Corrupção: democracia com costas largas e partidos com costas pequeninas

(José Pacheco Pereira, in Público, 08/06/2019)

Pacheco Pereira

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É curioso ver como, nesta discussão sobre se há uma “crise de regime”/”crise das direitas”, quase não entra o tema da corrupção. Isto numa altura em que há uma nova série de prisões e acusações a responsáveis políticos e autárquicos, com o curioso nome de código de “a teia”. E quando se sabe que, diferentemente dos outros países onde os refugiados e emigrantes são o tema central, a principal fonte do populismo em Portugal é a corrupção. Porque, por muito que haja corrupção imaginária e exagerada, há muita real, a começar pela efectiva existência de uma ecologia da corrupção, centrada nos partidos políticos do poder, e no acesso ao Estado que eles permitem. A democracia tem costas largas em matéria de corrupção, os partidos pelo contrário tem costas pequenas, pequeníssimas. Esse problema não pode nem deve ser ocultado, por muito incómodo que seja.

Aliás, não se pode esconder de ninguém que o país vive banhado nessa ecologia, a começar por tudo o que se vem sabendo de uma “teia” centrada num anterior primeiro-ministro, que abrange ministros, secretários de estado, homens de mão nas empresas, na banca, na universidade, na imprensa, em blogues, um pouco por todo o lado. Não se trata de não lhes dar a presunção da inocência, nem de denunciar os abusos da acusação mas, o que já se sabe e não é negado pelos próprios, chega para se tirar uma conclusão bastante sólida sobre a existência de uma ecologia de corrupção, desde os partidos ao topo do Estado. E convém não esquecer que estão presos altos responsáveis políticos do PS e do PSD.

Comecemos pela “crise de regime”, e deixemos a “crise da direita” naquilo que não é expressão da “crise de regime” para outra altura. “Regime”, “sistema” e outras expressões usadas no discurso populista e não só, são expressões ambíguas que sugerem que é a democracia que gera a corrupção.

Na verdade, as democracias tornam a corrupção muito mais visível do que as ditaduras, mas as ditaduras são muito mais corruptas, até pela impunidade que dão à corrupção. Já referi isto e repito, basta ver o que a censura cortou durante 48 anos de ditadura em Portugal, para se perceber não só a dimensão da corrupção como a impunidade que dava o acesso ao poder autocrático.

É a corrupção hoje em Portugal um problema estrutural da nossa democracia? É. E o epicentro da corrupção em Portugal são os partidos políticos, não por existirem como é normal numa democracia, mas pela forma como evoluíram nos últimos 45 anos e como estão e são hoje, quer a nível do poder político central, quer autárquico. Há corrupção em todos os partidos, mas ela concentra-se naturalmente nos partidos de poder, no PS, no PSD, e no CDS.

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Há corrupção nos outros partidos? Há, mas funciona de forma diferente e não tem o peso que tem nos partidos com acesso ao poder. E uma das razões pelas quais o problema da corrupção é estrutural é porque ela associa-se ao exercício do poder e da autoridade política, atraindo quem quer fazer uma carreira beneficiando primeiro das benesses dos cargos políticos e, depois, do poder em benefício pessoal. E os grandes partidos estão cheios de gente dessa, das “jotas” aos adultos. Por isso, as democracias podem adoecer de corrupção, quando os mecanismos da corrupção se associam intimamente ao seu funcionamento.

A “crise de regime” é um problema de polícia, de lei e de tribunal, mas é também um problema político, porque é aqui que a corrupção comunica e inquina a democracia. Os partidos políticos de poder em Portugal não têm nenhuma cultura interior anti-corrupção, bem pelo contrário. O resultado é que é possível fazer carreira ascendente nesses partidos sem qualquer problema, mesmo quando a maioria dos militantes sabe – e no interior dos partidos sabe-se muito – que as pessoas em causa são corruptas ou fecham os olhos à corrupção à sua volta.

Conheço casos no PS e no PSD, em que militantes com altos cargos tiveram acusações muito gravosas que nunca verdadeiramente negaram, e que, ou por incúria da justiça ou porque a polícia ficou à porta dos offshores, não sofreram a mínima beliscadura nas suas carreiras partidárias ganhando inclusive eleições internas sabendo toda a gente que neles votou quem eram e o que faziam. Ou, que foram consistentemente promovidos a lugares cimeiros, ou a seja novas oportunidades de roubar, pelas lideranças, ou porque controlavam sindicatos de votos ou pura e simplesmente por indiferença.

No essencial, este problema não é jurídico, mas político: como é possível permitir o sucesso dentro dos partidos dessas pessoas? Não se trata de as denunciar e investigar, porque isso é função das polícias, mas também de não esperar para as expulsar quando entram na cadeia, é antes de escolher por critérios éticos e políticos de modo a não lhes permitir usar o partido e os lugares no estado a que tem acesso para roubar. E compreender os enormes estragos que fazem à honra, de há muito perdida, dos partidos e à saúde da democracia. E, por isso, o problema tem a ver, e muito, com as lideranças que devem ter cuidado com os abraços que dão e com as companhias que escolhem, principalmente quando, como se dizia no magnífico português antigo, são velhos “conheçudos”.


11 pensamentos sobre “Corrupção: democracia com costas largas e partidos com costas pequeninas

  1. Foda-se que para este falhado político até as recentes caças a socialistas pela PJ e MP atribui à “ecologia” de corrupção com origem no governo Sócrates.
    Sim, a corrupção para este implicado e falhado não deve nada aos governos de Cavaco e aos seus Ministros e Secretários nem o seu amigo e chefe directo Duarte Lima na AR nem os seu correligionários feitos no cavaquistão e idos para o BPN apadrinhado pelo Mestre Cavaco têm um grão de comprometimento na sua visão “ecológica” da corrupção.
    O falhado político Pacheco que aqui relembra esse episódio do seu falhanço ao perder as eleições para a Distrital de Lisboa atrbuindo-o à corrupção do seu opositor apanhado com mala cheia de notas e que depois até se alcandorou a voos mais altos (vocês sabem de quem estou a falar, não sabem?) nem perante tal episódio de corrupção (investigado e deitado ao caixote do lixo, claro) e mais tarde face ao maior caso de fraude de corrupção da Democracia portuguesa e praticado pela elite cavaquista, à qual pertencia, no BPN e nunca viu nada, nadinha, nem uma pégada sequer quanto mais uma “ecologia” sistémica.
    Haverá maior ataque à Democracia de Portugal que este artigo de total ressentimento e ressabiado contra os partidos e os políticos que, não sob a linguagem do “chega” e do “basta”, é mil vezes mais populista e demagogo que aqueles e vindo de quem vem é mil vezes mais perigoso?
    Pior que ser um falhado político é querer fazer da política e dos políticos a causa do seu falhanço.

  2. Foda-se que este falhado político até as recentes caças aos socialistas pela PJ e MP são atribuídas a uma “ecologia” de corrupção com origem no governo de Sócrates.
    Sim, não são da escola do Mestre Cavaco cujos alunos deram o maior golpe de fraude e corrupção no BPN onde uma elite partidária de que fazia parte e era correligionário, entre eles o seu chefe directo na AR Duarte Lima, foram apanhados com a mão na massa que não com os pés no calabouço.
    Este falhado político que aqui, subrepticiamente, vem contar a história de quando perdeu as eleições para a Distrital de Lisboa para o adversário apanhado com mala atacada de notas (vocês sabem de quem é que estou a falar) e que depois foi alcandorado para mais altos voos, nem perante tal episódio nem face ao colossal acto corrupto do BPN vê sequer uma pégada na sua ecologia de corrupção sistémica.
    Haverá maior ataque à Democracia de Portugal do que este populismo demagógico contra os políticos e os partidos?
    E ataque não feito segundo os dos “chega” ou “basta” mas segundo argumentação sofística sob ressentimento e ressabiamento do seu percurso de falhanço político e apoios ideológicos a corruptos o que vindo do seu estatudo de intelectual se torna muito mais perigoso do que vindo dos demagogos broncos.
    Pior que ser um falhado político é querer fazer dos partidos e políicos o bode expiatório desse falhanço político próprio.

  3. Pacheco não é um falhado político porque eu o digo ou queira que seja, ele é de facto um falhado político ressabiado até com os políticos do seu partido que, por serem corruptos, o corromperam também a ele ao ponto de o relembrar amargamente neste seu escrito.
    Jovem veio da maoista marxista-estalinista-maoista OCML directamente para o seio do PSD de Sá carneiro, um homem do salazarismo marcelista.
    Feito político de partido de poder enveredou por um apoio ideológico incondicional ao medíocre Cavaco uma antítese de intelectual como era o seu próprio estatudo.
    Com Cavaco apoiou todas as políticas manhosas deste no monstruoso surripianço partidário dos ‘fundos’ da UE e toda a política do economista montanheiro desconfiado e, consequentemente, falhado por total falta de conhecimentos sólidos como economista apenas reconhecidos pelos próprios auto-elogios e elogios de apoiantes interesseiros e não por qualquer elogio ou reconhecimento vindo da UE ou economistas consagrados quer por cá quer de fora.
    E com Cavaco e face à pequenez visão política deste viu a sua oportunidade de guindar-se a altos voos políticos. Para isso fez vista grossa sobre a crescente escola de corrupção que começou a grassar no seu partido ocultando e nunca denunciando nem sequer a evidente e gritante corrupção do seu chefe de bancada parlamentar Duarte Lima.
    Só depois de perder a distrital de Lisboa por trafulha de compra de votos do seu opositor (que a imprensa relacionou com o dinheiro da mala) e com o rebentamento do caso de corrupção nunca visto como foi o BPN é que iniciou algumas manobras de recuo.
    Ainda tentou nova oportunidade com Manuela F. Leite mas foi, novamente, outro desastre. Esta senhora já era conhecida de ginjeira de ser Secretária e Ministra de Cavaco pesporrenta autoritária também ela a armar-se em em grande economista ao estilo cavaquista e propagandeada por Pacheco. Resultado, novo falhanço para o político Pacheco.
    Por fim agarrou-se a Durão e, desesperado, até apoiou a declaração de guerra ao Iraque a maior vergonha política de Portugal Democrático.
    Mas pior, nem depois da mentira colossal das armas de destruição maciça de Sadam, deixou de apoiar Durão que já tinha traído os portugueses ao abandonar o país para receber o prémio de sua corrupção face ao poderoso americanismo.
    Nem logo no início do mandato de Durão quando este se “enlaçou” nos braços do Pereira Coutinho da ‘SIVA’ nem imediatamente como Presidete da UE se “enlaçou” nos braços do armador grego, os quais imediatamente resolveram e realizaram os seus altos negócios encravados pela Lei, nem com tais exemplos Pacheco deixou de estar com Durão que lhe prometera um lugar de embaixador na OCDE.
    Nem ainda hoje, depois de Bruxelas nem sequer o querer ver à porta por motivos de ser corrupto e promotor de corrupção ao serviço do Lemnon americano, o Pacheco teve uma palavrinha sobres este caso de alta ecologia de corrupção do seu amigo.
    Uma história triste, muito triste, que o leva a deitar tais dejectos da boca contra a Democracia comportando-se, tal qual, como os labregos políticos das tascas se comportam contra os políticos e a política que, como dizem “são todos corruptos” que corresponde exactamente no Pacheco ao dizer diz que ; fazem todos parte de uma “ecologia” de corrupção.
    E mesmo assim no “todos” da ecologia não inclui o maior e mais universal corrupto de sempre em Portugal de quem foi subserviente e servidor.

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