(In Blog O Jumento, 21/04/2017)

Se há tique tipicamente português que me irrita é essa mania de em vez de pensarmos sempre pela nossa cabeça haver sempre alguém que preguiçosamente inteligente nos diz que há ali, num qualquer país, a solução para o nosso mal.
Mas o que nunca me passou pela cabeça, foi que depois de anos e anos a usarem a Grécia como uma reencarnação do diabo, o Montenegro se lembrasse de nos sugerir que imitássemos aquele país no sistema de escolha dos deputados. (Ver notícia aqui)
Tivemos sorte porque o Montenegro poderia ter sido ainda mais criativo nos exemplos de soluções para a formação de governos estáveis. Também de agradecer a generosidade de Montenegro, por não ter sugerido que a adoção do modelo helénico da borla de deputados tivesse efeitos retroativos. Ao fim de mais de um ano os dirigentes do PSD ainda não se conformam com a ideia de que numa democracia parlamentar um governo tem de contar com o apoio da maioria dos deputados.
Esta não é a primeira ideia de revisão constitucional que parece servir apenas para testar a sanidade mental dos restantes partidos portugueses; logo que percebeu que não tinha maioria no parlamento Passos Coelho começou por sugerir uma revisão constitucional na hora, para viabilizar a realização imediata de eleições legislativas antecipadas; a ideia era realizar tantas eleições antecipadas sucessivas quanto as necessárias para a direita poder contar com uma maioria absoluta.
O desespero do PSD é grande e já ultrapassa o horizonte temporal desta legislatura, Passos Coelho pôs fim à ideia de uma governação apoiada no chamado bloco central e quando o PS era liderado por Seguro ainda se divertiu com falsos diálogos promovidos por Cavaco Silva. Até aí não era necessária qualquer revisão constitucional, nem para antecipar eleições, nem para dar deputados à borla.
Agora que todos os deputados do parlamento contam para a formação dos governos, e perdida a ajuda do diabo, Passos Coelho percebeu que a atual solução governativa nada tem de geringonça. Sabendo que uma coligação governamental de toda a esquerda é impossível e com Cristas a recusar a repetição do PAF, restava ao PSD uma borla de deputados para poder governar.
A solução até faz sentido, o que não faz sentido é que Passos Coelho, Montenegro, Marco António Costa, Maria Luís Albuquerque e mesmo Assunção Cristas, pensem que na esquerda são assim tão parvos para que o PSD pudesse passar a governar com uma maioria absoluta no parlamento mesmo com menos de 30% dos votos.
E dizem-se democratas, para esta gente se três partidos de esquerda tiverem 70% dos votos mas individualmente nao chegarem aos 30% dos dois partidos de direita coligados, para esta gente isso quer dizer que a maioria do povo quer ser governada pelo programa da direita, são este tipo de Licenciaturas que tiram nas Universidades Portuguesas.