Proposta de proibição do Verão para os políticos

(José Pacheco Pereira, in Sábado, 26/08/2016)

Autor

                Pacheco Pereira

Mas o que é que deu a vários políticos no activo que quando chega o Verão perdem o juízo todo? Eu sei que o sol tem estado muito forte, e a canícula é grande, mas todos são gente com dinheiro para se protegerem, estarem repousados no ar condicionado, usarem bons chapéus e porem cremes no corpo. Mas não, passam-se da cabeça e do corpo e é um estendal pouco dignificante nas revistas do “coração”, que, pelo menos uma vez por ano, não têm como matéria prima apenas as estrelinhas das telenovelas e os famosos porque são “famosos” e têm gente que, todos esperamos, sabem o que fazem. Às vezes duvido.

Podem dizer, e esse é também o argumento comercial e interesseiro das revistas e dos fotógrafos que vendem as férias dos “famosos”, que não havendo nada a esconder, tudo se pode mostrar. Mas mostrar e exibir são duas coisas diferentes. Não são fotos de paparazzi tiradas às escondidas, mas exposições e poses consentidas e certamente negociadas, feitas voluntariamente num exibicionismo insensato, para não dizer outra coisa.

Vejamos dois exemplos: o que leva o nosso Presidente da República, que eu pensava mais comedido nestas matérias, a exibir a sua praia em companhia, numa companhia que, aliás, sempre se tinha pautado pela reserva e ainda bem? O outro exemplo é o de Assunção Cristas que se mostra para a fotografia com um vestido curto com kiwis (Nossa Senhora do Gosto alumiai-nos a todos!) e noutra série de fotos combinadas com os calções que antes se chamavam hot pants e o hot estava lá por alguma razão.

É-me indiferente que o Presidente queira aparecer de “namorado” ou que a líder do CDS tenha resolvido ser sexy, estão no seu direito de ter as ilusões que quiserem. Mas não me venham depois dar lições de moral do comedimento, de moral da reserva, ou da moral que deve assistir a adolescentes e adultos na defesa da privacidade, sua e dos seus.

O exemplo que estas pessoas com responsabilidade estão a dar conflui num grave problema dos nossos tempos: a contínua erosão do valor da privacidade, da reserva, e mesmo do bom gosto. Quando nós assistimos a uma geração de adolescentes que usa e abusa das fotografias provocatórias nas redes sociais, de que só mais tarde amargamente se arrepende, vemos agora estes adultos a fazer algo que não é muito diferente. O mal disto é que se gera uma cultura de exibição que torna mais difícil para quem não a deseja, ou mesmo a abomina, poder resistir, dizer que não, que não quer ser fotografado, que não quer ver cada passo seu escrutinado no Twitter e que, acima de tudo, não tem que dar nenhuma satisfação a ninguém de por que razão quer que permaneça intacta a sua reserva de intimidade e privacidade.

Ah! e outra coisa: ainda estou para ver alguém que não venha a arrepender-se destas exibições, ou porque, com o tempo, deixou de gostar de se ver “exibida”, ou porque tem razões para não querer ver a sua vida tão devassada como no passado. Foram precisos 200 anos de “civilização burguesa” para criar as condições económicas da privacidade e mais de 200 anos para se perceber o valor de não se viver numa “aldeia global”, onde todos sabem tudo sobre todos e a liberdade é menor. Liberdade, meus senhores e senhoras.


O fascínio pelo MPLA, a outra maneira de falar do fascínio pelo dinheiro
Que Portas, que está vendido a tudo o que pague, se tenha dedicado a assegurar o sucesso do Congresso do partido que governa Angola em ditadura, a gente hoje já o percebeu. Mas a surpresa veio agora do CDS que, apesar dos muitos desmentidos pouco convictos, deu um claro aval à ditadura de José Eduardo dos Santos, o homem dos 99% dos votos. Imagino como devem estar entalados os propagandistas do CDS que pululam pelos blogues de direita e que agora elogiam um partido comunista reciclado, uma elite corrupta até à medula, e que, ainda recentemente, mostrou o que era na perseguição a Luaty e aos seus companheiros. Ainda não perceberam o que são más companhias, mas agora têm uma.

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