Os métodos do Império — música para camaleões e a utilidade do papel higiénico

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 09/04/2024)


Complicar o que é simples. Baralhar o que parece evidente. Entontecer as vítimas antes de as dominar. Estes são os princípios que motivam as infindáveis horas em que cientistas políticos, comentadores de secos e molhados discutem a situação internacional. Música para camaleões, o título de um grande livro de Truman Capote, neste caso para camelos e multidões.

As duas questões do momento, a guerra na Ucrânia e na Palestina são simples de analisar: Na Ucrânia, os Estados Unidos repetem o que têm feito desde o Vietname, o que fizeram no Iraque e no Afeganistão, na Sérvia: depois de causarem o caos através de marionetas locais, de realizarem os negócios de venda de armas com os corruptos que colocaram no poder e de desestabilizarem uma região, abandonam os seus “aliados”, os prostitutos da ocasião, pagam-lhes ou eliminam-nos. Zelenski já percebeu a sorte que lhe está reservada e começou agora a esbracejar. Já terminou a procissão de cangalheiros que o visitavam para o animarem com palmadas nas costas e beijos para exibição pública. Já terminaram as visitas de condolências a Bucha, erigido em local de peregrinação.

Quanto a Israel, é a hipocrisia do costume: Israel é uma âncora regional, um pilar da fortaleza americana no Medio Oriente, como o Reino Unido é na Europa. Israel é impune e o apoio americano não se baseia em moral, mas nos interesses.

O regime de Biden montou uma grande campanha de manipulação para passar a mensagem do repúdio pelo genocídio dos palestinianos cercados em Gaza, com viagens sucessivas de um animador de pista, o secretário de Estado Bliken, enquanto fornecia armas e vetava condenações na ONU.

Agora, quando Gaza está arrasada, os palestinianos mortos, ou sem casa, quando se aproximam os momentos decisivos da campanha eleitoral nos Estados Unidos, surgem as negociações promovidas pelo “capitão América”, anuncia-se a retirada das tropas sionistas e até a saída de cena de Netanyahou, o carniceiro de Gaza. A hipocrisia tem de ser bem adulterada para fazer engolir a mistela.

Zelenski e Netanyahou são os atuais rostos da estratégia dos Estados Unidos que se desenvolve desde o final da Segunda Guerra para imporem e manterem o seu poder global. Cumprem papéis determinados como outros antes deles. Têm a utilidade e o destino do papel higiénico.

Os Estados Unidos repetem os seus métodos de poder imperial quer na Ucrânia, quer na Palestina. Os cientistas políticos e acompanhantes passam horas a explicar que é tudo em nome dos valores do Ocidente — o que é verdade, sendo a mentira que esses valores sejam os da boa justiça e do mínimo respeito pelos direitos elementares dos seres humanos. A máquina de propaganda tem como objetivo fazer de nós cúmplices dos crimes e assim nos castrar o sentido critico.


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11 pensamentos sobre “Os métodos do Império — música para camaleões e a utilidade do papel higiénico

  1. Irreverente e exato, como deve ser. Ja em 1958 Lederer e Burdik com a publicação da novela ficcionalizada “The Ugly American” tinham exposto a assombrosa arrogancia e incompetencia da politica externa americana. Os erros multiplicaram-se nas decadas seguintes e ainda que inaceitáveis numa democracia encontraram justificação na falácia ideológica do “excepcionalismo americano. Até que chegámos ao paradoxo dum partido Democratico se tornar responsavel pela maioria das guerras no planeta em suporte de ditadores fascitas e nazis. Para nós votantes americanos registados como Democratas isto tornou-se um dilema. Votar num presidente que fomenta duas guerras num beco sem saida na Ucrania e Gaza concorrentemente com um belicismo absurdo contra a China parece inconscionavel. Mas a alternativa do Outro (o Dark Lord do GOP) não é menos irresponsável. Como vamos desatar este no’ Gordio?
    Certamente não Kennedy. Tic-tac, tic-tac, os doentes estão em cargo do manicómio…

  2. Os palestinianos estão num beco sem saída. Se Biden diz mata, embora hipócritamente peça contenção a um bandido messianico que sempre disse ao que ia desde a década de 80 do Século passado, Trump garantidamente diz esfola. Não só em relação aos palestinianos mas em relação ao Irão.
    Portanto, no Médio Oriente isto tem tudo para correr pior ainda para todos os que teem o azar de ser vizinhos do “povo eleito”.
    Resta saber o papel de outros actores como a Rússia e a China no meio disto tudo. E se o velho crocodilo não achara mais prudente recolher as unhas como recolheu na sequência do provocatório assassinato de Cassem Soleimani.
    Zelensky e outro actor num beco sem saída. Biden e o estado profundo que o manobra já perceberam que por mais dinheiro que despejem naquele buraco negro não vão fazer os ucranianos entrar triunfantes em Moscovo nem lançar a Rússia no caos.
    Estão efectivamente desejando abandonar o barco não sabem é como fazê lo.
    A Europa trata agora de aterrorizar as suas populações com a hipótese de uma invasao russa para ver se continua a convencer nos a despejar mais dinheiro naquele buraco negro.
    Como se a Rússia precisasse disto para alguma coisa.
    Depois temos ainda a data de 21 de Maio como o limite para umas eleições que Herr Zelensky já disse que não faria a pretexto da guerra. Os russos não mandam dizer por ninguém que esta é a data que lhes dá legitimidade para caçar Zelensky como Israel se arroga legitimidade para caçar os palestinianos a pretexto que são todos do Hamas.
    Trump já garantiu que o abandonaria.
    Por isso ou o artista do piano tocado com a gaita se pira para Israel ou não vai morrer na cama. E se não morrer só tem aquilo que merece. Quem assim sacrifica o seu povo, quem mata jornalistas, a bomba ou na prisão, não merece morrer em paz.
    Ontem tive oportunidade para ler um artigo sobre a possibilidade de centrais nucleares como a de Zaporithsia poderem ser destruídas por um avião lançado em linha. E sobre o perigo que isto é para boa parte da Europa.
    Embora o autor da coisa claro que não o diga, vir a baila com isto numa altura em que a frente de batalha já recuou o suficiente para não se tal fácil a Ucrania bombardear a central com as armas no terreno como vinha fazendo, visa certamente alertar os mais distraídos que poderá sempre tentar com um avião estilo 11 de Setembro.
    Resta esperar que a Rússia tenha por lá um bom sistema antiaereo e gente atenta porque até os muito defensores do “somos todos ucranianos” já perceberam que aquela gente é capaz de tudo. Herr Zelensky fará tudo para não cair sozinho. É para quem sempre bombardeou todas as populacoes civis que pode, quem mandou matar e torturar opositores, quem matou jornalistas, quem garantidamente deu o seu aval ao atentado no Crocus, quem mandou velhos para a frente de combate pode achar boa ideia destruir uma central nuclear as portas da Europa. Nem que seja para nos castigar por não o termos ajudado o suficiente.
    Estamos efectivamente metidos numa camisa de 11 varas.
    Tudo porque nunca abandonamos a mentalidade predadora e colonialista nem o sonho de conquista da Rússia perseguido, sempre com resultados desastrosos, por suecos, polacos, Napoleão e Hitler. Podíamos ter seguido outro caminho. Agora é tarde.

  3. E uma petição pública para juntar o Sr. Quim ao painel do Rogeiro e do Milhazes, e já agora a Diana Sollers (ai contrário dos russos que andam sem Solas desde Abril de 2022, já devem ter os pés todos calejados) e a Sónia Cénica como “cheerleaders”? Os generais portugueses bidenistas-zelenskistas ainda não jogaram todas as carradas e estou convencido que ainda vão recuperar a Crimeia e o Donbass aos generais portugueses putinistas-xijinpistas. A apresentar o trio ‘TánaMira e suas NATOettes, outra colisão de apresentadores super-independentes, o Rodrigo Guedes de Carvalho “vêm aí os tanques para a rua” (os que ainda não foram para a Ucrânia juntamente com as bazucas da Ursa e da Mete-sola), o José Rodrigues dos Santos “Auschwitz não era assim tão mau, tinha escolas primárias e bordéis”, e para completar o ramalhete o José Alberto Carvalho “eles estarem a defenderem os nosses valores e a demo-cracia”.
    Um esforço final para ganhar a guerra das audiências, e quiçá da Ucrânia. Juntos são capazes, a união nacional faz funcionar a força.

  4. Urgente uma petição pública para juntar ao painel do Rogeiro e do Milhazes o Sr. Quim, formando um triunvirato de homens providenciais que juntos irão alterar o rumo dos acontecimentos, constituindo o Trio ‘Tánamira, coadjuvado pelas estridentes ‘Tánamirettes, Diana Soller (já os russos não têm solas desde Abril de 2022) e Sónia Cénica (especialista em cenas e cenários de guerra).
    Para apresentar, e como a união nacional faz funcionar a força ocidental, já dizia o ditado que inventaram ainda agora, Rodrigo Guedes de Carvalho “agora é que os tanques vão sair à rua” (os que ainda não foram para a Ucrânia juntamente com as bazucas da Ursa e os robots da Mete-solas), José Rodrigues dos Santos “Auschwitz não era assim tão mau, tinha creches e bordéis” (‘tava-se bem, talvez melhor que @Gaza, pisca o olho), e José Alberto Carvalho “eles estarem a defenderem os nosses valores e a demo-cracia” (ponto final, faz cara séria e ar grave, alinha a resma de folhas batendo-as na mesa). Aí iam ver se os russos não faziam marcha-atrás só para não terem de levar com o Rangel.

  5. Urgente uma petição pública para juntar ao painel do Rogeiro e do Milhazes o Joaquim, formando um painel tríptico de homens providenciais que juntos irão alterar o rumo dos acontecimentos, constituindo o Trio ‘Tánamira. Coadjuvado pelas estridentes ‘Tánamirettes, Diana Soller (já os russos não têm solas desde Abril de 2022), Helena Ferro de Gouveia (para a indústria de armamento o ferro faz sempre falta) e Sónia Sénica (especialista em cenas e cenários de guerra).
    Para apresentar, e como a união nacional faz funcionar a força ocidental, já dizia o ditado que inventei ainda agora, outro triunvirato: Rodrigo Guedes de Carvalho “agora é que os tanques vão sair à rua” (os que ainda não foram para a Ucrânia juntamente com as bazucas da Ursula e os robots da Mete-sola), José Rodrigues dos Santos “Auschwitz não era assim tão mau, tinha creches e bordéis” (‘tava-se bem, não tão bem como @Gaza, e pisca o olho), e José Alberto Carvalho “eles estarem a defenderem os nossos valores e a demo-cracia” (ponto final, faz cara séria e ar grave, alinha a resma de folhas batendo-as na mesa). Aí iam ver se os russos não faziam marcha-atrás…

  6. Sim, ter a capacidade falar de coisas demasiado sérias sem perder o sentido de humor e uma qualidade rara e ainda bem que há gente que a tem.
    E sim, a situação dos outros partidos dos Estados Unidos é semelhante a dos índios. Que ja foram 25 milhões quando da chegada dos europeus e hoje são pouco mais de dois milhões repartidos por reservas e reduzidos a condição de atração turística, quando teem essa sorte.
    Na realidade os tais outros partidos só existem para mostrar ao mundo que ainda acredita na fábula da democracia americana que aquilo não é a ditadura bicefala que verdadeiramente é.
    Os restantes partidos não recebem dinheiro, teem 0 exposição mediática e quando a teem é para os seus responsáveis serem menorizados e ridicularizado. Não teem a menor hipótese de participar no dispendioso Carnaval que são as eleições americanas. Sao um mero adereço tal como o que resta das primeiras nações americanas. Só para mostrar que ali há democracia e toda a gente pode teoricamente concorrer a eleições, tal como acontece em verdadeiras democracias.
    Quem lá vive sabe disso e daí o sentimento “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” expresso, e bem pelo Arthur.

  7. O que me parece espantoso é o quase colectivo estado de resignação perante as arbitrariedades de um Estado que, para se constituir teve que exterminar toda a população autóctone, na senda do que nações europeias “capitaneadas pela Igreja de Roma” já tinham iniciado com as chamadas conquistas de outros continentes para seu enriquecimento e imposição de poder! Que substitui o “império de corsários” que foi o Britânico e está por trás de todos os conflitos e guerras espalhadas pelo mundo após a substituição do anterior! Porque comparam ou anteveem semelhante comportamento dos russos e chineses quando a história da Europa nos diz que foram nações como a França, Alemanha e os Britânicos que sempre tentou invadir ou colonizar aqueles países!
    E a terminar que a causa por trás criação do Estado Social na Europa, atualmente em decadência, foi o surgimento da União Soviética e que os Estados capitalistas ou liberais como os EUA e todos seus vassalos apenas governam para a riqueza de “meia dúzia de privilegiados” e imposição de culturas e modelos de desenvolvimento a seu favor! Que a China em 70 anos (após Mao) fez mais em desenvolvimento de povos e redistribuição de recursos que todo o Ocidente!

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