A “pérfida” aliança

(António Filipe, in Expresso Diário, 19/09/2022)

Com a tão celebrada mais antiga aliança do mundo, o Reino Unido nunca teve outro objetivo que não fosse a defesa dos seus exclusivos interesses e o aumento da sua esfera de influência mesmo que à custa da humilhação do seu mais velho aliado.


Foi com alguma estupefação que recebi a notícia de que o Governo do terceiro país europeu a implantar a República, Portugal, ia declarar três dias – três – de luto nacional pela morte da Rainha Isabel II, honra idêntica à que foi concedida aos Presidentes da República Mário Soares e Jorge Sampaio. Não que isso altere o nosso dia a dia, mas pelo que isso significa quanto ao modo como o governo português se posiciona nas relações internacionais e como encara o respeito que deve ao seu país e à sua História.

O culto da personalidade da família real britânica não tem paralelo à escala mundial. Na sociedade hipermediatizada em que vivemos existem estrelas globais cujas proezas desportivas, musicais, ou outras que suscitem o interesse dos circuitos comunicacionais internacionais se transformam em fenómenos de culto, sendo quaisquer pormenores das suas vidas, reais ou inventados, objeto da atenção de centenas de milhões de pessoas.

No plano político, em que existe toda uma história de cultos da personalidade em diversas latitudes e regimes, nada supera o culto mediático que rodeia todos e cada um dos elementos que integram a família Windsor, cujo nome é ele próprio uma invenção destinada a ocultar as origens germânicas da família aos olhos da opinião pública britânica.

Caras dos reis e das rainhas nas moedas e nas notas, um merchandising gigantesco consumido por indígenas e turistas, uma atenção mediática obsessiva, e tudo isto sem outra razão que não seja o privilégio de nascimento de tais personalidades.

Os dirigentes políticos que mais decidem os destinos do mundo e/ou dos seus países são objeto de atenção mediática em função dos seus méritos e deméritos e de critérios jornalísticos bons ou maus. Nada supera, porém, o culto da família real britânica. Na falta de méritos ou deméritos de natureza política substantiva, na ausência de poderes efetivos que, no sistema político britânico, repousam no Chefe do Governo, tal culto assenta em critérios importados da chamada imprensa cor-de-rosa, propagandísticos, apologéticos, de intrigas familiares, tudo em cenários de sumptuosos palácios e de luzentes carruagens dignos das mais caras produções cinematográficas sobre a época vitoriana.

Saiba mais aqui

Como orgulhoso republicano, vejo com alguma perplexidade que se admita no século XXI que o acesso a cargos políticos, e por maioria de razão à posição de Chefe de Estado, com mais ou menos poderes, tenha caráter vitalício e possa decorrer de razões meramente hereditárias, e vejo com alguma perplexidade as manifestações ostensivas de riqueza de famílias reais como a britânica à custa dos contribuintes, em contraste com o escrutínio que ocorre, e deve ocorrer, relativamente às causas de enriquecimento dos demais titulares de cargos políticos.

Claro que independentemente da opinião que cada um pode ter, o Reino Unido é um Estado soberano e tem a forma de governo que os britânicos entendam e que só temos de respeitar, e obviamente que essa opção não pode condicionar a relação bilateral que deve existir entre Portugal e o Reino Unido, cujas bases devem assentar no interesse comum.

Porém, acho manifestamente exagerada a cobertura mediática dada em Portugal, designadamente pelas televisões, às cerimónias fúnebres da Rainha Isabel II, rendendo homenagem a um culto da personalidade manifestamente exagerado, e acho manifestamente excessiva a declaração de três dias de luto nacional decretado pelo governo português.

Foi dito que essa rendição de homenagem se deve ao facto de Portugal manter com o Reino Unido a mais velha aliança do mundo. Só que isto dito assim corresponde a uma simplificação branqueadora da real natureza de tal aliança.

Se é verdade que a dita aliança teve a vantagem de permitir defender a independência de Portugal em face de ambições vindas designadamente de Castela ou de França em determinados momentos históricos, não é menos verdade que tais ajudas vindas da Grã-Bretanha nunca tiveram como motivação qualquer relação de solidariedade anglo-lusa, mas única e simplesmente a prossecução dos estritos interesses do império britânico no seu confronto com outras potências e a manutenção de Portugal na sua esfera de influência tendo em conta o seu posicionamento estratégico como ponto de acesso à Europa continental e ao Atlântico, e tiveram sempre como consequência a instalação de fortes relações de dependência de Portugal em relação ao Reino Unido.

Se olharmos para os últimos três séculos, vemos diversos exemplos do tratamento que o Reino Unidos conferiu ao seu velho aliado.

Em 1703, o Tratado de Methuen, celebrado no quadro da guerra da sucessão espanhola, levou ao abandono da indústria têxtil nacional a favor dos produtos têxteis ingleses, livres de direitos em Portugal e principalmente no Brasil, tendo como contrapartida o favorecimento da exportação de vinhos portugueses para a Grã-Bretanha, criando uma situação comercial profundamente desigual e gravemente lesiva da economia nacional.

Perante as invasões francesas em 1808, a intervenção britânica teve lugar no âmbito de um conflito mais vasto com a França napoleónica que envolveu toda a Península Ibérica. Essa intervenção traduziu-se no apoio à fuga da corte portuguesa para o Brasil, na intervenção militar conjugada com forças nacionais, mas sob o seu comando, que levou à expulsão dos exércitos franceses, e na imposição de um protetorado a que a só a Revolução de 1820 conseguiu pôr termo.

É significativo que tenha sido sob a tutela britânica que foram enforcados o general liberal Gomes Freire de Andrade e outros “mártires da Pátria” acusados de sedição e que a revolução liberal portuguesa de 1820 tenha surpreendido o regente de facto, William Beresford, na sua viagem de regresso do Rio de Janeiro, onde tinha recebido de Dom João VI plenos poderes para a governação de Portugal, o que só a Revolução impediu.

Em 1890, o célebre ultimato britânico constituiu uma humilhação nacional que se tornou reconhecidamente no princípio do fim da monarquia portuguesa. Perante o choque entre as pretensões coloniais portuguesas e britânicas em África, a ameaça militar direta constante do ultimato contra o seu fiel aliado fez levantar uma onda de repúdio nacional para com a traição nacional que constituiu a cedência ao ultimato feito pela “pérfida Albion”. Apesar da troca posterior dos bretões pelos canhões na letra do hino nacional, bem sabemos que “A Portuguesa”, de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça, nasceu dos protestos contra o ultimato e tem uma origem totalmente antimonárquica e antibritânica.

No final da II Guerra Mundial, apesar da falsa neutralidade salazarista, que disfarçava mal o alinhamento com a Alemanha nazi, o Reino Unido não só não contribuiu com uma palha para o isolamento internacional do fascismo português como o acolheu como membro fundador da NATO, em 1949. Aliás, em 1957 o fascismo português teve a oportunidade de se enfeitar com a visita de Estado da Rainha Isabel II e foi precisamente ao Reino Unido que Marcello Caetano fez provavelmente a última das suas deslocações ao estrangeiro, quase em vésperas do 25 de Abril, sendo recebido com manifestações de oposicionistas portugueses em Londres e com uma manifestação de apoio grotescamente orquestrada pelo regime no seu regresso.

Não defendo que Portugal deva ter uma atitude hostil para com o Reino Unido. Longe disso. Há uma relação histórica de muitos séculos para o bem e para o mal e há todas as razões para que haja uma relação amistosa e de boa cooperação entre ambos os países. Daí a decretar três dias de luto nacional pela morte da Rainha de Inglaterra vai uma grande distância. A distância que vai entre a dignidade e a subserviência.


Gosta da Estátua de Sal? Click aqui.

A dor de perder de um filho é “a maior dor do mundo”- para sempre

(Marco Paulino, in Expresso Diário, 07/12/2020)

Na noite de sábado 5 de dezembro fomos invadidos pela ideia de quão vulnerável e efémera pode ser a vida. Não é que muitos de nós já não o soubéssemos, mas existem momentos em que a vida nos abana veementemente e mostra que tudo pode mudar num minuto, num segundo. Sara Carreira, de 21 anos, filha do cantor Tony Carreira e Fernanda Antunes, morreu num acidente entre vários automóveis na A1, em Santarém, junto à saída do Cartaxo. Rapidamente, a informação se difundiu, desde os meios televisivos às redes sociais.

Gosta da Estátua de Sal? Click aqui.

É certo que todos os dias morrem várias pessoas, algumas das quais da mesma idade, ou até mais novas; em condições tão ou mais trágicas do que estas. Porém, Sara Carreira é uma figura pública, filha de uma celebridade que Portugal conhece, seja porque adora, seja porque odeia. Obviamente que isto não quer dizer que por ser uma cara conhecida seja mais importante do que qualquer cidadão anónimo, sobretudo para os respetivos entes queridos.

O que este enquadramento mediático nos dá, como facilmente se percebe pelos milhares de comentários que surgiram nas redes socias, é uma noção de proximidade da pessoa que partiu, daquela família enlutada, que gera sentimentos de compaixão, de comoção. É o que em Psicologia se tem chamado relações parassociais, enquanto relações de proximidade emocional potenciadas pela exposição repetida à vida da figura pública mediante as facilidades criadas pelos media, especialmente as redes sociais como o Instagram, e que quebra a barreira entre espectador e celebridade.

Esta espécie de conexão emocional gera inevitavelmente um abalo, que pode resultar, inclusive, no que tem sido denominado luto coletivo (collective grief), também designado por “luto público” (public grief) e que diz respeito ao processo de luto que é originado pela morte de uma figura pública. Para além deste luto, existe um processo de luto a realizar pelos pais, pelos irmãos, pelos amigos mais próximos.

A este propósito, uma pesquisa sobre luto, em particular pais em luto, mostra-nos que a perda contranatura de um filho, enquanto experiência traumática, tende a ser descrita como a perda mais dolorosa que qualquer ser humano pode vivenciar. Os pais em luto descrevem o sofrimento gerado por esta perda como “a maior dor do mundo”.

É sabido que a morte de um filho envolve inúmeras outras perdas consideradas secundárias, como a perda das expectativas para o futuro, a perda do papel parental na sua forma tradicional e a perda da própria identidade. Dada a importância da parentalidade para a identidade, os pais sentem-se destruídos, enquanto figuras parentais e pessoas. Por isso, veem-se invadidos por questões várias, como “quem sou eu agora?”, ou se continuam a ser reconhecidos como pais pela sociedade, na eventualidade de se tratar de um filho único.

As principais emoções presentes neste processo de luto são a culpa e a zanga, destacando-se o vazio como a principal sensação referenciada pelos pais em luto. A crença errónea de que os pais têm a capacidade de proteger incondicionalmente os filhos potencia que sejam vivenciados sentimentos de culpa e de falha, enquanto figuras parentais. Ainda que irracionais, estes pensamentos de autorresponsabilização são comuns e geram um sofrimento atroz.

Por sua vez, a zanga é facilitada, exatamente pela sensação de impotência e de injustiça pela perda da pessoa mais importante para a vida dos pais.

As investigações acerca do luto parental referem que a complexidade desta perda é também resultado das tarefas que são exigidas aos pais, tais como a necessidade de reorganizar as dinâmicas familiares e maritais, a inevitabilidade de comunicar a perda e com todo o sofrimento associado, num contexto em que o suporte social é reduzido, ainda para mais nesta fase pandémica em que somos recordados diariamente da necessidade de distanciamento.

No contexto das relações humanas, a perda de um filho tem vindo a ser reconhecida como a perda mais severa, duradoura e debilitante. Quanto ao casal, as investigações apresentam resultados distintos relativamente às mudanças originadas pela perda nas dinâmicas familiares. Enquanto algumas relações terminam, outras são fortalecidas pelo sofrimento, dada a necessidade de apoio mútuo constante.

Segundo uma investigação publicada em 2017 e intitulada “Parental bereavement: looking beyond grief”, esta coesão tende a ser resultado de um maior entendimento do casal acerca da discrepância das suas respostas, ou necessidades individuais. Isto é, quando os membros do casal reconhecem que têm reações e necessidades diferentes no seu processo de luto, é facilitada a compreensão das atitudes do outro e proporcionado o apoio recíproco.

Pelo contrário, na ausência destas pontes de comunicação e compreensão, as tendenciais dificuldades associadas à gestão das diferenças na reação à perda dificultam a coesão entre o casal e potenciam o risco de divórcio dos pais. Na maioria das vezes, os homens optam por evitar o diálogo e mostram-se emocionalmente menos expressivos, atitude que pode ser percecionada pelas mulheres em luto como um sinal de desvalorização da perda ou esquecimento do filho perdido. Todavia, a investigação mostra que esta atitude visa, comummente, na ótica do pai em luto, passar uma imagem de força e proteger a mulher do sofrimento. Daqui se percebe um benefício claro, entre os vários possíveis, da intervenção psicológica especializada no luto.

Por acréscimo, destaca-se o relato dos irmãos em luto, os quais acentuam que não só perderam um irmão ou irmã, mas também os próprios pais, que “nunca mais voltaram a ser os mesmos”. É assim vivenciada uma dupla perda.

Perante o partilhado, percebe-se o facto de este processo de luto apresentar um maior risco de complicações e obstáculos à integração da perda na identidade. Os fatores de risco para complicações são, exatamente, a idade reduzida do descendente aquando da sua morte, a natureza repentina e consequente ausência de preparação para gerir a dor e a existência de uma relação de dependência.

No que diz respeito à variável idade, sabe-se, por exemplo, que uma das principais causas de morte na infância é a Síndrome de Morte Súbita Infantil, morte inesperada, que é frequentemente associada a sentimentos de impotência e falha no papel parental. Numa outra fase, se a perda de um filho acontece numa fase tardia da vida, pode ser sentida como mais dolorosa, pois acontece num contexto de múltiplas perdas sociais e interpessoais.

Para além do risco de complicações no luto, destaca-se o risco de perturbações mentais, como depressão, perturbação do stress pós-traumático e ideação suicida; e, inclusive, de patologia física, como o cancro e patologias cardíacas.

O processo de reconstrução da identidade é inegavelmente doloroso, mas, quando conseguido, permite alcançar maior estabilidade do que aquela que existiria na ausência de qualquer intervenção especializada, ainda que seja impossível regressar integralmente ao funcionamento anterior à perda. Numa relevante investigação de Paige Toller, da Univerisdade do Nebraska-Omaha, em 2008, denominada “Bereaved Parents’ Negotiation of Identity Following the Death of a Child”, foi evidenciado que a nova identidade é reconstruída em função do sofrimento da perda, com novos objetivos, princípios e crenças baseados na experiência traumática. No fundo, a irreversibilidade destas mudanças é resultado do abrupto surgimento do evento traumático na identidade.

Sabe-se que as memórias traumáticas são rapidamente evocadas e, por isso, estabelecem relações imediatas com a autobiografia da pessoa em luto, levando a que o trauma seja transformado num inevitável ponto de referência da história de vida da pessoa. Perante uma fase de marcada desorganização e luto intenso causado pela morte de um filho, o psicólogo detém um papel preponderante para facilitar o envolvimento em rituais funcionais e promover o trabalho terapêutico das emoções, pensamentos e comportamentos.

Este não é, e jamais poderia ser, um texto sobre o luto da família Carreira; é um texto sobre aspetos gerais que a ciência psicológica nos disponibiliza nos dias de hoje sobre o luto, em concreto sobre pais em luto; é a insignificante oportunidade de manifestar os meus sinceros sentimentos aos pais, aos irmãos e amigos mais próximos da Sara Carreira; é também a insignificante oportunidade de expressar os meus sinceros sentimentos a qualquer pai e mãe em luto.


A melancolia de esquerda

(António Guerreiro, in Público, 02/12/2016)

Autor

António Guerreiro

 

Um equívoco muito difundido nos últimos dias consistiu em chamar “romantismo político” – seja tal designação indulgente ou traga o público opróbrio – às manifestações de empatia para com a figura de Fidel Castro (e uso aqui a palavra “empatia” com o sentido que ela tem enquanto atitude historiográfica).

A ideia de romantismo político designa outra coisa completamente diferente, implica uma outra história e outra genealogia. O romantismo político é uma ideologia estética, com os seus ideais de imaginação criativa, autonomia artística e totalidade poética. E, tal como a teoria romântica da literatura, é uma ideologia que incorpora uma reflexão sobre as suas próprias contradições, ou seja, é ao mesmo tempo ideologia e crítica, disposição emotiva e ironia, efusão sentimental e reflexão; embora, nas suas manifestações extremas, possa mesmo ser um irracionalismo político elevado à categoria de religião. Foi com uma crítica feroz do romantismo político, da sua visão estética do mundo e da sua tendência para a discussão perpétua e para a indecisão, que Carl Schmitt deu entrada na cena intelectual alemã, em 1919. O romantismo político, tal como o analisou Schmitt, é uma categoria trans-histórica e quase nunca prescinde de um outro conceito muito próprio da época romântica: o conceito de nação, essa “comunidade imaginada”, às vezes miticamente sublimada. Importa acrescentar que o romantismo político é muito mais propenso a uma relação com o passado (veja-se o que foi a Grécia para Hölderlin) do que às utopias.

Outra coisa diferente é o culto melancólico, como aquele que Fidel Castro suscita: uma melancolia de esquerda, muito mais barroca do que romântica. A ideia de uma melancolia de esquerda surge de passagem num texto de Walter Benjamin e teve alguns ecos pontuais em Itália e Inglaterra nos anos 90. Foi recentemente desenvolvida num livro do historiador italiano Enzo Traverso, acabado de publicar em França (Mélancolie de gauche, éditions La Découverte). Traverso entende a melancolia de esquerda como uma “tradição escondida”, tão antiga quanto a ideia de esquerda, mas dotada de uma vida discreta e quase subterrânea. Foi o colapso dos regimes socialistas da Europa de Leste que a trouxe à superfície, já que antes tinha sido recalcada ou censurada. A melancolia de esquerda é, como diz Traverso, uma melancolia dos vencidos, uma disposição interior que confere uma enorme força de sedução ao objecto de amor perdido, que por isso mesmo se presta à elegia. Não vou aqui resumir em meia dúzia de linhas o interessante livro de Enzo Traverso. Importa no entanto lembrar que Freud publicou um célebre estudo sobre “Luto e melancolia”, onde esses dois estados psíquicos são analisados: enquanto o luto é um sentimento causado por uma perda real que se supera com o tempo (uma vez feito o “trabalho do luto”), a melancolia é causada por uma perda fantasmática, pela relação com um objecto que nunca teve existência real. A presente circunstância faz-nos ver que a melancolia de esquerda é uma disposição que continua a manifestar-se através de sintomas. Esses sintomas não são necessariamente patológicos, a não ser quando se transformam em alucinação e tristeza permanentes. Na Idade Média, os monges eram atacados por uma forma particular de melancolia, a que chamavam acédia. Sucumbir à acédia era um pecado, decretou a doutrina da Igreja: Deus criou-nos para sermos felizes, não para carregarmos às costas o peso desse planeta lento e sinistro que se chama Saturno. A doutrina política de esquerda também quis afastar a melancolia. Em vão.