O silêncio

(In Blog O Jumento, 08/07/2017)
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Na sociedade portuguesa criou-se um dogma em torno da justiça, levando a que as várias instituições que a representem sejam tratadas como se fossem templos inatacáveis e não percebi ainda se é por causa do respeitinho típico dos portugueses ou do medo igualmente típico por estas bandas. Com muita gente a recear alguma vingança, transportando para este domínio os preconceitos religiosos, o medo do castigo de deus tem muitas semelhanças com o medo de nos metermos com os poderes judiciais.
Os políticos são eleitos e da mesma forma que são escolhidos para os cargos também podem ser facilmente destituídos, mesmo assim são vítimas de todo o tipo de críticas e processos difamatórios, estejam no governo ou na oposição. Os magistrados que não passam de funcionários públicos cuja formação inicial foi ministrada numa escola onde, segundo se soube nas notícias, o copianço abunda nas avaliações, comportam-se como sacerdotes da democracia.
Um bom exemplo da gestão do medo por parte dos magistrados sucedeu com Sócrates e não me refiro ao Caso Marquês, que parece estar a ultrapassar todos os prazos na esperança do ex-primeiro-ministro morrer de velho. Incomodados nas suas mordomias os juízes recorreram à sua absurda associação sindical para vasculharem as despesas feitas pelos governantes com os cartões Visa, na esperança de se vingarem. Ao que parece não conseguiram nada, mas não lhes faltarão oportunidades para se vingarem de Sócrates.
Sendo a única instituição portuguesa que não é alvo de críticas, a PGR faz uma gestão criteriosa da comunicação. Contando à partida com vários órgãos de comunicação social com o estatuto de oficiosos e jornalistas que gostam de fazer de porta-vozes, a tarefa é fácil, uma instituição que, por respeito medieval ou por medo ninguém critica, limita-se a gerir uma separação de poderes que parece existir num único sentido.
Talvez por isso ninguém tenha até agora questionado a senhora Procuradora-Geral sobre a razão de nada ter feito quando lhe chegou a denúncia de que estaria iminente um grande assalto aos paióis de Tancos. Se o tivesse feito Portugal e a Europa estariam agora mais tranquilos, a imagem do país não estaria danificada e os cidadãos sentir-se-iam mais seguros. Perante o alerta os militares teriam tomado medidas.
Mas a PGR preferiu que nada fosse feito e ficou em silêncio, aliás, perante a denúncia da sua atuação continua em silêncio, algo raro numa instituição que mal é beliscada emite logo um comunicado. A Procuradora-Geral não pode passar mais tempo em silêncio, sem justificar a sua opção, dizer porque estando em causa a segurança nacional optou por não alertar ninguém e tratar deste caso como se fosse um roubo de galinheiro. Não só deve justificar-se como assumir as suas responsabilidades.
O Chefe do Estado maior do Exército disse sentir-se humilhado com a forma como os militares atuaram. É mais ou menos o mesmo como muitos portugueses se sentem neste momento por saberem que o roubo podia ter sido evitado.

6 pensamentos sobre “O silêncio

  1. Vale, a atenção que também neste caso, é dispensada, atenção, preocupação, qualificação, pelos 230 bonzos parlamentares.
    Como acabado de ver na audição do chefe do Exército e do MDN.
    A bem do Regime.

  2. Tem razão o Jumento ao associar governantes, povo e elites, ou seja a Democracia, de boca mui bem fechada e caladinha perante o exorbitante exercício de poderes dos magistrados do MP, sua PGR e círculos da sua hierarquia que mais parecem demonstrações de força de poder para meter medo que aplicação de leis e justiça.
    Mas, como canta o poema, há sempre uma voz que resiste. E, ironia da ideia de promoção do medo através da justiça exemplar-vingativa, é precisamente face à aplicação pessoal mais feroz dessa ideia como paradigma do amedrontamento geral que, tal procedimento de actuar de forma a vencer-dobar o outro pelo-medo, nenhum efeito de medo tem produzido. O, especialmente, visado como exemplo para amedrontar e calar todos é, precisamente, aquele que não só não se cala como é o único acusador sem medo das prepotências e abusos de justiça usados por quem, em Democracia, apenas está mandatado para julgar segundo a Lei escrita, sem mais.
    Os estóicos suportavam os males e desgraças sem medos e os epicuristas aceitavam a morte como o mais natural da existência humana. O medo ou medos de força de poderes ou de fantasmas não lhes tolhiam o passo e menos ainda o seu comportamento: tinham a coragem de não ter medo.
    As duas correntes filosóficas citadas criaram-nas os gregos antigos quando perderam definitivamente a independência e liberdade. Precisamente, face à perda de liberdade de movimentos e exteriorização de oposição de pensamento, criaram e interiorizaram aquele modelos filosóficos em reacção à perda de liberdade; criaram uma liberdade de força interior, íntima.
    Atingido um tal estado de alma nenhum medo mete medo.

  3. È claro que mete mêdo…Quem aqui nunca viu a “Bela adormecida”?…Ok,tudo bem eu estava a pensar na bruxa má ! Tenho porém de confirmar que prefiro a bela adormecida….Os franceses têm um ditado giro..C,est pas notre faute á nous par la tronche q,on a mais,c,est notre faute á nous par la tronche q,on fait..Também sou feio,não gosto nada.de mim mas,expresso o meu ponto de vista sem tentar ofender seja lá quem fôr…Acho que as virtudes devem partir de dentro,sermos humanos respeitando o próximo e ir levando a vida já que a vida são dois dias….Contra factos não há argumentos…Tenho ” n” projectos na gaveta mas não posso deixar todos para trás,alguns,os prioritários que condicionam a minha envolvência,vou resolvendo.Se não resolvermos os mais graves,é certo e sabido que o céu nos cai em cima como nos contos do Astérix…Temos o 4º poder da nação nas lides…Todo o trabalho merece salário,se há salário alguém paga,quem paga manda e,se o trabalhador não desempenha bem e rápidamente a sua função,vai para o olho da rua,normal não é ?…Calma estamos a falar de magistrados…Quem paga aos magistrados?..O zé povo que nem mil euros ganha;mas os srs magistrados querem fazer greve,já que querem mais salário…E se o zé povo não quiser pagar ?….Vai para o olho da rua…Produtividade,se o zé povo não for produtivo,é substituído e os magistrados não ? Porquê ?..Idoneidade,a sério?… e rapidez e eficácia,cruzamento de dados,ou pelo menos cumprir a lei ?…Nem isso?…Quem não merece o que ganha,vai para a rua e dá lugar aos mais novos…È a lei da vida.Elites são desnecessárias e toda a gente está farta,Queremos resultados senão rua.A incompetència não pode ser paga,tem que ser corrigida.

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