CUIDADO COM OS RUSSOS

(In Blog O Jumento, 30/03/2018)
Vem-ai-os-Ruos-Vem-ai-os-Ruos
No imaginário ocidental os russos fazem o papel de lobo mau, passa-se a imagem de grunhos que passam a vida a encontrar meios de prejudicar o Ocidente, como se na história da Europa e, mais tarde, com a implantação do comunismo, todos os perigos para o maravilhoso mundo ocidental viessem do leste.
Temos os bons e os maus que são os russos, armas atómicas boas e as más que são as russas, armas químicas boas e armas químicas más que são as russas, extremistas islâmicos bons e árabes maus que são os apoiados pela Rússia. Temos um Trump bom e um Putin mau. Até os fascistas são bons se forem ucranianos e quiserem fazer frente a Putin.
A Rússia ficou com a Crimeia onde a esmagadora maioria da população é russa, num território historicamente russo, mas ninguém diz que o que a Rússia fez na Crimeia não foi o mesmo que os EUA fizeram no Texas, uma província que era mexicana e onde os colonos invasores estavam em minoria? A Rússia tem nas suas fronteiras menos territórios conquistados pela força do que os EUA, onde se queixam de em muitas regiões nem ser necessário falar inglês, ignorando que a língua materna desses Estados antes da ocupação era o castelhano.
Não foram os russos que invadiram a França, mas sim Napoleão que tentou conquistar a Rússia. Não foi Stalin que tentou conquistar a Alemanha, mas sim Hitler que tentou ficar com a Rússia. Que se saiba a única vez que os ingleses foram à Rússia não foi para libertar aquele país, mas sim para tentar voltar a colocar o Czar no poder. Já o mesmo não se pode dizer dos russos: a primeira vez que invadiram a Europa Ocidental foi para a libertar e ajudar os ingleses a não serem derrotados pelos alemães.
É verdade que os russos invadiram o Afeganistão e o Ocidente apoiou os que se opuseram, foram apresentados como libertadores, os mesmos libertadores que uns anos depois mandaram abaixo as torres gémeas. Os mesmos que voltaram a ser considerados libertadores no Iraque e na Síria, até ao dia em que degolaram um jornalista americano e começaram a promover atentados no Ocidente. Mais uma vez a Rússia esteve do lado errado, protegendo patrimónios como Palmira e a vida de muitos cristãos, enquanto os americanos apoiaram novamente os seus “heróis”….
Boris Jhonson, Theresa May, Trump e até o nosso esganiçado do Rangel têm razão, esses russos são um perigo! Se o Trump ainda andasse a promover a sua virilidade pagando a atrizes pornográficas, a Theresa May andasse a fazer bolinhos e o Rangel se limitasse a ganhar umas massas em Estrasburgo o mundo estaria bem mais seguro.

As toupeiras também têm coração

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 27/05/2016)

quadros

João Quadros

Um espião português foi detido, em Roma, por suspeita de estar a vender segredos a um funcionário dos serviços de informações da Rússia.

A primeira pergunta que me ocorre é: será que isto conta como exportações? Pode haver aqui um mercado a explorar. A quanto estará o barril do segredo?
Eu sou péssimo a guardar segredos. Nota-se logo que estou a esconder alguma coisa. Mesmo que essa coisa não tenha nada a ver com a pessoa que está à minha frente. Jamais conseguiria guardar o terceiro segredo de Fátima, como fez a irmã Lúcia. Haveria de acabar por contar ao oftalmologista.

Percebo, perfeitamente, que um espião tenha necessidade de desabafar. Mas, segundo percebi, este nosso espião estava a desabafar a troco de 10 mil euros do espião russo, com quem se encontrou em Roma. Espero que os 10 mil euros fossem só o sinal. Parece-me pouco por um segredo da NATO. Espiões que se vendem ao preço de um central da II Liga de futebol portuguesa. Que pena o Jorge Mendes não andar, também, metido nisto.

Diz quem o conhece (ao espião) que Frederico Carvalho Gil era “certinho” até que se divorciou. Licenciado em Filosofia, segundo os antigos colegas (espiões), “chegava a ser gozado pela sua correcção considerada excessiva”, “incapaz sequer de dizer um palavrão”. Resumindo, estavam habituados a vê-lo como intelectual e “certinho” até que o viram “de rabo-de-cavalo e a fazer vida nocturna.” Por acaso, eu associo muito os espiões à vida nocturna. Deve ser por isso que muitos espiões portugueses vêm da maçonaria. As mulheres já estavam habituadas a que eles saíssem à noite sem explicar bem onde iam.

Nos livros e filmes de espiões, alguns baseados na realidade, os espiões trocam de lado numa terrível vingança depois de terem sido traídos ou abandonados à morte numa missão. Os nosso espiões mudam de lado porque estão com uma crise de meia-idade pós-divórcio. O mais provável é o nosso espião ter ido vender um segredo da NATO aos russos para ter dinheiro para ir comprar um Porsche.

Se os amigos e colegas do espião dizem que ele, desde o divórcio, começou a usar rabo-de-cavalo, deixou de usar gravata e passou a ir para a noite, isto tem muito pouco a ver com espionagem. Estamos perante o clássico caso do recém-divorciado que quer convencer a ex-mulher que já é outra pessoa. Usa rabo-de-cavalo, sai à noite e vende segredos aos russos. Como quem diz: “Já não sou o bota de elástico com quem te casaste. Até fiz uma tatuagem a dizer Fuck e, agora, sou o bandido que todas adoram.”

A nossa espionagem é isto, muito pouco John le Carré, bastante Corín Tellado.