Traquinices sexuais do padre Humberto Gama

(Carlos Esperança, 06/08/2018)

padre

O padre católico Humberto Gama não tem uma pós-graduação em exorcismos, mas tem mais experiência do que o padre O. D., Sousa Lara que, para se dedicar ao sacerdócio, rejeitou um lugar no conselho de administração de uma empresa pública, que o pai lhe ofereceu (há pais que podem dar aos filhos a administração de empresas públicas).

O p.e Humberto nasceu pobre em Trás-os-Montes, e fez o longo caminho do seminário para se habilitar a transubstanciar a sagrada partícula, a perdoar os pecados alheios, sem abdicar dos próprios, e purificar crentes infetados por demónios, tornando-se experiente nessa atividade exotérica, cujo alvará era inerente ao sacramento da ordem.

De 1965 a 1972 exerceu funções designadas pelos bispos, mas os seus excessos lascivos levaram-no a que dos paços episcopais não tivesse mais solicitações e passou a atuar por conta própria, sobretudo no ramo dos exorcismos, com vestes talares e cabeção romano, em consultórios onde atendia a clientela, tendo feito exorcismos, em direto, na TVI.

No fim da década de 90 foi expulso pela Igreja católica, por dar mau nome à instituição, mas não perdeu o jeito e a competência para expulsar espíritos malignos, às vezes por reentrâncias que enfureceram maridos e motivaram queixas. Defendeu-se, alegando que demónios muito grandes, têm de sair por algum lado, mas arriscou a integridade física e em 2011, ano da expulsão confirmada pelo Vaticano, o vigário-geral da diocese de Leiria/Fátima, Jorge Guarda, advertia os crentes de que ele não tinha legitimidade “para as atividades religiosas ou de exorcismo” e até lhe negava o direito a divulgar a foto com o papa João Paulo II, sendo tão verdadeira como as selfies do Prof. Marcelo.

No dia 1 deste mês, uma devota queixou-se à PJ de ter sido violada pelo padre, depois de ter recebido tratamento hospitalar. Com 79 anos, após reiteradas queixas de clientes, foi detido pela primeira vez, durante dois dias, estando já em liberdade e em funções.

O padre concorreu à câmara de Mirandela, pelo PS, contra o irmão, que a ganhou pelo PSD, e à de Murça pelo CDS. O autarca falhado é o mais conhecido exorcista do País.

Estando a última averiguação em segredo de justiça, e ignorando o alegado crime, em concreto, não me pronuncio sobre as traquinices sexuais que vêm de longa data. O que me surpreende é a possível acusação de burla pelos honorários que cobra.

Gostava de ver um acórdão a negar a validade dos exorcismos, inerentes à profissão de padre, tendo como instrumentos a cruz, hóstias, água benta e os Evangelhos, utensílios que o padre Humberto Gama maneja há 53 anos.

Ainda vão perseguir o p.e Sousa Lara e negar dois milénios de terapêutica pia, quando a Ordem dos Médicos se mantém em silêncio sobre os milagres e acossa outros exercícios ilegais da medicina.

(Ver notícia sobre caso, aqui)

Apostila – Permitam-me, caros leitores uma sugestão de leitura, “Um Mundo Infestado de Demónios”, de Carl Sagan.

O PEQUENOGATE

(Clara Ferreira Alves, in Expresso, 15/07/2017)

 

Autor

                       Clara Ferreira Alves

(A partir da meia-noite já se pode ler o Expresso online. Lá fui, como faço sempre para ver se havia algum texto “publicável”. Nada de jeito, tudo mau. O Daniel Oliveira estava aceitável mas era sobre um tema repisado, a demissão dos secretários de Estado. 
Assim, ficou a Clara que trata do tema dos polícias da esquadra de Alfragide ao qual não se tem dado o relevo que merece. A rapariga, de vez em quando, vem-lhe ao de cima as raízes dos bons princípios de Justiça em defesa dos mais indefesos. É pena é que seja só, mais ou menos, uma vez por mês e sempre quando tal não entra em conflito com a “gente fina” que ela venera.

Estátua de Sal, 15/07/2017)


Entretidos com os secretários de Estado que deveriam ser acusados de estupidez universal e não de recebimento de vantagem, esquecemo-nos dos agentes da autoridade da esquadra de Alfragide.


A história do Galpgate, assim uma espécie de Watergate à escala nacional, ou pequeníssimo-minúsculo-mesmo Watergate, o chamado crime pífio ao qual a nação há muito deu o seu consentimento, tem desviado as atenções de crimes gravíssimos que pelos vistos nem a mera suspensão imediata dos suspeitos provoca. Onde se lê suspeitos deveria ler-se arguidos, e o país atravessa o chamado período da arguição intensa e tresloucada. Quem não é arguido não é parte desta terra, é pior do que um infoexcluído, é pior do que um sem-abrigo, é um arguido-excluído. Tipo a quem não batem à porta com um mandado, a quem não fazem buscas no disco rígido e a quem não ordenam que compareça de fato e gravata e advogado à ilharga na PJ para ser constituído sem ser ouvido, ao estilo kafkiano, não é ninguém. Falo de fato e gravata, e não estou a ser sexista, porque o arguido ideal é um homem de meia idade, com ar próspero, que passou por um cargo público ao qual se podem juntar bem remuneradas titularidades de cargos privados. Se o arguido tiver um carro de luxo, um motorista, uma casa de praia ou campo, e for visto no aeroporto na sala VIP ou na executiva de um avião, melhor ainda. O ideal é ter um guarda-costas, sinal de escalão superior na cadeia alimentar.

Já fui constituída arguida, e repare-se na beleza deste verbo, constituir, por uns tipos que me processaram por opinião. Estou no rol dos privilegiados, nas ordens menores. Viajo em económica, um claro sinal de destituição, não tenho motorista com grande pena minha, nem mansões, com pena maior. Ninguém me guarda as costas. E não fui constituída arguida por corrupção, a grande moda do momento, sobretudo se os valores ultrapassarem o milhão. Milhões para aqui e para ali num país com fama de pobre. Nunca imaginei que houvesse tantos ricos em Portugal, apesar de terem sido e continuarem a ser os pobres a pagar a dívida patriótica. Afinal, os pobres nunca são constituídos arguidos sem amanhecerem em preventiva, exceto se baterem na mulher. Aí, logo se vê. Ele há casos que… enfim… um tipo passa-se.

Entretidos com os secretários de Estado que deveriam ser acusados de estupidez universal e não de recebimento de vantagem, esquecemo-nos dos agentes da autoridade da esquadra de Alfragide. Parece que este grupo de gente fardada, todos inocentes até prova em contrário e deixando de lado alegadas nódoas negras das presumíveis vítimas, ainda por cima de pele negra, onde as nódoas se disfarçam muitíssimo bem, se entreteve a espancar e torturar um grupo de cidadãos da Cova da Moura. Não são mouros, como o nome indicaria, e se fossem deviam levar na mesma por causa do terrorismo e assim, são africanos ou luso-africanos. Pretos, como se dizia no país colonial que sempre se gabou de não ser racista e é mais racista do que o sul da América. Um racismo que deriva da crueldade gratuita herdada do esclavagismo e não da convicção íntima da supremacia branca enquanto ideologia. É, digamos, um racismo brutal e brutalmente estúpido (e uso o adjetivo pela segunda vez). Não que isto se aplique aos polícias suspeitos. Nada disso. Ali, nas esquadras, são simplesmente coisas que acontecem. Um tipo passa-se e bumba, dá uma tareia no preto. Ou decapita um tipo, como aconteceu há uns anos, fornecendo ao escritor António Tabucchi, um italiano que gostava de portugueses e de Pessoa, tema para um romance. Tabucchi ficou, digamos, siderado. A decapitação foi abafada e a coisa esquecida, para variar. Tudo coisas que acontecem. Nas esquadras. De modo que ninguém viu nas acusações das vítimas e testemunhas motivo para suspender os polícias imediatamente, a aguardar julgamento, ou considerar a pronta transferência para um lugar onde os pretos não ponham os pés exceto para trabalharem nas obras. A esquadra da Quinta da Marinha seria excelente, e se não existe deve ser criada já para acolher os espíritos inquietos dos agentes da autoridade. Desde que não sobre por lá um jardineiro de cor, nesse caso considere-se a remoção coerciva do jardineiro antes da avisada transferência.

Nada disto parece, aos olhos da famosíssima justiça e chefes, excessivamente grave. Já um tipo apanhar um charter para ver a bola e regressar no charter, parece-nos perigosíssimo quando não passa de um ato perigosamente estúpido (terceira vez). Caramba, se eu sou a pessoa que rege os assuntos fiscais aceito uma boleia do tipo que preside a uma empresa que não quer pagar ao fisco apesar de fretar aviões e que me pôs em tribunal por assuntos fiscais? Não aceito. Vejo a bola em casa, com uma cerveja no colo e uns tremoços.

O Ministério Público que temos, fanático da primeira página, toxicodependente da manchete, está à coca para o caso que integre o ilícito penal. Nem vão de férias. Dois dedos de testa recomendam que nestes tempos de arguições, só se aceitem boleias da mulher, da sogra e das filhas. E se dispense o motorista. E quando a dita empresa que não quer pagar quiser convidar alguém para a bola, olhe, faça um bonito e convide umas crianças pobres que sonham com o Ronaldo. Talvez da Cova da Moura.