(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 28/10/2023)

Se se recordam, a justificação dos Estados Unidos para o lançamento das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki foi a da destruição final da ameaça do que restava da capacidade militar do exército do Japão. Na realidade o que restava do Japão em Agosto de 1945 era a milenar identidade do povo do Japão, que se mantém, apesar da sujeição a que politicamente o Japão e os japoneses estão sujeitos (como os alemães, aliás). Os ataques dos EUA mataram entre 90 mil e 166 mil pessoas em Hiroshima e entre 60 mil e 80 mil em Nagasaki. Em ambas as cidades, a maioria dos mortos eram civis. Existem duas interpretações sobre as razões do ataque: os americanos defendem que os bombardeamentos colocaram um ponto final no conflito que sem ele duraria mais tempo e custaria mais vidas. Outras interpretações mais distantes das que representam o interesse americano referem o objetivo dos Estados Unidos se tornarem os senhores absolutos do Pacífico no pós-guerra, de se apresentarem como a super potência tecnológica que iria determinar o futuro do planeta.
O presidente Truman, dos Estados Unidos, afirmou a propósito do ataque: “Se eles não aceitam os nossos termos, podem esperar uma chuva de fogo vinda do ar nunca antes vista na Terra.” O ministro da defesa de Israel e o chefe do governo já disseram o mesmo, quase com as mesmas palavras.
O que carateriza o ataque atómico dos Estados Unidos ao Japão é a desproporção dos meios utilizados, a sua desumanidade, o desprezo pelas populações, pelas consequências, a invocação de um hipócrita direito de defesa, o objetivo de domínio de um território, de eliminação de qualquer oposição, de demonstração de força a vizinhos e à comunidade internacional.
O ataque de Israel a Gaza segue linha a linha a narrativa utilizada pelo Estados Unidos para justificar o ataque nuclear.
Não se trata de facto, de nenhuma ação de defesa de Israel. Israel possui o mais poderoso aparelho militar da região — eufemisticamente designado por Forças de Defesa! — e o apoio do maior aparelho militar planetário, o dos Estados Unidos, com o seu hegemónico sistema de alta tecnologia espacial. O Hamas é militarmente uma organização de guerrilha, com capacidades muito limitadas de reabastecimento de armas, sempre armas ligeiras e de baixa tecnologia, e de acesso a sistema de informação essencial para a condução de operações.
Quando os chefes de Israel falam do Hamas como ameaça estão a ofender a inteligência das pessoas comuns e estão-se a desconsiderar a si mesmo: o Exército de Israel teme o Hamas? Os dirigentes políticos de Israel consideram que o Hamas pode destruir o Estado de Israel? A comunicação social repete até à exaustão o slogan da defesa de Israel e da ameaça do Hamas. Mas esta manhosa e ridícula falácia tem apóstolos!
Outra falácia é a de Israel ser a única “democracia” da região! Uma democracia de apartheid religioso! Os defensores desta tese entendem que um genocídio cometido por uma “democracia” é diferente de um genocídio praticado por uma ditadura. Os mortos que os distingam.
Também foi um estado democrático, os EUA, que lançou as bombas atómicas. Já agora, também foi outro estado democrático, um exemplo para o mundo, a Inglaterra, o responsável pelo maior genocídio reconhecido do século dezanove, o de 60 milhões de africanos que o inglês Cecil Rhodes eliminou na África Austral. Este inglês muito inteligente e ambicioso era, tal como os atuais dirigentes israelitas, um racista religioso e justiçava a eliminação de outros povos com a superioridade do homem branco, tal como o regime de Israel justifica a eliminação de não judeus, em particular de palestinianos. Descreveu o pensamento que justificou o genocídio no seu testamento (Last Will and Testament): “Considerei a existência de Deus e conclui que há uma boa hipótese de ele existir. Se for verdade, deve ter um plano. Portanto, se devo servir a Deus, preciso descobrir o plano e fazer o melhor possível para o ajudar a executá-lo. Como descobrir o plano? Em primeiro lugar procurar a raça que Deus escolheu para ser o instrumento divino da futura evolução. Inquestionavelmente, é a raça branca… Devotarei o resto da minha vida ao propósito de Deus e a ajudá-lo a tornar o mundo inglês”.
Os dirigentes de Israel, dos Estados Unidos e da Europa, o dito Ocidente Alargado, habitado pelo “homem banco”, cristão e judaico, seguem os mesmos princípios religiosos de Cecil Rhodes. Gaza, tal como a África, tal como Hiroshima e Nagasaki são apenas territórios de seres sub-humanos que podem ser eliminados como qualquer espécie inferior. Contra eles o homem ocidental pode lançar as suas mais destruidoras armas e os seus mais ferozes animais de ataque.
O facto de vivermos, no Ocidente, em regimes de representação através do voto, torna-nos a todos cúmplices do genocídio do colonialismo, da bomba atómica e agora de Gaza.
Sempre me surpreendeu a ligeireza com que achamos normal destruir países a pretexto de os livrar de ditatura. Essa falácia da necessidade de destruições libertadoras foi repetida na Guerra do Iraque e houve um lúcido comentador espanhol que perguntou se alguém acharia lógico que Madrid fosse bombardeada a pretexto de os livrar de Franco.
Claro que ninguém acharia lógico, como ninguém acharia lógico que se fizesse o mesmo com Lisboa.
Mas achamos todos lógicos que tal se fizesse com Bagdad e Tripoli e aí já teremos certamente de ter em linha de conta o tal racismo de que se fala. São sub humanos, podemos fazer com eles o que bem entendermos.
O extermínio total da população negra de Angola chegou a ser equacionado após os ataques da UPA. Mas apesar da resposta desproporcional com massacres indiscdiminados tal não foi feito. Por uma razão bem simples, havia sempre trabalhos que os europeus não queriam nem podiam fazer no inclemente clima africano.
O clima africano foi sempre uma barreira contra a total substituição da população por população da cor certa. Até meados do Século XVIII nenhuma criança branca lá nascida tinha sobrevivido. A não ser assim a substituição tinha ido para a frente. Ainda assim milhões foram mortos e outros milhões escravizados para lá do sol posto.
Por isso é que sempre estivemos tão prontos a justificar os crimes de Israel. Temos o mesmo complexo de superioridade não só contra os árabes como até contra outros brancos como os russos.
Tragicamente a população palestiniana pode ser totalmente substituída. Os Israelitas não precisam deles. As 18 mil autorizações de trabalho podem ser substituídas por outros migrantes porque o que não falta neste mundo é miséria mesmo entre algumas comunidades judaicas. Aliás, Israel já pensou nisso. Foi certamente a pensar nisso que nos anos 70 foram aliciados milhares de etíopes a pretexto de que seriam uma tribo perdida de Israel. Os seus descendentes por esta altura já deverão assegurar muitos dos trabalhinho de corno.
Por isso o fim dos palestinianos será o massacre total com a conivência de povos que teem o mesmo complexo de superioridade, uma dose de crimes às costas que vai daqui até à lua e a distorcida moral de que como são democracias podem cometer todos os crimes contra os não democráticos.
Já os israelitas aprenderam com os nazis tudo sobre respostas desproporcionais, massacres e outras coisas que tais.
E esta nossa moral de impunidade das democracias quando toca a cometer crimes é uma moral ainda mais distorcida porque de democracia vamos tendo cada vez menos. Se temos censura porque somos considerados incapazes de distinguir o bem do mal, se só indirectamente e que elegemos a tal da Comissão Europeia que manda em tudo, se manifestacoes são dispersas a bastonada, se quem denúncia os crimes se Israel é cancelado e acusado de antissemifa, a nossa democracia está a ir de mal a pior.
E do outro lado do mar a alternância de poder entre dois partidos gemeos assegura que se seja democrático, mas pouco.
Mas não podemos é dizer que não sabíamos, que não vimos os bombardeamentos, que não ouvimos as declarações psicopatas e insanas dos dirigentes de Israel quando o massacre em Gaza se consumar. Somos cúmplices. A ignorância da lei não beneficia o infractor.
E para ajudar a festa ainda levamos com o embaixador de Israel na ONU a dizer que a aprovação de uma resolução a manda Los pararcom os bombardeamentos selvagens e cobardes em Gaza é um dia negro para a humanidade e ONU. São declarações psicopatas e insanas que não ajudam ninguém com dois dedos de humanidade a ter alguma simpatia por tais trastes. Em pleno Século XXI é intolerável que um ministro Israelita venha dizer que os palestinianos ou emigram ou se submetem, o que quer que isso signifique, ou morrem.
Vivemos tempos negros para a humanidade e quando também a Rússia vem com a conversa de merda que foram os árabes a começar todas as guerras com Israel, do nada, porque a União Soviética também teve muitas culpas no cartório com a criação de Israel estão os vizinhos de tão gente bem tramados. .A União Soviética cometeu um erro de palmatória mas isso não é motivo para que a Rússia de hoje não arrepie outro caminho. É claro que aqui também há relações económicas perigosas entre as economias de ambos os países, mas nada se justifica que se tente justificar as dantescas ações criminosas de um estádo que sonha poder fazer isto há anos.
Tudo bem, os israelitas foram perseguidos na Europa, isto é mais aquilo. Coitadinhos. Ora coitadinho e corno porque os ciganos também foram e ninguém falou nem remotamente em lhes dar a ponta de um corno. E continuam ate hoje a passar tudo e mais alguma coisa e a ser usados como bodes expiatórios que alimentam o crescimento da extrema direita aqui e na Europa de Leste.
O embaixador Israelita devia ter ficado feliz por a islamofobia de uns e a capacidade de aceitar subornos de outros ter feito com que 14 paises ainda apoiassem a grande pulhice que eles estao a fazer. E se falo em subornos e mesmo porque não vejo que interesse podem ter países como Nauru, Ilhas Marshal ou Tonga em apoiar os crimes de Israel. Já na Croácia, Áustria e Hungria está mais que explicado. Aliás a Croácia, no que, diz respeito ao crime de limpeza étnica também está bem documentada.
Depois houve os abstencionistas, os que não teem coragem para tomar uma posição clara mas também não querem ser acusados de apoiar crimes de guerra. Lamento desiludir essas lindas belas adormecidas mas se eu vejo um bandido a matar um homem a facada e fico a ver, sem sequer chamar a policia sou tão culpado como ele. Não pode haver meios termos quando um povo se arroga o direito de expulsar ou matar outro porque é o povo escolhido por Deus para viver naquela terra.
Sim, vivemos tempos negros, mas não pelos motivos que afirma o traste do embaixador de Israel na ONU. Pela indiferença com que o mundo, por um motivo ou por outro, assiste de cátedra a matança como faz habitualmente há décadas.
Agora já não assiste porque Israel já destruiu toda a infra estrutura de comunicações da Faixa de Gaza. Este massacre não será televisionado. Daqui a uns anos podemos dizer talvez que os palestinianos de Gaza abandonaram pacificamente a zona e vivem felizes e tranquilos algures no deserto. O crime perfeito. A nós é que mais dois milhões de mortos menos dois milhões de mortos não nos fará diferença nenhuma.
Mas se pelo menos os dirigentes israelitas calassem a boca já tornaria tudo isto um pouco menos difícil de aguentar.
A proposta é no essencial a seguinte:
Se vais à guerra com o teu agressor, procura usar os meios concordes com o seu poder e cuida que a tua vitória não venha a descaracterizar o essencial da doutrina que o levou a agredir-te.
No colonialismo, manter-se-á o princípio em caso de guerra, e acresçam-se procedimentos que garantam a conservação de todo o barbarismo.
Tudo resulta do princípio universal da multipolaridade: cada um como cada qual, com seus deuses e suas autarcias. As fronteiras que se definam por regras que estão em formação mas que respeitarão o grande princípio da transição para a multipolaridade: sempre se definirão no sentido oposto ao que aparente serem os interesses do poder e princípios do Ocidente !
E não se confundam ao ver os outrora internacionalistas envolvidos neste processo multipolar; a derrota desse internacionalismo tornou evidente que ele não se pode construir-se enquanto um poder maior prezar a liberdade com sua democracia burguesa.
Vai ver se o mar dá choco. Pode ser que com o vento Sul a bater te no focinho arejes as ideias de racista e salazarento.
Vai ver se o mar dá choco. A malta quer é vinho e futebol. É esta se nas tintas para a vida dos outros ou a sua preservação. . É é isso mesmo, cada um devia ser deixado com os seus Deuses e os, seus modos de vida sem que lhes tentassemos impor a tal gloriosa liberdade da democracia burguesa a bomba.
Não tenho nada contra a liberdade da democracia burguesa mesmo quando ela me quer obrigar a empenhar me para comprar um Tesla. Agora não podemos é querer impor os nossos modos de vida a bomba. Isso é colonialismo e queiram os salazarentos ou não inaceitável no Século XXI.
Como é normal nas guerras contemporâneas, os civis são as principais vítimas deste conflito israelo-palestiniano. Por outro lado, na Ucrânia, As principais vítimas são militares ucranianos (400.000?) e russos (40.000), se acreditarmos nas várias fontes.
Por exemplo, a entrada dos EUA no Iraque causou pelo menos 200.000 vítimas civis desde o início. A destruição do Estado líbio de Muammar Kaddafi, pela coligação EUA-Inglaterra-França, degenerou em guerra civil com o assassinato de Kaddafi pelo trio de povos assassinos acima mencionado.
Em Gaza, corre-se o risco de ser uma guerra de alguns anos … O mundo árabe está efectivamente dividido entre diferentes opiniões sobre o caminho a seguir; o que não acelerará a resolução deste conflito. A menos que, de facto, o Hamas seja deposto e relegado a segundo plano após os massacres de Civis. O que não lhe dá uma boa imagem. Mesmo os propagandistas do mainstream obviamente se sentem desconfortáveis. Porque de ambos os lados é implicitamente uma questão de guerra total.
Em toda esta agitação marcial, ninguém fala de amor ao próximo … Quanto à ONU, a orquiectomia é total . Porque todo mundo sabe que Antonio Guterres come do prato do tio Joe Senil).
O número de mortos da agressão israelita ultrapassa os 8.000, metade dos quais são crianças, declarou o ministério à AFP no sábado à noite. O último número de mortos, anunciado na madrugada de sábado, era de 7.703,e quando vemos um líder a tratar um povo como animais (faz-nos pensar num homenzinho de bigode zangado), devemos colocar algumas questões… os árabes podem ter um impacto muito maior do que podemos imaginar, eles têm petróleo e o mundo está em contração. Além disso, não há petróleo em Gaza?
Os EUA também rejeitaram a proposta do Brasil na semana passada e apresentaram uma versão modificada com nuances mais favoráveis à sua geopolítica.
É uma pena estar constantemente a culpar a China ou a Rússia e ignorar o mesmo tipo de informação para certos países …