumulou em noites de insónias.

    Continue, Sr. Presidente na sua senda, que tem aqui um fã das suas sendeiras!

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