Aventuras e desventuras do dos afectos

(Amadeu Homem, 17/06/2021)

Leio no Sapo-Informação que o governo, considerando a progressão da pandemia, “decidiu e proibiu a circulação de e para a Área Metropolitana de Lisboa ao fim de semana”.

Isto deve ser uma “fake new” . O dos afectos não quer! O dos afectos, como gosta muito de nós todos, declarou por extenso que “com ele nunca haveria marcha atrás no processo do desconfinamento”. Eu ouvi. O País todo ouviu. E quando o Costa, sensatamente, observou que tudo dependia da expansão dos contágios e que nem um PR os poderia prever, o dos afectos abespinhou-se todo, empertigou o papo, encheu-se de brios e declarou, enfaticamente, que um Primeiro-ministro não poderia desautorizar em nenhuma situação um Presidente da República!

O dos afectos ama-nos tão intensa e desmedidamente que nos quererá ver doentes, internados em meio hospitalar, eventualmente, entubados.

Ora, acontece que eu moro no Bairro da Bica, aqui mesmo pertinho do coração do Bairro Alto, onde os sensatos jovens – umas vezes de sexos diferentes outras vezes de sexos iguais – circulam sem máscara e prestam a sua vassalagem ao dos afectos, beijocando-se como calha.

Garanto desde já ao dos afectos que eu nada tenho contra as beijoquices. O gajo que beije as velhinhas cariadas, que abrace os jovens, que faça festas aos meninos de colo, que faça o que bem lhe apetecer para que o desconfinamento lisbonense nunca volte para trás, uma vez que ele assim o decidiu.

O que a mim me chateia é a possibilidade de ficar doente, de ter de hipoteticamente ser internado no Hospital de Santa Maria (preferiria esse) ou entubado nos cuidados intensivos desse mesmo hospital.

Eu confesso que nada me daria mais prazer do que continuar a ouvir o dos afectos a cacarejar as coisas descerebradas que ele serve aos basbaques. Mas já me chateia quando tenho de lhe pagar os preços das baboseiras expelidas pela boca beijoqueira com o meu rico corpinho e com a minha preciosa saúde.

Por isso, decido escrever este texto, com a esperança improvável de que tal gajo não se lembre de vir ao Bairro da Bica e me infecte a Travessa do Sequeiro.


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