Pedro Passos Coelho da família tradicional e da direita radical

(Carmo Afonso, in Público, 09/04/2024)


Afirmam estar a fazer uma defesa, mas fazem na verdade um ataque à liberdade de todos os que não vivem de acordo com os seus princípios e valores.


Compareci à apresentação do livro Identidade e Família, por Pedro Passos Coelho. As notícias que davam conta do evento continham ingredientes irresistíveis. Diziam que o livro alertava contra a “destruição da família”. Achei particularmente interessante este excerto da introdução: “Não podemos desvalorizar os adversários da família, umas vezes mais à luz do dia, outras vezes de um modo mais subtil e larvar, mas nem por isso menos dissolvente.” Foi assim que ganharam a minha atenção e a minha presença.

Nasci numa família a que todos chamariam tradicional. Tenho um pai e uma mãe que se casaram e que vivem juntos há mais de 55 anos. Costumam ser elogiados por estarem casados há tanto tempo e por se manterem como estruturas para a filha e netos, que, ao contrário deles, não tendem para as famílias desenhadas a régua e esquadro. Os meus pais nunca foram alvo de preconceitos ou de discriminação pelo facto de terem constituído uma família tradicional. Se têm “adversários”, nunca se deram a conhecer. A pergunta que faço é: de onde vem a ameaça de que estas pessoas falam?

Os autores do livro, bem como Pedro Passos Coelho, acenam com esta ameaça ficcionada à família tradicional para legitimarem uma ameaça que é real: a ameaça que todos eles representam a quem constituiu família fora do molde patriarcal e a quem não se coaduna com um modelo familiar. Isto não é admissível. Estas pessoas escrevem livros e promovem apresentações com o fito de condicionar ou limitar outras opções que outras pessoas livremente tomaram. Afirmam estar a fazer uma defesa, mas fazem na verdade um ataque à liberdade de todos os que não vivem de acordo com os seus princípios e valores.

Pode também dar-se o caso de estas pessoas percecionarem a existência de novos modelos familiares e de novas opções de vida e identidades como constituindo uma ameaça à família tradicional. No fundo, o único cenário em que não se sentiriam ameaçadas seria o de um retrocesso de algumas décadas, altura em que todos se casavam com pessoas do sexo oposto, tinham filhos e suportavam o casamento por mais infelizes que se sentissem. Altura também em que as mulheres não trabalhavam ou ganhavam muito menos do que os maridos e se dedicavam à casa e à educação dos filhos. Isto não é nenhum delírio da minha parte. Vi, no mesmo dia, um dos autores do livro, Paulo Otero, criticar, num programa de televisão, “a falta de valorização do estatuto da mulher enquanto dona de casa.”

E isto leva-nos a outro aspeto importante. Sempre, mas sempre, que ouvimos falar estes defensores da família tradicional, podemos ter a certeza de que estamos perante quem pretende, sobretudo, o retrocesso na luta das mulheres pela igualdade. Sem tirar nem pôr. É também disto que se trata. Continuam a acalentar a idealização de uma mulher submissa e dedicada, tal qual nos lembramos e tal qual vemos descrita nos manuais de aconselhamento feminino do Estado Novo. Lembro-me de um excerto do livro A Mulher na Sala e na Cozinha que era brilhante e exemplar: recomendava às mulheres que fizessem um banquete no dia de aniversário dos seus maridos para os homenagearem. E recomendava igualmente que fizessem um banquete no dia do seu próprio aniversário com o mesmo propósito. Bons tempos, não era?Não é só sobre a família tradicional. Na verdade, o livro mistura vários temas que não têm uma conexão evidente. Critica o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a adoção de crianças por casais homossexuais, a eutanásia, a transexualidade, etc. Mas claro que existe aqui um denominador comum. É uma agenda reacionária.

Por que razão Pedro Passos Coelho decidiu apadrinhar o livro e a iniciativa? Só ele saberá, mas podemos chegar a algumas conclusões. Passos Coelho falou pouco sobre o livro e fez da apresentação um comício político no qual couberam as principais bandeiras políticas da direita radical.

Deu destaque à defesa de um entendimento com o Chega, expondo publicamente uma exuberante rota de colisão com Luís Montenegro. Passos Coelho, o político que, à direita, teria mais condições para fazer frente a Ventura, segue na direção oposta. Agora reparem que, com tudo isto, ajuda a criar uma aura de moderação a Luís Montenegro e a consolidar a AD, liderada por Montenegro, como alternativa ao Chega. Talvez o tiro lhe saia pela culatra.

A autora é colunista do PÚBLICO e escreve segundo o novo acordo ortográfico


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7 pensamentos sobre “Pedro Passos Coelho da família tradicional e da direita radical

  1. O que é estranho é que, com todos estes “satélites”, ainda temos tantos cabos submarinos de Internet, cabos de fibra ótica, etc. …. não estaremos a ser enganados?

    Há ainda quem tente explicar como é que se conseguiu derrubar 3 torres com 2 aviões, 2 vezes seguidas, num ângulo vertical perfeito.
    Outros perguntam-se como é que um país com um PIB do tamanho de Espanha (por exemplo, a Rússia) pode ser mais forte do que o Ocidente em conjunto…
    Finalmente, há quem fale do “Império da Mentira”… mas a lógica e o bom senso não resistem à lógica do sistema.

    Vamos ter de fazer um RESET aos contadores e aos contadores de histórias que o “merecem”, estamos a viver tempos excitantes: O fim de uma hegemonia global com todas as mentiras e conflitos que a acompanham para manter uma supremacia que se manteve apenas pela pilhagem e pelo medo inspirado pela sua brutalidade, por isso o Pedro Passos Coelho é uma gota no oceano deste oceano que nega os verdadeiros valores humanos…

    O despertar da consciência está em curso, mas há muito a apagar antes de vislumbrarmos a verdade.
    Para alguns será impossível.

    Reparem que isto está a ficar cada vez mais louco…
    Pode pensar-se que este lançamento é uma coisa boa, mas quando se tem tanta informação em todas as direções (incluindo na direção dos “teóricos da conspiração”, entre os quais me incluo), as pessoas acabam por não saber em que acreditar e não acreditam em nada!

    O que se segue será considerado um monte de disparates por muitos.
    Por isso, se está formatado ao ponto do psicorigidismo, não percam o seu tempo a ler.
    Para fugirmos um pouco a uma situação que só é compreendida por uma ínfima minoria, viajemos juntos para um paradigma especulativo onde nenhum pé de ovelha se atreveu ainda a pôr os seus cascos.
    Peguem nos vossos barris de máscaras, na vossa quinta, sexta ou sétima dose de vacina (desculpem, já deixámos de contar há muito tempo…) e vamos levantar voo, ou melhor, vamos navegar juntos em direção à especulação mais escandalosa, para dar um pequeno passo para os lanudos mas um salto gigante para as ovelhas.

    A desglobalização é uma serpente marinha multifacetada!
    As rivalidades geopolíticas não põem fim ao comércio; na pior das hipóteses, desviam-no!
    A China exporta diretamente para a Europa, com a Alibaba, a Shein, a Temu e outras, através de plataformas na Irlanda, na Polónia e noutros países de acolhimento.
    A Alemanha está a encerrar as suas últimas fábricas de painéis solares, e a Rota da Seda vai fornecer-lhes o campo necessário para a transição dos meus dois!
    A armadilha ideológica está a fechar-se sobre os países inadaptados e, no final, não é apenas a China que está a competir connosco, mas os nossos …. aliados!
    Musk com Starlink, adeus, e finalmente todas as grandes empresas que investiram no futuro! IA, robótica, software de controlo
    O desenvolvimento industrial da Europa é uma ilusão, como se pode ver nos mercados de armas.
    O inimigo também está dentro da Europa, pois os piratas e a máfia alimentam-se da besta.

    Além disso, está a criar uma inflação hipócrita, porque parte dela se deve ao facto de estarmos a desviar as nossas sanções contra a Rússia. Compramos mais disto ou daquilo aos russos, mas depois compramo-lo a um intermediário que o compra aos russos e no-lo vende a nós. E no comércio, neste tipo de transação, há sempre uma comissão, que no nosso caso se chama inflação. Para além de serem estúpidos, são hipócritas na sua gestão. Nada corre bem com eles. São os piores dos piores. Por acaso existe algum livro sobre ministros e presidentes para totós…

    Entretanto, a pergunta que me vem à cabeça é: quem está a servir de intermediário? Estamos a falar de países, eu estou à procura de pessoas. É óbvio que estão a beneficiar certas pessoas que estão a servir de intermediários (mafiosos?), que criaram esta ponte (este tráfico?) com um elevado retorno do investimento (desvio de fundos?).
    Estas pessoas, estes nomes, seria interessante procurar um eventual conluio com os poderes instituídos ….
    O que é que quer dizer com compadrio?

    Espantoso! Continuam a acreditar no mito da globalização feliz, que nunca existiu para nós (deslocalizações, desaparecimento da agricultura, transformação de empregos industriais em empregos para empregadas de limpeza e , importação de extremistas estrangeiros, etc.).
    Continuam também a acreditar no mito de uma Europa unida e solidária, quando nós somos “contribuintes líquidos” dos países da Europa de Leste, que compram equipamentos americanos com os nossos subsídios, ao mesmo tempo que nos invadem com os seus produtos e serviços de baixo custo e nos pedem ajuda para fazer a guerra à Rússia.

    Podem não ser todos uma porcaria, mas os que estão atualmente no comando são. Zeros, falhados. Não têm a mínima noção de como gerir o dia a dia de uma família com um orçamento finito, pelo que gerir a grande família Portuguesa é algo que lhes escapa. Volto a dizer, são os piores dos piores. E acrescento: a juventude é o reflexo dos seus líderes, tal como numa família, os sábios mais velhos devem dar o exemplo). E, claro, fazem tudo isto sem uma alma humana. Estas pessoas já não têm alma, venderam-se por dólares.

    Para não dizer que o modelo ocidental funcionou enquanto deu ênfase à família e ao trabalho. Mas quando passou para o consumo de drogas e para os “direitos”, sem qualquer noção de dever ou de responsabilidade, sem qualquer noção de alteridade cultural, territorial ou civilizacional, estava destinado a desmoronar-se….

    Neste contexto de freelancer da Família, o melhor economista da história portuguesa…(mas se tivéssemos sido mais sulistas, bem, vocês, nortistas, teriam tido um dia em cheio!
    Perdoem-me a minha (tão proveitosa !!!!) ausência da secção de comentários deste site nos últimos dias.
    Tenho um sonho…
    Aqui estou eu, a sair do “Campo de Reeducação”, perdão, do “Curso de Formação para a Cidadania” oferecido gratuitamente pelo nosso sempre protetor Estado, na sequência de algumas observações judiciosas feitas às autoridades pelo meu “primo”, porque eu tinha tido o desplante de me desviar nas minhas observações durante um jantar de família.

    É uma sensação fantástica!
    Sinto-me muito melhor!
    Já não sou o mesmo homem!
    Não hesitem, se for preciso, em pedir a alguém que conheçam para vos ajudar a beneficiar deste curso…! Não deve ser preciso muito esforço no nosso belo país…
    Tendo-me atrevido (que estupidez da minha parte… que distração… desculpem… desculpem…) a proferir palavras tão nauseabundas que caí, sem ter plena consciência disso, sob as garras da Justiça por “Contestação Não Pública”, até mesmo por “Desculpas Não Públicas”…

    Agora que compreendi o erro dos meus actos, peço desculpa.
    Eu estava sob “influência estrangeira”.
    Depois de contar e recontar nos dedos várias vezes, tive de admitir o meu erro… 2 + 2 são 5.

    Estou agora totalmente convencido, tal como 80% dos nossos concidadãos, de que é urgente restringir um pouco as nossas liberdades (mas tão pouco, de facto…) em nome de uma maior segurança.
    Peço desculpa àqueles a quem possa ter ofendido com os meus comentários caluniosos sobre todos os dirigentes do Ocidente que trabalham para a nossa prosperidade. No Mundo Livre, tão democrático, tão aberto aos outros e tão profundamente humanista, as suas palavras e os seus actos estão a conduzir-nos a Tempos Felizes…
    Perdoa-me meu irmão, perdoa-me minha irmã…
    Que me absolvas por estes pensamentos feios que me desviaram do caminho da Verdade Verdadeira.

    Um grande número de pessoas participou nesta ação , sob o olhar benevolente de políticos convincentes. Todos os participantes eram homens brancos com mais de 50 anos, o que mostra como esta reabilitação é correcta, necessária e útil.
    Todos nos sentimos orgulhosos e libertados ao sairmos emocionados deste momento de partilha, de reabilitação e de comunhão profunda.
    Sair da sala… e sentirmo-nos… finalmente… tão estúpidos como os outros!
    “Foi por pouco….. se aqueles sacanas do Sul fossem mais numerosos, nós, os do Norte, teríamos sido bem derrotados!)

    Grande livro,nem sequer o li!

  2. Já que os defensores da família tradicional normalmente também são os mesmos que gostam de mandar os divergentes para países como Coreia do Norte, Cuba e Rússia, conforme as posições que defendem, porque não mandar os senhores de um tal “Movimento de Ação Ética” para o Afeganistão?
    Dizem eles que se tem de recuperar o estatuto da mulher dona de casa porque “há coisas que só a mulher pode fazer”.
    Tempos houve em que a mulher só podia ser dona de casa, puta ou criada porque quase todos os trabalhos fora de casa eram coisas que a mulher não podia fazer. Como ser advogada, magistrada, médica, empregada de escritórios, etc, etc, etc.
    Efectivamente esta gente é perigosa para a metade da população mundial que não tem picha.
    Portanto talvez fosse de valor manda los para onde se sintam em casa.
    A propósito deste conservadorismo conheco um desgracado que teve três filhas. E mostrando se preocupado com o seu futuro dizia “que pelo menos arranjem um bom marido”. Uma colega de trabalho afirmou que tal era muito “antiquado”. Ao que o homem respondeu, “com este conservadorismo que aí vai, sim, espero que pelo menos arranjem um bom marido”.
    Sendo o homem formado em Direito, e trabalhando na área legalista, lidando com público, não tinha o homem dúvidas que muita coisa podia regredir.
    Talvez justamente ao tempo em que a única possibilidade de vida com um pouco de dignidade para a mulher era justamente arranjar um bom marido. Que não bebesse muito e não tivesse “mau vinho”.
    De mulheres desse tempo só conheci duas que não eram espancadas pelos maridos.
    Uma era mulher de um pobre diabo filho de francesa e marroquino, que vivia aos caídos acompanhando o pai no cais onde trabalhava. Uma gente que fazia lá temporadas nas fábricas de conserva acabou, no último ano, por trazer o moço.
    Não sabendo o pobre diabo uma palavra de português, e tendo as pessoas na altura uma visão idílica da Casa Pia, “onde sempre aprendam um ofício” foi mesmo lá que o desgraçado foi parar.
    Apanhou tal alergia aos tabefes qye foi um dos dois homens da terra a fazer fugir pela janela uma professora ressabiada por ter ficado solteira e que era um carrasco, depois da criatura ter sovado uma das suas filhas por motivo que não era. Quando estes senhores conservadores pedem mais autoridade para os professores também é disto que estamos a falar.
    Escusado será dizer que, já viuva, a mulher se gabava de na sua rua ser a única mulher que não apanhava.
    A outra mulher que não apanhava era a minha avó materna e ainda bem que assim era pois que o meu avô era em novo bicho capaz de manejar a lendária espada do Rei Afonso.
    Estiveram juntos 57 anos até que o meu avô sofreu a única miséria que pensava não sofrer na vida, a viuvez. Morreu pouco mais de 10 meses depois.
    Ninguém os ameacou por eles terem permanecido juntos toda uma vida nem nunca lhes ouvi atoardas conservadoras tipo “os paneleiros deviam ser capados”.
    Foi gente que viveu durante boa parte da vida numa ditadura defensora da família tradicional que abandonava mulheres e crianças a sanha de bestas humanas.
    Por esse tempo havia quem ficasse viúvo por ter espancado a mulher até à morte. Toda a gente sabia mas ninguém podia fazer nada.
    Mas também houve quem soube construir uma vida realmente a dois numa época de trevas para todos os divergentes.
    Mas todos sabemos que se nos deixarem fazemos mais depressa o mal que o bem. É caracteristica da especie humana.
    Saibamos combater essas trevas, esses movimentos de “ação ética”, ou isto vai correr muito mal e não é só para quem não tem picha.

  3. Carmo Afonso diz tudo bem, como é costume, no entanto…
    Este epifenómeno mediático e os estereótipos morais e sexuais que lhe estão subjacentes é coisa periodicamente reavivada para distrair do essencial.
    É a oligarquia no seu pior: divide o povo em guerras do sexo para reinar na economia política. Como toda a gente tem obrigação de saber, a emancipação económica é a matriz de todas as liberdades.
    A Cláudia Azevedo e a Paula Amorim não têm medo do marido, têm medo do povo unido.

  4. Só o € e o dólar com a sua austeridade não destruíram a família tradicional, nem os confinamentos, e as sanções e a guerra que volta e meia os mesmissimos interlocutores de sempre vêm apregoar e impingir…

  5. Sei de gente que se divorciou a seguir as restrições covideiras. Dias a fio praticamente presos em casa, gente que perdeu o emprego ou viu o rendimento cortado via lay off. Tinha tudo para correr mal e correu.
    Mas esta defesa da família tradicional e da mulher dona de casa parece encerrar uma defesa de um regresso a um tempo em que a violência contra as mulheres era impune.
    Se hoje a violência doméstica continua a ser um problema real e grave, com dezenas de mulheres mortas todos os anos, era a total dependência desta dona de casa em relacao ao seu “dono” que abria a porta à violência doméstica. Que alternativas tinha uma mulher maltratada? Fugir? Para onde? Ia viver onde, ia comer o que?
    Se apesar de tudo o panorama é hoje muito diferente que há 50 anos atrás é pela independência económica que as mulheres foram conquistando, apesar dos seus salários médios ainda serem inferiores.
    E alguma coisa também mudou na mentalidade masculina. Porque afinal de contas já não temos um Governo que doutrina os muidos desde crianças pequenas a serem “o homem da casa” nem as mulheres a serem donas de casa.
    Já agora, também não há publicidade institucional a promover o consumo de vinho.
    Muita coisa mudou para melhor mas parece haver uns senhores interessados em fazer a roda do tempo começar a girar ao contrario.
    E se esses trastes estivessem mesmo interessados na constituição de famílias apostavam em políticas de habitação sérias e trabalho com direitos. Com salários dignos e horários que permitam ter tempo para viver. Porque sem isso cada vez menos gente vai querer constituir família.
    E o Governo de Passos Coelho foi provavelmente o maior inimigo das famílias. Salários reduzidos, menos tempo para a família via aumento do tempo de trabalho na função pública e redução de férias e feriados para todos, cortes nas reformas, políticas que geraram desemprego.
    Vi passar o enterro de uma mãe de família que se suicidou porque o banco já estava em vias de lhes ficar com a casa. Ela era continua numa escola e o marido pedreiro. O desgraçado ficou desempregado, batia a tudo quanto era porta e nada, tinham uma filha de quatro anos.
    O banco, ao fim de quatro prestações não pagas ameaçou execução. A senhora simplesmente não aguentou. Num frio e cinzento dia de Inverno, com a filha no infantário e o marido em mais uma infrutífera busca abriu o gás.
    O banco lá teve de acionar o seguro e pelo menos os sobreviventes ficaram com um tecto por cima da cabeça.
    Casos destes foram muitos. Gente que não aguentava ainda por cima a pressão de um Governo insensível e psicopata que todos os dias vinha para a televisão anunciar mais uma medida de miséria e avisar que podia muito bem não ser a última.
    Muita gente emigrou, muitas famílias abandonaram o pais.
    E ven um traste destes defender a família? Va ver se o mar dá choco.

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