(Carlos Esperança, 26/12/2019)

É injusto comparar o cardeal Tolentino de Mendonça, agora em vias de reabilitação pelo Governo Regional da Madeira, depois do sólido ódio que Alberto João Jardim lhe devotou, pela sua postura cívica e progressista, com o cardeal de Lisboa.
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O bispo de Viseu que resignou voluntariamente em 2018, Ilídio Pinto Leandro, clérigo humanista e tolerante, era diferente do atual bispo do Porto, reacionário e provocador.
A Igreja católica não é monolítica e, neste momento, o Vaticano é uma referência para a paz e concórdia, quando os nacionalismos e as religiões se dão as mãos numa sangrenta aliança, islamismo, judaísmo, catolicismo, hinduísmo, protestantismo evangélico e, até, o budismo, que, não sendo um teísmo, acaba por ser referência espiritual.
Comparar o Papa Francisco com João Paulo II, amigo de todos os ditadores de direita, é erro clamoroso e uma injustiça que o atual pontífice não merece. Francisco não faz mais credível a crença, mas torna-a mais respeitável e respeitada.
Há nos bispos das duas maiores cidades portuguesas uma aparente nostalgia da ditadura e a gana belicista contra a democracia, que se revelam em mensagens e entrevistas com que se dirigem ao país.
Na guerra dos colégios privados coube a liderança ao cardeal Clemente que investiu de colete amarelo contra o Governo legítimo, que apenas lhe moderou a gula com que quis ir ao pote do Orçamento de Estado, para benefício dos seus estabelecimentos de ensino, esquecido do escândalo que representam as isenções fiscais e privilégios obscenos que a Concordata e a falta de coragem de sucessivos governos consentem à sua Igreja.
Em 24 de dezembro, nas quatro páginas que o Público lhe concedeu para uma entrevista (pg. 2/5), foi o bispo do Porto que disparou contra a democracia, parecendo um Cruzado, não um sucessor do honrado bispo Ferreira Gomes, que a ditadura exilou.
Manuel Linda, bispo criado por Bento 16, considerou o fim dos contratos de associação com os colégios da Igreja “das coisas mais dramáticas que aconteceram desde 1834”, num indisfarçável ódio ao liberalismo, ao comparar a contenção na úbere teta do Estado com a extinção das ordens religiosas em Portugal, implícita na data. É preciso topete!
“O Estado [ler ‘atual Governo’] não é pessoa fiável”, como se o fosse o ex-comandante dos católicos fardados com estrelas de general. Queixa-se de que a Igreja “pode receber [dinheiro] para fazer obras de remodelação em alguns monumentos, porque o Estado se apropriou deles, quer na altura do liberalismo, dos bens que eram das ordens religiosas, das igrejas concretamente, quer depois, em 1910. A Sé do Porto, teoricamente falando, é do Estado”. Na prática, é do bispo.
Não agradece o uso gratuito e a conservação, queixa-se de a Igreja estar a ser afastada, ao não lhe darem o indevido dinheiro do Estado, e acrescenta: “A nossa [da Igreja] carta fundacional, a nossa Constituição da República chama-se Evangelho”, como se o livro lhe outorgasse o direito aos dinheiros públicos e a lei, num país laico, o isentasse.
O posicionamento reacionário em relação à doutrina católica, é assunto que aos crentes diz respeito, mas os ataques à democracia e a volúpia pelos dinheiros públicos são um caso de vigilância perante um bispo em rota de colisão com a democracia.
Não há paciência para aturar primatas paramentados, mais próximos da Hungria e da Polónia do que do Vaticano.
E DIGO EU :- A estes primatas de sotaina, que dizem com inaudito descaramento “que a Igreja (deles…) é a “Constituição” (deles…) e chama-se “Evangelho”, eu digo-lhes com todas as letras, que A NOSSA CONSTITUIÇÃO” é a Constituição da República Portuguesa, LAICA E TÃO DEMOCRÁTICA E ECUMÉNICA, que permite às várias religiões, a Católica, a Protestante, a Adventista, etc., etc. a sua livre existência e prática religiosa !
E se OS PRIMATAS querem mais dinheiro, QUE NÃO PEÇAM AOS CONTRIBUINTES, sejam eles ateus, agnósticos, ou fiéis dessas outras religiões, que paguem, através dos seus impostos, as escolas privadas e outras instituições católicas !
SE OS PRIMATAS querem mais dinheiro, que o peçam à Conferência Episcopal a que pertencem, ou ao MEALHEIRO de Fátima, cujos milhões, impunemente, não são declarados ao Fisco, e permitem obras faraónicas e ultra-modernistas, como é o caso da nova basílica de Fátima.
A LÊR NA ÍNTEGRA
Ui?
Nota. Este gajo embebeda-se sempre que escreve n’A Estátua, de certeza.
Bastaria que o fenómento Fátima pagasse IVA. Porque não?
O que é que JC disse sobre o assunto? “A Deus o que é de Deus, a César o que é de César”?
Muito pouco cristãos, estes católicos.