A pandemia não tem solução?

(Pedro Tadeu, in Diário de Notícias, 20/01/2021)

Se formos ver os mortos com covid-19 por milhão de habitantes desde o início da pandemia, Portugal aparece agora em 28.º lugar entre os piores resultados do planeta. Na semana passada era 30.º.

Se analisarmos apenas os últimos sete dias de dados (ainda sem as mortes de ontem), Portugal surge, tragicamente, em terceiro lugar.

Muitas pessoas, desde março até agora, têm-se manifestado contra as medidas de restrição de circulação, dando o exemplo da Suécia como um país que obtinha bons resultados no combate aos efeitos da pandemia sem impor restrições exageradas.

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Se formos ver os números de mortes por milhão de habitantes na Suécia, desde que a pandemia começou, verificamos que ela aparece em 21.º lugar, pior do que Portugal mas não muito longe, e, se nos limitarmos à última semana de dados disponíveis (já com imposição de confinamentos obrigatórios), a Suécia surge em quarto lugar, encostada a Portugal.

Este parece-me ser um exemplo claro de como as maiores ou menores medidas de confinamento serão certamente relevantes, mas não explicam tudo sobre os níveis de contágio e de mortes por covid-19: como é que Portugal e Suécia, com políticas de reação à pandemia tão diferentes, acabam com resultados tão semelhantes?

Podemos dizer, honestamente, que países com serviços de saúde desenvolvidos, com populações com comportamentos sociais e culturais semelhantes, com climas parecidos, com geografias próximas, com políticas públicas muito iguais, têm resultados de resistência à pandemia semelhantes? Não.

Porque é que a Itália, desde março, ocupa o terceiro lugar de mortes provocadas pelo novo coronavírus, a Grã-Bretanha o sexto, a Espanha o 14.º, a França o 17.º e a Alemanha o 37.º? Há assim tantas diferenças nos comportamentos das populações, na gestão da crise pelos governos ou na resposta dos respetivos serviços de saúde para explicar esta divergência tão grande?

E porque é que os piores países do mundo, desde março, são europeus: a Bélgica, a Eslovénia, a Itália, a República Checa, a Bósnia e o Reino Unido?

Como é que não são os Estados Unidos, o Brasil, a Índia ou a Austrália, que nos aparecem muito mais frequentemente nos noticiários com carimbo de “catástrofe coronavírus”?

E porque é que, se olharmos apenas para a última semana, quem aparece no topo das mortes por milhão de habitantes com covid-19 são, novamente, países europeus, por esta ordem: Reino Unido, República Checa, Portugal, Suécia, Eslováquia, Lituânia e Eslovénia? A própria Alemanha aparece em 12.º lugar!

Portanto, ou toda a Europa está a fazer algo de errado em matéria de combate ao coronavírus, ou reúne um qualquer tipo de condição especial que está a favorecer este desastre – e como, em conjunto, estamos a falar da zona do planeta que possui os melhores serviços de saúde (e que nenhum afirma ter entrado verdadeiramente em colapso, apesar da elevada pressão), tenho de concluir que tudo o que os especialistas nos têm estado a dizer sobre esta matéria parece ser tão válido como os horrores que ouvimos sair da boca de Jair Bolsonaro ou de Donald Trump.

Resta, portanto, e infelizmente, o empirismo da experiência que coletivamente temos estado a viver.

Com esse empirismo percebemos, em primeiro lugar, que tentar contratar médicos e enfermeiros com contratos a prazo de quatro meses, em vez de reforçar o Serviço Nacional de Saúde oferecendo contratos permanentes, é o mesmo que não contratar.

Percebemos também que em março, quando fomos todos para casa cheios de medo, a pandemia regrediu.

No verão, dado o recuo de contágios, não foi estúpido tentarmos levar uma vida bastante mais normal.

No outono percebemos que nos tínhamos de voltar a defender e a ser mais prudentes. No Natal e no fim do ano fomos irresponsáveis e a doença disparou.

Em fases diferentes, comportamentos diferentes.

Quando falo em “nós” não estou a aceitar os ralhetes que Presidente da República, governantes, autoridades de saúde e alguns representantes de médicos e enfermeiros estão a dar à população por não estar a respeitar o confinamento geral.

Eles é que são líderes do país, eles é que são os sábios, e se a população não segue as suas indicações, isso acontece, exclusivamente, por culpa deles: ou porque não são claros e coerentes nas orientações; ou porque passam a vida a discutir publicamente uns com os outros, aumentando a confusão geral; ou porque perderam credibilidade e, por isso, autoridade.

Em face dos números de mortos e à lentidão da vacinação, o que há a fazer? Não sei. Mas o empirismo anterior aponta, pelo menos, para mais uma medida de confinamento: o fecho das escolas para maiores de 12 anos. E, infelizmente, para nos fecharmos em casa, com medo e a chorar os mortos.


Jornalista


4 pensamentos sobre “A pandemia não tem solução?

  1. Poderá ter alguma razão mas, a culpa é dos Portugueses em geral que não cumprem o que lhes é pedido algo simples :usar máscara e distanciamento social é simples mesmo a ver todos os dias as desgraças de dezenas e centenas de mortes ,não é o governo que mete juizo na cabeça das pessoas que só quando lhes tocar a porta fazem o que devem a vergonha que todos vimos na televisão em Cascais em que o dificil era encontrar alguém com máscara,mais as multas deviam ser a partir de 1000 euros e multar efectivamente os incompridores. culpar o Governo de quê ? È dificil perceber a regra fiquem em CASA !

  2. Que credibilidade nos pode transmitir um governo que num dia nos diz que mascara nem pensar e no seguinte nos obriga a usa-la mal metamos o nariz fora da porta e tem 4 ministros infetados com COVID 19.
    Como segundo o 1º dos ministros e o seu padrinho Marcelo a culpa das propagação pandemica é dos portugueses que não se portam bem, segundo o primeiro e não respeitam o contrato de responsabilidade social estabelecido com segundo, estes 4 ministros não são gente capaz nem de fiar tal como os outros cidadãos, portugueses, então uma vez que não é possível demiti-los da Portugalidade o Sr Costa que os demita do governo pois são um péssimo exemplo publico.
    Quanto à senhora do tira a mascara põe a mascara e mais a sua madrinha pouco Temida , mas enfim pelo menos amada, há muito que deveriam ter ido de charola. A primeira tresanda a patarequice e a segunda por manifesta falta de preparação para empreitadas desta monta, pois ela apenas estava talhada para flor na lapela do senhor Costa.

  3. Essa de que qualquer violação das ordens do governo é culpa exclusiva do governo sem que haja qualquer responsabilidade individual de quem viola a lei é surrealista.

    O governo tem tido avanços e recuos, como todos os governos, porque não se sabe com o que se está a lidar.

    Podia fazer melhor ? Neste caso a maior parte das vezes só temos a certeza depois do facto consumado, em que é fácil mandar bocas do sofá.

    Seja como for isso não justifica andar nas festas do covid e depois dar grandes beijocas na avó, “porque o governo não inspira autoridade”.

  4. Dizer que a culpa é “exclusivamente” dos lideres por esta rebaldaria que se vive é uma falacia manhosa para branquear a responsabiliade colectiva e individual de muitos idiotas e chicos-espertos estilo jantaradas ao abrigo do “direito de resistência” .

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