(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 27/12/2019)

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Quando a crise de 2008 rebentou a nossa divida pública estava em linha com a média europeia. Era a dívida externa, que junta a pública e a privada, que estava bem acima. As razões têm a ver com o euro e o que ele fez à já pouco saudável balança comercial, com a falta de capital nacional, com o processo de privatizações que obrigou a recorrer a capital externo, com a ausência de um mercado de arrendamento que leva ao endividamento das famílias, com dezenas de outras razões, algumas bem antigas. Seja como for, isso expunha-nos (e expõe-nos) especialmente a qualquer crise externa.
Entre 2009 e 2011, a fragilidade da nossa economia e a inação da União Europeia (ou mesmo a sua indecisão, que disse aos Estados para injetarem dinheiro na economia para depois os mandar recuar) teve um efeito brutal nos juros da dívida pública. Não foi apenas em Portugal. Por todo o lado, foi isto e o resgate aos bancos que transformou a crise do subprime em crise das dívidas soberanas. Depois, como sabemos, os Estados foram obrigados a minguar, mas o despautério da banca continuou. Convencer os povos que o problema estava nos serviços que os Estados lhes prestam foi fundamental para que o poder financeiro não tivesse de mudar nada.
Voltando a Portugal, ache-se o que se achar de José Sócrates, e é difícil achar alguma coisa de bom, não havia Sócrates na Grécia, na Irlanda, em Espanha ou em Itália.
Desde que entrámos no euro, as crises e recuperações da nossa economia devem-se muito mais ao que se passa na Europa do que ao que tenha feito Sócrates, Passos ou Costa. E a troika em Portugal foi uma escolha política de Bruxelas e Berlim. Assim como não ter existido uma intervenção direta em Espanha e Itália o foi.
A intervenção da troika foi uma catástrofe cujas dimensões ainda não podem ser medidas em toda a sua extensão. Foram 29,4 mil milhões, que corresponderam a 17% PIB, que a austeridade arrancou ao país. A dívida passou dos 108% do PIB, em 2011, para mais 130% no fim do período da troika. Foram destruídos 450 mil empregos, o desemprego ultrapassou os 20% (35% nos jovens). 120 mil a 150 mil pessoas emigraram por ano. Um quarto dos portugueses (eram 20% em 2009) passou a viver abaixo do limiar de pobreza, ao mesmo tempo que as grandes fortunas aumentavam 13% e surgiram mais 350 milionários em Portugal. No resgate à banca, fizeram de Portugal uma cobaia com efeitos desastrosos.
Não foi feita qualquer reforma estrutural da economia e do Estado. Todos os problemas estruturais do país estão intactos, porque resolver nunca foi o objetivo da intervenção externa. O objetivo era garantir o pagamento da dívida através da sua transferência da banca para as instituições com capacidade de cobrança. De resto, apenas mais umas privatizações, mais umas mudanças nas leis laborais, cortes no rendimento e um emagrecimento cego e irresponsável do Estado cujos efeitos se sentirão por muito tempo, porque é mais difícil reconstruir do que destruir. O único ganho foi a descida das taxas de juro, com acesso facilitado ao crédito. O que poderia ter sido conseguido com uma intervenção atempada da UE e do BCE, logo no início da crise grega, que desse confiança aos credores.
Só fomos poupados às repercussões políticas mais graves a que assistimos noutros países. Ao contrário de outros, tivemos a sorte de terem sido dois partidos de esquerda, que algumas pessoas gostam de comparar à extrema-direita, a absorver o descontentamento e, com esses votos, contribuírem para uma solução governativa. O efeito político mais duradouro foi mesmo à direita, especialmente no PSD, que perdeu o voto dos reformados, vítimas de uma austeridade que lhes cortou rendimento num período da sua vida em que a adaptação é mais difícil. Um preço que os social-democratas ainda estão a pagar. Veremos com que efeitos para o regime.
Mas houve uma coisa em que aqueles três anos tiveram efeitos profundos: animaram, com a ajuda do discurso autopunitivo contra um povo que tinha vivido acima das suas possibilidades e a aceitação rastejante de uma intervenção estrangeira, o pior da nossa identidade coletiva. Uma identidade desenhada por meio século de ditadura e marcada pelo medo e a subserviência. Ela está muito viva. E ainda serve ao poder político e económico.
Errata.
A troika não foi uma imposição da UE. Alemanha e Bruxelas não queriam cá a troika e por isso nos foi oferecida uma saida mais fácil n pec4, como a que tiveram os espanhóis.
Quem queria a troika com avidez era o PSD-CDS e nisso foram ajudados pela esquerda, que ajudou a derrubar o sócas inviabilizando o programa de saída mais suave.
Graças a essa “geringonça” da esquerda com o Passos tivemos 4 anos de inferno.
Obrigadinho pessoal…
Pois claro, o completamente diferente PEC IV, aquela completamente diferente e socialista, ia ser o último, está-se mesmo a ver que não havia impacto na procura e portanto no défice.
Tudo indica que ia ser muito diferente, como vimos aqui mesmo ao lado, em Espanha.
Mas nunca saberemos, porque vocês sabotaram essa saída, aliados com o Passos. Mas pelo menos não íamos ter esse gajo á frente do país numa crise nacional profunda que serviu de justificação para todos os desmandos.
Foi como soltar a raposa no galinheiro, sendo nós as galinhas.
Tenho de agradecer á esquerda ter sido encabado pela extrema direita.
Deu para perceber o que sentiram os polacos em 39…
PS
O que andas a fazer a esta hora?
Achas que isto são horas de andar a escrever na net?
São horas como as outras.
Os Polacos em 39 perguntavam onde andavam os mui nobres britânicos e franceses, seguros atrás de uma muralha de água e de betão, respectivamente.
Mas pelo menos os britânicos e franceses não se aliaram a Hitler e não atacaram a Polónia pelas costas, assassinando de seguida dezenas de milhares de prisioneiros polacos.
Foram milhões de vezes mais nobres que os esquerdistas de Moscovo e dos outros países que apoiaram essa traição.
O problema de querer escolher bons e maus é que se faz o branqueamento a escolhas horríveis, mudando de assunto. É claro que Estaline era uma merda, isso não faz com que o comportamento aliado fosse honrado.
Eu não disse que foi honrado.
Os aliados foram umas put…
Eu disse que em COMPARAÇÃO com o os comunistas foram milhões de vezes mais “honrados”.
O que não é preciso muito dado o grau de traição abjecta dos soviéticos.
É a diferença do grau de “honra” entre alguém que é negligente a socorrer um ferido e um serial killer que mata milhares.
Você diz que é tudo igual, mas NÃO é.
Apesar de tudo os aliados declararam guerra á alemanha nazi, os soviéticos aliaram-se á alemanha nazi.
É igual uma ova. Isso é branqueamento dos crimes estalinistas.
É igual porque para mim vale zero. Se acha que é um bocadinho acima disso, também está bem, não vou dizer que não é valido.
Precisamente, é o que eu estou a dizer.
Como para vocês é tudo igual aliam-se a tipos como o Hitler ou o Passos.
É por isso que vocês são perigosos.
Não, é dizer que austeridade com um sorriso só adia o inevitável, e que pessoas que se intitulam de responsáveis já deviam ter aprendido com as várias repetições da mesma farsa – ainda por cima, neste caso, com os mesmos erros.
Certo!