(Helena Pereira, in Público, 03/05/2019)
Era a única decisão coerente, depois de tudo aquilo que o Governo tinha dito. Era a única decisão tacticamente acertada do ponto de vista eleitoral, depois do pacto de PSD e CDS com o PCP e BE. António Costa pode ter muitos defeitos, mas sabe jogar o jogo da política. Iria desperdiçar a oportunidade? Com certeza que não.

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O guião da campanha do PS já ficou traçado na declaração desta tarde em S. Bento.
“Não foi o Governo que escolheu este calendário”, disse Costa – ou seja, foi o Presidente que vetou o Governo e a oposição que escolheu o momento para apresentar as apreciações parlamentares.
O BE e o PCP “foram coerentes com o que sempre defenderam desde 2017”, acrescentou – o mesmo não disse dos partidos de direita, CDS e PSD, principal alvo da fúria dos socialistas.
“Não devemos estragar o que tanto trabalho nos deu”, referiu – uma forma de apelar aos portugueses que consideram injusto a contagem total do tempo de serviço dos professores.
Por fim, a aprovação da lei “é uma ruptura irreparável” com o “compromisso de recuperação da credibilidade do país” – Portugal é um bom exemplo na Europa e Costa não quer deixar de o ser, custe o que custar.
Quem esperava outra coisa de António Costa? Augusto Santos Silva, número 2 do Governo, começou o dia a insistir que o Governo não pode pôr em causa a responsabilidade orçamental nem os compromissos assumidos internacionalmente. Mário Centeno já o tinha deixado claro quando foi ao Parlamento no início da semana dizer que tinha havido uma traição por parte dos partidos que apoiam a “geringonça”. “Esta proposta [recuperação total tempo de serviço] não foi sufragada pelos portugueses. Nenhum partido a apresentou na última campanha eleitoral”, disse, sublinhando que esta questão só acabou por ser colocada em Novembro de 2017, quando estava a ser ultimado o Orçamento de Estado para o ano seguinte.
António Costa que quis, a partir de 2018, recentrar o PS mais ao centro, teve agora uma oportunidade de ouro: partir para uma campanha de legislativas antecipadas como o partido moderado e responsável. Vida dura agora para o PSD e CDS, que ainda desafiou ingenuamente Costa a apresentar uma moção de confiança.
À direita, é, pois, expectável agitação. Deve tardar pouco para que a oposição interna de Rui Rio, que tem estado adormecida desde a derrota das pretensões de Luís Montenegro, venha apontar o dedo ao “despesismo” do homem das contas certas.
Lembro ainda que não é a primeira vez que um Governo de maioria relativa em funções enfrenta uma coligação negativa. Aconteceu a Sócrates com o PEC IV, em 2011, provocando eleições antecipadas. Tinha acontecido no final de 2009 e em 2010, culminando com a aprovação de uma lei das Finanças Regionais, que aumentou o cheque que Lisboa teria que passar à Madeira. O então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, ameaçou nessa altura demitir-se. Tratava-se de cerca de 102 milhões, agora estarão em causa 800. Tratava-se de uma matéria da exclusiva competência do Parlamento, agora não. Imaginem o que estará Mário Centeno a pensar neste momento. Sim, o mesmo que ainda no mês passado garantia, em declarações ao Financial Times, que a trajectória escolhida pelo Governo socialista não representou uma alteração “drástica” face às políticas que estavam a ser implementadas pelo executivo de Pedro Passos Coelho.
Não havia outra saída, pois não?
Quando convém fazer publicidade, é uma mudança enorme; quando se fala entre colegas, já não foi grande mudança. Quando for para outra porta rotativa, a sua grande obre há-de ser manter os salários baixos e os serviços no estado que estão.
A atitude não é só de Centeno, razão pela qual a discussão também nunca é productiva e nada se altera.
Manuel G., não sei se o original ainda está assim mas, 20 minutinhos depois de estar online, avisei os tipos do P. no #Twitter e, alegadamente, a própria menina Helena através do site.
Mas-mas, mas que siga a festa, qu’é o que temos (tanto aqui como na caixa de comentários os leitores nem notam as bacoradas, as usual).
Um artiguinho do JMT parece que elogia o António Costa, o Daniel escreve quase nada de jeito e eu, que ainda não vi a declaração na TV, tenho para já mixed feelings.
Ajuizadamente, voltarei ao assunto.
Da série “Cada tiro, cada melro!”
«António Costa que quis, a partir de 2018, recentrar o PS mais ao centro, teve agora uma oportunidade de ouro», …?
Nota. Difícil seria recentrá-lo à esquerda ou à direita, acho.
[Enfim.]
Confirmei agora, está alterado online (não faças tu má figura, pá!).
[Vou para o céu, eu.]
Entretanto, Ana Sá Lopes.
[…]
A campanha para as europeias morreu. Agora, só se falará em boas contas. Até Julho — se Marcelo aceitar a data que o Governo prefere — ou até Outubro, se não mexer uma palha no calendário. A tentativa de proteger Bloco e PCP (“foram sempre coerentes”) mostra que Costa não sabe qual é o futuro, até porque as maiorias absolutas são difíceis. A demissão, no caso concreto de Costa, não é um gesto arriscado — é a única via para atingir o objectivo do “centrismo” que não tinha conseguido antes.
https://www.publico.pt/2019/05/03/politica/editorial/costa-fez-bang-direita-1871436?utm_source=notifications&utm_medium=web&utm_campaign=1871436
E eu aqui à espera de uma discussão sobre a Europa tão detalhada como todas as outras.