Pedro Nuno Santos vs. Ryanair

(In Expresso, 07/06/2021)

O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, justificou hoje a reação às críticas da Ryanair sobre a ajuda estatal à TAP com o facto de não gostar de “deixar ofensas ao Estado português e ao Governo sem resposta”.


“Eu não gosto de deixar ofensas ao Estado português e ao Governo sem resposta. Nem todos compreendem que um Estado e um Governo também têm de se dar ao respeito. Mas isso é a forma como nós cada um de nós encara a vida política”, afirmou Pedro Nuno Santos à margem da apresentação do novo navio da CV Interilhas “Dona Tututa”, que decorreu no Estaleiro Navaltagus, no Seixal, distrito de Setúbal.

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No passado dia 26 de maio, durante uma reunião, por videoconferência, com o ministro das Infraestruturas, o presidente do grupo Ryanair, Michael O’Leary, lamentou que o Governo português esteja a “desperdiçar” o dinheiro dos contribuintes na TAP, defendendo que deveria ser aplicado em escolas, hospitais e outras infraestruturas, como o aeroporto do Montijo, em vez de numa “companhia aérea falhada e com preços elevados”.

O ministério de Pedro Nuno Santos reagiu em comunicado, nesse mesmo dia, afirmando não aceitar “intromissões nem lições” da Ryanair. Garantindo que o investimento na TAP é “estruturante”, lamentou que a companhia irlandesa esteja a aproveitar-se de uma “situação difícil” e vincou que a “Ryanair é uma empresa privada e que não tem de interferir nas decisões soberanas tomadas pelo Governo português”.

Já hoje, quando questionado pelos jornalistas sobre este tema, o ministro salientou que um país como Portugal “não se pode dar ao luxo de perder empresas que exportam 3.000 milhões de euros”, como é o caso da TAP.

“Nós não somos a Suíça, nem a Noruega, para podermos, sem esforço, dar-nos ao luxo de perder empresas com esta dimensão. Nós somos um país com grandes dificuldades em matéria de balança de pagamentos, não podemos perder uma empresa que exporta 3.000 milhões de euros num ano normal. E é esse esforço estamos a fazer”, sustentou.

Rejeitando que ao injetar capital na TAP o Governo esteja “a gastar dinheiro”, Pedro Nuno Santos disse tratar-se, antes, de “um investimento numa empresa que é fundamental para a economia portuguesa e que liga Portugal ao mundo”.

“A TAP é a primeira companhia aérea europeia – não é só portuguesa, europeia – a ligar a Europa ao Brasil e a mais de 10 países da África Ocidental. Este é um esforço que nós estamos a fazer conscientes de que aquilo que a TAP dá à economia nacional é muito mais do que aquilo que nós estamos a investir nela”, defendeu.

Para o ministro das Infraestruturas e da Habitação, os portugueses deviam ter “mais orgulho” no seu país: “Não podemos aceitar ligeiramente que um empresário, mesmo que grande empresário, possa dizer o que quer sobre um Governo e esperar do mesmo Governo o silêncio. Isso não é um país dar-se ao respeito. Nós seremos mais respeitados no mundo se nos dermos ao respeito”, considerou.

Relativamente às críticas internas, no seio do PS, quanto à forma como se dirigiu à Ryanair, Pedro Nuno Santos escusou-se a “alimentar essa discussão”, afirmando apenas ser “incapaz de criticar em público um camarada”.


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4 pensamentos sobre “Pedro Nuno Santos vs. Ryanair

  1. Aqui está um ministro que chama os bois pelos nomes e,deixemo-nos de paninhos quentes ,e falar baixinho para trogloditas que tiram tudo o que podem dos seus trabalhadores ,direitos onde estão eles ? Explorados até ao tutano enquanto tiverem pinga de sangue .

  2. É tão raro ver o PS defender os interesses nacionais face às grandes empresas que é uma satisfação acrescida ver este ministro fazer frente àqueles merdas.

    O PS nos tempos do Guterres foi o primeiro a querer privatizar a TAP.

    Diziam-nos que era uma despesa gratuita e luxo incomportável manter uma companhia de bandeira, que nenhum país desenvolvido continuava a fazer isso, que era a única maneira de salvar a TAP, etc.

    Um ano depois da tentativa, a privada que “ia salvar a TAP” ia à falência.

    Tinha sido bonito. Lá ia o estado resgatar uma TAP privatizada. Como os bancos cuja privatização nos disseram que iam modernizar a economia e tornar o país competitivo…

    Ah granda geringonça !

    Para isto a extrema esquerda é mesmo precisa, qie o PS sozinho não é de confiança para lidar com empresas privadas.

    Vide o ataque que o ministro está a sofrer de dentro do próprio PS por ousar defender os intetesses nacionais contra a “voz do dono capitalista.

    Penso que isto demonstra uma influência salutar da esquerda sobre o PS.

    Seja como for, Costa e este ministro estão de parabéns.

  3. Bom dia
    Pedro Nuno Santos, que não conheço pessoalmente, tem sido muito criticado em atitudes que tomou, recordo no entanto a excelente compra de carruagens à RENFE, negócio que ao que parece a RENFE se arrependeu, porque o material estava em boas condições, pode ser e está a ser restaurado com um relativamente pequeno investimento e será de grande ajuda à recuperação do parque da CP que quase já não tinha material suficiente para atender à procura.
    Para muitos foi ferro velho, para outros que conhecem alguma coisa de caminhos de ferro foi um excelente negócio, encontro-me entre estes últimos, a questão do amianto foi apenas um pretexto, sabendo-se, que é de fácil substituição e que era muito usual o seu uso até ao fim do século passado como isolante no material ferroviário e até aeronáutico, quantos desses equipamentos não circularão ainda com esse produto….
    Recordo também a recuperação do troço Covilhã/Guarda na linha da Beira Baixa, que há muito estava parada e que finalmente e quase ao fim de 10 anos ficou concluída.
    Quanto à TAP, claro que o patrão da Ryanair, companhia que só faz rotas lucrativas, não lhe interessa a concorrência da TAP, mas quererá essa empresa irlandesa fazer os trajectos que a TAP ou outras empresas nacionais de aviação fazem, por exemplo voos internos ou inter-ilhas, caso dos Açores por exemplo?
    Ah! isso não interessa, a TAP que os faça, mas que lógica da batata, o que dá lucro fica nas mãos dos privados, o que dá prejuízo fica na mão do Estado…
    Se fosse eu o Ministro, o dono da Ryanair tinha ficado com as orelhas a arder e ter-lhe-ia perguntado se está assim tão interessado e preocupado com os hospitais e as escolas em Portugal, se por acaso já contribuiu para a sua construção, isso teria sim, sido uma boa acção da sua parte, mas tá quieto…
    Ah! E referiu-se ainda ao aeroporto do Montijo, claro, é de seu interesse, então que tal comparticipar na sua construção???
    Não sou militante ou simpatizante do PS ou de qualquer outro partido, apenas reconheço que Pedro Nuno Santos, tem sido um dos poucos ministros da tutela que dirige, que tem tomado algumas atitudes com as quais concordo e que eram necessárias, não tenho pois conversa de “clubite política” de que felizmente não sofro.

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